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No encaminhamento do percurso avaliativo do objeto, per- seguindo o alcance dos objetivos propostos e sob a inspiração das bases teóricas aqui esboçadas, configuro o desenho metodo- lógico na articulação de duas vias:

1 – A metodologia de avaliação de políticas públicas,

considerando a definição no âmbito de determinadas matrizes. 2 – A metodologia dos processos investigativos no âmbito

de estudos no campo do social.

É uma tessitura metodológica construída de forma orgâ- nica e articulada. Nesse sentido, delimito como matrizes ins- piradoras o paradigma pós-construtivista de Raul Lejano e a avaliação em profundidade de Léa Carvalho. São duas matrizes interconectadas que abrem perspectivas analíticas fecundas para a investigação avaliativa da articulação dos programas Bicicletar e Bicicletas Integradas ao Transporte Público.

Para enriquecer essa construção avaliativa, encontramos referências no paradigma pós-construtivista de Raul P. Lejano (2012), em suas indicações da fusão do texto e contexto, conside- rando a dimensão complexa e multidimensional da experiência avaliativa. Pelas trilhas de Lejano (2012), privilegiamos a con- textualidade e complexidade, configurando a chamada avaliação experiencial. Nessa direção, na condição de avaliar a articulação Bicicletar/Bicicletas Integradas, é preciso considerar a multidi-

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mensionalidade e a complexidade dos fenômenos que só podem ser apreendidos pela realização na prática, ou seja, vivendo o coti- diano da política. Assim, maior atenção será conferida aos carac- teres processuais e contextuais da realização da política.

Por fim, assumimos como referência analítica, por excelên- cia, o paradigma da avaliação em profundidade propugnado por Léa Carvalho Rodrigues (2008, 2011), que constitui um norte no esforço avaliativo empreendido.

Tomando como tarefa avaliativa a articulação de dois pro- gramas municipais – Bicicletar e Bicicletas Integradas, no âmbito da mobilidade urbana em Fortaleza –, encarnamos a diretriz de Rodrigues de construir a perspectiva avaliativa a partir do local, ampliando seu escopo e seu alcance interpretativo no nível da realidade brasileira.

De fato, partimos das configurações de programas de ciclo- mobilidade em Fortaleza, considerando desenhos de programas de uso de bicicletas como alternativa de mobilidades em outros espaços urbanos brasileiros.

Com inspiração na avaliação em profundidade de Léa Rodrigues, a perspectiva de uma avaliação contextual é reafir- mada no sentido da compreensão e interpretação, encarnando a dimensão hermenêutica-compreensiva, privilegiando métodos etnográficos de pesquisa, junto, sobretudo, aos usuários das bi- cicletas públicas e aos militantes cicloativistas.

Ao longo do processo de investigação, o esforço de efeti- var a dialética entre as trajetórias institucionais do Bicicletar/ Bicicletas Integradas e a compreensão singular dos sujeitos en- volvidos nesses programas em seus interesses e demandas será continuado. Igualmente, assumimos como diretriz a indicação analítica de Léa Rodrigues de que as trajetórias institucionais não são percorridas senão pelos sujeitos, mas sem nos limitar- mos às produções discursivas e práticas desses, formando uma noção em profundidade da relação entre o cidadão e as políticas públicas, sem que os contextos de exclusão sejam desconsidera- dos (o não cidadão e a ausência de políticas públicas).

Com essa inspiração analítica de Rodrigues, três dos eixos analíticos do desenho metodológico são delineados:

1 – análise de conteúdo do programa com atenção a três aspectos: formulação; bases conceituais e coerência interna;

2 – análise de contexto da formulação da política: levan- tamento de dados sobre o momento político e as condições so- cioeconômicas em que foi formulada a política em estudo, com atenção para a articulação entre as instâncias local, regional, na- cional, internacional e transnacional;

3 – trajetória institucional do programa, dimensão analí- tica que pretende dar a perceber o grau de coerência/dispersão do programa, ao longo do seu trânsito pelas vias institucionais.

