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CAPÍTULO 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.4 Acessibilidade Universal

2.4.1 Desenho universal

Acessibilidade pode ser conceituada como sendo a possibilidade de promover a todos os usuários o acesso e utilização de ambientes e equipamentos com igualdade, autonomia e segurança.

Acessibilidade: possibilidade e condição de alcance, percepção e entendimento para a utilização com segurança e autonomia de edificações, espaço, mobiliário, equipamento urbano e elementos.

Acessível: espaço, edificação, mobiliário, equipamento urbano ou elemento que possa ser alcançado, acionado, utilizado e vivenciado por qualquer pessoa, inclusive aquelas com mobilidade reduzida. O termo acessível implica tanto acessibilidade física como de comunicação.

Desenho universal: aquele que visa atender à maior gama de variações possíveis das características antropométricas e sensoriais da população (NBR 9050, 2004, p. 2 e 3).

Na atividade de projetar, o profissional deve ter o desenho universal como foco, concebendo produtos e espaços voltados para a diversidade humana, possibilitando a utilização por todos, sem recorrer a adaptações ou projetos especializados.

Um grupo de trabalho de arquitetos, desenhistas de produto, pesquisadores em desenho ambiental e engenheiros da Universidade do Estado de Carolina do Norte nos EUA colaboraram para estabelecer princípios do desenho universal a serem atendidos para estabelecer a inclusão social (WRIGHT, 2001):

 Uso equitativo - o desenho é útil e pode ser disponibilizado para pessoas com habilidades diversas. São espaços, objetos e produtos que podem ser utilizados por pessoas com diferentes capacidades, tornando os ambientes iguais para todos. Como exemplifica a Figura 2.10, verifica-se porta com sensores que se abrem sem exigir força física ou alcance das mãos de usuário de alturas variadas.

Figura 2.10 Portas com sensores

Fonte: Carleto e Cambiaghi (2012).

 Flexibilidade no uso - o desenho acomoda uma amplidão de preferências individuais e habilidades. “Design” de produtos ou espaços adaptáveis para

qualquer uso. São exemplos: Computador com teclado e mouse, ou com programa do tipo “Dosvox” e tesoura que se adapta a destros e canhotos, como pode-se ver na Figura 2.11.

Figura 2.11 Produtos com flexibilidade de uso

Fonte: Carleto e Cambiaghi (2012).

 Uso simples e intuitivo - o uso do desenho é fácil de entender, independentemente da experiência do usuário ou seu conhecimento, proficiência linguística, ou nível atual de concentração. Conforme os exemplos demonstrados na Figura 2.12: Acesso feminino e para PcD; e acesso masculino e para PcD.

Figura 2.12 Indicação de acessos

Fonte: Carleto e Cambiaghi (2012).

 Informação perceptível - o desenho comunica informação necessária eficaz ao usuário, independentemente das condições do ambiente ou das habilidades sensoriais do usuário. Na Figura 2.13 verificam-se exemplos de diferentes maneiras de comunicação, tais como símbolos e letras em relevo, braile e sinalização auditiva.

Figura 2.13 Formas de comunicação

Fonte: Carleto e Cambiaghi (2012).

 Tolerância de erros - o desenho minimiza o perigo e as consequências adversas de ações acidentais.

Figura 2.14 Elevadores com sensores de presença em diversas alturas

Fonte: Carleto e Cambiaghi (2012).

 Pouco esforço físico - o desenho deve ser usado eficiente e confortavelmente, com fadiga mínima.

Figura 2.15 Torneira de sensor e maçaneta tipo alavanca

Fonte: Carleto e Cambiaghi (2012).

 Tamanho e espaço para a aproximação e uso - provêm-se tamanho e espaço apropriados para aproximação, alcance, manipulação e uso, independentemente do tamanho do usuário, sua postura ou mobilidade. São exemplos as poltronas para obesos em cinemas e teatros de acordo com a Figura 2.16.

Figura 2.16 Poltronas para obesos

Fonte: Carleto e Cambiaghi (2012).

O desenho universal vai além do pensamento de eliminação de barreiras. Trata-se de evitar a necessidade de produção de ambientes ou elementos especiais para atenderem públicos diferentes. Entretanto, uma das grandes dificuldades na aplicação do desenho universal se dá pelo desconhecimento técnico sobre o tema, indicando a grande responsabilidade das universidades, dos centros de formação técnica e dos institutos de produção e pesquisa, na abordagem deste tema (BRASIL, 2006).

