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A amostra contém a totalidade dos 184 municípios cearenses que serão analisados no período de 1995 a 2003. Para isso, uma série de variáveis

proxies, baseadas na Tabela 16 do capítulo 3, será utilizada, sendo descritas

na seqüência, na forma operacional e em suas relações (objetivo). Em seguida, será feita uma descrição das variáveis usadas para estimar os modelos (1) a (5).

Variável dependente (Gt): taxa de crescimento do PIB per capita.

Foram utilizadas as taxas de crescimento anuais de 1996 em relação a 1995, e assim sucessivamente. Observe-se que será usado o PIB per capita como uma

proxy da qualidade de vida nos municípios cearenses (ANUÁRIO

ESTATÍSTICO DO CEARÁ, várias edições).

Essa escolha se baseia em Colman e Nixon (1981), que afirmam que é dificil esclarecer as questões que cercam o desenvolvimento, mas defendem que o indicador de renda per capita é o mais eficaz para medir o nivel de desenvolvimento alcançado por uma região. Segundo Perobelli et al. (2006), o PIB per capita, mesmo apresentando algumas fraquezas, constitui a medida

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mais abrangente, difundida e conveniente entre os indicadores de níveis de desenvolvimento, pois os indicadores econômicos e sociais são altamente correlacionados com o nível do PIB per capita.

Variáveis explicativas

Quanto à escolha das variáveis explicativas Xit do modelo empírico,

cabe ressaltar que esta se baseou no modelo teórico, e a sua introdução procura controlar diversas características regionais que atuam sobre o desenvolvimento.

Deve ser lembrado que variáveis explicativas representam o vetor Xit

para cada cidade (representadas por temas a seguir), ou seja, as características iniciais (referentes ao ano inicial do período) de cada uma. Dada a grande quantidade de proxies que se pretende utilizar neste estudo, estas foram classificadas em temas, que refletem as forças centrípetas e as forças centrífugas.

1) Existência de um ‘meio industrial’ (MIt1). Percentual do consumo de energia elétrica da indústria (ANUÁRIO ESTATÍSTICO DO CEARÁ, várias edições)68.

Objetivo: Captar o peso das atividades industriais dentro de uma cidade, que possibilita maiores ou menores efeitos de encadeamentos locais para trás e para frente, considerando que a indústria não é um agente isolado que só tem relações com fornecedores de matérias-primas, por um lado, e com um mercado final por outro, mas um elemento de um processo produtivo complexo, integrado no seio de uma cadeia de relações insumo-produto, utilizando uma variedade de semiprodutos e serviços. Assim, a inserção num ‘meio industrial’ permite aproveitar economias externas de aglomeração. No entanto, não se deve superestimar o papel das economias externas de escala relacionadas com as relações de insumo-produto nas decisões de localidade.

2) Capital humano (CHt1) – IDH-E. Calculado para educação no IDH,

considera dois indicadores. O primeiro é a taxa de analfabetismo, considerando o percentual de pessoas acima de 15 anos de idade; esse indicador tem peso

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Tentou-se utilizar o percentual do Produto Interno Bruto do setor industrial, contudo não foi possível completar a série, devido a grandes dificuldades na obtenção dos dados por parte de algumas instituições.

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2. O Ministério da Educação relata que, se a criança não se atrasar na escola, ela termina o principal ciclo de estudos (Ensino Fundamental) aos 14 anos de idade. Por isso, a medição do analfabetismo se dá a partir dos 15 anos. O segundo indicador é o somatório das pessoas, independente da idade, que freqüentam algum curso, seja ele fundamental, médio ou superior, dividido pelo total de pessoas entre 7 e 22 anos da localidade. Também entram na contagem os alunos supletivos, de classes de aceleração e de pós-graduação universitária. Apenas classes especiais de alfabetização são descartadas para efeito do cálculo (ANUÁRIO ESTATÍSTICO DO CEARÁ, várias edições; IPEA, 2006)69.

Objetivo: Conhecer o nível de qualificação da força de trabalho urbana, que se constitui numa vantagem potencial de uma cidade, pelo menos naquela cidade de atividades mais intensivas em trabalho qualificado. No caso de atividades não demandantes de qualificação, este indicador pode até se constituir em fonte de atração, desde que articulado ao baixo custo da força de trabalho do mercado local. Assim, o conhecimento do nível de qualificação da força de trabalho se constitui numa vantagem potencial de uma cidade.

