DESENHO DE PESQUISA

Segundo Hoppen, Lapointe e Moreau (1997, p. 2), “o desenho de pesquisa pode ser definido como a sequência lógica que liga os dados empíricos à questão de pesquisa inicial e aos resultados e conclusões”. Dessa forma, esta seção trata do ambiente da pesquisa, da tarefa experimental, dos sujeitos que participaram do experimento, bem como do controle experimental.

3.3.1 O ambiente da pesquisa

O contexto para realização do modelo experimental neste estudo foi de laboratório. Nesse caso, o efeito de todas ou quase todas as variáveis independentes influentes, não pertencentes ao problema de pesquisa, mantêm-se o mais reduzido possível (SAMPIERI; COLLADO; LUCIO, 2006). Na experimentação em laboratório, o ambiente é artificialmente criado (HOPPEN; LAPOINTE; MOREAU, 1997). Um ambiente desse tipo permite o controle máximo das variáveis, sendo o tipo de estudo mais preciso cientificamente (HAIR JR. et al., 2005).

Para Aaker, Kumar e Day (2004), nos experimentos de laboratório, o controle das variáveis influenciadoras não pertinentes ao problema imediato de investigação é feito por meio de isolamento da pesquisa em uma situação física à parte da rotina cotidiana e da manipulação de uma ou mais variáveis independentes sob rigorosas condições de especificação, operacionalização e controle. Assim, num ambiente de laboratório, o pesquisador constrói as condições específicas para o experimento, conforme Malhotra (2006). Dessa forma, para esse autor, um experimento de laboratório tende a produzir os mesmos resultados se for repetido com indivíduos semelhantes, o que leva a uma elevada validade interna.

Quanto ao ambiente de aplicação desta pesquisa, ele foi estabelecido em uma loja de comércio de veículos usados, Automania Veículos, localizada na cidade de Santa Maria (RS). A escolha do local foi por conveniência e acessibilidade e pelo livre acesso aos veículos que foram utilizados no experimento, bem como pela permissão de adequações no espaço físico, ou seja, construção de uma sala para aplicação da etapa em que o indivíduo fazia uso de computador e materiais de apoio. Nesse sentido, é importante ressaltar que o ambiente admitiu condições de

silêncio, uma vez que foi preparado especificamente para aplicação da tarefa. Nesse ambiente, o sujeito sentiu-se confortável e recebeu auxílio de um Sistema de Apoio Multicritério à Decisão, bem como fichas ilustrativas dos veículos (conforme podem ser visualizadas na página 185 e 186) e materiais de apoio para resolução da tarefa através do protocolo verbal Think Aloud.

Com esse ambiente, assegurou-se a validade interna conseguida com o uso de laboratório, e ao mesmo tempo, a validade externa, pois se utilizou um local do mundo real.

3.3.2 A tarefa experimental

A tarefa experimental utilizada neste estudo constituiu-se na escolha de veículos usados, cujas alternativas foram três modelos de veículos, dois sedans e uma minivan. Os atributos, definidos como as características dos veículos, foram a base para a tomada de decisão. A realização da tarefa aconteceu sob duas formas: a) com o auxílio de um Sistema de Apoio Multicritério à Decisão (Visual PROMETHEE ou M-MACBETH ou TransparentChoice) e b) sem o auxílio do SAD, ou seja, pelo modelo mental de decisão, quando foram verificadas as estratégias de decisão utilizadas pelo indivíduo por meio do protocolo verbal Think Aloud.

3.3.2.1 Tarefa experimental com auxílio de um SAD

Para realização da tarefa com o auxílio de um SAD, o usuário foi solicitado a escolher, através de comparações, de acordo com sua preferência, as alternativas, os atributos, o grau de importância ou diferença de atratividade que melhor representassem sua escolha. A escolha final da melhor alternativa foi de acordo com as comparações e os julgamentos que o decisor fez durante a realização da tarefa.

Para execução dessa tarefa, o usuário tinha disponíveis três opções de SADs: Visual PROMETHEE, M-MACBETH e TransparentChoice. O sistema Visual PROMETHEE é baseado no método PROMETHEE, proposto por Brans e Vincke, em 1985, o qual consiste em construir uma relação de classificação de valores (VINCKE, 1992). O sistema M-MACBETH é uma abordagem interativa que usa julgamentos semânticos sobre diferenças de atratividade de vários estímulos para ajudar o decisor quantificar cada atratividade relativa (BANA E COSTA; VANSNICK,

1999). O sistema TransparentChoice foi desenvolvido pela TransparentChoice Limited Company. É baseado no método AHP e permite ao decisor estruturar uma decisão em níveis hierárquicos, determinando por meio da síntese de valores, uma medida global para cada uma das alternativas, priorizando-as ou classificando-as ao final do método (SAATY, 1991). Cabe salientar que o acesso aos sistemas ocorreu da seguinte forma: M-MACBETH através da aquisição da licença versão acadêmica na língua portuguesa; Visual PROMETHEE através do download da edição acadêmica, na língua inglesa, disponível no website da VPSolutions; TransparentChoice através da aquisição da licença versão acadêmica, na língua inglesa, no website TransparentChoice.

