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Reflexões a respeito da política regional do Ceará

2. POLÍTICAS REGIONAIS RECENTES NO ESTADO DO CEARÁ

2.7. Reflexões a respeito da política regional do Ceará

O argumento para a existência de uma política regional no estado do Ceará baseia-se no fato de se admitir que o livre funcionamento da economia não pode assegurar, por si só, um desenvolvimento equilibrado em prol da convergência de renda. Assim, a não-intervenção das autoridades poderia levar ao mais rápido crescimento de algumas regiões, sem que estas fossem necessariamente as mais atrasadas, aumentando assim as diferenças regionais. Desta forma, as autoridades municipais, em colaboração com o governo do Estado e o Banco Mundial, levam a cabo políticas de cunho regional, de forma a reduzir as disparidades de rendimento existentes nos municípios do Ceará.

Assim a política econômica do Ceará pós-1995 teve dois campos de atuação fortes: primeiro com orientações aplicadas para a reestruturação da distribuição urbana e, em segundo, a promoção de atividades econômicas industriais no interior. O capítulo, portanto, mostra estratégia de desenvolvimento para o interior do Ceará, baseada em dois fundamentos. O primeiro é fortalecer centros urbanos no interior, com capacidade de absorver parte dos excedentes de trabalhadores rurais no processo de crescimento e urbanização, suprindo a área rural com serviços de apoio e demanda para seus produtos. O outro é promover a atividade econômica no interior, proporcionando emprego e renda em níveis mais elevados para a força de trabalho excedente do setor rural.

Dado que a importância do setor público na economia cearense é muito grande, o investimento que o Estado do Ceará realiza, sem dúvida

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alguma, termina influenciando fortemente o crescimento do PIB. Em outras palavras, é uma economia ainda muito incipiente, e a grande questão em termos de desenvolvimento no estado do Ceará é gerar esse impacto de investimento para ter crescimento e, ao mesmo tempo, fazer com que ele seja includente.

O que se procura evidenciar com está seção é o fato de existir diversas opções para formular uma política pública voltada para o desenvolvimento regional. Contudo, a escolha da estratégia está vinculada aos objetivos esperados com a mesma, sendo assim, quanto mais regional/local for à política, maior sua mobilidade, isso não implica que não venha a existir uma associação das políticas mais tradicionais com as mais recentes, de forma a estimular o desenvolvimento da região sem ser prejudicada por fatores burocráticos.

Nesse sentido é importante conhecer o arcabouço teórico das políticas de desenvolvimento regional para analisar quais características influenciam as políticas regionais atuais e mais especificamente do estado do Ceará. Os cerca de 40 anos de história de reflexão sobre a problemática do desenvolvimento regional podem, em termos muitos gerais, ser sintetizados pela Tabela 14, que explicita os principais marcos de cada década no que se refere às teorias dominantes, a seus objetivos e às estratégias de atuação.

A política regional tradicional (décadas de 1950 e 1960) tinha como bases teóricas, as teorias do crescimento e distinguia-se pelo seu caráter exógeno. Ou seja, o desenvolvimento regional era feito a partir de fora, o que significava que o Estado tinha um papel central na procura de homogeneizar o espaço, não sendo dado qualquer tipo de poder às administrações locais.

Todavia, com o passar do tempo, começou a tornar-se claro que a política tradicional, além de não conseguir resolver as assimetrias, era também demasiado simplista no que diz respeito ao quadro teórico, não conseguindo explicar por que razão, na década de 70, determinadas regiões desenvolvidas e bastante ativas começam a ter também problemas. Com o objetivo de dar resposta às falhas verificadas pela política anterior, surge, então, uma nova política assente nos desenvolvimentos teóricos que se deram nos anos oitenta e que se diferenciavam dos da década anterior pelo seu caráter endógeno. Assim, esta nova política vem romper com a política anterior ao defender que

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cada região deve desenvolver as suas características através de iniciativas que permitam fomentar fatores importantes como o know how tecnológico, ou a difusão de tecnologias, dando vital importância às administrações locais.

