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Desafios do abastecimento da merenda escolar pela

1. INTRODUÇÃO

1.3. A Agricultura Orgânica e a Segurança Alimentar e Nutricional: algumas

1.3.2. Desafios do abastecimento da merenda escolar pela

A merenda escolar tem passado ao longo de seus mais de 50 anos de existência por inúmeras modificações. Faz parte do Programa Nacional de Alimentação Escolar, e, por sua abrangência, atingindo cerca de 36,4 milhões de alunos diariamente, é um forte componente da Política Nacional de SAN. Esse programa repassa verbas para garantir a oferta de alimentação escolar de forma a suprir, e orienta aos gestores estaduais e municipais que sejam garantidas, pelo menos, 15% das necessidades nutricionais dos alunos.

No contexto da Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN) que compõe a Política Nacional de Saúde, a merenda escolar busca atender a garantia da segurança alimentar e nutricional e do direito humano à alimentação adequada

(COMIDha, 2006) em que se estabelece:

(...) como eixo de todas as práticas de promoção da alimentação saudável o resgate e/ou valorização de hábitos e práticas alimentares regionais inerentes ao consumo de alimentos locais de alto valor nutritivo, o baixo custo e a importância concedida às relações sabor, custo e acesso aos alimentos culturalmente aceitos e saudáveis” (BRASIL, 2004).

Para se analisar a inserção de hortaliças e frutas orgânicas produzidas pela agricultura familiar nesse contexto, destaca-se aqui uma avaliação desse processo de gestão da merenda escolar, que tem sido realizada através do Prêmio Gestor Eficiente da Merenda Escolar, coordenado pela ONG Apoio Fome Zero, visando dar destaque aos municípios com melhor desempenho na alimentação das crianças. Segundo matéria do jornal Valor (2005)13, nos 383 municípios que se inscreveram no Prêmio

13 Fonte: BELIK, W. Boa gestão municipal merece ser premiada. Jornal Valor Econômico de 24/05/2005. Disponível em https://www.planalto.gov.br/consea/static/noticias/artigo_belik.htm. Acesso em: 10 out. de 2005.

em 2004, foram servidas 923 milhões de refeições durante o ano, envolvendo uma verba de R$ 286 milhões proporcionada pelos três entes federativos. Em 97,1% dos casos estudados, a merenda foi comprada diretamente pela prefeitura, contra 2,9% que terceirizam o fornecimento da alimentação, segundo a mesma matéria. Quanto à complementação de recursos federais, foi detectado que, quanto mais o município arrecada, mais recursos são destinados à merenda. Mas há também casos de alguns municípios pobres que se empenham e colocam a merenda como prioridade. Para 41,3% dos casos estudados, a merenda recebia apenas R$ 0,07 de complementação. O custo médio desta refeição por aluno/dia, no período de avaliação, era de R$ 0,31. Considerando que o repasse do Governo Federal em 2003 era R$ 0,13 por aluno/dia, o restante foi obtido com recursos próprios.14

Chama atenção, sobretudo, a questão da compra de gêneros alimentícios pelas escolas em 2003 diretamente de produtores rurais locais. A porcentagem de prefeituras que responderam positivamente foi de apenas 26,1%, o que representa um total de 100 prefeituras que fazem a compra direta de produtores. O valor total gasto foi de R$ 4.808.384,45, sendo que o valor médio por município foi de R$ 48.083,84, o que indica que a interação entre escola e agricultores aqui proposta tem grande potencial de crescimento.

A compra direta do produto dos agricultores familiares, visando assim atender às premissas da Segurança Alimentar e Nutricional do Programa Fome Zero referentes à Merenda Escolar, é destacada na segunda edição do Manual Gestão Eficiente da Merenda Escolar como propulsora de desenvolvimento local:

“A compra de alimentos para a merenda de agricultores locais traz benefícios tanto para as crianças quanto para a economia da região. Os alimentos que vêm da produção local chegam mais frescos às escolas. Além disso, ao comprar de agricultores e comerciantes locais, os recursos da merenda escolar ficam na própria região e acabam movimentando a economia local, impulsionando o desenvolvimento do município.” (Apoio Fome Zero, 2005)

14 O valor repassado pelo Governo Federal aos municípios e estado para a compra da merenda é de R$0,22 por aluno/dia. (jan. de 2007)

Desde 2004, o FNDE - MEC vem promovendo anualmente o Encontro de Experiências Exitosas em Educação Alimentar e Nutricional. Entre as experiências exitosas apresentadas em 2004 houve destaque para experiências com a Merenda Escolar Orgânica.

