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TRANSFERÊNCIA FONOLÓGICA NOS PADRÕES ENTONACIONAIS DO INGLÊS:

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Esta pesquisa tem como base teórica Crystal (2006), que defende que entoação não é simplesmente o conjunto de contornos e níveis, mas o conjunto de todas as interações dos elementos prosó- dicos, como F0, acento e ritmo, e é através da interação deste con- junto que é transmitido a informação e o significado do enunciado do falante para o ouvinte .

O termo entoação refere-se a alterações na fala que “cor- respondem a modulações da frequência fundamental (medida em Hertz), da intensidade (medida em decibéis-dB) e da duração (medida em milissegundos - ms)” (MADUREIRA, 1999, p . 55) . A frequência fundamental (F0), termo que designa o número de repeti-

ções de ciclos de uma ondasonora, é considerada, no entanto, o parâ- metro acústico mais importante da entoação .

Por sua vez, Cagliari (2008) ao abordar os estudos foné- ticos, recentemente, define que a principal preocupação da fonética está voltada para a descrição dos fatos físicos que caracterizam os sons da fala linguisticamente, por outro lado, é necessário definir a fonologia como parte integrante desta pesquisa . Sobre essa questão Cagliari (2008) enfatiza que a fonologia procura interpretar os resul- tados obtidos através da descrição fonética dos sons da fala, isto é, mostrar que a fonética é absolutamente descritiva deixando a inter- pretação ao encargo da fonologia .

Foram abordadas ainda questões acerca de análise acústica feita por Pierrehumbert (1980), onde é enfatizado alguns modelos tonais através de análises dos contornos entoacionais é importante para verificar o efeito da frase tonal em questões fonética contra- pondo Halliday (1970) que defende a questão fonológica da entoação . A partir dos estudos de Pike (1945), nos quais o foneticista relacionou os dois métodos, tanto o auditivo quanto o acústico e afir- mou que o resultado das análises de percepção auditiva e acústica era diferente para qualquer observador casual, este mostra que as análises acústicas são mais precisas devido à grande quantidade de medições e testes estatísticos, ao contrário da análise auditiva que trabalha com unidades menos objetivas a partir de oitiva .

Seguindo esta linha segundo a qual o teórico aponta que ambos os métodos têm seu lado positivo e seu lado negativo, salienta que análises auditivas não são tão eficientes quanto às análises acús- ticas no tocante à descrição e medição das características das ondas sonoras . No entanto, nenhum pesquisador consegue afirmar que a

partir das análises físicas o que as ondas sonoras significam linguis- ticamente, então é através da união destes dois métodos de análises, concernente à entoação toda palavra ou sílaba apresenta uma varia- ção melódica durante a pronúncia, pois não existe sentença sem esta variação o que faz com que nenhuma língua possa ser considerada monotônica .

No que concerne aos PCNs, que visam orientar e nortear os educadores em sala de aula, o documento salienta de início que o ensino de LE seja baseado pelo conhecimento prévio que o aprendiz possui da língua alvo e pela sua função social .

Em suma, tanto no ensino médio quanto no ensino fun- damental, o documento propõe e orienta que sejam trabalhadas as seguintes habilidades: leitura, comunicação oral e pratica escrita (BRASIL, 2006, p . 111) . O documento toma como foco principal a leitura, onde o mesmo afirma que:

As atividades orais podem ser propostas como forma de ampliar a consciência dos alunos sobre os sons da língua estrangeira, por meio do uso, por exemplo, de expressões de saudação, de polidez, do trabalho com letras de música, com poemas e diálogos (BRASIL, 2006, p .56) .

Salienta-se, ainda, que a habilidade linguística da leitura deve ser intensificada no 3° ano do ensino médio, uma vez que ser essa a única habilidade na língua estrangeira exigida por exames como o ENEM .

METODOLOGIA

Esta pesquisa está sendo desenvolvida através da coleta de dados de informantes brasileiros e americanos . A coleta dos dados dos informantes brasileiros foram realizadas no laboratório de línguas da Universidade Estadual da Paraíba – Campus II em Guarabira-PB . Foram submetidos a esta coleta duas informante do sexo feminino estudantes do curso de Letras-Inglês . Para os informantes america- nos, a coleta foi feita na Igreja de Jesus Cristo dos Últimos Dias situ- ada na cidade de Guarabira-PB .