A aplicação do desenho universal está vinculada a três parâmetros básicos: (1) formação técnica dos profissionais responsáveis pelo projeto, execução e fiscalização de obras; (2) a norma técnica para assegurar o cumprimento das soluções de maneira universal; (3) e a regulamentação e gestão, implantadas adequadamente de forma a serem realizadas mesmo com a mudança política de administradores.

É importante diferenciar desenho universal de desenho acessível. O desenho

universal busca simplificar o dia-a-dia das pessoas, sem adaptações extras. E o desenho acessível busca desenvolver edificações, objetos ou espaços que sejam

acessíveis às pessoas com mobilidade reduzida que, muitas vezes produz elementos diferenciados, porém devem ser utilizados na impossibilidade em aplicar o desenho universal (BRASIL, 2006).

Nesse sentido, com a necessidade de se explorar mais as diretrizes básicas para a aplicação do “desenho universal” procurou-se as definições apresentadas pela Associação Internacional de Ergonomia (IEA) para a disciplina científica referenciada, sendo assim, um tema relacionado “ao entendimento das interações entre os seres humanos e outros elementos ou sistemas, e à aplicação de teorias, princípios, dados e métodos a fim de otimizar o bem estar humano e o desempenho global do sistema”, como publicado pelo site da Associação Brasileira de Ergonomia (ABERGO). Os ergonomistas contribuem para o “planejamento, projeto e a avaliação de tarefas, postos de trabalho, produtos, ambientes e sistemas de modo a torná-los compatíveis com as necessidades, habilidades e limitações das pessoas” (ABERGO, 2013).

Atualmente, no Brasil, a formação em “ergonomia” inclui conhecimentos nas áreas da psicologia, anatomia, organização do trabalho, “design” e tecnologia da informação. Esse conteúdo passa a ser utilizado para a avaliação do efeito da tarefa e do ambiente nas pessoas, evoluindo para a avaliação técnica da qualidade urbana e da mobilidade, tratando da aplicabilidade de políticas públicas de acessibilidade aos espaços da cidade. Partindo do pressuposto de que antes não se tinha consciência de que em um ambiente acessível e dispondo de uma tecnologia assistiva adequada, uma PcD pode participar, sem maiores limitações, das atividades disponibilizadas pelo meio, e assim aborda-se uma ressignificação do

entendimento do cerne da questão em estudo no presente trabalho de pesquisa: equiparação social do espaço urbano.

Dando prosseguimento, aborda-se a infraestrutura viária, mais precisamente “os passeios”, que desempenham um importante papel na promoção da acessibilidade à cidade, porém, para tanto, devem atender às exigências definidas pelo desenho

universal, como: ter uma faixa livre de, no mínimo, 1,20m de largura (passeio ou rota

acessível), nesta faixa não pode haver bancas, telefones, lixeiras, floreiras ou qualquer outro obstáculo; deve ter inclinação transversal máxima de 3% (em relação a sua largura); piso nivelado, antiderrapante e não trepidante; continuidade nas calçadas vizinhas, sem a criação de degraus, conforme exemplificado na Figura 2.17 apresenta-se uma calçada acessível seguindo parâmetros da norma técnica:

Figura 2.17 Calçada acessível

Fonte: Brasil (2006).

O Código de Trânsito Brasileiro (CTB) dispõe dos seguintes conceitos:

Calçada: parte da via, segregada e em nível diferente, não destinada à circulação de veículos, reservada ao trânsito de pedestres e, quando possível, à implantação de mobiliário urbano, sinalização, vegetação e outros fins.

Passeio: parte da calçada ou da pista de rolamento, neste último caso, separada por pintura ou elemento físico separador, livre de interferências, destinada à circulação exclusiva de pedestres e, excepcionalmente, de ciclistas.

Pista: parte da via normalmente utilizada para a circulação de veículos, identificada por elementos separadores ou por diferenças de nível em relação às calçadas, ilhas ou aos canteiros centrais.

Via: por onde transitam veículos, pessoas e animais, compreendendo a pista, a calçada, o acostamento, ilha e canteiro central. (CTB, 1997).

