• Nenhum resultado encontrado

Description of Eggs of Anastrepha curitis and Anastrepha leptozona (Diptera: Tephritidae) Using SEM

VIVIAN SIQUEIRA DUTRA1, BEATRIZ RONCHI-TELES2, GARY J. STECK3 E JANISETE GOMES SILVA4

RESUMO Com o auxílio da microscopia eletrônica de varredura (MEV), neste trabalho foram

descritas as características dos ovos de Anastrepha curitis Stone e a morfologia dos ovos de Anastrepha leptozona Hendel foi redescrita com mais detalhes. Os ovos foram dissecados de fêmeas capturadas em armadilhas McPhail coletadas em Manaus e Presidente Figueiredo no estado do Amazonas. Os ovos de A. curitis são muito alongados e não apresentam aerópilas, mas uma camada de superfície porosa no lado ventral, também evidenciada em Anastrepha montei Lima. Os ovos de A. leptozona são robustos e apresentam aerópilas apenas no lado ventral do pólo anterior do ovo. Os ovos de ambas as espécies não possuem qualquer ornamentação no córion, reticulação ou protuberância. Para ambas as espécies, a micrópila está localizada no ápice do pólo anterior do ovo. Os ovos de A. curitis e A. leptozona não possuem apêndice respiratório. As características da morfologia dos ovos são úteis para auxiliar um melhor entendimento sobre a filogenia do gênero Anastrepha.

PALAVRAS-CHAVE moscas-das-frutas, ornamentação do córion, micrópila, aerópila

Anastrepha Schiner (Diptera: Tephiritidae) é um gênero endêmico da região Neotropical apresentando mais de 240 espécies descritas. As espécies do referido gênero são amplamente distribuídas pelas Américas do Sul e Central, Antilhas e sul dos Estados Unidos (White e Elson- Harris 1992; Norrbom et al. 1999; Norrbom e Korytkowski 2009). No Brasil, tem-se o registro de 112 espécies distribuídas em 12 grupos infragenéricos de acordo com características morfológicas e uso de hospedeiros (Norrbom et al. 1999, Zucchi 2008, Uramoto e Zucchi 2010).

O grupo leptozona compreende cinco espécies distribuídas do México ao Brasil. Para este grupo, duas espécies têm seu hospedeiro conhecido da família Sapotaceae. Além dessa família, Anastrepha leptozona Hendel também infesta outras cinco famílias de plantas. No Brasil, A.

1

Programa de Pós-Graduação em Entomologia, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, Caixa Postal 478, 69011-970, Manaus, AM, Brasil.

2Coordenação de Biodiversidade, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, Caixa Postal 478, 69011-970

Manaus, AM, Brasil.

3

Florida Department of Agriculture and Consumer Services, Division of Plant Industry, Gainesville, FL 32614- 7100.

4Departamento de Ciências Biológicas, Universidade Estadual de Santa Cruz, Rodovia Ilhéus/Itabuna km 16,

leptozona é amplamente distribuída e sua ocorrência já foi registrada em 15 estados (Norrbom et al. 1999, Zucchi 2008, Frías et al. 2009).

O grupo pseudoparallela possui 20 espécies com ampla distribuição desde o Texas até a Argentina, contudo somente duas espécies ocorrem no norte do Panamá e uma nas Antilhas. A maioria das espécies com hospedeiro conhecido infesta frutos da família Passifloraceae (Norrbom et al. 1999). Dez espécies deste grupo foram registradas no Brasil, entre elas Anastrepha curitis Stone que está restrita aos estados do Amazonas e Pará na região amazônica (Zucchi 2007, 2008). As informações sobre a morfologia dos ovos de espécies de Anastrepha ainda são escassas, pois até o momento apenas 39 espécies foram descritas (Emmart 1933; Seín 1933; Lawrence 1979; Steck e Malavasi 1988; Steck e Wharton 1988; Carroll e Wharton 1989; Norrbom et al. 1999; Norrbom e Korytkowski 2009; Dutra et al. 2011a, 2011b; Figueiredo et al. 2011). Contudo, as informações registradas evidenciam que caracteres morfológicos presentes nos estágios imaturos podem ser úteis para compreender as relações evolutivas entre as espécies de Anastrepha (Norrbom et al. 1999).