Mão-de-obra é um importante fator nas decisões de localidade nas suas diferentes dimensões: abundância, qualidade (adequação do grau de qualificações). A qualificação da mão-de-obra é a adequação do grau de qualificações às necessidades da empresa (no caso de as qualificações serem muito específicas, gera-se uma situação de restrição à mobilidade da empresa). Já o custo do trabalho depende de a mão-de-obra ser um fator importante. Em alguns casos, não se sabe isso explicitamente.

3) Infra-estrutura e economia de urbanização (IEt1). Telefones por

100 habitantes; agências de correio por 10 mil habitantes; agências bancárias por 10 mil habitantes; rede rodoviária pavimentada relativa à área do município (ANUÁRIO ESTATÍSTICO DO CEARÁ, várias edições).

Objetivo: Verificar os custos dos transportes, sendo importante considerar as distâncias, avaliando também outros fatores importantes como a qualidade da infra-estrutura do setor de transportes e telecomunicações como

proxies para o custo do transporte. Em segundo lugar, captar as vantagens

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As medidas populacionais para o cálculo do IDH-E seguiram estimativas das populações residentes em nível municipal, segundo metodologia descrita de interpolação do IPEA para projeção da população.

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internas da área urbana, independentemente da natureza das empresas, em decorrência da oferta de Infra-estrutura como transporte, energia elétrica, água, comunicações etc.; de serviços espacializados como instituições bancárias, etc.; e também do mercado capaz de permitir a utilização das economias de escala que influenciam novos investimentos como vantagens comparativas para cada município.

Em função do enorme conjunto de variáveis proxies para a infra- estrutura escolhida, ter-se-á uma matriz de informações de difícil análise e compreensão. Para rearranjar as informações de modo a melhor interpretá-las, programaram-se técnicas estatísticas como a análise multivariada. A operacionalização do método de análise fatorial foi feita conforme procedimento especificado em Maroco (2003) e Lemos (2005), com a elaboração dos índices multivariados segundo os temas definidos anteriormente com o intuito de evitar problemas de multicolinearidade.

O primeiro fator (F1a) é o mais importante do conjunto, visto que explica 59,58% da variância, formado pelas agências bancárias por 10 mil habitantes e a rede rodoviária pavimentada relativa à área do município. O segundo fator (F2a) corresponde a 26,99% da variância e é composto por telefones de 100 habitantes e as agências de correio para 10 mil habitantes.

O cálculo do índice consistiu em transformar os fatores calculados em valores positivos numa escala de 0 até 1 pela fórmula

) /(

)

( minimo maximo minimo

ij Fator Fator Fator Fator

F = − − ; posteriormente o índice foi

calculado com a fórmula 2 0,5 2 2

1 )

(Fa Fa

IE = + .

4) Economia de congestão (DDt1) – densidade populacional ou densidade demográfica. Foi calculada como a medida expressa pela relação

entre a população e a superfície do território, expressa em habitantes por km² (ANUÁRIO ESTATÍSTICO DO CEARÁ, várias edições; IPEA, 2006).

Objetivo: essa variável procura controlar os efeitos negativos do congestionamento de pessoas no espaço sobre a atração dos investimentos e atividades produtivas, uma vez que pode ajudar a captar melhor os efeitos negativos do congestionamento espacial da população sobre o crescimento econômico.

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5) Mercado regional (MRt1). Somatório do produto da população das

cidades vizinhas ao município vezes a renda per capita do município (ANUÁRIO ESTATÍSTICO DO CEARÁ, várias edições; IPEA, 2006)70.

Objetivo: Obter um duplo significado, refletindo o custo da força de trabalho local (fator desaglomerativo) e seu poder de compra (fator aglomerativo via efeito renda para trás). Pode também captar o peso relativo das atividades produtivas de uma cidade na rede de cidades, refletindo uma concentração relativa de áreas de mercado e possibilitando também maiores ou menores efeitos de encadeamentos locais para trás e para frente. A noção e importância do mercado variam consoante o tipo de empresa considerada (exemplo: uma cidade, uma região, um país, uma outra empresa, um local de exportação). Assim, uma empresa que ofereça serviços correntes aos consumidores tem uma área de mercado muito reduzida, enquanto uma empresa que ofereça um serviço muito espacializado e pouco recorrente terá uma área de mercado muito mais abrangente. Segundo Silva (2004), o mercado interno de uma região é, em geral, função de três vetores principais: o tamanho da população regional; o seu nível geral de produtividade; o grau de concentração na sua distribuição pessoal e familiar de renda e de riqueza. Quanto maior a população, maior o nível de produtividade (quanto maior a capacidade de produzir e de consumir) e mais bem distribuída à renda de uma região, maior será a dimensão de seu mercado interno (HADDAD, 1999).

