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pude perceber que não basta apenas levar o aluno a dominar a tecnologia da escrita É primordial também fazer

DESCRIÇÃO DO TRABALHO REALIZADO

Durante a aplicação do material disponibilizado pelo curso, pude perceber que não basta apenas levar o aluno a dominar a tecnologia da escrita. É primordial também fazer uso da escrita nas intenções sociais, pois, mesmo antes de aprender a ler, a criança está inserida em contextos sociais mediados pela cultura letrada e deles traz referências para a aprendizagem da escrita. Conforme Dehaene (2012), “o sistema visual da criança estrutura-se antes mesmo do ingresso na escolarização e da aprendizagem da escrita” (p. 83); segundo nossos estudos sobre o pensamento do autor, isso caracteriza uma das primeiras dificuldades da criança, pois o sistema visual de reconhecimento dos objetos e rostos difere do sistema de reconhecimento das letras. Iniciamos o trabalho com a aplicação do Instrumento Diagnóstico das Etapas Iniciais da Alfabetização (IDEIA) e percebemos que ele se encontra articulado aos materiais e às situações didáticas do kit de alfabetização recebido, que muito contribuiu para traçarmos de forma minuciosa o perfil da turma do 1º ano de alfabetização, composta por 25 alunos.

O diagnóstico foi realizado no período de maio a junho de 2016. Para isso, a escola elaborou cuidadosamente um cronograma de aplicação, prevendo que as crianças se dirigiriam à escola no contraturno, sendo acompanhadas pelas professoras Maria da Conceição de Souza (professora de Educação Infantil e cursista da especialização) e Maria da Conceição Lopes de Sousa (diretora da escola e também cursista). Obtivemos, assim, um diagnóstico individual por aluno que nos mostrou as dificuldades relacionadas especialmente aos seguintes aspectos: atenção dirigida e memória visual, motora e verbal.

Um aspecto interessante da aplicação do IDEIA foi ele ter nos proporcionado informações minuciosas sobre nossas crianças, mostrando fatos que estavam até aquele momento ocultos para a escola e as professoras e que consideramos, hoje, fundamentais. Tal conhecimento convidou-nos a buscar elementos do campo teórico necessários e significativos à construção do trabalho a ser desenvolvido na alfabetização das crianças, como o apontamento das adaptações necessárias quanto ao planejamento, à rotina da turma e aos recursos didáticos na execução das atividades.

Após o diagnóstico da aplicação dos testes do IDEIA, organizamos o planejamento globalizado para aplicação dos kits de alfabetização, que contemplavam de forma integrada aspectos fundamentais da linguagem, em especial os grafofonológicos, morfossintáticos, semânticos e pragmáticos da leitura e da escrita.

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Com a aplicação dos testes e o planejamento global elaborado, iniciamos o projeto em sala de aula a partir de uma exposição dialogada, mostrando o material e sua importância nas atividades propostas. A partir das atividades realizadas em sala, percebemos o interesse dos alunos em participar das tarefas. O material provocou muita curiosidade, motivação, encantamento, prazer e participação ativa das crianças. “Foram esses os horizontes de aprendizagem observados que contribuíram para o desenvolvimento do projeto em sala de aula e na escola”, comenta a Profa. Maria da Conceição.

A contação de histórias com os objetos metafóricos, por exemplo, não era mais uma atividade exclusiva da turma, mas de toda a escola. Com o avanço dos trabalhos, as crianças foram ampliando seu entendimento sobre a importância da leitura e da escrita e se apropriando de forma completa desses conhecimentos, compreendendo que, para ler e escrever, se faz necessário conhecer as letras, em seguida, as sílabas e a formação de palavras e frases, que estavam propostas nos portfólios e nos demais materiais.

É importante mencionar que, ao desencadearmos o trabalho com o material disponibilizado pelo curso de especialização a partir das formas das letras, vimos confirmar-se o argumento de que, “na alfabetização inicial, o desenvolvimento de estratégias didáticas que enfatizem a forma das letras associada ao nome das letras e sua imediata pronúncia das palavras facilitam sobremaneira a aprendizagem da leitura e da escrita” (NASCHOLD et al., 2015d, p. 321).

Também cabe dizer que o material de alfabetização recebido ampliou a rotina já existente na sala de aula, possibilitando o acompanhamento por meio do quadro, roda de conversa, histórias lidas e recontadas tanto pelo professor quanto pelas crianças, além dos registros feitos por elas após as atividades. Mais ainda, muitos textos escritos produzidos pelos alunos puderam ser retextualizados a partir do material do projeto, que está dimensionado para o desenvolvimento metalinguístico do aluno, o que para o National Early Literacy Panel (NELP, 2008) é fundamental. Para esse relatório, a metalinguística está fortemente associada à aprendizagem da leitura em sistemas alfabéticos; para essa aprendizagem, os responsáveis pelo NELP propõem desenvolver diferentes tipos de atividades voltadas para o desenvolvimento da leitura e da escrita, utilizando-se da ludicidade desde os primeiros anos escolares e para todos os programas de alfabetização.