Existem experiências de merenda escolar orgânica com resultados expressivos nos estados de Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul, São Paulo, Espírito Santo, Mato Grosso e Alagoas. Elas têm servido como referência de alternativas para melhoria da qualidade da alimentação de escolares e das condições para a produção da agricultura familiar, além de propiciar o desenvolvimento sustentável com a produção de agroecológicos.

Contudo, a inserção de hortaliças e frutas na merenda escolar tem representado um grande desafio, tanto de logística do abastecimento e trabalho de manuseio de alimentos in natura como, sobretudo, de estímulo ao seu consumo por parte dos alunos.

Além das experiências do abastecimento da merenda escolar pela agricultura familiar, também existem outras formas, como a de hortas municipais, pois nem todas as experiências conseguem fazer a compra direta da agricultura familiar.

As experiências visitadas pela autora desta dissertação nos municípios de Florianópolis e Santa Rosa de Lima (SC), Dois Irmãos (RS) e Jundiaí (SP) apontaram, como anteriormente citado, alguns caminhos para o abastecimento de orgânicos na merenda, que pode ser feito pela produção de hortaliças e frutas pela própria prefeitura, como em Jundiaí e Dois Irmãos.

Mas, em qualquer opção de abastecimento de H e F, sabe-se que não é suficiente apenas a disponibilidade para garantir que os mesmos passem a ser mais consumidos na escola. Cabe aqui ressaltar a experiência da AGRECO - Associação dos Agricultores Ecológicos das Encostas da Serra Geral (SC) que ilustra a necessidade de uma atuação paralela nas escolas para garantir o efetivo acesso desses alimentos. Essa constatação pode ser observada no testemunho de integrantes da Universidade de Santa Catarina que deram apoio ao grupo de orientação para a estruturação de um programa de inserção de hortaliças e frutas orgânicas na merenda de escolas de Santa Catarina:

“Na operacionalização desse objetivo, algumas dificuldades e problemas começaram a surgir. Como as compras eram descentralizadas - desde que inferiores a R$ 8.000,00 anuais, senão se colocaria a exigência de licitação - e dependiam dos diretores das escolas, foi necessário sensibilizá-los e motivá- los para o programa. Para isso, foram realizadas diversas reuniões de trabalho, seminários e excursões de trabalho à região de produção. Esta etapa cumprida, começaram a ser feitas as compras e se esbarrou na resistência das merendeiras, acostumadas com a merenda "industrial", que não exige praticamente nenhum trabalho de preparação. De novo, foram necessários cursos de capacitação e trabalhos de motivação que incluíam a visita à região produtora. Superada esta etapa, verificou-se uma diferença entre o que havia se estabelecido como cardápio e o consumo efetivo das crianças. A principal defasagem estava no consumo de folhosas, incluídas pelas nutricionistas, mas desprezadas pelos escolares. Isso implicou em um "encalhe" importante desse tipo de produto e em um necessário ajuste no planejamento da produção. Essas correções de rota foram feitas e o projeto "andou bem" (SCHIMIDT e SCHIMIDT,2004)

Assim como em Santa Catarina, os programas de Jundiaí (SP) e Dois Irmãos (RS) apontaram ser de fundamental importância a sensibilização e envolvimento de diretoras, merendeiras e professores, e, sobretudo, a educação alimentar dos alunos. Nos dois programas identificou-se que não é suficiente existir uma política pública para o abastecimento das escolas com alimentos de qualidade, mas devem ser criadas as condições efetivas para que a escola compreenda a importância de sua inserção no programa, promova a capacitação da comunidade escolar para o adequado manuseio desses produtos e associe uma prática educacional adequada, com base na educação ambiental, que integre a educação alimentar aos alunos, público alvo final do consumo da merenda escolar. A experiência de Dois Irmãos (RS) demonstra também que é importante ter no Conselho de Alimentação Escolar a participação ativa de representantes da área agrícola. Bem como a interação desse Conselho com outros Conselhos, como o da Saúde, da Agricultura e da Educação, e a parceria com

universidades, que podem dar suporte à capacitação necessária para o projeto (comunidade escolar e agricultores).