Na discussão sobre rotas acessíveis se faz necessário uma avaliação criteriosa das calçadas, observando inclusive o material empregado na área do passeio, como também, as transposições de um lado para o outro da via pública, tornando a

mobilidade satisfatória, relembrando que, diante de uma única ausência de continuidade no passeio acessível, a sua função se torna desfavorável.

Na Figura 2.18 se verificam adequações em calçadas do Pelourinho, localizado no Centro Histórico da cidade de Salvador, muito visitado por turistas.

Figura 2.18 Calçada acessível do Pelourinho

Fonte: Elaborado pelo autor (2014).

A publicação “Guia para Mobilidade Acessível em Vias Públicas” elaborada pela Comissão Permanente de Acessibilidade (CPA) da Secretaria de Habitação do município de São Paulo (SEHAB) aponta que o “reordenamento das cidades faz parte de um processo democrático, concretizado por políticas públicas de integração entre os atores que constituem o ambiente urbano”, principalmente ao relembrar que, “as intervenções estão ligadas a soluções de problemas urbanos, oferecendo qualidade de vida pra os cidadãos e maior eficiência para a economia urbana” (SÃO PAULO, 2003). Essa pauta é de extrema importância para os moradores da comunidade do bairro de Canabrava, que se queixam por não serem priorizados pela gestão pública.

[...] políticas públicas associadas ao termo mobilidade urbana são políticas integradoras que criam interações eficientes para o uso do solo, o transporte público e os meios não motorizados de deslocamentos. Tais políticas reconhecem os diferentes atributos das pessoas e dos agentes econômicos - daí contemplarem as dimensões do espaço e a complexidade das atividades para assegurar a todos o direito constitucional de ir e vir. (SEHAB-SÃO PAULO, 2003, p. 23).

Na Figura 2.19 visualiza-se que, mesmo quando as normas técnicas admitem diversos padrões de piso, desde que resguardem a total acessibilidade para a faixa

livre, são apresentadas recomendações de materiais, além de outros detalhes, com o intuito de promover acessibilidade universal.

Figura 2.19 Materiais para passeios

Fonte: SEHAB-SÃO PAULO (2003).

Nesse sentido, defende-se que, com a garantia da exigência de acessibilidade universal para as PcD e para as que apresentam baixa mobilidade, é importante cumprir, conforme ordena a lei, as especificações técnicas considerando detalhes a serem exigidos como:

[...] os passeios das vias com declividade de até 12% não poderão apresentar, no sentido longitudinal, degrau ou desníveis; os passeios das vias com declividade acima de 12% deverão ser subdivididos longitudinalmente em trechos com declividade máxima de 12%, e acomodados em degraus de altura máxima de 17,5 cm; e conforme a declividade da via e a consequente impossibilidade, o passeio poderá também apresentar escadarias, cujos degraus devem ter altura entre 16 cm e 18 cm e piso de 28 cm a 32 cm [...] (SEHAB, 2003, p. 25).

Assim, ressaltando que o sistema viário é composto de passeios destinados às pessoas e leito carroçável destinado aos veículos, espera-se do poder público que a

mesma atenção dada ao espaço de circulação de veículos seja direcionada ao espaço utilizado pelos pedestres também, respeitando a hierarquia definida pelo CTB, a ponto de seguir com preciosidade as especificações, e posterior aplicação na execução e manutenção dos passeios, com o objetivo de sanar os fatores que provocam a descontinuidade na execução do modo não motorizado (CTB, 1997). Todavia, recomenda-se avaliação mais apurada no estudo de caso deste trabalho de pesquisa, mencionado aqui mais uma vez, onde se faz necessário encontrar soluções que minimizem os fatores de impedância existentes, isto é, as barreiras físicas encontradas no ato de caminhar, resultantes da inclinação elevada a ser vencida em pouca distância, problema este que não é abordado pela norma de “calçadas acessíveis”, mas que constitui barreira intransponível para os que venham a apresentar qualquer mínima restrição de mobilidade, como prevalece para os que residem em áreas com precária infraestrutura urbana, assim como os ocupantes das áreas de encostas da comunidade do bairro de Canabrava.

Diante desta problemática recorre-se a um conjunto de técnicas que visam viabilizar a mobilidade, percepção e utilização do meio ambiente por PcD e por pessoas com restrição de mobilidade, a este conjunto de técnicas, que nos dias atuais estão se tornando mais frequentes devido à aplicação em maior escala do conhecimento científico, pode-se chamar de “tecnologia assistiva”.