No grupo pseudoparallela, somente ovos das espécies Anastrepha pseudoparallela (Loew) e Anastrepha consobrina (Loew) foram medidos, suas características gerais foram descritas e foram observados com mais detalhes em MEV (Norrbom et al. 1999, Figueiredo et al. 2011). No grupo leptozona, apenas a espécie A. leptozona teve suas características gerais descritas.

Neste estudo, uma descrição detalhada da morfologia dos ovos foi realizada utilizando-se MEV para A. curitis e A. leptozona. Os resultados obtidos podem ser úteis na identificação de ovos de espécies de Anastrepha e no entendimento sobre a taxonomia desse gênero.

Material e Métodos

Ovos de A. curitis e A. leptozona foram dissecados de fêmeas capturadas em armadilhas McPhail em Manaus (03°06’07’’S, 60°01’30’’W) e em Presidente Figueiredo (02°02’04’’S, 60°01’30’’W) no estado do Amazonas. Os ovos foram preservados em microtubos plásticos de 1,5 ml contendo etanol 80%.

As medidas de comprimento e largura dos ovos foram realizadas com micrométrica ocular em um estereomicroscópio Wild M3C no Laboratório de Entomologia Agrícola, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) em Manaus, Amazonas, Brasil. Os ovos foram

fotografados no estereomicroscópio óptico (Leica M165C) do Laboratório de Prospecção de Bioativos de Insetos do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), Amazonas, Brasil. Entre dez e vinte ovos por fêmea de um total de quatro fêmeas de cada espécie foram examinados com microscopia óptica. O pólo anterior foi definido como a extremidade do ovo que possui um pedicelo ou uma suave projeção com micrópila e aerópilas. O pólo posterior foi definido como a extremidade oposta ao pedicelo o qual geralmente é liso e arredondado, não possuindo aberturas externas ou estruturas. A cabeça do embrião desenvolve-se na direção do pólo anterior do ovo (Headrick e Goeden 1998). De acordo com a posição do embrião no interior do ovo, o lado convexo foi considerado como o lado ventral e o lado côncavo como o lado dorsal.

Para análise com MEV, os ovos foram montados em porta amostras de alumínio e examinados no modo ambiental no microscópio eletrônico de varredura Quanta 250 (Fei Company) no Laboratório de Técnicas Mineralógicas da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) em Manaus, Amazonas. Para a MEV foram utilizados pelo menos dez ovos de cada espécie.

Espécimes testemunho das fêmeas e ovos foram depositados na Coleção de Invertebrados, INPA.

Resultados

Os ovos de A. curitis e A. leptozona são semelhantes em seus aspectos gerais. Eles são alongados, afilam gradualmente em direção ao pólo posterior, possuem papila e micrópila no pólo anterior. Pode-se diferenciar os ovos dessas duas espécies observando-se algumas características, tais como comprimento do ovo e presença ou ausência de aerópilas no pólo anterior. Nenhum dos ovos das espécies estudadas apresentou apêndice respiratório.

Anastrepha curitis Stone (Figs. 1A e 2)

Material Examinado. Um total de 52 ovos de quatro fêmeas foi examinado. Três fêmeas

de A. curitis foram coletadas em Manaus e uma fêmea em Presidente Figueiredo no estado do Amazonas.

Características Gerais. Comprimento 2,13-2,58 mm e largura 0,18-0,26 mm. Os ovos

são creme amarelados, levemente curvados, muito alongados, com maior diâmetro no meio do ovo em direção ao pólo anterior e afilando-se gradualmente em ambas as extremidades (Fig. 1A).

