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DESCRIÇÃO DOS ASPECTOS FÍSICOS DAS PRODUÇÕES EM EDUCAÇÃO

4 A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO EM ENSINO DE ESTATÍSTICA NO

4.1 DESCRIÇÃO DOS ASPECTOS FÍSICOS DAS PRODUÇÕES EM EDUCAÇÃO

A partir do processo de construção do corpus das pesquisas acadêmicas sobre a Educação Estatística no ensino médio, chegamos a um conjunto de 59 trabalhos (38 dissertações de mestrado profissional, 20 dissertações de mestrado em programas de mestrado acadêmico e 1 tese de doutorado) produzidos no período de 2003 à 2017 em 29 diferentes instituições brasileiras. Nesse período, 36% dos trabalhos foram produzidos em nível de mestrado acadêmico (MA), 2% em nível de doutorado (DO) e 62% dos estudos em nível de mestrado profissional (MP), distribuídos, conforme o Gráfico 1, em cinco diferentes regiões.

Gráfico 1 – Distribuição regional, por modalidade, de estudos sobre Educação Estatística no ensino médio produzidos de 2003 à 2017.

Fonte: Dados da Pesquisa

No que se refere à distribuição por região, 29 estudos (9 mestrados acadêmicos, 1 doutorado e 19 mestrados profissionais) foram realizados em programas situados na região Sudeste, o que corresponde a 48% das pesquisas levantadas. A região Sul foi responsável pela produção de 33% dos trabalhos (10 mestrados acadêmicos e 10 mestrados profissionais). A região Nordeste produziu 13% dos estudos (3 mestrados acadêmicos e 5 mestrados profissionais). Já as regiões Centro-Oeste e Norte produziram, juntas, 5% (3 mestrados profissionais).

As diferenças quantitativas de produção entre as regiões, observada no Gráfico 1, é produto de um problema não só da área do ensino de Ciências e Matemática, mas também de

1 2 14 4 1 6 1 20 10 0 5 10 15 20 25

Norte Nordeste Centro-Oeste Sudeste Sul DO MA MP

quase todas as áreas de pós-graduação do Brasil: a concentração de programas e cursos na região Sudeste do país (NARDI, 2015). Segundo o censo da Educação Superior, de 2015, o Sudeste concentrava 47% de todas as Instituições de Ensino Superior do país (BRASIL, 2016). Segundo o relatório de avaliação 2010-2012 Trienal 2013 da Capes, a região Sudeste contava com 44 (42%) programas de pós-graduação na área do Ensino e a região Sul com 27 (26%), enquanto o Nordeste contava com 15 (14%), Centro-Oeste com 10 (11%) e a região Norte apenas com 8 (8%) programas.

Em relação às instituições que lideram a produção de estudos sobre a Educação Estatística no ensino médio, destacamos que, no período de 2003 a 2017.1, 29 instituições produziram (Tabela 1).

Tabela 1 – Universidades brasileiras e a somatória das produções acadêmicas na área da Educação Estatística no ensino médio.

(Continua)

Instituições Siglas Tese

s Dissertações Tot al Acadêmico Profissio nal

Instituto de Matemática Pura e Aplicada IMPA - - 2 2

Pontifícia Universidade Católica de Goiás PUC- MG

-

1 - 1

Pontifícia Universidade Católica do Rio

Grande do Sul PUC-RS

-

6 - 6

Pontifícia Universidade Católica de São

Paulo PUC-SP 1 3 10 14

Universidade Estadual de Ponta Grossa UEPG - - 1 1

Universidade Estadual do Rio de Janeiro UERJ - - 1 1

Universidade Federal de Campina Grande UFCG - - 1 1

Universidade Federal de Goiás UFG - - 1 1

Universidade Federal de Juiz de Fora UFJF - - 2 2

Universidade Federal de Minas Gerais UFMG - 1 - 1

Universidade Federal do Mato Grosso do Sul UFMS - - 1 1

Universidade Federal de Ouro Preto UFOP - - 1 1

Universidade Federal de Pernambuco UFPE - 1 - 1

Universidade Federal do Piauí UFPI - - 4 4

Universidade Federal do Rio Grande FURG - - 1 1

Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFRGS - - 4 4 Universidade Federal do Rio Grande do

Norte UFRN

- -

1 1

Universidade Federal Rural do Rio de

Janeiro UFRRJ

-

Tabela 1 – Universidades brasileiras e a somatória das produções acadêmicas na área da Educação Estatística no ensino médio.

