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Em harmonia a Drebes (2009), o preço das ações dos clubes de futebol segue a mesma lógica de mercado a que estão sujeitas as demais empresas, no entanto, a valorização das ações desta entidade desportiva depende de uma variável em especial, o desempenho desportivo, isto é, as vitórias e derrotas dentro de campo. Garcia-del-Barrio e Szymanski (2009) também identificaram a relevância do desempenho desportivo ao examinar se o comportamento dos clubes ingleses e espanhóis é mais voltado à maximização da vitória ou do lucro, em ambas as ligas. O estudo deBenkraiem, Le Roy e Louhichi (2011) identificou que a magnitude da variação do preço das ações dos clubes de futebol na bolsa de valores também depende da natureza do resultado desportivo (derrotar, empatar ou ganhar) e do local

de partida (em casa ou fora), levantando a questão das motivações dos acionistas de clubes de futebol.

Neste ponto da pesquisa, procurou-se comparar os clubes brasileiros e europeus quanto à performance desportiva. Primeiramente, analisou-se por meio de uma tabela cruzada o desempenho desportivo dos 66 clubes da amostra por região (Europa e Brasil), classificando em Baixo, Médio e Alto, a performance dos clubes.

Em atendimento ao quarto objetivo específico, utilizou-se o coeficiente Rho de Spearman a fim de verificar se há padrões de associação entre o perfil dos ativos intangíveis com evidenciação contábil dos clubes e seus respectivos desempenhos desportivos. Esta análise estatísticainferencial é aplicada na amostra geral, e separadamente por região.

4.4.1 Análise descritiva

Como já mencionado na seção metodológica, o desempenho desportivo dos clubes é mensurado através da classificação dos clubes no ranking da IFFHS (2012), o qual posicionou os 400 melhores clubes do mundo. Sobre este aspecto, destacam-se os valores mínimos e máximos de acordo com a região geográfica. Enquanto a posição dos clubes europeus variam da 1ª à 398ª colocações, os clubes brasileiros variam da 6ª à 376ª posições.

Sob outra perspectiva, analisou-se a colocação dos clubes dentro da própria amostra, constituindo uma nova variável denominada de Desempenho Desportivo. Para tanto, utilizou- se um ponto de corte de 22 para a segmentação dos grupos, baixo (1º-22º), médio (23º-44º) e alto desempenho (45º-66º) desportivo. Deste modo, pode ser observado o desempenho desportivo dos clubes, quanto ao nível entre os clubes da amostra, de acordo com a região geográfica, como demonstrado na Tabela 17.

Tabela 17 - Tabela cruzada por desempenho desportivo e região

Desempenho Desportivo

Total

Baixo Médio Alto

Região Europa 18 13 17 48

Brasil 4 9 5 18

Total 22 22 22 66

Fonte: Dados da pesquisa com base no output do SPSS.

De acordo com a Tabela 17, verifica-se que boa parte dos clubes europeus (72,91%) ocupam as extremidades, baixo e alto desempenho desportivo, enquanto 50% dos clubes brasileiros estão localizados na parte mais central da classificação (desempenho médio).

4.4.2 Análise estatística inferencial: correlação de Spearman

Antes de tudo, é importante salientar que a existência de correlação nada diz sobre a natureza da relação causal que porventura exista entre as variáveis observadas. De fato, o que se pretende saber é se existem padrões de associação entre o perfil dos ativos intangíveis evidenciados pelos clubes, por meio das variáveis de intangibilidade, e os respectivos desempenhos desportivos.

Para se perceber essa possível relação, utilizou-se o coeficiente Rho de Spearman, dada a violação das suposições de testes paramétricos, tais como da normalidade dos dados. A análise, então, é efetuada conjuntamente e separadamente por origem dos clubes (europeus e brasileiros), e com as seguintes hipóteses a testar: H0: A correlação entre o perfil dos ativos intangíveis com evidenciação contábil dos clubes e os respectivos desempenhos desportivos é nula; Ha: Há correlação entre o perfil dos ativos intangíveis com evidenciação contábil dos clubes e os respectivos desempenhos desportivos.

