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Capítulo II A Pedagogia da Alternância e a Inovação Pedagógica 2.1 Pedagogia da Alternância

OS QUATRO PILARES DA PEDAGOGIA DA ALTERNÂNCIA

4.2. Dados das Entrevistas Semiestruturadas

4.2.5 Desafios e benefícios da Escola Família Agrícola de Antônio Gonçalves

Um dos pontos destacados pelo ADM2, durante as respostas dadas às perguntas feitas, foi a mudança de perfil dos estudantes ao longo dos anos, razão que, segundo ele, leva à redução da matrícula a cada ano letivo. Em sua visão, são vários os desafios a serem superados no cotidiano escolar da EFAG, contudo, aponta que o mais agravante está relacionado à questão da faixa etária, “a Pedagogia da Alternância foi pensada para um público, para uma realidade, hoje a gente tem outra, outro público”. E afirma: “a gente trabalha a educação do campo, nosso público é o jovem do campo, a gente quer fazer uma transformação social do campo”. Isso porque, há um entendimento de que, nos últimos anos, a população rural não ver atrativos nas atividades do campo e vive a urbanização no campo. Ainda afirma:

A EFAG vem sofrendo, talvez uma caída no que se refere à qualidade do trabalho, por conta do público, porque, quando comecei a trabalhar aqui eram jovens e adolescentes e hoje tenho crianças, [...] então tem-se que adequar a Pedagogia da Alternância a essa realidade [...]. (ADM2).

Nessa perspectiva, o ADM1 comunga da mesma ideia ao afirmar na resposta sobre a notória redução da matrícula, que: “a gente acredita que um dos fatores é a [...] faixa etária dos estudantes que estão chegando muito cedo ao sexto ano [...], eles não têm o costume de passar quinze dias fora da família, por isso, não se adaptam e acabam desistindo, é um dos fatores”. Outro desafio apontado diz respeito à questão financeira que vem a cada ano se agravando, segundo os representantes ADM1 e 2, não há um comprometimento por parte da Secretaria

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Municipal de Educação, para ele, esta “não quer ver” a escola como um agente de transformação que traz benefícios à comunidade. Não existe uma integração para promover parcerias significativas em prol da educação do campo. Esse é um ponto de vista consensual. Segundo eles, por razão óbvia, no sistema educacional não há preocupação nenhuma com o campo e o que se tem não atende as demandas.

Conforme o ADM1, “a Secretaria Municipal de Educação simplesmente não dá importância para a Educação do Campo [...] e a gente fica um pouco sem uma conexão direito”. E ainda afirma que as contribuições financeiras são poucas, diante do benefício que a escola propõe, pois o município contribui apenas com o fornecimento de botijão, de combustível para o deslocamento dos alunos que acontece duas vezes ao mês, da alimentação que, segundo ele, não é o suficiente, mas ajuda e o pagamento de alguns professores, que: “são dois pagos pelo município e os outros ainda estão descobertos com relação a essa questão, porque ainda não se tem um recurso certo pela associação [...]”. De acordo com ele, uma parceira permanente é a família que contribui muito, tanto na parte pedagógica como financeira.

Quando interpelado sobre como se dá a prática pedagógica na EFAG, desde o planejamento dos trabalhos pedagógicos até a aplicação, quem são os atores que participam direto e indiretamente, o ADM1 informa que todos os segmentos e representações são responsáveis, enfatiza ainda, que esta é uma dinâmica da própria pedagogia da alternância, “uma exigência” e, portanto, todos são atores ativos no processo, de acordo com afirmativas no discurso que segue:

Os atores somos nós, monitores, professores, estudantes, as famílias, as comunidades e as lideranças comunitárias. Até porque, a proposta da pedagogia da alternância exige que essas pessoas sejam multiplicadores, acredita que o conhecimento não só está nos professores e nos monitores, mas também, nas lideranças, nos pais... Quando os estudantes passam os quinze dias na comunidade, são os pais, os professores deles, nesse período eles vão conduzir, juntamente com os estudantes, a parte das atividades que levam para casa. (ADM1).

Nesse sentido, convém destacar que o ano letivo do estudante de uma escola família agrícola é composto por períodos em regime de internato na escola e outros com as famílias em comunidade. Assim, há estudos e pesquisas na escola e fora dela. Nesse sentido o representante ADM2 converge com o ADM1 de que todos são sujeitos ativos, atores no processo, ao deixar subentendido que o aluno não só aprende na escola com os professores

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e/ou monitores e demais colegas, como também com suas famílias e comunidade “não é só o professor ou o monitor que detém o conhecimento, [...]”. Ele prossegue dizendo que não se pode ignorar que os alunos aprendem muito informalmente e que há também, as práticas pedagógicas a serem realizadas no período em que se encontram “no seio da família e comunidade”, além de não esquecer que “existe a educação formal e informal, então, essa educação informal também vai contribuir para a educação formal”. E destaca que:

Os temas de estudos têm que contemplar o período que o aluno está no meio familiar. [...] porque quando ele vai para o meio sócio profissional, tem como experimentar o que viu dentro da escola, que trouxe de problemática do seu meio. Para que seja uma alternância tem que está em sintonia; escola e família. (ADM2).

Ainda destaca que “os próprios instrumentos da Pedagogia da Alternância” proporcionam a dinâmica da prática pedagógica “dentro da escola e fora dela”, que é através desses instrumentos que se tem acompanhamento mais específico do aluno, quando este está no meio “sócio profissional que é junto com a família e com a comunidade”, um fator benéfico à construção de conhecimento, contemplando suas vivencias socioculturais.

Ao interpelar acerca dos benefícios a serem destacados pela instalação da EFAG, a resposta dada pelo ADM1, foi que: “quando os jovens saem da escola, concluem os estudos, têm outras possibilidades de ingressarem em outras instituições de ensino na proposta de alternância com maior facilidade, também, de se ter um emprego melhor”. Nessa perspectiva o ADM2 destaca: “a gente trabalha os movimentos sociais, de forma que esses movimentos [...] podem contribuir para o desenvolvimento do meio sócio profissional, onde ele está inserido. [...] em cima disso é levado pesquisas para as famílias e comunidade, [...]”.

Segundo relatos, existe na proposta pedagógica, um recurso voltado à melhoria socioeconômica que consiste em planejar e elaborar um projeto de geração de renda, denominado POP - Projeto de Orientação Profissional. Ao final do ciclo II do Ensino Fundamental, eles precisam, analisar, identificar e escolher qual a melhor atividade aplicável à sua realidade. Ele relata que, ao escrever o projeto profissional, o aluno busca relatos registrados durante todo o processo de construção de conhecimento com a participação da comunidade de modo que “ele perceba se realmente há viabilidade do projeto ou não”, para a realidade dele, da família e da comunidade.

Questionado sobre se a escola tem atingido os objetivos a que se propõe, o ADM1 considera que sim, “porque a escola tem esse diferencial; o trabalho é sempre voltado para o

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homem e a mulher do campo. Nesse caso, as disciplinas são voltadas à Agricultura, à Zootecnia e Administração Rural”, logo, segundo ele, a escola colabora com as famílias que acreditam em seu potencial.