Pode-se dizer, como Cuadrado-Roura (1995), que enquanto a política tradicional tentava corrigir/eliminar as assimetrias regionais através da homogeneização do território, a nova política regional evoluiu e procura agora destacar as características de cada região com o objetivo não de as eliminar, mas sim de as tornar em vantagens competitivas, quer a nível nacional, quer a nível global.

Contudo, apesar destes progressos significativos, a nova política regional ainda comporta algumas limitações, não dando assim uma resposta definitiva aos problemas de subdesenvolvimento e de crescimento regional.

De forma complementar, Amaral Filho (2005) afirma que as experiências internacionais têm mostrado que a política de desenvolvimento regional deve ser explícita, mas têm mostrado também que políticas com esse objetivo deixaram de ser um campo simples para ser um campo complexo dentro do universo das políticas públicas. Os instrumentos unilaterais e verticais deram lugar aos instrumentos multilaterais e transversais. Por outro lado, não há um modelo único ou uma estratégia modelo de intervenção pública de correção das desigualdades regionais, significando que o que pode ser bom para uma região pode não ser para outra. Ainda segundo o mesmo autor somente a aprendizagem pode definir o melhor caminho.

Nesse sentido, Fujita et al. (2002) destacam que a base do argumento da nova geografia econômica é a necessidade de explicar as concentrações de população e atividade econômica, isto é, as diferenças entre os cinturões de indústrias de manufatura e de produção agrícola, a existência de cidades e o papel dos clusters industriais.

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Tabela 14 – A evolução das teorias e políticas de desenvolvimento regional

Período Teorias Objetivos Atuação

Anos 50 - Teoria das fases do

crescimento

- Teoria do crescimento

equilibrado

- Acelerar o processo de crescimento

regional

- Prioridade ao setor industrial

- Melhorar a dotação em infra-estruturas físicas - Atrair capitais e investimentos do exterior - Planejar o reforço das ligações intersetoriais

- Aumento da despesa em educação e especialização profissional - Teoria da base de

exportação

- Multiplicado I-O

- Ampliar a base de exportação local - Aproveitar os efeitos de arraste

- Incentivos e apoios á atividade exportadora

- Atração de grandes empresas exteriores com capacidade exportadora - Localizar grandes empresas públicas

- Analisar e apoiar o aproveitamento dos efeitos positivos na construção e serviços locais

Anos 60 - Teorias neoclássicas do

crescimento

- Teorias do comércio

internacional

- Prioridade aos mecanismos de mercado - Mobilidade inter-regional de fatores

- Incentivos/ausência de barreiras à mobilidade da mão-de-obra •

- Incentivos ao capital para superar a falta de atração das regiões subdesenvolvidas - Corrigir/equilibrar as imperfeições do marcado de trabalho

- Medidas de apoio às áreas menos favorecidas que sacrifiquem ao mínimo o mercado e a

atribuição de recursos

- Teorias neokeynesianas - Teorias do crescimento

cumulativo

- Correção do mercado

- Compensação das desvantagens das

regiões pobres em face das regiões industrializadas

- Incentivos ao investimento em áreas mais atrasadas - Investimentos empresariais do setor público

- Dotação de infra-estruturas e serviços coletivos nas regiões pobres - Transferência dos rendimentos para as famílias

- Barreiras ao desenvolvimento e localização de empresas e serviços nas grandes áreas

metropolitanas

- Teoria dos polos de

crescimento -

Forçar os desequilíbrios em favor das áreas atrasadas

- Criar focos de crescimento através de

indústrias-chave e, ou, maior concentração industrial

- Localização de grandes complexos industriais em áreas atrasadas

- Atuação seletiva de apoio a centros urbanos com potencial de desenvolvimento industrial - Apoio ao aproveitamento local dos efeitos de polarização

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Tabela 14A, Cont.

