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4 GEOLOGIA E CARTOGRAFIA DO CORPO SERRA PRETA (PEDRO

5.1 Descrição das estruturas frágeis

5 DEFORMAÇÃO FRÁGIL E EFEITO TERMAL

Os aspectos estruturais e metamórficos abordados nesse capítulo remetem à deformação frágil ocorrida na área de estudo e ao efeito térmico ocasionado pelas intrusões nas encaixantes. São discussões baseadas na revisão da bibliografia, na análise de imagens orbitais e na integração de dados de campo com microscopia de luz transmitida.

5.1 Descrição das estruturas frágeis

Paiva (2004), ao estudar edifícios vulcânicos na região de Lajes e Pedro Avelino, menciona grandes lineamentos frágeis de orientação norte-noroeste concordantes ao Corpo Serra Preta. A correlação entre essas estruturas e a colocação de magmas no domínio da Bacia Potiguar é corroborada por diferentes autores e pode ser visualizada em produtos de sensores remotos, onde nota-se forte alinhamento de corpos ígneos nessa direção. Em consonância, falhas e fraturas observadas em campo confirmam a existência de uma direção preferencial de estruturas frágeis, definindo um trend frágil na área.

Uma das estratégias empregadas na interpretação de estruturas corresponde ao uso de imagens de radar com aplicação de técnicas de pseudo-iluminação e filtragens, na tentativa de realçar lineamentos e outras feições no terreno. Os produtos são do tipo SRTM, obtidos por missão espacial da NASA em 2000 e disponíveis em versões originais no acervo digital gratuito da International Union of Geological Sciences (USGS). Foram processados com o auxílio do software ArcGIS 10.5® para criação de modelos de sombreamento do terreno. Em função do posicionamento do corpo em relevo positivo com relação à bacia, as imagens obtidas como resultado possibilitaram a melhor visualização de seu contorno. Na Figura 17, nota-se a geometria da intrusão sob forma de cristas contínuas e delgadas, não visualizadas em composições coloridas e fotografias aéreas.

O contexto tectônico que se assemelha ao observado na região do Serra Preta remete a presença de transcorrências conectadas por estruturas do tipo pull-apart. Em escala continental, este arranjo está relacionado à formação de bacias de mesmo nome (bacias de pull-apart); com abertura controlada pela movimentação de grandes falhas. No cenário ora relatado, ele é marcado por estruturas de menor porte, com magmatismo básico associado na forma de diques e plugs.

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Figura 17 – Lineamentos interpretados com base no processamento de modelos digitais de elevação do

tipo SRTM. Em (a), as cores mais claras indicam níveis maiores de altitude, ao passo que as cores mais escuras indicam áreas arrasadas. Em (b), esboço esquemático sobre as estruturas observadas.

O registro dessa tectônica aparece principalmente na Formação Açu (encaixante sedimentar) e no complexo gnáissico-migmatítico do embasamento. Nos arenitos, em especial nas bordas leste e oeste do Serra Preta, foram observadas falhas subverticais secas ou preenchidas por material detrítico cominuído, sem aparente critério cinemático (Figura 18). Também são encontrados sets de fraturas em pares conjugados e bandas de deformação (Figura 18); estas últimas sem padrão evidente. No âmbito do embasamento, à sul da área, o fabric dúctil pré-cambriano NE é reativado por fraturas pós-orogênicas e/ou truncado por planos mais recentes (Figura 19) (Jardim de Sá, 2000).

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Nesse contexto, as estruturas observadas em campo corroboram a atuação de um regime frágil na área, estando associado à intrusão no mioceno de pequenos volumes de magma na porção sul da Bacia Potiguar. Essa interpretação é condizente com dados da literatura que descrevem, ao menos, quatro eventos tectônicos frágeis pós-Orogênese Brasiliana (discutidos no Capítulo VI). Assim, é sugestivo que a colocação do Serra Preta e corpos ígneos contemporâneos tenha aproveitado zonas de fraqueza geradas por ajustes tectônicos intraplaca; representados por falhas transcorrentes aparentemente dextrógiras. Para este arranjo, os eixos de tensões são posicionados como compressão aproximadamente norte-sul (σ1) e distensão este- oeste (σ3); cinemática que permitiu também a acomodação do corpo Bugre, plug satélite à norte, em estrutura do tipo pull-apart. Essa dinâmica é ilustrada na Figura 20, que propõe um modelo tectono-estrutural para justificar a disposição dos corpos ígneos na área de interesse.

