4. RESULTADOS
4.1. Desenvolver competências na prestação de Cuidados de Enfermagem
Os dois primeiros EC serviram para tomar contacto com os cuidados
prestados à pessoa com DRC em situação de internamento, em especial com o
modo como a função de ajuda é estruturada pelos enfermeiros peritos nesta
área (Benner, 2005, p 67).
Foram também um importante momento para estudo e conhecimento do
cuidado levado a pessoas internadas ou em regime de ambulatório, em estádios
da doença em que se encontram instituídos tratamentos conservadores, TSR ou
programas de TxR (Thomas et al., 2004).
O contacto com estas realidades permitiu-me ainda desenvolver
competências na utilização da Classificação Internacional para a Prática de
Enfermagem
(CIPE), em versão Beta 2 (Conselho Internacional de Enfermeiras,
2003), ferramenta que apenas conhecia do ponto de vista teórico e que pude
agora manusear e aplicar na criação de diagnósticos de enfermagem,
implementação de intervenções e avaliação de resultados.
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Ensino Clínico 1
No EC1 foi feito um estudo de caso
3com a finalidade de fazer uma
abordagem global à pessoa com DRCt recente em que foi induzida HD. Este
trabalho requereu da minha parte uma revisão da DRC centrada na discrição dos
procedimentos de diagnóstico efectuados, terapêutica instituída, focos de
cuidados de enfermagem levantados e reflexão da integração da família no
cuidado.
A prestação de cuidados e as revisões elaboradas foram fundamentais para
estruturar o pensamento sobre a violência do impacto da indução de HD na vida
da pessoa e família. A integração na equipa do Serviço onde decorreu este EC
revelou-se uma mais-valia, uma vez que me permitiu uma visão mais ampla da
sua intervenção para ajudar a suportar o medo do desconhecido de forma “tornar
o que geralmente é abominável e inacessível em algo interpretável e acessível”
4(Benner & Wrubel, 1989).
A compreensão da pessoa na situação de estar doente, através do modo
como dimensiona a expectativa de vida e de como percepciona os sintomas
(Benner & Wrubel, 1989), permitiu-me conceber as respostas direccionadas aos
focos e juízos que formam o diagnóstico de enfermagem, dando resposta aos
múltiplos aspectos que compõem o impacto da DRC na vida das pessoas
(Thomas et al., 2004, p 17).
Prestar cuidados a pessoa com DRCt a quem é decidido desprogramar de
HD
5, foi um dos momentos do EC1 que considero marcante, não apenas pelos
sentimentos envolvidos como também pela complexidade de cuidados a que
obrigou.
A inutilidade de uma atitude terapêutica ou o não encarniçamento
terapêutico são decisões da dimensão ética com base no valor fundamental da
dignidade da vida humana, inscrito no Artigo 1º da Constituição da República
Portuguesa (2005), na Convenção sobre os Direitos do Homem e a Biomedicina,
Artigo 1º (Resolução n
o1/2001, de 3 Janeiro) e ainda no Código Deontológico
dos Enfermeiros, Artigo 78º, n.º1 (Lei n
o111/2009, de 16 de Setembro). A
desprogramação de HD é uma decisão de competência médica que tem grandes
3 APÊNDICE XIII – EstudoàdeàCaso:à Pessoaà o àDRCtàRe e te . 4 T aduçãoàli e:à
The nurses make that which is generally abhorrent and unapproachable into something interpretable and approachable.
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implicações não só na pessoa que a irá enfrentar e sua família, como em toda a
equipa que lhes presta cuidados, que se verá confrontada com a necessidade de
compreender tal escolha e, ao mesmo tempo, de ajudar o outro à sua
compreensão e aceitação.
Ainda que não fosse a primeira vez que a equipa de Enfermagem vivenciava
um episódio de desprogramação de HD, a situação provocou sentimentos
contraditórios entre os enfermeiros, devido à pouca experiência na gestão de
cuidados paliativos. Como tal, foi requerido o acompanhamento de uma
Enfermeira perita em cuidados paliativos, oriunda de um outro Serviço, que
apoiou a equipa no enfrentar das dificuldades encontradas, contribuindo também
para a prestação de cuidados à família em questão.
