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CAPÍTULO 3: O CENÁRIO DA COMPRA ORIENTADA: CONECTANDO OS FATORES

3.1 Desafios de implementação já identificados na literatura

Neste subcapítulo são descritos alguns fatores locais presentes no processo de compra orientada dos produtos para o PNAE. Tais informações foram identificadas a partir de entrevista com um técnico da Divisão de Desenvolvimento da Agricultura Familiar do FNDE. Também foram usados dados obtidos em relatórios do Prêmio Gestor Eficiente da Merenda, em teses e dissertação que analisaram empiricamente o PNAE e a relação com agricultura familiar em municípios (Froerhlich, 2010; Triches, 2010; Turpin, 2010; Santos, 2013). Das monografias analisadas, apenas uma (Santos, 2013) refere-se especificamente ao período em que a Lei Federal nº 11.947/09 estava em vigor. De todo o modo, pela possibilidade das demais contribuírem com subsídios à análise da compra de produtos da agricultura familiar para a merenda escolar, elas também foram consideradas neste levantamento.

Foi possível identificar fatores relacionados ao contexto local, no que diz respeito aos desafios de implementação, nos municípios analisados nestas pesquisas. Alguns podem ser caracterizados como dificuldade, outros como circunstâncias, enquanto outros, ainda, se constituem em soluções ou alternativas para amenizá-los, a depender das características e especificidades locais, dos atores presentes e das relações estabelecidas entre eles, delimitando assim parte do ambiente organizacional. Esses fatores são descritos em tópicos nos quadros 3 e 4, respectivamente.

(continua) Setor Circunstância ou dificuldade

Geral

• Vontade política como elemento necessário, mas não suficiente (Triches, 2010:122).

• O reconhecimento público de que a comercialização dos produtos da agricultura familiar é deficitária e por isso consiste em um problema (Triches, 2010: 131). • Conhecimento da Lei Federal nº 11.947/09 e entendimento adequado das regras e

procedimentos a ela relacionados pelos diversos atores envolvidos na implementação do PNAE: agricultores, gestores municipais, técnicos da área de educação e agricultura (Técnico do FNDE em conversa no dia 07 de junho de 2013; Ação Fome Zero, 2012).

• Impossibilidade de fornecimento dos alimentos devido à forte estiagem, observada nos últimos anos em municípios do Semiárido Brasileiro (Ação Fome Zero, 2012).

Gestor munici-

pal

Resistência de alguns dirigentes/gestores em adquirir os gêneros alimentícios via Chamada Pública, por considerarem um procedimento passível de sanção pelos órgãos de controle (Técnico do FNDE).

pais e merendeiros por adquirir alimentos de má qualidade e em quantidades insuficientes. Ou pelos agricultores, individualmente ou através de suas representações, que não implementem a compra de produtos da agricultura familiar (Triches, 2010:142).

Agricul- tura familiar

Presença e atuação de órgãos e entidades de assistência técnica e extensão rural, entre outras entidades, como Sindicatos Rurais, a fim de contribuir para produção, organização, documentação e articulação dos agricultores juntos aos demais atores e às políticas públicas (Triches, 2010: 130, Froehlich, 2010).

Dificuldades dos agricultores familiares em adquirir a DAP, uma vez que esse documento é um dos pré-requisitos para que o agricultor familiar possa participar do PNAE, através da Chamada Pública. Pode constituir um entrave não só para participar desse, mas de todos os programas federais orientados a esse público (Técnico do FNDE; Ação Fome Zero, 2012).

Existência e funcionamento ativo do Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural e Sustentável (CMDRS), por ser um espaço de articulação entre os atores locais ligados ao meio rural: poder público municipal, sociedade civil organizada e órgãos estaduais, entre outros (Triches, 2010:149).

Capacidade produtiva e organizacional dos agricultores familiares do município e/ou das cidades próximas, relacionadas à produção em quantidade, qualidade, regularidade e diversidade necessárias ao atendimento desse mercado (Triches, 2010:159; Ação Fome Zero, 2011 e 2012).

Capacidade logística dos pequenos produtores, em transportar os produtos, pela necessidade de entrega regular nas escolas ou em centrais de recebimento (Santos, 2013:105;Triches, 2010:159; Fome Zero, 2011 e 2012).

Capacidade dos agricultores em atender às exigências sanitárias necessárias, principalmente no caso de produtos de origem animal e processados (Santos, 2013: 140; Triches, 2010:186; Froehlich, 2010:81; Ação Fome Zero).

Dificuldades de acesso aos sistemas de inspeção sanitária, que delimitam sua esfera de comercialização (Técnico do FNDE).

Dificuldades de regularização e formalização das agroindústrias.

Desconfiança do agricultor em fornecer para o governo local, devido ao receio de não serem remunerados pelo produto entregue (Triches, 2010: 169; Técnico do FNDE; Ação Fome Zero, 2011 e 2012).

Desinteresse e resistência dos agricultores familiares mais estruturados e inseridos em outros mercados em se tornarem fornecedores do PNAE (Froehlich, 2010:85).

Educação

Desconfiança, por parte dos gestores, da capacidade dos agricultores familiares em entregar os produtos com a qualidade, quantidade e regularidade necessárias ao atendimento da merenda escolar (Técnico do FNDE; Ação Fome Zero).

Apoio do CAE à compra orientada (Triches, 2010:147).

Dificuldade no estabelecimento de preço dos produtos da agricultura familiar para aquisição através de Chamada Pública (Técnico do FNDE).

Tipo de gestão da merenda escolar – municipalizada, escolarizada ou terceirizada (Turpin, 2010).

Dificuldade de armazenagem dos alimentos perecíveis, pela falta de energia necessária à conservação desses produtos, principalmente nas regiões norte e nordeste do país (Técnico do FNDE).

Quadro 3: Dificuldade/circunstâncias que influenciam negativamente a compra orientada. Fonte: Elaboração própria.

Alternativas e ou soluções

Todos

Participação e motivação da nutricionista para incorporar os produtos da agricultura familiar no cardápio escolar (Triches, 200:182). Também uma boa relação com esses agricultores e suas organizações (Santos, 2013:138), entidades e órgãos relacionados, como a Emater e sindicatos (Froehlich, 2010: 96; Ação Fome Zero, 2011 e 2012).

Existência e implementação de um plano de desenvolvimento rural no município (Triches, 2010:127; Ação Fome Zero,2012).

Implementação de outras políticas de fortalecimento da agricultura familiar, como a regularização fundiária, crédito, assistência técnica, verticalização da produção (Ação Fome Zero, Santos, 2013: 113 e 140, Froehlich, 2010: 81; Triches,2010: 160).

Apoio do poder público local, fornecendo o transporte dos alimentos (Santos, 2013: 136; Ação Fome Zero, 2011 e 2012).

Capacitação dos gestores e técnicos públicos pelo Cecane, em parceria com o FNDE/MEC; e /ou pelo Nutre-MDA (Ação Fome Zero, 2012).

Quadro 4: Soluções e alternativas locais. Fonte: Elaboração própria.