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DESAFIOS NA FORMAÇÃO DE ENFERMEIROS

3. CUIDADOS DE ENFERMAGEM AOS IDOSOS

3.4. DESAFIOS NA FORMAÇÃO DE ENFERMEIROS

O movimento de profissionalização de enfermagem emerge com o início do século XX e tem origem num corpo de saberes baseado na ciência moderna, em ruptura com a tradição oral e empírica. Os enfermeiros tem vindo a empenhar-se na aquisição do poder de certificação de formação e do monopólio do seu campo de actividade, como forma de deterem a exclusividade do exercício, e, ainda, a delegação de outros poderes, como o controlo de formação e das condições de trabalho.

Neste percurso, o ensino de enfermagem tem desempenhado um papel fundamental, quer por apresentar-se como o palco da formação, quer porque rápidas mudanças sociais e políticas no Sistema Educativo o têm afectado. O ajustamento às necessidades sociais, além de um desejo, natural, representa um considerável esforço da comunidade e da profissão (Costa, 1998; Costa, 2000).

A formação dos enfermeiros, nomeadamente em cuidados às pessoas idosas tem permanecido aquém da mudança social ocorrida (aumento do número de idosos) e da mudança ocorrida nas instituições e nas unidades de saúde (Costa, 1998). Talvez tal derive de a gerontologia durante muito tempo ter sido considerada como um sector onde trabalhavam enfermeiros de segunda categoria. Os preconceitos relativos ao envelhecimento são persistentes, fazendo-se sentir no não desenvolvimento de programas adaptados às necessidades da pessoa idosa (Berger & Mailloux-Poirier, 1995). O Concelho Internacional de Enfermeiros (ICN) veio alertar para o facto de a população mundial estar a envelhecer para uma quarta idade. Defrontados com a previsão de que por volta de 2020 haverá mais de mil milhões de pessoas com 60 anos ou mais, o ICN encoraja os enfermeiros na prestação de cuidados de saúde optimizados às pessoas de idade

A análise desta problemática permanece actual, ao considerarmos que a formação se constitui num binómio unificador da construção profissional. A formação dos enfermeiros devem incorporar as mudanças sociais, de modo a prepará-los para cuidar dos indivíduos idosos em casa, comunidade, internamento, potenciando as capacidades remanescentes e não descurando que o idoso e o meio interagem activamente.

Os cursos de especialização em enfermagem, no qual se incluirá a especialidade de enfermagem gerontologica/geriátrica, não estão ainda regulamentados. A União Europeia, através da Directiva n.º 77/453, emanou disposições no que se refere à formação dos

enfermeiros responsáveis pelos cuidados gerais, onde se incluem: ensino teórico e técnico, ”cuidados de enfermagem – ensino sobre cuidados a prestar às pessoas idosas e geriatricas”; ensino prático – “cuidados a prestar às pessoas idosas e geriátricas e cuidados a prestar no domicílio”. Esta Directiva foi respeitada por Portugal, após a assinatura do tratado de adesão, sendo transposta para o direito interno, através do decreto-lei n.º 320/87, de 27 de Agosto. O conteúdo geral da formação em cuidados de enfermagem aos idosos estende-se do estudo demográfico, à prestação de cuidados, ética e na afectação de recursos. A aprendizagem dos cuidados prestados aos idosos deve ser integrado em todas as disciplinas como: biologia, demografia, desenvolvimento humano, metodologia de investigação, teorias e processos de enfermagem, ética e legislação aplicada.

Num estudo de Varela & Carvalho (2002), 76% dos enfermeiros inquiridos, referiam não lhe ter sido ministrado nenhuma disciplina especificamente sobre gerontologia ou geriatria. A grande maioria (73,4%), abordou o tema inserido noutra disciplina mais abrangente e 17,6% realizou trabalhos de grupo nessa área.

