• Nenhum resultado encontrado

DESENVOLVIMENTO DA CIÊNCIA NO BRASIL

DESENVOLVIMENTO DA CIÊNCIA NO BRASIL

O desenvolvimento da ciência e da tecnologia tem sido usado como um dos parâmetros para se avaliar o grau de progresso econômico e de bem-estar de um país. Entretanto, nem sempre foi assim. Apesar de o trabalho realizado por inúmeros cientistas durante os séculos XVI-XVII, foi somente a partir do século XIX que o desenvolvimento econômico e o bem-estar de um país passou a ser associado à ciência e à tecnologia. (ROSENBERG e BIRDSELL, 1990).

Os nomes daqueles que contribuíram para o progresso da ciência no Brasil a partir da Proclamação da República são de conhecimento geral. Menos conhecidos, entretanto, são os brasileiros que exerceram uma atividade científica durante o período Colonial e no Império. Assim,

em um artigo publicado anonimamente na revista Science, em 1883, pode-se ler:

“Por um longo período o que ocorreu com a ciência no Brasil foi caracterizado por uma quase total ausência de investigação; e embora existam vários nomes com uma reputação local e mesmo nacional como professores e escritores de assuntos científicos, é difícil encontrar qualquer contribuição sólida no campo da história natural ou das ciências físicas. Mesmo hoje, existem muitas reputações que não tem qualquer base em trabalho original de mérito” (ANÔNIMO, 1883, página 212).

Sobre as pesquisas realizadas pelos naturalistas, esse autor cita os nomes Frei Vellozo (já mencionado) e de Freire Allemão (cuja participação na história da fitoquímica será abordada mais adiante), mas observa:

“Embora o Brasil tenha sido, desde o abandono da política colonial estreita e restritiva de Portugal (...) o campo de pesquisa escolhido por diversos eminentes naturalistas estrangeiros, os brasileiros têm, com poucas e honrosas exceções, ficado satisfeitos em receber de segunda mão o conhecimento da história natural de seu próprio país” (ANÔNIMO, 1883, página 212).

Recentemente, a autoria daquele artigo foi reconhecida por Alpheu Diniz Gonçalves como sendo de Orville A. Derby (1851-1915), geólogo norte-americano que veio ao Brasil em 1875 para participar da Comissão Geológica do Império e aqui permaneceu até 1915.

Os quarenta anos passados no Brasil (1875 a 1915) poderiam ter permitido a Derby ter uma visão privilegiada sobre a situação da ciência no Brasil, mas não foi bem assim. Para ele, faltavam as estruturas, instituições e forças sociais capazes de darem vida ao desenvolvimento da ciência no

Brasil como ocorria na Europa. Derby menciona os nomes dos botânicos Frei Velloso (1742-1811) e Freire Allemão (1797-1874), de Frei Custódio Alves Serrão (1799-1873), José Saldanha da Gama (1839-1935), de Frederico Leopoldo Cezar Burlamaqui, (1803-1866), que ele escreve ‘Burlemaqui (página 212), de Guilherme Schüch Capanema (1824-1908) na geologia e mineralogia, do poeta Gonçalves Dias (1823-1864) na etnologia, mas lamenta que os seus trabalhos tenham sido perdidos ou permanecido inéditos.

Outros cientistas brasileiros que escaparam ao crivo de Derby foram Barbosa Rodrigues (1842-1909), Nicolau Moreira (1824-1894), Ladislau Netto (1838-1894) na botânica, do geólogo Ennes de Souza (1848-1920), de Domingos Soares Ferreira Pena (1818-1888) na arqueologia, de Domingos José Freire (1843-1899) com química orgânica e organismos microscópicos da febre amarela e do médico João Batista de Lacerda, que ele se refere apenas como ‘dr. Lacerda’, (1846-1915), pelos seus trabalhos com venenos de cobras. José Bonifácio de Andrada e Silva (1763-1838), que Derby menciona apenas como ‘Andrada’, é mencionado apenas pelo fato de ele sido atraído para a política. Seu trabalho com mineralogia é omitido

Aparecem ainda os nomes ‘dos senhores Guimarães e Raposo, na investigação dos efeitos fisiológicos do café, do chá paraguaio e de outras substância alimentares’, de Araújo Goes no estudo de organismos microscópicos presentes nas doenças pulmonares, de José Rodrigues Peixoto, com Lacerda, na ‘craniologia’ e do ‘dr. Sampão na química de produtos vegetais brasileiros’ (página 214).