A natureza complexa do caso em análise motivou-me uma profunda
reflexão, enriquecida com revisão de literatura e com a discussão tida com
outros profissionais, levando ao desenvolvimento de competências na dimensão
ética, mas também nos restantes domínios das competências comuns dos
Enfermeiros Especialistas.
Para uma melhor compreensão da pessoa com DRC, considerei ainda
necessário aprofundar os conhecimentos clinicos sobre os tipos de acesso
vascular para HD, a sua promoção e protecção e o modo como são vivenciados
(Thomas et al., 2004, p 21).
A aprendizagem sobre os múltiplos aspectos envolvidos nesta questão tão
particular passou pela observação, com especial enfoque nos cuidados de
enfermagem perioperatórios, dos procedimentos de construção de uma fístula
artériovenosa
(FAV)distal rádio-cefálica e de uma FAV proximal rádio-cefálica
6,
bem como das intervenções para colocação e revisão de cateteres em pessoas
a quem é induzida HD
7e de pessoas já com uma longa história de DRCt.
Ensino Clínico 2
Os resultados alcançados no EC2, além da consolidação dos conhecimentos
adquiridos em EC, prendem-se com a aquisição de competências na prestação
de cuidados de enfermagem a pessoas em diálise peritoneal
(DP)e em TxR.
O acompanhamento da prestação de cuidados na enfermaria, no Hospital de
Dia - onde está integrada a Unidade de Diálise Peritoneal e a Consulta de TxR -,
6 APÊNDICE XV – Observação na Unidade de Cirurgia do Ambulatório. 7 APÊNDICE XIII – EstudoàdeàCaso:à Pessoaà o àDRCtàRe e te .
35
e noutros sectores do Hospital onde as enfermeiras do Serviço prestam cuidados
como peritas clínicas em matéria de gestão de protocolos terapêuticos de DP
8(Benner, 2005; Thomas et al., 2004), levou a uma de reflexão sobre outras
vertentes da DRC e da importância de como são concebidos e prestados
cuidados, aspecto que se relaciona com outra competência dos enfermeiros
especialistas, o “Domino da Gestão dos Cuidados” (Regulamento n
o122/2011,
18 de Fevereiro).
Esta realidade de organização de cuidados põe em evidência o
reconhecimento institucional das competências das enfermeiras nas questões
relacionadas com a gestão da DRC através dos programas de capacitação e
acompanhamento das pessoas em DP e TxR (Thomas et al., 2004).
A síntese do cumprimento do objectivo “Desenvolver competências na
prestação de cuidados a pessoas com DRC”, cujo resultado é o somatório de
todas as reflexões feitas durante os EC, acaba por ser o estudo de caso “Viver
com DRCt”
9. Neste estudo, discute-se o modo como o tempo espaço é vivido, e
como a prática de enfermagem não se deve cingir à técnica, pois o “
humor, o medo, as relações difíceis, a administração de terapêutica e até os ensinos feitos têm efeitos diferentes quando em contexto de cuidar ou de não cuidar”
10(Benner &
Wrubel, 1989, p 4).
A pessoa, sujeito do estudo de caso, é portadora de DRCt desde de há
longa data. A história da doença actual acaba por ser o revisitar de todo o
processo de doença, quer do ponto de vista de entidades clínicas e TSR, como
do ponto de vista do cuidado de enfermagem relacionados com a temporalidade
onde os papéis do corpo e da situação que a pessoa atravessa são
determinados pelas preocupações pessoais que guiam as estratégias de coping
na doença (Benner & Wrubel, 1989, p 99).
A reflexão em torno deste estudo de caso centrou-se no facto de a pessoa
ter que permanecer em isolamento, na questão da alimentação, na gestão do
regime terapêutico com foco na monitorização das trocas de DP, nas relações
interpessoais e no apoio dado pelos enfermeiros a uma tomada de decisão que
8 APÊNDICE XVIII – Cuidados de Enfermagem no Hospital de Dia de DP e TxR; APÊNDICE XIX – Consulta de TxR, Hospital de Dia; APÊNDICE XX – Unidade de Diálise Peritoneal, Hospital de Dia.
9 APÊNDICE XXI – Viver com DRCt.
10 T aduçãoàli e:à This is h u si g a e e e edu ed to e e te h i ue e ause hu o , a ge , tough lo e ,
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