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2. A SEGURANÇA PÚBLICA NO BRASIL

2.1. Conceitos e definições essenciais à Segurança Pública

2.1.5. Gestão

São tantas as novas apropriações terminológicas trazidas pelas ciências da administração e pelo desenvolvimento informacional, com vistas à operacionalização do princípio da eficiência da Administração Pública, que foram necessários redistribuir funções gerenciais aos agentes públicos, intuindo metodizar a produtividade, sendo, ainda, potencializada pelo desenvolvimento tecnológico. É

177

Cf. DI PIETRO, Maria Sylvia. Direito Administrativo, p. 37-38.

neste percurso do processo que a Administração Pública incluiu a terminologia da gestão.

Atribuiu-se à gestão e ao gestor o nexo causal entre técnica e método voltados à prestação do serviço público mais produtivo, passível de controle e, claro, visando a eficiência. Estas tendências políticas de gerenciamento, que vêm sendo implementadas pela administração pública e, consequentemente, aos órgãos da segurança, é que necessitam ser delimitadas e aprofundadas, uma vez que o conceito de gestão e seu objeto são polissêmicos e contraditórios.

Inicialmente pontua-se que gestão significa o ato de gerir179, ou seja, forma

de administrar determinado objeto. BOBBIO estabelece que gestão é “tornar atividades de execução de tarefas programadas, quer se destinem à prestação de serviços a assessorias, quer se destinem à promoção, ao reequilíbrio ou à regulação exata de atividades econômicas e sociais” 180.

Ainda, define quem são os gestores como sendo

(...) o pessoal profissional atua como responsável pelas atividades programadas e também da gerência destas numa relação direta entre estrutura administrativa e uso social, com base num constante controle e estímulo da parte de grupos e classes sociais para a consecução eficaz e objetiva dos resultados prefixados. Em ambos os casos, o burocrata aparece como um especialista em condições de utilizar as contribuições de outras áreas e das técnicas de organização ou de contribuir para a formação das decisões programáticas próprias das estruturas políticas do Governo e de prover a condução integrada das atividades de gestão, segundo as atuais tendências de desenvolvimento da Administração pública.181

Como bem definido, há que se delimitar a existência de duas frentes de atuação de pessoal, uma é a articulação política e outra é o corpo técnico especializado, que estão em relação nas mais diversificadas frentes de atuação.

Diz-se isso, pois, a cada função atribuída à gestão – e seus gestores – irá operar de forma diferenciada dentro do sistema e, mesmo utilizando-se da mesma terminologia, está se estabelecendo conceitos diversos, uma coisa é o agente

179

AULETE, Caldas.

180

Bobbio, Dicionário de Política, p. 16.

181

político outra é o agente técnico especializado. Como esclarece DI PIETRO: “(...) a Administração Pública compreende a função política, que traça as diretrizes governamentais e a função administrativa, que as executa”182.

Tal confusão discursiva é, diga-se de passagem, funcional do ponto de vista de legitimação, vez que transforma o debate político e ideológico da administração pública (aqui se fala das políticas penais) em técnico científico, dando- se o tom de autoridade suprema ratificada pela ciência. Verifica-se, assim, a colonização do campo político pela ciência, diferentemente do modelo sugestionado de integração entre os saberes e a Administração Pública.

O que se verifica é que o modelo de gestão que vem se estabelecendo encontra-se fortemente atrelado aos moldes neoliberais, flutuando entre o neocorporativismo e o mercado, cf. BOBBIO:

O pensamento político liberal, atualmente, tem consciência de que, para responder ao desafio do socialismo, tem que optar entre o Estado assistencial, forma modificada do velho "Estado policial", que atribui a tarefa de concretizar o bem-estar ou as finalidades sociais a máquinas burocráticas, assumindo, de tal forma, em relação aos cidadãos, uma atitude paternalista, e o Estado reduzido, que responsabiliza os indivíduos — singular e coletivamente — mediante o livre mercado. O Estado assistencial leva irremediavelmente a uma sociedade inteiramente administrada, onde não haveria mais lugar para o Liberalismo. Tal fato determinaria o fim do Estado liberal e o começo do Estado autoritário. Em outras palavras, a tendência do Liberalismo contemporâneo é evidenciar a incapacidade dos Estados burocráticos para resolver a questão social, pelo fatal desvio das organizações das funções prefixadas (formação de uma nova classe agindo em função de seu próprio interesse) e por haver uma contradição intrínseca entre a lógica das máquinas burocráticas e a lógica da participação.183

BOBBIO, ainda, aponta que

(...) o problema histórico, que atualmente está agitando o pensamento liberal — de direita e de esquerda —, é uma nova descoberta e uma adaptação a novos contextos da função anteriormente desenvolvida pelas autonomias locais contra o Estado burocrático centralizador; é a afirmação sempre renovada da primazia da sociedade civil, buscando formas novas para que esta primazia possa se exprimir, deixando com o Estado apenas a

182

DI PIETRO, Maria Sylvia. Direito Administrativo, p. 45.

183

tarefa de garantir para todos a lei comum, bem como a função de órgão equilibrador e incentivador de iniciativas autônomas da sociedade civil. A única alternativa desta volta à sociedade civil e ao mercado é o NEOCORPORATIVISMO (...) ou Estado de corporações, que se baseia nas organizações dos grandes interesses privados e na sua colaboração, a nível político, nas decisões estatais. Desse modo, tais organizações se incorporam no Estado.184

Embora o conceito de democracia participativa não seja um objeto direto da presente pesquisa, o assunto será abordado no tópico da 1ª CONSEG.

Os conceitos verificados apontam, além da sua delimitação teórica e conceitual, a necessidade de uma ampla discussão sobre o caráter político e ideológico dos discursos e das práticas da administração pública, principalmente, dos modelos gerenciais propostos à segurança pública, motivo esse de relevante preocupação da pesquisa que serão debatidos na conclusão.

Passa-se, então, ao segundo tópico do capítulo, que é a estruturação e divisão das competências dos órgãos da segurança pública em todos os níveis de governo (federal, estadual e municipal), estabelecendo-se, a priori, que o enfoque será restritivo, limitando-se, assim, as especificidades das policias que atuam diretamente na manutenção da ordem pública, bem como as esferas de poder o qual o Município de Florianópolis está atrelado, quais sejam, a União e o Estado de Santa Catarina.

2.2. Estrutura e Competências da Segurança Pública a partir da Constituição