Na perspectiva de um programa de Educação Alimentar integrado a um ambiente escolar que estimula o consumo de uma alimentação saudável, destaca-se a experiência do município de Jundiaí (SP), em que a iniciativa de oferecer alimentos orgânicos de qualidade às escolas partiu da Secretaria de Educação. Através de uma parceria com a Escola Técnica Agrícola, o órgão abastece diariamente todas as escolas públicas e do SESI do município (150 ao todo, com 70 mil alunos) com hortaliças orgânicas. Essa experiência foi precedida por duas ações educativas junto aos alunos (público alvo final do programa): implementação do sistema de self

service, que diminuiu o desperdício de alimentos desde 1993, e a horta escolar associada à orientação para o preparo do próprio alimento, que serviu de subsídio para criar o vínculo afetivo da criança com o alimento plantado e consumido e aumentar o consumo de hortaliças. Só então houve a integração do programa da horta escolar (que é usada como meio para a aprendizagem das várias disciplinas) com a grande horta municipal que abastece todas as escolas, para que os alunos possam receber orientações de quem lida com a terra e valorizar os produtos que consomem. Por fim, a secretaria implementou o programa Saúde no Prato, que capacita merendeiras para atuarem como educadoras15 junto às professoras em sala de aula, orientando os alunos sobre alimentação saudável.

Anualmente o Departamento de Merenda da Secretaria de Educação de Jundiaí também promove um seminário para integração dos atores envolvidos no projeto e trocas de experiências. Portanto, os alunos de Jundiaí estão aprendendo a associar os cuidados do que se produz com aquilo que se come, e ainda como isso interfere na saúde dos indivíduos e do ambiente. Isso reforça uma vez mais o que se apontou anteriormente, que não adianta apenas abastecer as escolas com hortaliças e frutas, mas é preciso que haja demanda efetiva para os produtos por parte dos consumidores, no caso os alunos, que devem estar estimulados a consumir esses produtos.

15 Vale ressaltar que em Jundiaí as merendeiras antes designadas como Auxiliares de Serviços Gerais passaram a ser designadas como Auxiliares de Serviços Educacionais, pela nova atribuição em que auxiliam a educação alimentar dos alunos.

A inserção de educação alimentar como prática pedagógica foi recomendada desde os Parâmetros Curriculares Nacionais instituídos pelo MEC em 1997 inseridos, em especial, no tema transversal Saúde.

Como orientação para a abordagem educativa do tema alimentação no ensino fundamental, por exemplo, os PCNs sugerem “um trabalho conjunto com os alunos para a reconstituição do caminho seguido pelos alimentos desde a sua produção até o consumidor, a identificação do trabalho humano envolvido, do uso de aditivos e agrotóxicos em sua produção e seus efeitos sobre a saúde os produtores e consumidores. Busca-se elaborar, coletivamente, propostas sobre diferentes formas de melhorar os recursos alimentares.” (BRASIL,1997)

A PNAN - Política Nacional de Alimentação e Nutrição (BRASIL, 2003) e o PNAE - Programa Nacional de Alimentação Escolar possuem como referencial de diretrizes para a implementação de alimentação saudável que esta deve prover a garantia de acesso, sabor e custo acessível, ser variada, colorida, harmoniosa e segura (BRASIL, 2004).

Outro subsídio importante é proveniente do já citado Guia Alimentar da População Brasileira, que assume como uma das diretrizes para a alimentação da população brasileira o estímulo ao aumento do consumo de H e F (BRASIL, 2005). Nesse contexto, em 2006, o Ministério da Saúde instituiu uma Portaria Interministerial (No 1.010, de 8 de maio de 2006) que aponta as diretrizes para a Promoção da Alimentação Saudável nas escolas de educação infantil, fundamental e de nível médio das redes públicas e privadas, em âmbito nacional, que traz entre as suas recomendações que se deve aumentar a oferta e promover o consumo de H e F nas escolas. Nesta perspectiva, o MS recomenda os “Dez passos para uma alimentação saudável nas escolas”, sendo um deles o incentivo ao aumento do consumo de H e F (que estão inseridos na referida Portaria Interministerial).