Escultura do córion. O pólo anterior apresenta uma papila na qual está localizada a

micrópila. Toda a superfície do ovo é lisa sem qualquer ornamentação do córion, reticulação ou protuberância. Também não foi observado nenhum apêndice respiratório. Foi observada uma camada de superfície porosa em todo pólo anterior do ovo (Fig. 2). A micrópila (Fig. 2) está localizada no ápice do pólo anterior no lado dorsal e rodeada por uma borda do córion. Esta borda tem o formato de anel contínuo com um aspecto liso (Fig. 2). As principais características dos ovos para diagnóstico desta espécie estão apresentadas na Tabela 1.

Anastrepha leptozona Hendel (Figs. 1B e 3)

Material Examinado. Um total de 51 ovos de quatro fêmeas foi examinado. Essas

fêmeas de A. leptozona foram coletadas em Manaus no estado do Amazonas.

Características Gerais. Comprimento 1,37-1,87 mm e largura 0,25-0,31 mm. Os ovos

são creme amarelados, levemente curvados, alongados, robustos, com maior diâmetro no meio do ovo em direção ao pólo anterior e afilando-se gradualmente em ambas as extremidades (Fig. 1B).

Escultura do córion. O pólo anterior apresenta uma papila onde se localiza a micrópila.

Toda a superfície do ovo é lisa sem qualquer ornamentação do córion, reticulação ou protuberância (Fig. 3A). Também não foi observado nenhum apêndice respiratório. Mais de 50 aerópilas foram observadas no lado ventral do ovo próximo a micrópila (Fig. 3B). As aerópilas apresentam vários diâmetros, variando entre 1,1 e 2,1 µm. A micrópila está localizada no ápice do pólo anterior no lado dorsal e rodeada por uma borda do córion (Fig. 3A). Esta borda tem o formato de anel contínuo com um aspecto liso (Fig. 3A). As principais características dos ovos para diagnóstico desta espécie estão apresentadas na Tabela 1.

Discussão

As características gerais dos ovos de ambas as espécies estudadas aqui são semelhantes aquelas de outras espécies de Anastrepha já descritas (White e Elson-Harris 1992, Norrbom et al. 1999). Um único estudo publicado anteriormente sobre a morfologia dos ovos de A. leptozona descreveu as dimensões (comprimento 1,30-1,41 mm; largura 0,22-0,27 mm), formato geral do ovo (“robusto”) e ornamentação do córion (“ausente”) (Norrbom et al. 1999). No presente estudo, os resultados obtidos corroboram os apresentados acima.

Os ovos de A. curitis são delgados e muito alongados, evidenciando que essa espécie de Anastrepha apresenta um dos ovos mais longos neste gênero. Outras três espécies também apresentam ovos bastante longos, Anastrepha grandis (Macquart), A. montei e Anastrepha nigrifascia Stone (Steck e Wharton 1988, Norrbom e Korytkowski 2009, Dutra et al. 2011b, Figueiredo et al. 2011).

Ambas as espécies estudadas apresentam o córion liso sem nenhuma ornamentação, reticulação ou protuberância. Embora a maioria das espécies de Anastrepha apresente córion com ornamentação, a ausência de ornamentação já foi observada em outras espécies como Anastrepha consobrina (Loew), Anastrepha coronilli Carrejo & González, A. grandis, Anastrepha manihoti Lima, A. montei, Anastrepha pickeli Lima, Anastrepha pseudoparallela (Loew) e Anastrepha serpentina (Wiedemann) (Emmart 1933; Steck e Wharton 1988; Selivon e Perondini 1999; Dutra et al. 2011a, 2011b; Figueiredo et al. 2011).

