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DESENHANDO A VIDA: UMA VISÃO PSICANALÍTICA DA NARRATIVA DE SI COMO TOMADA DE POSIÇÃO

UM ESTUDO COMPARATIVO DO RITMO EM FALANTES BRASILEIROS NA PRODUÇÃO DO

DESENHANDO A VIDA: UMA VISÃO PSICANALÍTICA DA NARRATIVA DE SI COMO TOMADA DE POSIÇÃO

PARA O EQUACIONAMENTO DA CRISE DE IDENTIDADE EM “ADEUS TRISTEZA: A HISTÓRIA DE MEUS ANCESTRAIS” DE BELLE YANG1

Evangley de Queiroz GALDINO (UEPB)

Resumo

O presente artigo é a síntese dos resultados da pesquisa do PIBIC, ano 2013-2014, relativos à investigação do funcionamento da narrativa de si como instrumental de identificação para o equaciona- mento da crise de identidade vivida pela protagonista da obra “Adeus tristeza: a história de meus ancestrais” de Belle Yang (2012) . A prin- cípio nos debruçamos sobre facetas do mal-estar cultural, a crise de identidade é aqui analisada em função ao conceito psicanalítico de posição, partindo posteriormente para a análise atuação catártica e identificatória da narrativa de si, examinando sua relação a partir dos mecanismos de defesa do ego e a atuação da memória . Para tanto, nos apropriaremos das contribuições psicanalíticas de Freud (1969) e Klein (1950), os debates em torno da escrita de si proposto por Klinger (2007), além dos estudos sobre a identidade na pós-moder- nidade em Bauman (2005), entre outros .

Palavras-chave: Narrativas de Si . Crise de identidade . Psicanálise .

1 Trabalho orientado pela prof . Dra . Rosângela Maria S . de Queiroz, referente ao projeto do PIBIC “Mal-estar na cultura: uma visão psicanalítica das narrativas de si como tomada de posição para o equacionamento da crise de identidade nas histórias em quadrinhos”, período 2013-2014 .

INTRODUÇÃO

O “boom” autobiográfico na contemporaneidade é um fenômeno cultural que deve ser entendido a partir do contexto de sua produção, no qual há uma espetacularização cada vez maior dos sujei- tos marcados pela fala de si, uma visibilidade do privado, da própria intimidade, como produto de uma cultura narcisista, com apresenta Lasch (1983), metáfora da condição humana pós-moderna indivi- dualista, que tende a se apropriar do mundo e transformá-lo num espelho do eu . Além disso, podemos também perceber o investimento libidinal desse mesmo eu no apelo midiático que explora, sobretudo, a lógica da celebridade, fazendo com que haja uma proliferação de narrativas vivenciais como nunca antes presenciada na história da humanidade .

Concomitante a isto, tem havidotambém, um interesse cada vez maior, por parte dos leitores, de obras memorialísticas e de histórias de vida como diários, correspondências biografias, autobio- grafias . Para Ângela de Castro Gomes todos estes exemplos podem ser condensados num conceito que ela denomina escrita de si:

A escrita auto-referencial ou escrita de si integra um conjunto de modalidades do que convencionou chamar de produção de si no mundo moderno ocidental . Esta relação pode ser estendida entre o indivíduo moderno e seus documentos (GOMES, 2004, p . 10) .

Esta prática de produção de si, segundo esta autora, é comum aos sujeitos circunscritos a tipos mais diversos de espaços sociais e engloba um amplo conjunto de ações desde aqueles dire-

tamente ligados a escrita de si, propriamente dita, até a construção de uma memória de si realizada pela reunião de objetos materiais que podem resultar em coleções como os álbuns de fotografias . Neste sentido, pesquisas feitas a partir dessas narrativas, podem contribuir substancialmente para uma melhor compreensão desse fenômeno e dos aspectos psicossociais constituintes dos sujeitos .

Diante desse quadro, o conceito de escrita de si, surge, neste trabalho, como uma reflexão sobre o tema numa perspectiva interse- miótica do conhecimento e transfronterização de campos de sabe- res a partir da problemática da culturae que deve ser inscrita num espaço interdiscursivo com outros textos . É diante deste horizonte, que nosso objetivo é analisar como a História em Quadrinho (HQ), mas especificamente a obra Adeus Tristeza: história de meus ancestrais, da autora Belle Yang (2012), funciona como uma narrativa de si, na qual podemos caracterizar como um instrumental de identificação para o equacionamento da crise de identidade vivida pela personagem protagonista deste romance gráfico (EISNER, 2005) .

Nosso caminho será delineado a partir da noção de tomada de posição, posposto por Klein (1950), que se refere àfeição da relação objetal, na qual o indivíduo entretém como o mundo, com o outro, uma ideia etc . Também pretendemos verificar a relação da narrativa de si com os mecanismos de defesa do Ego e atuação da memória nesse processo . Assim, entendemos que esse estudo se faz necessário, na medida pretendemos cobrir uma provável falta referente a esse tipo de estudos, visando o objeto das HQ, a partir dessa perspectiva, no qual esse horizonte até então vem sendo negligenciado de certa forma, pelo menos no país .

Este trabalho érecorte de umestudo maior, desenvolvido durante o PIBIC (2013-2014), pesquisa, de natureza bibliográfica e qualitativa, sob o beneplácito da Teoria Literária, a Semiótica, Psicanálise e Estudos Culturais . A investigação tinha como eixo os conflitos existenciais vividos pelas pessoas comuns no âmbito social e familiar, suaslutas e possíveis superações, para a pacificação de si mesmo, através de duras, por vezes traumáticas, experiências evolu- tivas, apresentadas em HQ autobiográficas . Verificou-se que a única forma de reverter o quadro de tensão em proveito próprio era tomar conhecimento e um cuidado de si, e isto se dava através da construção de uma narrativa de si, vista como potencial instrumento, para a supe- ração de um mal-estar e crise de identidade . Permitindo ao sujeito, assim, uma mudança de posição .

Para melhor entendermos os movimentos desse processo, este artigo será divido da seguinte forma: primeiro nós iremos tratar das caraterísticas gerais de uma escrita de si para melhor compreen- dermos as nuances que atravessam a narrativa em questão, segundo abordaremos a tomada de posicionamento da personagem em todo seu percurso apontando os fatores determinantes para a mudança de perspectiva dea personagem diante de seus próprios conflitos existenciais .