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5. O PADRE CÍCERO NAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: ABERTURA/

5.2 Desafios na prática pedagógica dos Estudos Regionais

Como vimos no capítulo no item 3.2 do capítulo 3, ao trazer a realidade dos Estudos Regionais em Juazeiro do Norte, as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica e a Base Nacional Comum Curricular preveem a consideração a características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e dos educandos.

Para Marques (2004), vivemos um momento em que a história, a arte, a geografia e as ciências sociais (podemos nesta relação a educação) se abrem para a

valorização da história local como política de inclusão do indivíduo em mundo repleto de informações globais. Ao mesmo tempo, temos um mundo cada vez mais abstrato e marcado por referências que unem o próximo e o distante e a realidade próxima é vilipendiada na medida em que há supervalorização de ideais e vivências de outros grupos, obstando a ponderação das representações e práticas locais.

O que vimos sobre a inserção dos estudos sobre o padre Cícero na disciplina Estudos Regionais em Juazeiro do Norte? Como fizemos com o Ensino Religioso na ocasião do encontro de 23 de novembro, lançamos a proposta aos professores dos Estudos Regionais para que nos falassem sobre suas práticas.

Questionados sobre se já trabalharam a figura do padre Cícero, 100% dos docentes afirmaram já ter considerado o trabalho com a temática. Oportunamente solicitamos que nos informassem como incluíram a temática e quais foram os recursos

utilizados.

Alguns docentes (3) expuseram ter trabalhado o padre Cícero de forma a mostrar que o personagem em questão é o grande responsável pela grandeza da nossa região. Neste caso, 2 docentes destacaram: a região do Cariri – “em seus aspectos: políticos, religiosos e intelectuais” e em especial “a cidade do Juazeiro do Norte, no tocante à alegria que ele trouxe e continua no imaginário popular, como um santo”.

Outro formato foi o trabalho contextualizado à história do Ceará (2 professores), mostrando a importância de eclesiástico nesta, o que um docente mencionou ser um modo de possível “ativamento do senso histórico em que o aluno está inserido”.

Também foram apresentados trabalhos com “trato da vida religiosa e política do padre Cícero”, envolvendo oralidade (2 professores), mostrando “a figura humana que envolve esta pessoa”, e usando artigos e pesquisas como subsídios teóricos “para apropriação de ideias que na prática trazem o padre Cícero como sujeito de seu tempo e de como sua influência pode ser compreendida não somente pelo viés de sua vida religiosa”.

Quanto aos recursos utilizados, assim mencionaram: Livros (5 professores); apostilas (4 professores); textos impressos (4 professores); Vídeos (4 professores); palestras, filmes e documentários (2 professores); aulas de campo (2 professores), pesquisa na internet (2 professores), imagens, músicas e pesquisas em livros de autores do município (1 professor).

Em relação aos conteúdos sugeridos para futuras formações docentes dos

aprofundamento sobre a região do Cariri; de estudar a história do Juazeiro do Norte (2 professores); de estudar as principais cidades da região, sobre a construção das cidades e sua importância econômica, religiosa e cultural.

Conteúdos específicos foram alvitrados, a exemplo da Guerra de 14 (Sedição de Juazeiro de 1914); musicalidade da região; manifestações artísticas de companhias de dança e teatro presentes e atuantes nos municípios da região; discussões sobre violências simbólicas nos espaços escolares desta região; e reflexos das romarias na economia local. Mais relacionados ao nosso alvo de análise, assim indicaram como conteúdos: Formação com foco no padre Cícero (2 professores); informações e aprofundamentos sobre o padre Cícero e beata Maria de Araújo (1 professor); as beatas de Juazeiro do Norte; padre Cícero e as romarias (1 professor), este destacando, além da figura humanística do padre Cícero, a integração entre romarias e turismo religioso.

Entre os docentes, 2 não propuseram conteúdos. Alguns, oportunamente reivindicaram realização de aula de campo (3); livros divididos por série (ano), com conteúdo sequenciado (2); material didático elaborado pela secretaria para os alunos; realização de palestras com estudiosos no assunto; vídeos; filmes; documentários; músicas; exposições de fotos; seminários; melhoria na estrutura das escolas; melhores salários aos professores temporários. Alguns docentes apresentaram que os alunos demonstram desinteresse pela disciplina.

