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CAPÍTULO 3 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA EM ESTUDO

3.1 Evolução Urbana

3.1.2 Evolução urbana dos bairros da periferia de Salvador

Entende-se que o incremento populacional da cidade de Salvador a partir dos anos 40, “[...] aliado à falta de alternativas de moradia, sobretudo para os setores de baixa renda, e ao crescente desinteresse privado no mercado de locação, gerou uma grave crise habitacional” (SALVADOR, 2008). Como resultado verificou-se o crescimento acelerado da “cidade informal”, podendo-se dizer que as primeiras invasões coletivas de terra, que ocorreram no final dos anos 40 representaram uma saída para quem não tinha como arcar com os altos preços dos aluguéis e nem de adquirir uma casa ou um lote.

Por outro lado, essas iniciativas populares contribuíram para romper com a estrutura fundiária vigente, nas mãos de poucos proprietários, “[...] que ainda se valia de um sistema arcaico: o poder público, a igreja e poucas famílias mantinham a enfiteuse, antigo sistema de arrendamento, como instrumento de uso de grandes glebas.” (SAMPAIO, 1999, p. 120).

Segundo Gordilho (2001):

[...] a expansão urbana do município dá-se por três vetores. O primeiro é a Orla Atlântica Norte, que configura o espaço mais “nobre”. Está interligada ao município de Lauro de Freitas e tende a seguir ao longo da Estrada do Coco, via litorânea paralela ao litoral norte. Miolo, área geograficamente central localizada entre a Avenida Paralela e BR-324, é o segundo vetor. O terceiro é o Subúrbio Ferroviário, que se desenvolveu a partir da década de 1940, com loteamentos populares. Concentra, hoje, grande parte de habitações precárias e é deficiente de equipamentos, serviços e infraestrutura. (SALVADOR, 2008, págs. 16 e 17).

Dando prosseguimento a este cenário, vale esclarecer que, o foco a partir daqui, será dado à evolução urbana dos bairros periféricos que compõe a região do “Miolo”, localizado geograficamente na área central do município de Salvador, porém caracterizado com fatores potencializadores das periferias das metrópoles brasileiras, como já se relatou, com infraestruturas urbana e viária precárias devido a constatação de ineficiência da gestão do poder público a favor dos que pertencem às classes de renda baixa.

Em meados da década de 1970 a área efetivamente ocupada pela cidade de Salvador abrangia aproximadamente 30% (abrangendo 75 km2) da atual área, a expansão urbana se processava principalmente a partir da BR-324 (SALVADOR,

2009), seguindo na direção leste, acompanhando as vias de penetração implantadas nas cumeadas do Cabula, Tancredo Neves e também Pau da Lima, com novas ocupações espontâneas surgindo no extremo norte, Cajazeiras, onde na década de 1980 culminou com a implantação dos conjuntos Cajazeiras e Fazenda Grande, que só viriam a ser efetivamente ocupados a partir da segunda metade da década.

Entre 1971 e 1975 foram implantadas as duas pistas da Av. Luiz Viana Filho (Av. Paralela) e as ligações entre esta e a Orla, a duplicação da BR-324, a construção do Acesso Norte e das rodovias CIA–Aeroporto e Parafuso, melhorando as condições de acessibilidade e de circulação de mercadorias no espaço urbano e regional. Quase simultaneamente, o Governo do Estado implantaria o Centro Administrativo da Bahia (CAB), numa das margens da Av. Paralela, centralizando toda a burocracia estadual, e a nova Estação Rodoviária de Salvador, na confluência dos dois principais eixos rodoviários do Município – a Av. Paralela e a BR-324. (SALVADOR, 2009, p. 49).

No Miolo - área foco do estudo de caso desta pesquisa - “[...] a Av. Edgard Santos foi implantada em 1978, ligando Narandiba, na parte alta da região do Cabula, à Av. Paralela.” (SALVADOR, 2009). Sem deixar de ressaltar a concepção do “[...] sistema de vias transversais cortando as regiões do Miolo desde a Av. Paralela até a BR- 324, estruturando a malha viária desta Macrounidade e integrando, por meio de suas conexões, os espaços das duas orlas de Salvador.” (SALVADOR, 2009).

A partir de 1990 o Miolo apresentou adensamento consolidado com a implantação de programas habitacionais para a população de baixa renda e mediante invasões de terrenos vazios adjacentes às áreas próximas aos conjuntos habitacionais existentes. “Surgem grandes invasões e começam a se evidenciar os problemas decorrentes da má utilização do solo com incidentes frequentes envolvendo deslizamento de encostas e desabamentos em épocas de chuvas”, com grandes números de desabrigados e vítimas (SALVADOR, 2009). Nesta década à Macrounidade do Miolo eram atribuídas as seguintes características:

[...] adensamento das regiões a partir da implantação de programas habitacionais para a população de baixa renda e mediante invasões de terrenos vazios adjacentes às áreas de ocupação já consolidadas, ou próximas aos conjuntos habitacionais existentes; especialmente em Cajazeiras (RA XIV), surgem grandes invasões, como o Jardim Mangabeira, e começam a se evidenciar os problemas decorrentes da má utilização do solo, com incidentes frequentes envolvendo deslizamento de encostas e desabamentos em épocas de chuvas, com grande número de desabrigados e vítimas; proliferação de loteamentos residenciais irregulares e clandestinos implantados na área de contribuição direta da bacia hidráulica da represa de Ipitanga I, com sérios riscos para a qualidade do manancial. (SALVADOR, 2009, p. 55).