Os “Dez Passos para a Promoção da Alimentação Saudável nas Escolas” (MS, 2006) consistem num conjunto de estratégias que devem ser implementadas entre si de maneira complementar, sem necessidade de seguir uma ordem, permitindo a formulação de ações/atividades de acordo com a realidade de cada local e escola:

“1º passo - A escola deve definir estratégias, em conjunto com a comunidade escolar, para favorecer escolhas saudáveis. 2° Passo - Reforçar a abordagem da promoção da saúde e da alimentação saudável nas atividades curriculares da escola. 3° Passo - Desenvolver estratégias de informação às famílias dos alunos para a promoção da alimentação saudável no ambiente escolar, enfatizando sua co-responsabilidade e a importância de sua participação neste processo.

4° Passo - Sensibilizar e capacitar os profissionais envolvidos com alimentação na escola para produzir e oferecer alimentos mais saudáveis, adequando os locais de produção e fornecimento de refeições às boas práticas para serviços de alimentação e garantindo a oferta de água potável.

5° Passo - Restringir a oferta, a promoção comercial e a venda de alimentos ricos em gorduras, açúcares e sal.

6° Passo - Desenvolver opções de alimentos e refeições saudáveis na escola.

7° Passo - Aumentar a oferta e promover o consumo de frutas, legumes e verduras, com ênfase nos alimentos regionais. 8º Passo - Auxiliar os serviços de alimentação da escola na divulgação de opções saudáveis por meio de estratégias que estimulem essas escolhas.

9° Passo - Divulgar a experiência da alimentação saudável para outras escolas, trocando informações e vivências.

10° Passo - Desenvolver um programa contínuo de promoção de hábitos alimentares saudáveis, considerando o monitoramento do estado nutricional dos escolares, com ênfase em ações de diagnóstico, prevenção e controle dos distúrbios nutricionais.” (MS,2006)

A qualidade da alimentação dos escolares tem sido uma preocupação constante e alguns estados e municípios já baixaram decretos que regulamentam a venda de alimentos nas cantinas escolares, para evitar a venda de alimentos pouco saudáveis e propiciar o aumento da venda de H e F. Também a adoção de uma política pública como a da Secretaria de Estado da Educação de São Paulo, que possibilita a descentralização e auto-gestão, ou a escolarização da compra direta na comunidade de hortaliças e frutas pelas escolas, busca facilitar o acesso a esses produtos evitando-se desperdícios e impactos do transporte, além de estimular as economias locais.

Também no âmbito das escolas, o governo do município de São Paulo, através da Secretaria Municipal de Educação, em parceria com a secretaria Municipal de Saúde, lançou em 2005 o Programa Escola Promotora da Saúde. Desde

1995 OPAS/OMS estimula a Iniciativa Regional - Escolas Promotoras da Saúde, com o objetivo de fortalecer a capacidade dos Países da América Latina e do Caribe na área da saúde escolar. Contudo a estratégia de Escola Promotora da Saúde surge desde os anos 80, como parte das mudanças conceituais e metodológicas que incorporam o conceito de promoção da saúde envolvendo a escola. Essa estratégia pressupõe três vertentes relacionadas entre si: educação em saúde, ambientes físicos e psicosociais saudáveis e oferta de serviços de saúde.

Foram definidas como premissas das Escolas Promotoras de Saúde democracia, igualdade, capacidade de ação, ambiente escolar saudável, currículo adequado, formação de professores, avaliação, sistema de educação e saúde integrados, participação da comunidade e desenvolvimentos sustentável (OPS, 1998). Tais premissas têm como base as determinantes definidas para a prática da Promoção de Saúde durante a 1ª Conferência Internacional de Promoção de Saúde (BRASIL, 2001), que estabeleceu como pré-requisitos para a promoção de saúde paz, equidade, habitação, educação, alimentação saudável, renda digna, ecossistema estável, recursos sustentáveis e justiça social.

Para PELICIONI (2000), a educação alimentar deve-se associar à educação ambiental, e a escola deverá, além de contribuir para a melhoraria do estado nutricional dos alunos, orientar sobre as inter-relações entre saúde e meio ambiente e contribuir na prevenção de situações de agravos de saúde decorrentes de risco de problemas ambientais.

Para SILVEIRA e BICUDO PEREIRA (2004), “a escola deve ser o grande laboratório onde as crianças e jovens têm oportunidade de vivenciar, na teoria e na prática, todas essas questões.” (p.121)

A alimentação orgânica poderia se inserir em todos estes contextos educativos. Contudo, grande parte dos programas de Educação Alimentar na escola ainda se restringe a informar sobre alimentação, e não se preocupa em promover uma vivência alimentar saudável na escola, uma vez que difunde pressupostos teóricos desvinculados de uma prática educativa significativa (FREIRE, 1996; SILVEIRA e BICUDO PEREIRA, 2004).