Segundo Costa (1998: 65), “a formação permanente em enfermagem, constitui um

conjunto de experiências planeadas, tendo por base um programa educacional em enfermagem, destinadas a promover o desenvolvimento de competências e de atitudes relevantes para as práticas de enfermagem, bem como a prestação de cuidados ao público”. Formar-se em cuidados de enfermagem para a população idosa envolve: um

processo impulsionador de competências para proporcionar cuidados, não se restringindo à mera aquisição de conhecimentos, mas visando o desenvolvimento global do indivíduo, o que não exclui a necessidade de maiores conhecimentos sobre enfermagem gerontológica/geriátrica; a necessidade de um amplo saber sobre os conceitos fundamentais de enfermagem em relação aos idosos, conducente e sugerindo que a enfermagem deve promover uma teoria de orientação que explique a essência da prática dos cuidados aos idosos.

Para permitir aprofundar os cuidados aos idosos, a formação em enfermagem tem vindo a dirigir esforços e a concentrar saberes na área de enfermagem geriática/gerontológica, partindo do princípio que o passar dos anos, não é sinónimo de ser doente. Trata-se de um timing biológico, com os seus ritmos, sobre os quais há saberes a organizar, constituindo assim um domínio especializado ou sub-especializado.

Os modelos de formação dos enfermeiros em geriatria/gerontologia têm-se aproximado dos modelos escolarizados, centrando-se sobretudo nas aquisições dos jovens profissionais. De facto, a observação um serviço hospitalar, rapidamente conduz à ideia de um mundo de rotinas. Dá-se valor aos aspectos visíveis dos cuidados, ao qual esta muitas vezes subjacente a produtividade. Técnicas como electrocardiograma ou colheitas de sangue são mais valorizadas do que a habilidade de confortar as pessoas que sofrem. Os cuidados de natureza psicossocial são dados, se houver tempo. Esta tendência tem de ser contrariada pois dela resulta uma despersonalização dos cuidados (Ferreira & Pinto, 2002).

São, em geral, os serviços de Medicina, o palco dos primeiros contactos com o doente idoso. Aí, e como relatam os planos curriculares, os objectivos dos estágios dirigem-se para aprendizagens específicas como: cuidados de higiene, conforto e bem-estar, administração de terapêutica e investimentos básicos de enfermagem, num claro desajuste face à centralidade da pessoa idosa. A própria formação daqueles que lidam (in)directamente com os idosos é deficitária, abarcando os aspectos biológicos em detrimento de uma abordagem mais abrangente e integral, na qual façam parte os aspectos emocionais (Arantes, 2003; Costa, 2000).

Segundo um estudo de Robertson (1991, citado por Costa, 1998) o gosto dos enfermeiros em trabalhar com pessoas idosas adivinha, em primeiro lugar, factores relacionados com a formação inicial, logo seguida pela experiência agradável do trabalho, realçando, neste aspecto, a autonomia e independência das funções exercidas.

Os cuidados de enfermagem, nomeadamente no desenvolvimento das áreas de formação especializada e/ou pós-graduação em enfermagem desenvolvem capacidade para desempenhar as competências referidas e ainda a capacidade para intervir também como consultor no espaço de decisão social, política e a todos os níveis do sistema de cuidados, bem como para liderar equipas de apoio, pretendendo-se a melhor utilização dos recursos numa perspectiva económica e o mais eficaz atendimento dos idosos.

Esta é uma das áreas em que pouco investimento tem existido e onde menos se tem evoluído. A excessiva centralização dos enfermeiros nos grandes centros, a falta de uma cultura de intervenção autárquica no domínio da saúde têm afastado os centros de saúde da participação das comunidades, o que, relativamente às necessidades de saúde dos idosos os tornariam pilar na decisão local.

Os grandes debates na formação em cuidados de enfermagem geriátrica/gerontológica estão levantados e alicerçam-se em torno de algumas temáticas fundamentais: questões éticas e deontológicas, logística dos cuidados, interdisciplinariedade de intervenção e a liderança dos cuidados aos idosos. Genericamente os problemas de geriatria têm estado confinados, ou pelo menos, abandonados a uma certa incapacidade para investigar as faces finais de vida. A saúde nos idosos tem que ter desenvolvimentos inequívocos nas ciências de enfermagem, passando da mera iniciativa individual em investigar, a projecto de pesquisa centrados nas famílias e nas comunidades que permitam perspectivar outras políticas de saúde e bem estar do idoso.

CAPÍTULO 2.

OS VALORES E CRENÇAS NA RELAÇÃO