De forma generalizada, o Miolo teve a sua expansão continuada por loteamentos populares e sucessivas invasões coletivas, resultando em 41 bairros. Enfim, dados atualizados informam a ocupação aproximada de 36% da superfície da cidade (SALVADOR, 2009), enfatizando que, as últimas pesquisas comprovam que o “Miolo” foi a área que apresentou maior crescimento populacional da cidade.

Na região de Pau da Lima (RA XIII) as maiores densidades são encontradas no centro da região, nos subespaços correspondentes a Pau da Lima/ São Marcos, Sete de Abril/ Vila Canária e Castelo Branco, que se encontravam na faixa de 100 a 150 hab/ha em 1996. No grande espaço correspondente a Canabrava/ Vale dos Lagos/ Trobogy a densidade permanece baixa em razão da grande quantidade de vazios ainda existentes, especialmente nas imediações da Av. Paralela, que convivem com áreas densamente ocupadas e com altas taxas de crescimento populacional. (SALVADOR, 2009, p. 76).

Segundo Fontes (2012) para o PDDU de 2004 as estimativas de população foram apresentadas por RAs, conforme visualiza-se na tabela da Figura 3.4, a partir da complementação e adaptação quanto à agregação em Unidades Espaciais da Análise ou Macrounidades, enfatizando que, mesmo percebendo que a AUC continua sendo a que tem maior população residente, “[...] só que apresentando uma tendência de decréscimo, onde as regiões do Centro, Itapagipe, Liberdade e Barra demonstram uma perda de população ao longo do período analisado [...]” (FONTES, 2012), a Macrounidade do Miolo apresenta tendência de crescimento significativa, sobressaindo o aumento populacional da RA Pau da Lima, que contempla, como mencionado, o bairro de Canabrava.

Seguido da Figura 3.4, o Gráfico 3.1 demonstra a evolução da população de Salvador.

Figura 3.4 Projeção da população de Salvador de 1996-2015

Fonte: SEPLAM, 2000 apud FONTES, 2012.

Gráfico 3.1 Projeção da população de Salvador de 1996-2015

Fonte: SEPLAM, 2000 apud FONTES, 2012. Elaborado pelo autor.

Outro parâmetro de considerada relevância quanto à caracterização da área em estudo condiz com os resultados do levantamento do Plano Municipal de Habitação de Salvador 2008-2025, executado pela Secretaria Municipal de Habitação

(SEHAB), quando foram classificados padrões de habitabilidade em “bom”, “regular”, “precário” e “insuficiente” (SALVADOR, 2008), verifica-se que nos bairros do “Miolo” prevalecem as seguintes classificações:

Precário - áreas onde há necessidade de intervenção para melhoria de infraestrutura e/ou rede de equipamentos. Parcelamentos com dimensionamento fora das normas gerais em vigor na PMS. Predominância de lotes entre 64 e 125 m², insuficiência de equipamentos coletivos, infraestrutura, áreas públicas e verdes, conservação e condições topográficas desfavoráveis.

Insuficiente - Áreas ocupadas sem condições mínimas de habitabilidade, demandando intervenções amplas de urbanização com relocação de parte da população. Predominância de lotes menores que 64 m², área de risco e/ou de ocupação em áreas de patrimônio histórico-ambiental, insuficiência de infraestrutura urbana, inexistência de equipamentos coletivos de apoio, de áreas livres e verdes. (SALVADOR, 2008, p. 34).

Logo, buscando o entendimento de Gordilho (2000), ao apontar o balanço sobre a evolução da segregação e exclusão na cidade do Salvador em diferentes momentos da história e de forma diversa - explorando inicialmente a segregação habitacional até chegar a segregação espacial - concluindo que esse processo intensifica a realização de novos arranjos espaciais que ocorre concomitantemente a formação de uma periferia pobre e de ocupação informal possibilitando afirmar que os moradores da comunidade do bairro de Canabrava convivem com características similares ao classificado pela Prefeitura Municipal de Salvador (PMS) como padrões de habitabilidade “insuficiente”, demonstrando concordância com o diagnóstico da SEHAB ao publicar que, “[...] além da necessidade de urbanização completa, é necessária a remoção de unidades habitacionais para viabilizar as obras e eliminar áreas de risco [...]” (SALVADOR, 2008, p. 36), acrescendo um número maior de famílias que incrementam o déficit habitacional acumulado da cidade.