Período Teorias Objetivos Atuação

Anos 70 - Desenvolvimento

endógeno

- Aproveitar e explorar o potencial próprio

de crescimento

- Descentralizar a política regional - Criar políticas locais

- Apoio a iniciativas empresarias locais - Incentivos à criação local de novas empresas - Incentivos reas à onação local de emprego

- Formação profissional, aumento da despesa em educação - Difusão de novas tecnologias

- Centro/Periferia - Romper ou minorar o distanciamento

real do centro -

Incrementar a acessibilidade aos mercados e a informação Anos 80 e 90 - Teorias sobre a difusão

da inovação tecnológica

- Vinculação do desenvolvimento à

mutação tecnológica

- Definição de prioridades tecnológicas

- Apoio à introdução e difusão de novas tecnologias - Subsídios à inovação e educação

- Criação de ambiente favorável à inovação - Oferta de serviços tecnológicos

- Concentração de esforços tecnológicos

- Desenvolvimento das infra-estruturas de comunicação - Teoria sobre meios

inovadores

- Reforçar os elementos favoráveis da

inovação e formação de redes

- Apoio às sinergias internas

- Impulso à cooperação e interação entre os diversos setores - Desenvolvimento de redes de cooperação externas

- Vincular os desenvolvimento tecnológicos com as capacidades e potendalidades locais - Incentivos em forma de " pacote integrado"

- Plena participação local nas iniciativas e nos programas de desenvolvimento

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Este trabalho também se constitui numa pesquisa empírica do planejamento estadual verificando que política de desenvolvimento regional que aceleram este processo via melhoria da infra-estrutura urbana das cidades sob a área de influência do PROURB e FDI. Tendo a infra-estrutura de acessibilidade, e capacitação social, inclusive em termos de mudanças no arranjo institucional local, em geral muito rígido para impulsionar as reformas urbanas. Do ponto de vista da política industrial, o direcionamento seria no sentido de estimular os arranjos produtivos como unidade de intervenção, não focado na firma individualmente, cujo objetivo seria a ampliação geográfica dos encadeamentos intersetoriais dentro de cada meso ou macrorregião do estado do Ceará.

Salienta-se o problema da migração para Fortaleza e em menor escala da RMF das populações oriundas de outros municípios, dado que a maioria dos migrantes não tem escolaridade nem experiência profissional, o que faz com que aceitem empregos mal remunerados e se sujeitem a trabalhos temporários ou atividades informais para sobreviver, como as de camelôs ou vendedores ambulantes. Os baixos rendimentos levam esse trabalhador para a periferia das grades cidades – com freqüência, loteada por favelas e moradias irregulares e, por isso, mais baratas. Muitas dessas residências, feitas de modo precário e com materiais frágeis, são erguidas próximas a margens de córregos, charcos ou terrenos íngremes, e enfrentam o risco de enchente e desmoronamento em estações chuvosas.

A distância das áreas centrais dificulta o acesso dessa população aos serviços de saúde e à educação, e as periferias atendem precariamente a suas necessidades básicas de abastecimentos de água, luz, esgoto e transportes públicos. Ressalta-se ainda que para os filhos de mulheres que trabalham a muitas vezes a alimentação é insuficiente ou de má qualidade o que contribui para o surgimento de doenças e a desnutrição infantil e as poucas opções de lazer para os adolescestes favorecem a eclosão da violência.

Cabe destacar que é necessário um relativo equilíbrio urbano para que os municípios incentivados pelo governo estadual venham a gerar vantagens comparativas para a atração de investimentos em atividades especificas orientada para localidades que possam ofertar boas condições de vida, como

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pouca violência, amenidades urbanas, elevado nível educacional e força de trabalho qualificada.

Analisando todos os investimentos que o Ceará tenta atrair, pode-se afirmar que a sua política econômica segue uma lógica de desenvolvimento regional, tem a lógica da instalação, de localização e de encadeamento com outras empresas buscando maiores ganhos. Esta postura, adotada pelo setor público estadual desde 1995, é uma evolução muito grande favorecendo a interiorização e mesmo uma desconcentração dentro da RMF em relação a cidade de Fortaleza, dentro de uma lógica de adensamento econômico nos municípios, com o intuito de gerar maior impacto na integração com a malha econômica que já existe no interior. A questão central da política econômica no Ceará é a retomada do crescimento econômico nas comunidades mais pobres e, dessa forma, a geração de trabalho, de emprego e renda como um meio de dar às pessoas autonomia para conduzirem a própria vida.

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