A elaboração da tarefa foi realizada a partir da construção das alternativas, dos atributos e da utilização dos SADs. Para Basnet, Foulds e Igbaria (1996), os SADs são sistemas baseados em computador para auxiliar o tomador de decisão a resolver problemas semiestruturados, permitindo-lhes acessar e utilizar dados e modelos analíticos. Ainda esses autores salientam que os SADs são sistemas computadorizados, interativos, destinados a problemas semiestruturados que utilizam modelos com bancos de dados internos e externos, além de serem flexíveis, eficazes e de fácil adaptação.

Dessa forma, vários casos têm sido relatados na literatura de utilização desses sistemas. A maioria são sistemas de grande escala, construídos para facilitar tarefas precisas e repetitivas de decisão ou, em outros casos, são pequenos sistemas que oferecem rotinas rápidas e econômicas para apoiar uma tomada de decisão de uma só vez (BASNET; FOULDS; IGBARIA, 1996). Nesse sentido, Borenstein (1997, p. 67) corrobora que “[...] vários SADs foram construídos para, interativamente, facilitar na resolução de problemas envolvendo múltiplos critérios”.

3.3.2.1.1 Construção de atributos e alternativas

A tarefa de decisão foi estabelecida na escolha de veículos usados, tendo em vista alguns cuidados a serem observados na hora da escolha, diferentemente da compra de um veículo novo que, do ponto de vista prático, é sempre mais fácil, pois não há preocupação, por exemplo, se já foi batido, se tem algum problema mecânico, se tem multa ou se a documentação está em dia. Como alternativas,

foram apresentados três modelos de veículos, escolhidos dentre os disponíveis na loja para a pesquisa: Focus Sedan, Azera e Idea.

Os critérios ou atributos considerados como relevantes no processo de decisão de escolha dos veículos usados foram definidos com base em estudos anteriores de Sánchez (2002), Baltas e Saridakis (2013), Lemos (2007), Mairesse et al. (2012), Mesquista e Sobrinho (2008), Oprea (2010) e Wu, Liao e Chatwuthikrai (2014) e de revistas especializadas. Para o desenvolvimento da tarefa, foram utilizados os dez critérios mais relevantes encontrados nesses estudos: preço, custo de manutenção, consumo de combustível, câmbio automático, banco em couro, desempenho do motor, quilometragem, ano de fabricação e modelo, pintura e lataria. Cabe salientar que os critérios ar condicionado, direção hidráulica, freios ABS, trava elétrica e alarme não foram considerados para análise na tarefa decisória, por não serem critérios diferenciadores na hora da escolha, apenas foi mencionado que todas as alternativas de veículos possuíam essas opcionais. As estratégias utilizadas para seleção dos atributos basearam-se na sua simultaneidade em diferentes estudos e meios de publicação, ou seja, esses critérios foram encontrados nos estudos acima citados e em revistas especializadas. O quadro 10 sumariza a descrição de cada critério.

Quadro 10 – Descrição dos critérios utilizados na tarefa decisória

GRUPO DE

CRITÉRIOS CRITÉRIO DESCRIÇÃO

Econômico

Preço Preço de comercialização do veículo praticado pela loja de automóveis.

Custo de manutenção

Refere-se ao valor de aquisição de peças de desgaste natural do veículo com 60.000 Km de uso, incluindo valor da mão de obra para revisão.

Consumo de combustível Diz respeito à média de quilômetros rodados por litro de combustível.

Conforto

Câmbio automático Refere-se ao sistema empregado em automóveis para troca automática de marchas.

Banco em couro

Refere-se ao material de revestimento dos bancos do veículo. O couro natural ocupa a posição de material nobre, sendo muitíssimo utilizado em estofado.

Técnico

Desempenho do motor Pode ser definido como a velocidade máxima alcançada pelo veículo.

Quilometragem Consiste na quantidade de quilômetros rodados pelo veículo.

GRUPO DE