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1 O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DA PROBLEMÁTICA

1.2 O DESENHO DA PESQUISA

Para delinearmos os passos da pesquisa procuramos organizá-la segundo alguns momentos, que favorecem a construção do seu corpo e facilitam o seu detalhamento:

1.2.1 Exploração Preliminar

Este momento consistiu na tomada de consciência da amplitude do trabalho, das inter-relações com outros trabalhos, na delimitação das perguntas de partida, nos eixos de aproximação e na exploração preliminar (BEAUD, 1997). Para isso, foram levantados documentos de fontes primárias no Arquivo da Assembleia Legislativa e do Governo do Estado e revisada a bibliografia com base em fontes secundárias para aprofundamento, buscando ainda outras informações em trabalhos publicados sobre a temática. Foi também elaborada uma contextualização preliminar sobre as regionalizações oficiais do Brasil e de Santa Catarina.

1.2.2 Pesquisa Exploratória: Entrevistas com Informantes-chave

Nesse momento foi elaborado o roteiro que serviu para direcionar as entrevistas com informantes-chave no mês de junho de 2006 na cidade de Lages/SC. (APÊNDICE A). Para selecioná-los foi utilizada a técnica de “bola de neve”: o primeiro entrevistado sugere um ou dois nomes para serem entrevistados posteriormente, por considerá-los detentores de informações relevantes para a investigação empírica29.

Por exemplo: na entrevista com o presidente do Comitê da Bacia do Rio Canoas em Lages foi sugerido que conversássemos com o consultor de projetos especiais da Secretaria de Desenvolvimento Regional de Lages e com o Gerente de

29 As entrevistas foram registradas – com a anuência dos informantes – em sua maioria com recurso técnico do gravador de voz.

Recursos Hídricos da Secretaria do Desenvolvimento Econômico e Sustentável (SDS) em Florianópolis, bem como com a fundadora do Comitê que estava residindo em Florianópolis. Já que estávamos em Lages, entrevistamos o primeiro indicado, que nos sugeriu a presidente do Banco da Família, que fora também presidente do Fórum de Desenvolvimento Integrado da Região Serrana, que por sua vez indicou- nos o secretário executivo da Associação dos Municípios da Região Serrana (AMURES) para nossa próxima entrevista, que ainda sugeriu-nos o diretor do Centro Vianei de Educação Popular.

1.2.3 Pesquisa de Campo

O conteúdo das entrevistas exploratórias permitiu-nos direcionar a problemática de pesquisa – a idéia diretriz – para o Centro Vianei de Educação Popular, onde o trabalho não foi contínuo ao longo dos anos de 2006 e 2008 períodos nos quais realizamos entrevistas com os dirigentes, os técnicos e estagiários, acompanhamos alguns de seus trabalhos (reuniões e seminários) e compulsamos as atas, relatórios e documentos de uso restrito.30.

Na oportunidade, mantivemos contatos com outros atores sociais que desenvolvem trabalhos em parceria com o Centro Vianei: a Cooperativa Ecológica de Agricultores, Artesãos e Consumidores da Região Serrana (ECOSERRA); Consórcio de Segurança Alimentar e Desenvolvimento da Região Serrana (CONSAD); Associação dos Agricultores Familiares Agroecológicos de Otacílio Costa (AFAOC); Cooperativa de Crédito Rural com Interação Solidária (CRESOL) e o Colegiado de Desenvolvimento Territorial da Serra Catarinense (CODETER).

Tal trabalho também envolveu a participação em Seminário de Avaliação das Ações do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) nos Territórios Rurais em Santa Catarina realizado em Florianópolis em agosto de 2008, quando tivemos a oportunidade de participar como observadora e entrevistar alguns dos participantes que interagem com o Centro Vianei: representante da Universidade do Planalto Catarinense (UNIPLAC); da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural

de Santa Catarina (EPAGRI) de Painel; do Colegiado de Desenvolvimento Territorial do Planalto Catarinense, sede Campos Novos; da ONG Centro de Motivação Ecológica e Alternativas Rurais (CEMEAR) de Presidente Getúlio; da Delegacia do MDA/SDT em Florianópolis e da AMURES e o diretor executivo do Centro Vianei. Em Florianópolis, em 2008, entrevistamos também o Gerente de Recursos Hídricos da Secretaria de Desenvolvimento Sustentável (SDS) e a fundadora do Comitê de Bacia do Rio Canoas, atualmente Gerente de Educação Ambiental e Planejamento da SDS.

1.2.4 Análise dos Dados e Redação da Tese

Quando iniciamos a construção desse momento deparamo-nos com uma limitação: a cartografia oficial do Estado não identificava todas as localidades que interagem com o Centro Vianei. Depois de muitas idas e vindas a órgãos estaduais e federais, localizamos na AMURES um Mapa Municipal Estatístico de cada município na escala de 1:100.000 impresso pelo IBGE. Contamos com a colaboração dos técnicos do Centro Vianei e da AMURES para plotarmos as localidades não inseridas no referido mapa, de forma aproximada.

Resolvido o problema dessas localizações, outro desafio: como entender o processo de atuação do Centro Vianei no tempo e no espaço? Como traduzir suas práticas sociais e deixar a cartografia da ação falar sobre tal processo?

Depois de alguns ensaios, primeiramente tentamos identificar os períodos significativos do Centro Vianei, que deveriam refletir os estágios da sua própria estruturação, obtendo-se três períodos:

• 1983-1992 – fundação e consolidação ainda sob a égide da Igreja Católica voltado às questões dos movimentos e organizações populares;

• 1993 a 1997 – período de profissionalização e adoção do princípio da agroecologia e da formação técnica como um dos seus pilares;

• 1998-2008 – centrado no associativismo em rede (coperativismo de crédito, produção, comercialização e certificação na agroecologia) e na gestão social em parceria com o Estado.

Uma vez definidos esses períodos, passamos a inserir na tipologia de Cox – espaços de dependência e espaços de compromisso – os tipos de conteúdos que correspondem às ações desenvolvidas: formação, organização social, crédito rural, produção e comercialização, pesquisa e projeto, comunicação rural, cooperação financeira, intercâmbio e gestão social.

Já consolidadas, essas informações foram inseridas cartograficamente nos espaços da tipologia de Cox, cujos fluxos emanaram da cidade de Lages, sede do Centro Vianei, para as sedes municipais e ou localidades interioranas onde os eventos foram realizados. Ao mesmo tempo, construímos um mapa síntese, considerando todos os fluxos com seus conteúdos que expressam o movimento das ações do Centro Vianei, vislumbrand o a direção dos fluxos e a concentração dos tipos de conteúdos.

O nosso desafio consistiu, portanto, em construir uma metodologia que nos permitisse analisar e cartografar a ação do Centro Vianei num tempo em movimento, para apreendê-la nos seus pontos de articulação e nas suas estratégias que traduzem a sua política de escala. (QUADRO 2).

Compreender esses elementos à luz do tempo presente é um repto que nos lançamos nos próximos capítulos, buscando apreender quais lógicas presidiram as regionalizações presentes no país e em Santa Catarina, não numa visão linear, mas de processos, em cujo interior ocorrem interações políticas, econômicas e sociais, os conflitos e as cooperações que se projetam nas diferentes escalas geográficas e que se refletem em cada uma delas.

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