(Conclusão)

Instituições Siglas Tese

s Dissertações Tot al Acadêmico Profissio nal

Universidade Federal de Sergipe UFS - 1 - 1

Universidade Federal de São Carlos UFSCar - - 2 2

Universidade Federal de Santa Maria UFSM - - 1 1

Universidade Federal de Viçosa UFV - - 1 1

Universidade Luterana do Brasil ULBRA - 3 - 3

Universidade Estadual Paulista UNESP - - 1 1

Centro Universitário Franciscano UNIFR A

-

2 - 2

Universidade Federal de Rondônia UNIR - - 1 1

Centro Universitário Univates UNIVA TES

- -

1 1

Universidade de São Paulo USP - 1 - 1

Universidade Tecnológica Federal do

Paraná UTFPR

-

- 1 1

Total 59

Fonte: Dados da Pesquisa

Verificamos que a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), que oferta um mestrado acadêmico em Educação Matemática, um mestrado profissional em ensino de Matemática e um doutorado em Educação Matemática, apresenta o maior número de produções, totalizando 14 pesquisas acadêmicas, sendo 1 tese e 13 dissertações. A Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) apresenta 6 pesquisas concluídas de seu programa de mestrado em Educação em Ciências e Matemática. Na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, registra-se a produção de 3 dissertações elaboradas no programa de Pós-Graduação Profissional em Matemática em Rede Nacional. No Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Luterana do Brasil (ULBRA), em Canoas/RS, a produção totaliza 3 trabalhos a nível de mestrado defendidos.

Três aspectos chamam atenção na Tabela 1: a predominância do estado de São Paulo neste grupo com 4 instituições; a liderança da PUC-SP, representando 24,2% da produção nacional de pesquisas sobre a Educação Estatística no ensino médio. Cabe, por outro lado, observar que 17 instituições tiveram um único trabalho produzido sobre a temática. Este fato pode evidenciar que ainda é grande o número de instituições e programas de pós-graduação que não têm uma linha ou grupo de pesquisa voltado ao estudo da Educação Estatística.

Já mostramos que a proporção de teses e dissertações produzidas é de 2% para 98%. Esse desequilíbrio surge quando observamos o achado de uma única tese sobre o ensino de estatística no ensino médio. Isso nos leva a pensar numa descontinuidade das pesquisas, se considerarmos que há uma tendência em dar prosseguimento no doutorado às pesquisas iniciadas no mestrado.

Essa hipótese também pode ser confirmada quando examinamos a produção acadêmica por ano. O Gráfico 2 indica uma pequena produção que tem início nos anos 2003 e confirma uma tendência crescente a partir de 2012. No entanto, em 2015 cai a produção de dissertações na área.

Gráfico 2 – A evolução na produção de teses e dissertações de Educação Estatística realizadas em programas de pós-graduação brasileiros até 2017.

Fonte: Dados da Pesquisa

A partir da análise do Gráfico 2, é possível verificar que, muito embora oscilante em alguns momentos, a produção de dissertações apresenta uma tendência geral crescente ao longo dos anos, não sendo acompanhada pela produção da tese, com exceção do ano 2007, com uma única pesquisa e, posteriormente, mantendo-se estável e abaixo do quantitativo de 1 trabalho durante o período pesquisado.

O fato de o quantitativo de teses não apresentar o mesmo quadro de produção apresentado pelo quantitativo de dissertações é um indicativo de que a pesquisa em Educação Estatística ainda não ganhou muita força ao longo dos anos nos programas brasileiros de doutorado. Entretanto, podemos admitir que o aumento na produção de dissertações nos últimos cinco anos possa representar, por sua vez, uma possível resposta positiva na produção de teses

0 2 4 6 8 10 12 14 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014 2016 2018 Q uant idade Período Dissertação Tese

em um futuro próximo. Essa é uma prerrogativa plausível e natural, uma vez que o crescente quantitativo de mestres formados nas últimas décadas compõe um corpo cada vez maior de candidatos a programas de doutorados para os próximos anos.

Já mencionamos as regiões, os estados da federação e as principais universidades onde a pesquisa em Educação Estatística é realizada. Buscamos agora verificar em quais programas de pós-graduação essa pesquisa tem sido produzida. A seguir, na Tabela 2, é mostrado os programas de pós-graduação nos quais os trabalhos defendidos e disponibilizados foram catalogados nesta pesquisa.

Tabela 2 – Programas de pós-graduação onde foram produzidas as pesquisas em Educação Estatística no ensino médio.

Programas de Pós-Graduação Quant.

Mestrado em Ciências 1

Mestrado em Ciências Exatas e da Terra 1

Mestrado em Educação 3

Mestrado em Educação em Ciências 1

Mestrado em Educação em Ciências e Matemática 6

Mestrado em Educação Matemática 5

Mestrado em Educação Matemática e Tecnológica 2

Mestrado em Ensino de Ciências e Matemática 4

Mestrado em Ensino de Ciências Exatas 1

Mestrado em Ensino Profissionalizante em Ensino de Física e Matemática 1

Mestrado em Linguística 1

Mestrado Profissional em Educação Matemática 3

Mestrado Profissional em Ensino de Ciências Naturais e Matemática 1

Mestrado Profissional em Ensino de Matemática 13

Mestrado Profissional em Rede Nacional em Matemática 16

Total 59

Fonte: Dados da Pesquisa

A análise da Tabela 2 nos aponta a grande diversidade de tipos de programas onde estas pesquisas têm sido produzidas no Brasil. Esse fato, provavelmente, é decorrente da natureza interdisciplinar da Estatística, que se configura como um campo de interesse de várias áreas do

conhecimento, de modo que a pesquisa sobre o seu ensino ultrapassa o âmbito dos programas de Matemática e Educação Matemática, atingindo programas como o de Educação, Ensino de Ciências, Linguística, entre outros.