6) Capital social (CSt1). A medida de capital social é composta pelo

somatório de número de cooperativas, números de associações civis, número de sindicatos e número de museus e teatros divididos por mil habitantes (ANUÁRIO ESTATÍSTICO DO CEARÁ, várias edições; IPEA, 2006).

Objetivo: Avaliar aspectos de cooperação associados às especificidades de cada um, verificando como fatores extra-econômicos, como é o caso de preferências individuais pela cooperação e participação, existência de certos arranjos produtivos locais (APL) pode influenciar no desenvolvimento, além de incorporar elementos culturais e capital social enraizado, etc.

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Cálculo elaborado com a ajuda do pacote econométrico GEODA, com a mesma distinção da variável definida em Andrade e Serra (1998).

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7) Influência do mercado metropolitano (Mt1). É igual à soma da

população das cidades vizinhas ao município de Fortaleza vezes a renda per

capita do município de Fortaleza dividida pela distância da cidade em relação à

Fortaleza, elevado ao expoente 2 (ANUÁRIO ESTATÍSTICO DO CEARÁ, várias edições; IPEA, 2006).

Objetivo: Avaliar a distância do município em relação à capital do Estado, Fortaleza (economia Primax ou de centro), um dos determinantes para a localidade de um possível empreendimento beneficiado pelo FDI. De acordo com a estratégia do programa de promoção industrial, a desconcentração dessa atividade caracterizava-se como um dos principais objetivos do programa, que tentava levar empresas industriais para o interior do Estado, tendo sido criados raios econômicos para a concessão desses benefícios. Cabe descobrir com esta variável se é mais importante pra um município os incentivos fiscais ou estar próximo do mercado metropolitano de Fortaleza. Uma vez que muitas matérias-primas são importadas, diminui a importância da localidade próxima das fontes de matérias-primas, podendo a localidade orientar-se mais para os pontos de importação. Por outro lado, o apoio público sob a forma de incentivos à fixação numa dada localidade, cria um meio favorável ao desenvolvimento das empresas, de centros de investigação, de fatores de atração de mão-de-obra qualificada, etc.

8) Economia do crime (TCt1). Taxa de homicídios por 100.000

habitantes (IPEA, 2006).

Objetivo: Ver na criminalidade uma força centrífuga forte que afasta investimentos e mão-de-obra qualificada. Essa variável tenta mensurar os efeitos das amenidades associadas à violência sobre o desenvolvimento econômico. A introdução dessa variável busca “isolar” o efeito das amenidades associadas à violência junto aos efeitos do congestionamento de pessoas. Espera-se uma relação negativa entre criminalidade e taxa de crescimento do PIB per capita.

9) Convergência ln(yt1). Logaritmo neperiano do PIB per capita defasado a preços constantes (ANUÁRIO ESTATÍSTICO DO CEARÁ, várias edições).

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Objetivo: Verificar se o PIB per capita, que apresenta diferentes valores entre as regiões, reduz-se ao longo do tempo, indicando que a desigualdade diminui.

Nessa dimensão, aparecem duas definições para convergência: primeiro, se duas regiões (ou países) possuem o mesmo nível de preferências e tecnologia, deve haver apenas uma renda de estado estacionário, e, por conseguinte, com o passar do tempo, as rendas per capita dessas duas regiões devem igualar-se. Denomina-se este tipo de convergência de absoluta. A segunda definição de convergência é dada em termos da taxa de crescimento. Segundo Islam (1995), vários documentos tentaram calcular a velocidade de convergência entre regiões que usam modelos de dados de painel e variantes do modelo de efeitos fixos. Na literatura, há evidência de que o cálculo da velocidade de convergência de dados de painel com efeitos fixos tende a ser muito maior que os 2% por ano do cálculo de seções cruzadas (BARRO; SALA-I-MARTIN, 1991).