A Tabela 18 apresenta o teste Rho de Spearman de correlação entre as duas variáveis para os clubes da amostra, de maneira geral, independentemente da origem.

Tabela 18 - Teste Rho de Spearman de correlação entre intangível e desempenho desportivo

AIG RAI

Desempenho Desportivo

Coeficiente de Correlação 0,173 0,099

Valor p 0,165 0,428

Número de Observações 66 66

Fonte: Dados da pesquisa com base no output do SPSS.

O coeficiente Rho de Spearman varia entre -1 e 1 (MAROCO, 2007). Quanto mais próximo estiver destes extremos, maior será a correlação linear entre as variáveis, existindo nesses pontos específicos uma correlação perfeita. Um valor positivo significa que as variáveis variam no mesmo sentido e um valor negativo traduz uma variação em sentido oposto, isto é, os valores mais elevados de uma variável estão associados aos valores mais baixos da outra variável (CRUZ, 2012).

Neste cenário geral apresentado pela Tabela 18, não existe correlação entre as variáveis, dado que o valor p é maior que 0,05 nos testes das duas correlações, pelo que não se rejeita a hipótese nula. Assim, os resultados dos testes indicam que o desempenho desportivo e o perfil dos ativos intangíveis com evidenciação contábil dos clubes em geral não estão estatisticamente correlacionados.

A Tabela 19 apresenta o teste Rho de Spearman de correlação entre as duas variáveis, de acordo com a origem dos clubes.

Tabela 19 - Teste Rho de Spearman, por região

AIG RAI Desempenho Desportivo Europeus Coeficiente de Correlação 0,249 0,181 Valor p 0,087* 0,217 Número de Observações 48 48 Brasileiros Coeficiente de Correlação 0,033 -0,133 Valor p 0,896 0,599 Número de Observações 18 18

Fonte: Dados da pesquisa com base no output do SPSS. *Correlação significante ao nível de significância de 10%.

No cenário dos clubes europeus, considerando α = 0,10, existe uma correlação positiva entre o desempenho desportivo dos clubes e o respectivo retorno do ativo intangível (AIG) e a correlação é estatisticamente significativa.

Destarte, observa-se que apesar de não identificar uma correlação entre o perfil do ativo intangível evidenciado pelos clubes e o respectivo desempenho desportivo de uma maneira geral para todos os clubes da amostra, separadamente, os clubes europeus apontam existir uma fraca relação ao rejeitarem a hipótese nula do teste Rho de Spearman, a um nível de significância de 10%, apresentando uma fraca correlação positiva (valor p = 0,087; correlação = 0,249).

De acordo com Dantas e Boente (2012), com melhores jogadores, existe uma maior probabilidade de sucesso para um determinado clube, ou melhor, se a equipe tem um bom desempenho, há uma maior probabilidade de conquista de títulos (DANTAS; BOENTE, 2012, p. 107). Embora não se tenha aprofundado quanto a causas da divergência verificada entre os dois grupos (clubes europeus e brasileiros) quanto a este aspecto – ainda que a correlação identificada entre o AIG e o Desempenho Desportivo dos clubes europeus não tenha sido tão significante –, bem como não se tenha conhecimento de qualquer estudo para o efeito, sugerem-se algumas eventuais razões para este resultado.

O desempenho desportivo dos clubes brasileiros mostrou-se, em geral, mediano, em contraponto aos clubes europeus que oscilam bastante em bons e péssimos resultados. Isto é, os clubes brasileiros se posicionam, em geral, no centro ranking da IFFHS, enquanto os clubes europeus permanecem mais no topo ou na base da classificação geral dos clubes da amostra. Por outro lado, o perfil dos ativos intangíveis com evidenciação contábil (AIG e RAI), de todos os clubes, apresentou oscilações no mesmo nível. Tais características da

amostra podem, portanto, ser levantadas também como motivadoras ou variáveis capazes de sinalizar tal efeito.

Destarte, para que se tenha uma conclusão mais concreta sobre este tema, seria interessante aprofundar a relação destas variáveis e a utilização de outras variáveis, como o desempenho desportivo nos próprios campeonatos nacionais e regionais.