Nessa perspectiva, SERRANO (2007) aponta que a inserção do alimento orgânico na alimentação possibilita uma interação do tema com todas as disciplinas

(transdisciplinaridade) e a interação da educação alimentar com a educação ambiental, que mobilizará as múltiplas inteligências e saberes no reconhecimento da realização do potencial humano, da sua capacidade de conquistar a sua soberania alimentar e compreender o potencial do uso sustentável dos recursos naturais, para obter bens e serviços sustentáveis dos ecossistemas. Nesse aspecto, irá requerer da escola um compromisso de inserção do tema em seu Projeto Político Pedagógico, para a formação dos jovens na perspectiva de ser um ecoprofissional. O que demonstra que o estímulo à consciência da sustentabilidade socioambiental no consumo agroalimentar será importante para nortear os processos educativos.

Além da necessária organização dos produtores para o abastecimento escolar, viu-se que o mesmo para ocorrer tem que estar atrelado a um processo de estímulo e educação alimentar inserido no contexto de educação ambiental que por sua vez tem que ser estimulado e gerido por uma política pública.

Assim, observou-se que a inserção de hortaliças e frutas orgânicas na merenda escolar como uma política pública faz parte de um processo de gestão por parte de um órgão público. No caso das experiências visitadas, a coordenação é da Secretaria de Educação (pelo órgão da Gerência ou Departamento encarregado da Merenda Escolar). Em Santa Catarina, onde o programa começou estimulado por organizações de agricultores familiares orgânicos que buscavam uma parceria para conseguir a venda direta para um mercado constante, a gestão do programa e todo o seu planejamento contaram com a participação das Secretarias de Educação e de Agricultura, de representantes de cooperativas de produtores orgânicos e da universidade, entre outros parceiros. O processo de construção do programa se deu de forma participativa. Contudo, observa-se que o grande desafio desses programas é se tornar uma política pública de Estado, e não de Governo, para não ficar suscetível às mudanças de linhas políticas. A importância do que a estabilidade na condução da política pode trazer para projetos como esses, que demandam investimentos de médio e longo prazo, foi averiguada em Jundiaí (SP) e Dois Irmãos (RS), onde as políticas educacionais que embasaram a inserção do hortaliças e frutas orgânicas (propiciando a estratégia da produção de hortaliças e frutas pela própria prefeitura, ao contrário de Santa Catarina), foram decorrentes de um processo de

gestão de mais de 10 anos de ações com continuidade na integração dos cuidados com a alimentação escolar com a educação alimentar nas escolas.

Foram observados nas visitas realizadas o âmbito do projeto FSP-CNPq, tanto os sistemas de compra mista (escolarizada para a compra de mais perecíveis e centralizada para a compra de menos perecíveis em Santa Catarina) quanto a compra centralizada e tendo também a horta municipal (Jundiaí e Dois Irmãos). Nesse contexto, foram apontados alguns desafios para o aumento do abastecimento de H e F orgânicas nas escolas, tanto oriundos da compra de agricultores familiares quanto da produção de hortas municipais. Tais observações agregam-se às que foram feitas por LIMA (2006) em estudo de caso realizado em escola participante do PRODENE, em Santa Catarina. Apresentam-se os seguintes desafios: preço maior das H e F orgânicas (em especial de frutas) e o desafio de enquadrar os valores justos ao orçamento disponível da merenda; necessidade de certificação dos produtos; falta de disponibilidade de diversidade e quantidade de alimentos orgânicos na região; limite da área de produção da horta municipal para atender a demanda; poucos agricultores orgânicos familiares organizados para o abastecimento; falta de hábito de consumo de H e F pelos escolares e necessidade de educação alimentar constante e de preparo da comunidade escolar; como estimular o consumo desses alimentos saudáveis que não são estimulados pela mídia; como inserir estratégias mais estimulantes (hortas pedagógicas, culinária, etc.); como fazer a implementação e manutenção das hortas orgânicas nas escolas e motivar alunos e professores nos cuidados constantes; como estimular que professores a utilizarem a horta e acompanhem o horário da merenda

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