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2. OS ESPAÇOS DE SOCIALIZAÇÃO E OS JOVENS

2.5 A descoberta do ambiente escolar

É nos primeiros anos da infância, através do ambiente familiar, provavelmente o único lugar de satisfação de desejos e correspondência afetiva da criança, por serem dos familiares a exclusividade das relações satisfatórias, estáveis e duradouras. Contida neste convívio de um ambiente de alternativas limitadas, de um número de pessoas limitado, ao ingressar na escola a criança experimenta uma ampliação súbita de seu horizonte social. É obrigada a aprender que fora do lar as relações sociais assumem outra importância. Percebe então, que a melhor defesa é a representação correta do papel que o grupo lhe atribui e agindo desta forma, assegura, afirma sua posição por intermédio do reconhecimento dos outros. De acordo com Lenhard (1985), o convívio com os professores e colegas de escola faz parte do intenso início da vida escolar, onde a criança constrói progressivamente os mecanismos de ajustamento social.

Na medida que o aluno começa a ter maior liberdade de envolvimento e admite a necessidade de adaptar-se a uma ordem social que existe objetivamente e que é bem diferente daquela administrada no lar, explica o autor, torna-se mais consciente nele a necessidade psicológica de se auto-afirmar perante os outros e de ser reconhecido por eles. Adota a posição que o grupo lhe concede e esforça-se por moldá-la conforme o que pensa e sente ser sua própria individualidade. Ao mesmo tempo, aprendendo a sujeitar-se às definições sociais de posições e situações, exercita-se em explorar os limites de liberdade que as determinações sociais lhe permitem, para tentar atingir o ideal de realização pessoal, enquanto busca seus objetivos entre as posições e padrões sociais que lhe surgem, entre os modelos que lhe apresentam, ao mesmo tempo em que tenta esquivar-se da iminência punitiva conseqüente dos adultos e dos próprios companheiros de idade.

Na concepção de Lenhard (1985), este aprendizado causará repercussão na sua conduta diante da família, ao mesmo tempo e de maneira inversa, as situações vivenciadas na família exercem influência no seu comportamento com a vida escolar. É um processo que expressa de uma maneira diferente para cada pessoa, mas com o principal enfoque no desejo de ser reconhecido pelos outros, no desejo de conseguir as atribuições que conferem a posição social pretendida. Quanto mais satisfatórios os recursos oferecidos pela escola à realização destes desejos pelos alunos, mais ela contribuirá para a construção do futuro ator social; quanto menos satisfatórias as interações na escola, mais os alunos encontrarão alternativas para realizar seus objetivos e quase sempre entre seus pares, de mesma faixa etária.

Mesmo considerando que a escola proporcione amplas possibilidades, é significativa a condição que alguns alunos apresentem-se frustrados em conseqüência de características individuais particulares.

A atualidade educacional traz à luz a necessidade de discussão sobre a reformulação da realidade e da natureza do problema sobre a prática pedagógica conservadora, evidente em diversos contextos históricos e sociológicos. Ao fazer isso, defende-se o ponto de vista de que a escola, os educadores, precisam construir uma linguagem que os considerem intelectuais transformadores onde a escola seja esfera atuante.

Historicamente, segundo Giroux, a relação entre o papel dos educadores e a sociedade mais ampla, tem sido mediada pela imagem do professor, como servidor público dedicado a reproduzir a cultura dominante no interesse do bem comum. No início do século XX, a organização das escolas públicas foi crescentemente submetida à influência de ideologias a serviço de interesses corporativos. Num contexto especialista, a relação entre conhecimento e o poder, tomaram uma nova dimensão. O desenvolvimento das ciências sociais tornou-se intimamente ligado à manutenção de práticas sociais e ideológicas de uma

sociedade de mercado. Estas mudanças resultaram na redução do pensamento crítico a dimensões meramente técnicas.(GIROUX,1992, p.10 )

Dentro de um modelo behaviorista de educação, para este autor, os professores são considerados mais como obedientes servidores e menos como profissionais criativos, que podem transcender a ideologia dos métodos e meios a fim de avaliar criticamente o propósito do discurso e da prática em educação.

Os programas de formação freqüentemente perdem a visão da necessidade de educar os estudantes para se transformarem em profissionais críticos. Desenvolvem cursos que focalizam os problemas imediatos da escola e que substituem, pelo discurso e uma pseudo-eficiência, a análise crítica das condições subentendidas à estrutura da realidade educacional. Ao invés de ensinar o estudante a pensar sobre quem é, sobre o que fazer, sobre suas responsabilidades, os alunos são treinados para compartilhar técnicas e para dominar a disciplina em sala de aula. A alternativa brasileira da revolução educativa, muito usada como bandeira política eleitoreira, virou lugar-comum dizer que a prioridade brasileira seja a educação. É de fundamental importância, mas não é do ensino vocacional ou profissionalizante que precisamos.

Pela análise de Giroux, faz-se necessário compreender a realidade fazendo críticas às ideologias que legitimam determinadas praticas sociais. É importante levantar questões como: o que ensinam, o modo como ensinam e quais os objetivos mais amplos por que lutam? Trabalhar com a subjetividade dos educandos significa tornar as experiências objeto de confirmação e debate, tornando-as constitutivas da realidade social.

Nessa perspectiva, levar a escola a ser formadora do espelho crítico é investir na construção de cada sujeito nela inserido, reconhecendo sua própria imagem, construindo suas relações, sua subjetividade, suas escolhas, seu projeto de vida.

CAPÍTULO 3