Figura 18 – Registro de tectônica frágil na Formação Açu, Bacia Potiguar. Em (a) e (b) afloramentos à

oeste do Corpo Serra Preta apresentando fraturas preenchidas por material cominuído nas direções noroeste e nordeste. Em (c), banda de deformação no centro da imagem. Em (d), afloramento à leste do Corpo Serra Preta com padrões de fraturamento noroeste. Ponta metálica do martelo indica o norte.

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Figura 19 – Embasamento cristalino à sul da área de estudo, unidade Complexo Caicó. Em (a),

leucognaisse com fraturamento conjugado norte-nordeste e este-oeste. Em (b), leucognaisse bandado com fraturas norte-noroeste. Ponta metálica do martelo indica o norte.

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5.2 Efeito termal em encaixantes da Bacia Potiguar

O termo pirometamorfismo foi inicialmente utilizado por Brauns em 1912 para descrever alterações em zonas de contato entre magmas intrusivos e rochas hospedeiras. Para esse autor, o fenômeno está estritamente relacionado à presença de vidro, assumindo a necessidade de temperaturas suficientemente altas para induzir fusão na rocha. Desde então, diversos trabalhos discutiram o efeito causado pelo calor ao atingir corpos mais frios, sendo Grapes (2011) um dos mais recentes autores a abordar o tema. Para ele, pirometamorfismo é simplesmente o metamorfismo que ocorre a baixas pressões e altas temperaturas; o que permite inferir um cenário de contraste térmico ocorrido em profundidades relativamente rasas.

Na região de Pedro Avelino, a atividade ígnea atuante no mioceno resultou na colocação de volumes máficos/intermediários que afetaram encaixantes sedimentares no sul da Bacia Potiguar. São enfoque desse trabalho os Corpos Serra Preta e Bugre, descritos como vulcânicas e hipoabissais básicas associadas à geração de auréolas termais nas Formações Açu e Jandaíra. Por tratarem-se de unidades siliciclásticas e carbonáticas, embora muitos termos sejam utilizados para classificar rochas termalmente afetadas, destacam-se aqui aqueles destinados a litologias originalmente sedimentares transformadas total ou parcialmente.

Os buchitos são rochas de protólitos pelíticos-psamíticos submetidos a condições de altas temperaturas (900º-1100ºC) e baixas pressões (até 0,5-1,0 kbar) (Grapes, 2011), descritos inicialmente pelo mineralogista alemão Baron Christian von Buch, no Século XVIII. Na área de estudo, identificam-se fragmentos desse litotipo nas adjacências do Corpo Serra Preta; interpretados como resultado da influência térmica nos arenitos da Formação Açu. Já na Formação Jandaíra, uma vez composta por carbonatos fossilíferos, as intrusões provocaram recristalização estática dos calcários.

Dados coletados durante o mapeamento geológico, contudo, sugerem não ser possível delimitar com precisão a auréola térmica ora descrita. Aponta-se como fatores limitantes i) a dificuldade de acesso devido a vegetação nativa densa e ii) a ação do intemperismo, que desagregou e remobilizou fragmentos basálticos sobre os contatos. Nesse sentido, a formação de zonas afetadas pelo calor é confirmada, embora o alcance do metamorfismo possa ter sido naturalmente mascarado. Nesse quadro, os tópicos a seguir descrevem a petrografia das rochas associadas, no intuito de caracterizar as mudanças texturais e mineralógicas provocadas pelo influxo de calor.

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