Diante dos dados apresentados, que mostram a trajetória das pesquisas stricto sensu nacional ao longo dos anos, não poderíamos considerar a Educação Estatística de forma isolada e desvinculada do contexto da grande área da Educação, contexto este que integra e com o qual contribui para os estudos da Educação Estatística. Segundo Lombardi (2003), referindo-se ao contexto da pesquisa em Educação, afirma que embora os programas de pós-graduação tiveram início no final da década de 1960, foi a partir da década de 1990 que a produção de dissertações e teses, efetivamente concluídas e defendidas, mostraram significativo crescimento. Desse modo, é adequado inferir que as produções observadas em Educação Estatística parecem acompanhar uma tendência de escala de produção em programas de pós-graduação na grande área da Educação.

A produção no campo da Educação Estatística também integra e acompanha as novas tendências dos programas de pós-graduação de escala maior em nível nacional. De acordo com a última avaliação quadrienal da Capes (2013-2017), tem crescido em 25% o número de programas nos últimos quatro anos – em dados absolutos o sistema avançou de 3.337 para 4.175 programas entre 2013 e 2016 (BRASIL, 2017).

No quadriênio apurado por essa avaliação, houve um aumento de 77% no número de cursos de mestrado profissional. O mestrado acadêmico e o doutorado também evoluíram atingindo um percentual de aumento de 17 e 23%, respectivamente. Entre eles, os programas de pós-graduação na área de Ensino vêm sendo submetidas no Brasil, com perspectiva positivas e, evidentemente, com ampla expansão como mostra no Gráfico 3 (BRASIL, 2013).

Gráfico 3 – Demonstra o crescimento dos cursos de pós-graduação dentro do período de 2013 a 2017.

O campo da Educação Estatística também se insere no contexto dos programas de pós- graduação em Ensino e naturalmente colabora para expandir os estudos. A despeito do desenvolvimento da Estatística e de seu ensino no Brasil, vê-se, a partir das leituras dos trabalhos, que o campo ainda enfrenta problemas. Parece-nos evidente, por exemplo, que a ausência de uma formação didático-pedagógica adequada para os professores ainda continua gerando dificuldades no âmbito do ensino deste conteúdo. Outras questões que se revelam como problemáticas para a área são a escassez de pesquisas na área voltadas à educação básica; a carência de investigações que abordem o ensino de temas mais avançados e a necessidade de ampliação das pesquisas.

Como comumente observado, há uma falta de preparação de professores para lecionar os conteúdos estatísticos, inclusive os licenciandos. Estes profissionais têm recebido poucos conhecimentos nos cursos de formação de docentes e que, segundo Bratton (2000 apud BAYER et al., 2004), acaba dificultando o ensino da Estatística e a formação do sujeito com o pensamento crítico.

Outra fragilidade no ensino se refere aos materiais didáticos disponíveis, em particular os livros didáticos. Embora os materiais abordem os conteúdos da área, de um modo geral, é dado o destaque na resolução de exercícios a partir de aplicações diretas de expressões, sem que ocorra a relação problemática que oportuniza a reflexão dos conceitos envolvidos; ou ainda a grande simplificação dos conteúdos, a falta de continuidade de uso ao longo dos volumes de coleções e a aplicação dos conceitos estritamente em exercícios matemáticos (LOPES; MORAN, 1999).

Segundo Costa (2007), em sua dissertação, alguns problemas, como a supervalorização de procedimentos tecnicistas na obtenção de medidas, gráficos e tabelas, em detrimento da construção de um conhecimento rico em significado, o problema da restrição à equiprobabilidade nos livros didáticos, a contextualização “maquilada”, que restringe quase que na totalidade os problemas de probabilidade a jogos de dados, cartas e sorteios em urnas. Batanero (2000) explicita que uma das grandes dificuldades vivenciadas pela Educação Estatística é o fato de a Estatística, enquanto ciência, atravessar um período de notável expansão, sendo cada vez mais numerosos os procedimentos disponíveis, afastando-se cada vez mais da Matemática.

Vale dizer que o caminho trilhado até aqui ainda não foi suficiente para tecer conclusões sobre essa temática como um objeto de estudo das Ciências e Matemática, o que implica necessariamente a definição da problemática em torno da qual possamos tratar os referenciais teóricos e metodológicos das pesquisas sobre o ensino de estatística no ensino médio.

Podemos partir de uma análise preliminar da produção acadêmica para identificar as principais temáticas estudadas. Vejamos na seção a seguir.

4.2 ANÁLISES TEMÁTICAS E OS ENFOQUES TEÓRICO-METODOLÓGICOS DAS