Com o trabalho, as crianças passaram a melhorar em diversos aspectos, como estabelecimento de vínculos entre leitura e escrita, além de reconhecimento do valor sonoro das letras para formação das sílabas, morfemas e palavras, que sempre eram trabalhados de forma lúdica e interessante. Isso trazia às crianças a necessária motivação para a realização das atividades escolares diárias, tornando-as mais participativas e cúmplices de uma aprendizagem mais prazerosa e significativa.

Um ponto importante a destacar é que, ao trabalhar com o material do projeto Leitura + Neurociências, o professor, naturalmente – considerando-se a forma de organização do trabalho proposto no material –, irá incluir diversas atividades, como leitura, pesquisa individual ou coletiva das crianças, aula dialogada, produção textual, aulas práticas, entre outras.

Isso é possível porque as atividades propostas no material têm como objetivo trabalhar conteúdos específicos da exploração inicial, bem como a formação de conceitos mais complexos, desde a prática de leitura e produção escrita de sala de aula do professor. E é por meio dessas atividades que o docente passa

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a visualizar o processo de ampliação da linguagem oral das crianças e a gradativa aquisição da leitura e da escrita, a partir dos níveis de apropriação cognitiva, que vão desde a fase em que a criança iniciou o processo de ensino junto ao professor.

Nesse sentido, “o trabalho com os materiais do Leitura + Neurociências possibilita ao docente atuar de forma contextualizada e de maneira interdisciplinar, inserindo na prática pedagógica situações didáticas que privilegiam diferentes manifestações da linguagem, principalmente a oral e a escrita, a leitura e a produção textual, de modo que esses saberes se relacionem entre si de maneira contextualizada”, afirma a colaboradora dessa experiência, Profa. Maria da Conceição.

Partindo desse entendimento, reconhecemos as grandes vantagens e possibilidades que esse projeto com atividades inovadoras oportuniza para as etapas iniciais de alfabetização, tendo em vista o “trabalhar-se” de forma integrada e interativa na garantia dos direitos de aprendizagem das crianças na esfera linguística: falar, ouvir, interpretar, escrever e ler. O material permite à professora trabalhar com diferentes possibilidades de intervenção didático-pedagógica, pois carrega em sua proposta de aplicação prática uma metodologia inovadora que enriquece profundamente a aprendizagem dos alunos, especialmente por meio de livros literários e contação de histórias, momentos nos quais sempre apresentávamos as histórias em slides e reutilizávamos os objetos metafóricos de forma diferenciada, enriquecendo-os com o acervo literário da escola e outros objetos que construíamos.

No decorrer das atividades, utilizamos o Kit A - Eu e a Escola. Trabalhamos com o gênero textual “convite”, ocasião em que as crianças produziram esse texto e em seguida também confeccionaram crachás. Após preenchermos a ficha do estudante, solicitamos que as crianças buscassem informações referentes à história do seu nome, vendo questões como: o que significa seu nome? Quem escolheu este nome para você?, etc. O quadro de roda de conversa da aprendizagem também foi aproveitado em diversas atividades em sala de aula.

Em seguida, trabalhamos o Kit B – Eu, as letras e palavras na escola do L.I.NEU, que nos permitiu, por meio da literatura, levar as crianças a compreender e a apropriar-se do trabalho com as formas das letras, colaborando para o entendimento da importante relação entre fonema e grafema. Isso foi retomado na atividade com o crachá, em que as crianças refletiram sobre as formas das letras, bem como sobre o fato de as letras terem nome e som diferentes. Quando as crianças se deram conta disso, houve um salto em seus conhecimentos! Partindo desse entendimento, utilizamos as letras imantadas do quadro magnético, solicitando que escrevessem no caderno, formando sílabas e morfemas. Essas atividades proporcionaram que as crianças reconhecessem no que produziam a importância do que estava sendo trabalhado no material, apropriando-se com mais profundidade do sistema alfabético de leitura e de escrita.

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Nesse interessante trabalho, as crianças perceberam de forma clara a transposição entre a fala e a escrita, uma vez que, para alfabetizar-se numa língua, segundo Naschold (2015a), é necessário descobrir como a fala é transposta para a escrita a fim de poder ser lida. Assim, descobrir como os seres humanos conseguiram transpor a fala para sinais que, combinados, podem ser lidos é o trabalho que necessita ser feito inicialmente na aprendizagem da leitura e da escrita.

No contexto do desenvolvimento das atividades, o trabalho com os Portfólios Didáticos das histórias infantis oportunizou às crianças a ampliação de seus conhecimentos por meio do lúdico. As dificuldades de aprendizagem naturalmente presentes nessa etapa de alfabetização foram gradativamente trabalhadas e superadas.

Quanto à ludicidade, trabalhamos integradamente com o Kit C: Eu, o jogo e a brincadeira, sendo o jogo considerado um forte aliado nesse projeto, envolvendo o bingo das formas das vogais, o alfabeto móvel, as letras imantadas e dado, além de outros jogos que se associam à proposta e que contribuíram com o ensino da leitura e da escrita, tais como o bingo da letra inicial, da palavra dentro de outras palavras, bingo dos sons iniciais, caça-rimas e batalha das letras. Todos esses jogos ajudaram as crianças a pensar e a apropriar-se do sistema alfabético de nossa língua materna.