A ferramenta utilizada para esta coleta de áudio foi um gra- vador Panasonic RR – US300. Posto isto, os dados foram tratados acusticamente no programa computacional PRAAT versão 5 .4 .06 disponível gratuitamente em http://www .fon .hum .uva .nl/praat/ . O

corpus da pesquisa foi constituído por frases declarativas, negativas e

interrogativas .

Analisamos a interrogativa ‘Can you do me a favor?”, e logo após foi analisada a sentença de caráter negativo “I don’tknow” e por fim uma sentença de caráter declarativa “I prefferwater.”

Em seguida, plotamos as imagens do sinal de voz, espectro- gramas e etiquetagem .

Verificarmos as alterações tonais ao longo das senten- ças analisadas . Após isso, fizemos uma análise comparativa entre os informantes brasileiros e os informantes nativos .

RESULTADOS

Fig . 1 – Produção de “Can you do me a favor?” – Informante Americano

Nesta plotagem da Fig .1 podemos verificar o contorno do

pitch do informante americano etiquetados segundo o modelo de

Halliday (1970) adaptado ao modelo de Pierrehumbert (1980), onde enfatiza a sílaba tônica frasal, constatamos que a partir dessa produ- ção o informante americano pronuncia a frase de forma acentual e isto é notado através dos contornos que o pitch nos dá desde o início da frase até o final da mesma através da variação de tom médio (M), alto (H) e Baixo(L*) .

Fig . 2 – Produção de “Canyou do me a favor?” – Informante Brasileiro

Na Fig .2 podemos verificar que existe uma mudança drás- tica no contorno do pitch em relação à Fig .1, deve-se notar esta drástica mudança por uma das seguintes razões: segundo Havery & Ehrlich (2012), Bisol (2000) e Barbosa (2000), o PB é tido como uma língua silábica, e é o que nos mostra essa curva de pitch enquanto o informante americano produzia a frase de maneira acentual, o infor- mante brasileiro trouxe padrões da língua materna para a produção da pergunta “Can you do me a favor?”, onde a ênfase é dada sempre no final da frase contrariando o informante americano .

Fig . 3 – Produção de “I prefferwater” – Informante Americano

Referente à produção da frase declarativa da Fig .3 “I preffer

water”, notamos que a curva de pitch do informante americano nesta

frase declarativa aproxima-se precisamente do contorno entoacional obtido na Fig .1, da frase interrogativa “ Can you do me a favor?” , o que vem a assegurar que o padrão entoacional americano não difere na produção da frase seja essa interrogativa ou afirmativa . Outro aspecto que comprova o fato é o padrão M, H e L* que são mantidos .

Fig . 4 – Produção de “I prefferwater” – Informante Brasileiro

Nesta Fig .4 temos a produção feita pelo informante bra- sileiro e o que verificamos é, mais uma vez, uma contrariedade de padrões vista através da inversão dos tons frasais no final de cada frase . Enquanto a tônica frasal na Fig . 3 acabava em L* verificamos que a sequência muda na Fig .4 e a tônica frasal acaba com M* .

Fig . 5 – Produção de “I don’t know” – Informante Americano

Na Fig . 5 temos a produção mais uma vez de um infor- mante americano, desta vez com uma frase negativa e notamos o que já vem sido provado através dos dados acústicos, neste caso em parti- cular, verificamos uma que o tom mais alto (H) é enfatizado no início da sentença, passando por um deslize rápido do tom mais baixo (L) para o médio M* com a tônica frasal .

Fig . 6 – Produção de “I don’t know.” – Informante Brasileiro

Ao plotar a Fig .6 verificamos, mais uma vez, a influência do padrão entoacional brasileiro, onde quando se nega alguma coisa o informante tem tendência de dar ênfase neste caso específico no advérbio de negação don’t enquanto na Fig .5 ênfase é coloca nas pri- meiras palavras da frase quase no sujeito .