Nos ovos de A. curitis, foi observada uma camada de superfície porosa semelhante à encontrada nos ovos de A. montei (Dutra et al. 2011b), que provavelmente tem a função de respiração para o ovo. Até o momento, apenas essas duas espécies apresentaram essa característica. Por outro lado, nos ovos de A. leptozona foram observadas aerópilas, com diversos diâmetros, localizadas apenas no lado ventral no pólo anterior do ovo. Esse aspecto também foi observado em Anastrepha antunesi Lima, Anastrepha bahiensis Lima, A. coronilli e A. serpentina (Selivon e Perondini 1999, Dutra et al. 2011a). Segundo a literatura, provavelmente o número e o diâmetro variável das aerópilas esteja relacionado com o ambiente onde os ovos são ovipositados, bem como a necessidade das trocas gasosas e o controle da perda de água para evitar a desidratação (Cônsoli et al. 1999). Os ovos de ambas as espécies descritos aqui não apresentam apêndice respiratório, como observado em algumas espécies de Anastrepha descritas previamente tais como Anastrepha barbiellinii Lima, A. manihoti, A. nigrifascia, Anastrepha obliqua (Macquart), A. pickeli e Anastrepha pittieri Caraballo (Murillo e Jirón 1994, Norrbom et al. 1999, Norrbom e Korytkowski 2009, Selivon e Perondini 1999, Dutra et al. 2011b).

A micrópila das duas espécies aqui estudadas está localizada no ápice do pólo anterior do ovo, como registrado para a maioria das espécies já descritas (Carroll e Wharton 1989; Selivon e Perondini 1998, 1999, 2000; Norrbom e Korytkowski 2009; Dutra et al. 2011a, 2011b; Figueiredo et al. 2011), com exceção de Anastrepha sp. 1 aff. fraterculus (Wiedemann) e Anastrepha turpiniae (Stone) que apresentam a micrópila levemente deslocada do ápice (Murillo

e Jirón 1994, Selivon e Perondini 1998, 2000; Dutra et al. 2011a) e de A. barbiellinii, A. manihoti, A. nigrifascia, A. obliqua, A. pickeli e A. pittieri que possuem apêndice respiratório no ápice do pólo anterior (Murillo e Jirón 1994, Norrbom et al. 1999, Norrbom e Korytkowski 2009, Selivon e Perondini 1999, Dutra et al. 2011b).

A observação detalhada da morfologia dos ovos com MEV para A. curitis e A. leptozona mostrou diferenças que permitem a identificação dessas espécies, assim como semelhanças com ovos de outras espécies descritas anteriormente. Características como comprimento do ovo, presença ou ausência de aerópilas e ausência de ornamentação no córion são caracteres taxonômicos que auxiliam o esclarecimento sobre as relações filogenéticas dentro do gênero Anastrepha.

Agradecimentos

Os autores agradecem a Marcos Vinicius Garcia e Tatiana Senra (Embrapa Amazônia Ocidental) pelo auxílio durante as coletas. Os autores também agradecem a Carolina Almeida e Adriana Horbe (Universidade Federal do Amazonas) pelo auxílio nas fotografias com MEV. Esse estudo foi financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq - projeto n° 575664/2008-8), pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES - projeto n° 23038.037185/2008-41), pela Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM - projeto nº014-017/2004) e pela Rede Amazônica de Pesquisas sobre Moscas-das-Frutas (Chamada 05/2006 Agrofuturo). Os autores também agradecem ao CNPq pela bolsa de doutorado concedida a VSD.

Fig. 1. Ovos de espécies de Anastrepha (pólo anterior à esquerda). (A) A. curitis. (B) A. leptozona.

75

Tabela 1. Diagnose dos ovos de Anastrepha curitis e Anastrepha leptozona analisadas neste estudo.

Anastrepha Ornamentação do

córion

Micrópila Aerópila

Localização Anel Localização Número Diâmetro

curitis Nenhuma Ápice do pólo anterior Liso Estreita camada de superfície porosa

Nenhum Nenhum

leptozona Nenhuma Ápice do pólo anterior Liso Lado ventral do pólo anterior

Fig. 3. Vista com MEV do ovo de A. leptozona. (A) Pólo anterior mostrando a micrópila

Capítulo 3

Dutra, V.S.; Ronchi-Teles, B.; Steck, G.J.; Silva, J.G. Description of Larvae of Anastrepha spp. (Diptera: Tephritidae) in the fraterculus Group. Aceito pela Annals of the Entomological Society of America (Anexo 5).

Description of Larvae of Anastrepha spp. (Diptera: Tephritidae) in the