• Nenhum resultado encontrado

3. PRISÕES CAUTELARES: uma análise documental nos Boletins Carcerários

3.2. Município de Florianópolis/SC: dados e informações

3.2.2. Pesquisa Documental nos Boletins Carcerários do Presídio Público de

3.2.2.7. Descrição da qualidade dos Boletins Carcerários disponibilizados

O Banco de Dados, criado a partir do Access346, foi feito para a leitura dos

formulários em formato de documentos do redator Word, formato este que se encontravam os arquivos com os Boletins Carcerários do Presídio Público Masculino de Florianópolis/SC.

A facilidade, detectada inicialmente face a disponibilidade dos arquivos digitais, foi, tão logo que se começou o manuseio dos arquivos, descartada. Embora todos os documentos fossem do redator Word, o que se percebeu ao longo da elaboração do banco de dados, foi que alguma pessoa, nos primeiros anos que o Presídio recebeu um computador transcreveu a tabela, até então preenchida a mão ou a máquina de escrever, e fez o modelo de administração dos dados dos presos.

346

Ilustração 25 – Modelo Registro Carcerário utilizado pelo Presídio

Além, a sua confecção segue uma norma gramatical tal e qual a linguagem verbal, destituída de qualquer rigor formal.

Os primeiros problemas de manipulação dos dados começaram nesse momento. Um programa de computador, diferentemente da leitura humana, reconhece determinados caracteres ou padrões de localização dentro do formulário.

Salienta-se que para formulação de um banco de dados que se preste a consultas de determinados parâmetros de pesquisa, são necessários alguns cuidados e atenção na hora da elaboração e manutenção das informações.

Assim, descreve-se, de forma exemplificativa, alguns dos problemas apresentados pelos formulários dos Boletins Carcerários e que em certa medida prejudicam (ou prejudicaram) uma análise qualitativa dentro da totalidade das ocorrências, o que por outro lado, mostraram de forma concreta as “cifras ocultas” das estatísticas criminais.

- A falta de padronização na elaboração da tabela: esta ausência fez com que os comandos para a transferência dos documentos do word ao access se tornassem extremamente detalhados (minuciosamente descritos e cercados de todas as possibilidades verbais de ocorrências), vez que os agentes penitenciários que lançaram as informações o faziam sem qualquer método de trabalho ou sistematização das informações. Ex. Escolaridade: ao invés de delimitar e uniformizar, cada um relatou o que entendia, na ocasião da elaboração, ou seja, nos registros são encontradas as mais variadas denominações para cada grau de escolaridade (1° G, 1° Grau, 1ª Série do 1° Grau, e tc.).

A ausência da padronização obsta ou dificulta as possibilidades de aplicação direta de um software de gerenciamento de informações, da mesma fora

que atrasou a pesquisa e prejudicou as análises dos Boletins Carcerários na sua totalidade.

A título de informação o campo da escolaridade apresentou 244 formas diferentes de nomenclaturas.

- Erro no registro das informações ou ausência de dados: da mesma forma que a falta de padronização das informações, os erros e ausências dos dados nos devidos campos prejudicou a transferência dos dados e a leitura para elaboração do relatório de resultados, vez que a falha ou a omissão não poderiam ser consideradas por probabilidade. Exemplo: Nome da Mãe – brasileiro; nacionalidade – (em branco); estado civil – 1° grau ; etc.

- Registro do histórico processual e carcerário feito por redação livre do técnico administrativo: neste histórico que contém maior parte das informações relevantes para pesquisa como entrada, saída, qual o crime cometido, tipo de prisão, processo criminal, comarca de origem, registro de fugas e reingressos, etc., todavia, foi o processo que apresentou o maior grau de dificuldade, não só pelas causas narradas nos itens a e b, mas pela absoluta falta de qualidade técnica do responsável pela sua elaboração. Vejamos um modelo aleatório:

16.08.07 O mesmo ingressou neste Presido, pela CI nº 3790/07, procedente da DP de Palhoça/SC, onde se encontrava recolhido desde a data de 10/0707, por ter sido preso em flagrante delito, incurso no art. 33 da Lei 11.343/06.

17.10.07 O mesmo foi devidamente escoltado, apresentado ao MM. Juiz de Direito da VC da Palhoça/SC, a fim de participar da audiência visando a instrução do processo Nº: 045.07.(omissis).

13.11.07 O mesmo foi devidamente escoltado, apresentado ao MM. Juiz de Direito da VC da Palhoça/SC, a fim de participar da audiência visando a instrução do processo Nº: 045.07. (omissis).

20.11.07 O mesmo foi devidamente escoltado ao Hospital de Custodia e Tratamento Psiquiátrico afim de realizar Exame de Dependência Toxicológica nos auto do PC nº: 045.07. (omissis).

27.11.08 Recebemos da VC de Palhoça/SC, cópia da sentença condenatória e PEC referente ao sentenciado do presente, o qual foi condenado à pena de 05 anos de reclusão e a 15 dias de detenção,

totalizando 05 anos e 15 dias, em regime inicialmente FECHADO, por

infração ao art. 33 da Lei nº 11.343/06 e art. 330 do CP, nos autos do PC. No. 045.07. (omissis).

Como se verifica, não há uma sistematização e uma técnica no trato das informações (que são, ou seriam relevantes aos bancos de dados) de um

estabelecimento prisional de internamento provisório. Note-se que a pesquisa não possui o caráter de cobrança de eficiência, mas o simples relato das dificuldades encontradas no camindo de elaboração e manuseio das informações dos Registros Carcerários.

Não consta, p. ex., passagens por outros estabelecimentos que não o do processo atual, informações da vida pregressa, reincidência, ou, até mesmo o local em que foi cumprir pena. No histórico do registro acima exemplificado está ausente a data de sua saída do estabelecimento, ou seja, para efeitos de leitura das informações ele ainda se encontra no Presídio, em 31.12.2008.

O que se sugere como contribuição prática ao estabelecimento, diante da experiência de manuseio com os formulários, é a elaboração de um formulário fechado e com parâmetros direitos de lançamento e pesquisas, que pode variar de acordo com as possibilidades do sistema institucional. Melhor seria a estratégia de lançamento de dados on-line diretamente num banco virtual, onde os operadores possam lançar as informações a partir de qualquer computador com acesso à internet.

Esta sugestão em nada difere aos atuais modelos de sistemas que têm sido implantados e implementados pelo Poder Público, inclusive, a Secretaria de Estado da Segurança Pública e Defesa do Cidadão de SC também já tem parte de seus dados funcionando desta forma.