DISCUSSÃO

Após análise dos dados estes nos remetem para uma refle- xão acerca dos padrões entoacionais da língua inglesa e padrões entoacionais da língua portuguesa, necessariamente, o português do Brasil . Tudo isto, se e somente se, através da análise de dados acústi- cos e dados auditivos .

Cagliari (2012) enfatizou em seus estudos que os trabalhos mais antigos foram feitos através de análises auditivas . No entanto, Halliday (1970) menciona que não é possível trabalhar apenas com fonologia ou apenas com fonética contrapondo Pierrehumbert (1980), que defendia que a entoação é algo apenas fonológico . Essa questão é rebatida nas análises acústicas e pode ser vista através das nossas análises acústicas de dados, onde em todas as sentenças encon- tramos influência da língua materna sobre os padrões entoacionais da língua estrangeira, e isto provado através da curva de F0 quem oscila diferentemente quando um informante brasileiro produz as senten- ças propostas pelo corpus da nossa pesquisa .

Outra grande questão não abordada por Pierrehumbert (1980) é a marcação dos tons médios baixos e médios altos (mencio- nada por Halliday ao utilizar cinco tons melódicos: alto, meio alto, médio, meio baixo e baixo), o que deixa uma grande lacuna pela exis- tência de apenas dois tons durante a marcação, o baixo (L) e o alto (H) .

Perante este quadro temos que levar em conta que tanto a abordagem auditiva quanto a abordagem acústica apresentam aspec- tos formais que permite uma relação entre ambas . Desta forma, o grande desafio é preencher uma lacuna através das análises acústicas

junto às análises auditivas, pois ambas auxiliam a união dos detalhes da fala com as unidades fonológicas do sistema da língua, o que na nossa compreensão recai sobre a forte influência da língua materna .

CONCLUSÕES

Chegamos à conclusão de que é necessário para uma abor- dagem da LE em sala de aula dar importância a todos os aspectos sejam eles fonéticos ou fonológicos , pois quando se fala em aquisição estes dois aspectos são os primeiros a serem desenvolvidos em nós mesmo antes de termos adquirido quaisquer outro sentido .

Tendo em conta estes dois aspectos, tanto o fonético quanto o fonológico, verificamos a importância que o listening deveria ter, pois seria a ferramenta ideal usada para o ensino de LE nas escolas públicas, visto que com os nossos dados ficou provado que existe uma transferência fonológica dos padrões entoacionais da LM para a LE . Além disso, se este aspecto fosse trabalhado procurando uma distanciação da LM no ensino da LE poderíamos obter resulta- dos mais concretos visto que ao contrário do que se prega nos dias de hoje, o aluno se pauta apenas pela escrita e pela gramática deixando de lado a compreensão oral por não ter bases sólidas suficientes para adquirir, pois raramente se aplica a oralidade acoplada ao listening, que é o que ocorre exatamente na aquisição da LM .

Em consonância com Silva Jr & Silva (2014), quando o aprendiz faz uso da prática auditiva antes de observarem aspectos morfossintáticos da LE, o aprendizado de pronúncia é bem mais efe- tivo, mesmo na fase adulta .

REFERÊNCIAS

AVERY, P .; EHRLICH, S . Problems of Selected Language Groups . In: AVERY, P .;EHRLICH, S . Teaching American English

Pronunciation . New York: Oxford University Press, 2012, pp 111-157 .

BARBOSA, P . A . Syllable-Timing in Brazilian Portuguese: Uma Crítica a Roy Majo (Tempo-silábico em Português do Brasil: a cri- ticto Roy Major, S„o Paulo, DELTA, vol .16,No .2, 2000 .

BISOL, L . O Troqueu Silábico no Sistema Fonológico - Um Adendo ao Artigo de Plínio Barbosa, DELTA, Vol . 16, No 2, (403-413), 2000 . CRYSTAL, David . A dictionary of linguistics and phonetics . Oxford: Blackwell Publising, 2008 .19-33, 2009 . 

CAGLIARI, Luis Carlos . Análise fonológica: introdução à teoria e à prática com especial destaque para o modelo fonêmico . São Paulo: Mercado de Letras, 2002 . 

LADEFOGED, Peter . Elements of Acoustic Phonetics . 2nd ed . Chicago: The University of Chicago Press, 1996 .