Com a perspectiva da avaliação em profundidade, assu- mimos a condição do pesquisador em formação que precisa ter claro o papel do avaliador, como um descritor da realidade (em sentido etnográfico), buscando colher e recolher os diversos tex- tos e contextos em suas relações e mediações, desvelando o dito e o não dito. Para dar concretude ao encaminhamento da avalia- ção sob a ótica de tais matrizes, delineamos o desenvolvimento de uma pesquisa social de natureza qualitativa com um triplo encaminhamento:

- Realização de uma enquete sobre os programas municipais Bicicletar e Bicicletas Integradas ao Transporte Público, no sen- tido de avaliar a questão do conhecimento e legitimidade social.

- Estudo de inspiração etnográfica com usuários do pro- grama Bicicletar e Bicicletas Integradas ao Transporte Público, bem como junto aos não usuários, excluídos do alcance dessa política pública.

- Mapeamento institucional da infraestrutura implemen- tada na cidade de Fortaleza de apoio ao ciclismo como via de mobilidade.

Em relação especificamente ao estudo de inspiração etno- gráfica, será desenvolvida pesquisa de campo nas estações do Bicicletar e Bicicletas Integradas ao Transporte Público. Seis estações do programa Bicicletar e uma estação do Bicicletas Integradas ao Transporte Público serão investigadas. Para tanto, como critério, escolhemos estações em localidades distintas,

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considerando as Secretarias Executivas Regionais (SERs) que dispõem de estações do Bicicletar:

Programa Bicicletar

Secrefor – Estação 18 (Praça do Ferreira) SER I – Estação 42 (North Shopping) SER II – Estação 01 (Praça Luiza Távora) SER III – Estação 43 (Campus do Pici) SER IV – Estação 33 (Shopping Benfica) SER VI – Estação 70 (Shopping Iguatemi)

Programa Bicicletas Integradas

Estação Conjunto Ceará

Considerando que os bairros que compõem a SER V não abrigam nenhuma estação do programa Bicicletar e nem do Bicicletas Integradas ao Transporte Público, sentimos a necessi- dade de ouvir os não usuários. Para tanto, definimos um bairro da Regional V, qual seja, Genibaú.

Nesse incurso em campo, vamos desenvolver observações sistemáticas, como informações e entrevistas semiestruturadas. Para a construção do mapeamento institucional, será feita pes- quisa virtual em sites da Prefeitura Municipal de Fortaleza e vi- sitas aos órgãos vinculados à Política de Mobilidade Urbana e, especificamente, ao ciclismo.

Tecendo fios nos circuitos da mobilidade cicloviária: primeiras descobertas a abrir vias analíticas

1. O programa Bicicletar, como uma intervenção da Política de Mobilidade Urbana em Fortaleza, vem consolidando sua le- gitimidade social, expressa na aceitação desse programa por segmentos da população fortalezense, especialmente os vin- culados ao ciclismo.

2. O Bicicletar, em princípio, atende a uma exigência circunscri- ta na Lei de Mobilidade Urbana – Lei Federal nº 12.587/12 – de priorizar transportes não motorizados, cabendo aos mu- nicípios com mais de 20.000 habitantes elaborar e apresentar um plano de mobilidade urbana até 2015, sob pena de não receberem recursos orçamentários federais destinados a essa área. Assim, o prefeito Roberto Cláudio, ao iniciar a sua ges- tão em 2013, viu-se na obrigatoriedade de cumprir o exigido pela lei, reforçando, inclusive, a utilização da bicicleta como transporte não motorizado.

3. O Bicicletar, em decorrência de suas próprias peculiaridades de implantação, precisou desenvolver-se em áreas com maior afluência populacional, inseridas em regiões com disponibi- lidade de serviços, que agregam contingentes expressivos da população fortalezense. Assim, as estações desse programa privilegiam as chamadas “áreas nobres” e áreas de concentra- ção da classe média, com maior visibilidade no tecido urbano. Para difundir o uso da bicicleta nas periferias, atingindo sobre- modo os ciclistas que fazem uso da bicicleta para fins utilitá- rios, está em implantação uma experiência pioneira no Brasil, o Programa Bicicletas Integradas ao Transporte Público. Logo, para pensar o alcance social de uma política municipal de uso de bicicleta como alternativa de transporte, impõe-se, como exigência analítica, a vinculação do Bicicletar com o Bicicletas Integradas ao Transporte Público.

4. O prefeito Roberto Cláudio é deveras antenado com o marketing das cidades, capturando a tendência contemporânea do uso da bicicleta como via de mobilidade alternativa e transformando-a em uma política pública municipal, com