Num contexto em que às vezes não se valorizam a história, a cultura ou as experiências comunitárias locais, é certo que isso traz implicações diretas quanto à compreensão e transformação do vivido, tanto quanto no que diz respeito à “transformação das vivências em signos de mobilização da memória coletiva e da identidade social”. (MARQUES e LIMA, 2004, p. 19). Por isso, concordamos com Marques (2004, p. 13) quando diz que pensar os universos de experiências construídos pelos grupos de referência pressupõe articular a memória local, em sua dinâmica de trocas e influências pelo outro, numa experiência de hibridação permanente nos processos de identificação.

Depois da análise aos motivos apresentados pelos docentes como razões que justificam considerarem os Estudos Regionais como muito importantes (os motivos encontram-se detalhados no capítulo 3, subseção 3.2 desta dissertação), os professores participantes do Círculo Reflexivo Biográfico – CRB Juazeiro – foram incitados a elaborarem uma definição para esta disciplina.

Nas conceituações, os Estudos Regionais foram ressaltados: como área relevante para melhor compreensão das características únicas da região em seus aspectos naturais e humanos; como o estudo dos fatos históricos nacionais com repercussão regional; como estudo das origens da região, de outros fatos na história e na cultura do Ceará e da região Nordeste, das pessoas influentes no desenvolvimento das cidades da região local, como o padre Cícero e a beata Maria de Araújo em Juazeiro do Norte, consistindo área oportuna para a “construir na mente dos educandos o valor que herdamos dos nossos antepassados, entendendo o presente e preparando para o futuro”.

Em se tratando das análises aos conteúdos sugeridos pelos professores dos Estudos Regionais, os envolvidos com o CRB Juazeiro destacaram: A história do Juazeiro do Norte (a exemplo da Guerra de 14) e a importância econômica, religiosa e cultural desta cidade; personagens como as beatas de Juazeiro (a exemplo da Maria de Araújo) e padre Cícero; reflexos das romarias na economia local.

Como conteúdos específicos não citados diretamente na pesquisa com os outros professores, os docentes do CRB Juazeiro incluíram: Estudo do folclore regional que acontece em Juazeiro (Horto); rezadeiras e curandeiros; tradições locais (penitências), renovações; o artesanato produzido em Juazeiro; os pontos positivos e negativos da romaria em Juazeiro e o cuidado com a preservação ao meio ambiente nesse período das peregrinações à cidade.

Oralmente acerca do assunto, instigada a falar sobre a prática dos Estudos Regionais após sua narrativa, uma docente considerou que o padre Cícero poderia ser mais trabalhado, sem discriminação, sem esquecer outras manifestações religiosas presentes na região. Deixando o claro que tem muitas dúvidas acerca do assunto, assim provocou durante seu discurso sobre o movimento de peregrinação à cidade, supondo outros possíveis interlocutores: Porque que você vem até Juazeiro? Ah, porque eu estava

doente... porque eu estava em tratamento e a doença era incurável e eu me apeguei ao padre Cícero e aquela doença foi embora. Afirmando se sentir comovida, continuou altercando: Porque uma pessoa a quilômetros de distância pede a intercessão, põe fé na ajuda dele, do padre Cícero e você... aqui bem pertinho fica se questionando o tempo todo?

Com esse pronunciamento, podemos inferir ser uma professora consciente da amplitude que a temática alcança. São dela estas outras perguntas:

Porque o padre Cícero aqui? Quem seria o Juazeiro se não fosse o padre Cícero? O que seria do padre Cícero... será se a beata não tivesse passado por isso, o suposto milagre... o que teria acontecido com o padre Cícero? Será se ele teria sido expulso? Se ele tivesse falado para o bispo dele o que estava passando [...]será que ele não iria de alguma maneira fazer algum exame, ou... enfim, buscar algum meio de não afetar o padre Cícero?

Tais questões se coadunam aos elementos centrais da nossa pesquisa, quando nos perguntamos se os docentes do Ensino Religioso e dos Estudos Regionais de Juazeiro do Norte incluem o padre Cícero como temática em suas aulas. Constamos que todos os professores de Estudos Regionais participantes da pesquisa consideram ser viável o trabalho pedagógico voltado para o tema. No caso do Ensino Religioso, pouco mais da metade dos pesquisados (63%) considera sua viabilidade. Entre os demais (de 36%), houve quem considerasse que: esta deva ser pauta no ensino de História ou nos Estudos Regionais; é mais relevante abordar valores religiosos ou noções de “convivência social” e “virtudes do cidadão”; alguns professores de outras áreas já trabalham esse conteúdo; não procura especificar uma religião em suas aulas; o professor estaria influenciado o aluno em relação à religião.

5.3 Ensino Religioso e Estudos Regionais: contribuições para viabilização do diálogo