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DESEMPREGO, POBREZA E EXCLUSÃO SOCIAL

VI. DESEMPREGO, POBREZA, EXCLUSÃO, PROTECÇÃO

VI.1. DESEMPREGO, POBREZA E EXCLUSÃO SOCIAL

Pode definir-se pobreza como situação de privação por falta de recursos (A. Bruto da Costa, 2008) o que significa alguma forma de exclusão social.

Considerando que a desigualdade é princípio intrínseco a qualquer forma de estruturação social, torna-se lícito esperar diferentes habilidades de articulação e de acumulação de recursos (que ultrapassam a esfera económica, englobando ainda aqueles que derivam dos capitais cultural e social) quer materiais quer sociais, por parte dos vários actores. Existe assim uma separação entre os que conseguem mobilizar recursos no sentido de participação social plena e os que, por falta desses mesmos recursos, não têm capacidade para o fazer.

A falta de recursos impossibilita a satisfação das necessidades essenciais, o que, por sua vez, cria uma condição existencial que atinge os mais diversos e profundos

125 aspectos da vida e da personalidade humanas. Tal privação vai empurrando “para fora ou para a periferia da sociedade” aqueles que “não participam dos valores e das representações sociais dominantes” (Fernandes, 1995: 16). O excluído encontra-se fora dos universos materiais e simbólicos, sofrendo a acção de uma espiral crescente de rejeição, que culminará na interiorização de um sentimento de auto-exclusão. São estes, assim, postos à margem, como tão cruamente assinala Viviane Forrester (1996).

O processo multiforme de exclusão social constrange para fora ou para a periferia da sociedade categorias diferentes de população. Existe uma profunda clivagem entre os que “estão dentro” e os que “estão fora”, a camuflar a anterior oposição entre “dominantes” e “dominados”. Os excluídos têm nula ou fraca participação económica e ausência total de relacionamento com os integrados. Os processos de exclusão podem ser hetero ou auto-infligidos: as pessoas também se excluem do meio social quando sentem ou pressentem que os seus valores não são partilhados.

A exclusão afigura-se, assim, como fenómeno multidimensional e social ou conjunto de fenómenos sociais interligados que contribuem para a efectivação do excluído. Ao nível da exclusão, coexistem fenómenos sociais diferenciados, tais como desemprego, marginalidade, discriminação, pobreza, entre outros. A configuração da exclusão está também estritamente associada à desintegração social (quebra de laços de solidariedade e risco de marginalização), à desintegração do sistema de actividade (mutações económicas) e à desintegração das relações sociais e familiares (aparecimento de novos tipos de estruturas familiares mais vulneráveis — famílias monoparentais — e enfraquecimento das redes de entreajuda familiares, de vizinhança e comunitárias).

A crise por que passam as sociedades de hoje - económica, política, cultural e moral - está presente nas relações sociais e faz desaparecer a certeza e a segurança relativamente ao futuro. O desemprego - enquanto efeito privilegiado da crise - é fase de instabilidade e de incerteza nas trajectórias dos agentes e suas famílias. A exclusão do mercado de trabalho gera pobreza e esta impede o acesso a bens e serviços socialmente relevantes (habitação, saúde, lazer). Os afectados por esta condição não conseguem uma identidade (social) no trabalho, na família ou na comunidade, tornando-se excluídos das relações sociais e do mundo, como das representações a elas associadas. É cavado,

126 assim, um fosso, no seio das sociedades actuais, constituído pela separação entre mundo do trabalho - que permite o consumo - e espaços de desemprego e de exclusão.

Embora ter emprego nem sempre proteja as pessoas do risco de pobreza130, em 2007, apenas 8% da população empregada na UE27 detinha um rendimento abaixo da linha de pobreza, por comparação com 42% da população desempregada. No entanto, mesmo que a população empregada esteja menos exposta ao risco de pobreza do que os restantes grupos, ela representa uma grande percentagem em risco de pobreza, visto que uma grande parte da população adulta se encontra a trabalhar (65% na UE27).

O emprego ou a sua ausência tem um impacto importante na taxa de risco de pobreza. Com efeito, enquanto a taxa de risco de pobreza dos trabalhadores é de 12%, o valor aumenta para 25% na população sem emprego residente em Portugal (EU-SILC 2008). Verificam-se taxas ainda mais altas nos desempregados (35%) e nos outros inactivos (28%) em 2008. A taxa de risco de pobreza dos desempregados aumentou 3 pontos percentuais face aos rendimentos de 2006 (EU-SILC 2007) e 4 pontos percentuais face a 2005 (EU-SILC 2006)131.

O recurso à assistência e ao subsídio surge, essencialmente, por motivos de ordem económica - o baixo nível da maior parte das pensões combinado com a perda de poder de compra contribuem para o risco de pobreza. Almeida et al. (1992: 16) concluíram existir uma elevada correlação entre as fontes e os níveis de rendimentos auferidos pelos grupos sociais: os idosos e os desempregados, duas das categorias mais vulneráveis à pobreza e à exclusão social, têm como principal fonte de rendimentos, respectivamente, as pensões e os subsídios. Estes montantes estão, em geral, bastante abaixo dos valores médios de outros tipos de rendimentos, o que propicia situações negativas.

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Segundo o relatório com os indicadores sobre a pobreza (2009) apresentado pela Rede Europeia Anti- Pobreza (REAPN), a taxa de risco de pobreza é relativamente elevada mesmo para os que têm trabalho (in-work poverty). Para o Eurostat, este risco anda bastante ligado a situações de emprego mal remunerado e pouco qualificado, emprego precário, trabalho em part-time involuntário e ao tipo de agregado onde os trabalhadores vivem, assim como ao nível da condição económica dos restantes membros do seu agregado.

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Note-se que entre os reformados a taxa de risco de pobreza (20%) tem vindo a diminuir desde 2004 (EU-SILC 2005), quando a taxa era de 25%. Neste grupo, a taxa é superior quando se referem as mulheres (22%) em comparação com os homens (18%; REAPN, 2008).

127 É possível perceber que a estrutura do mercado de trabalho funciona como factor de agravamento das condições de precariedade e exclusão e que os desempregados se apresentam como categoria onde a incidência da pobreza pode assumir valores

extremos, uma vez que, por exemplo, a privação de emprego pode atingir a totalidade do agregado familiar. Os contratos de trabalho de curta duração e as situações provisórias aumentaram nos últimos anos, com mais passagens entre períodos de actividade e inactividade e reduzindo o peso da situação de salário regular e estável, enquanto se torna mais frequente o recurso a fontes de rendimento alternativas e nem sempre suficientemente compensatórias.

A análise da vulnerabilidade à pobreza e à exclusão social implica uma dimensão subjectiva que englobe quer o sentido dado às respectivas vivências quer os modos de adaptação aos constrangimentos situacionais.

O acesso a algum sistema geradores de rendimento e ao mercado de bens e serviços representa factor de inclusão/exclusão social na medida em que condiciona a disponibilidade de recursos financeiros que permitam às famílias adquirir bens e serviços. A impossibilidade de, por insuficiência de recursos, não ser possível satisfazer tais necessidades configura não apenas uma forma de privação, mas também um factor de exclusão da sociedade (A. Bruto da Costa, 2008).

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