Entre os estrangeiros atuando no Brasil, ele cita os nomes do zoólogo e geólogo Louis Agassiz (1807-1873), do geólogo e botânico Johann Pohl (1782-1834), do mineralogista Wilhelm Ludwig von Eschwege (Barão von Eschwege - 1777-1855), do botânico Frederich Sellow (1789-1831), que ele grafa ‘Sellew’ (página 212), que receberam apoio oficial e privado, do zoólogo e botânico Fritz Müller (1821-1897), do botânico Auguste Glaziou (1833-1906), do botânico, zoólogo e arqueólogo Peter Wilhelm Lund (1801-1880), principalmente sobre a Lagoa Santa, do geólogo Charles Frederick Hartt (1840-1878), do astrônomo Louis Cruls (1848-1908), diretor do Observatório Nacional e do químico Wilhelm Michler (1763-1857).

Para Derby, os trabalhos desenvolvidos por Hartt na geologia e etnologia do Amazonas, Lacerda e Peixoto sobre os crânios indígenas, Ladislau Netto e Ferreira Penna sobre arqueologia brasileira, Fritz Müller sobre insetos e crustáceos, de Lacerda sobre a ação fisiológica dos venenos de cobras e os dele próprio sobre geologia, ‘mereciam uma atenção especial’ (página 213). Aliás, modestamente, o seu nome aparece quatro vezes no artigo.

Embora tenha admitido ter havido ‘nos últimos 10 ou 15 anos [ou seja entre 1866 e 1873] um despertar acentuado do Brasil para a importância da pesquisa científica’ (página 211) e do ‘critério fortemente desenvolvido do imperador’ (página 212), Derby alega que a ajuda do governo era ‘mal dirigida e irregular’ (apesar, de como ele mesmo deixa claro, dos 5 mil dólares concedidos para a

conclusão da Flora Brasiliensis e do apoio, oficial recebido por Agassiz, Pohl e Sellow). Derby

conclui afirmando que os trabalhos por ele mencionados ‘se examinados com mais rigor, pareçam ser ainda algo rústicos e não científicos em seus métodos e deduções’, mas ‘quando chegar a hora em que os métodos realmente científicos estejam implantados no país, não faltarão aos brasileiros as qualidades mentais requeridas a investigadores originais e competentes’ (página 214). Contudo, o fato da ausência dos nomes da maioria dos naturalistas estrangeiros que estiveram no Brasil no século XIX, como, Saint-Hilaire, Langsdorff, Theodoro Peckolt, Hermann von Ihering (1850-1930), Frei Leandro do Sacramento (1779-1829), Manoel de Arruda Câmara (1752-1810), de Ezequiel Correa dos Santos (pai e filho), e de Albert Löfgren (1854-1918), é uma incógnita. Sobre este último, Ferri ([1954], 1994, página 204) diz: ’O que Löfgren fez pela botânica brasileira não pode ser facilmente resumido’.

Para o historiador Sérgio Buarque de Holanda, desde a chegada de Cabral até a vinda da Família Real, a história das ciências no Brasil era praticamente desconhecida, com exceção da viagem realizada por Charle-Marie de la Condamine ao rio Amazonas em 1742-1743 e do período holandês no Nordeste (HOLANDA, 1973). O autor, contudo, não cita os trabalhos realizados pelos naturalistas estrangeiros como Thevet, Léry, d’Abreville, d’Evreux, Piso, Marcgrave e pelos brasileiros Vellozo e Alexandre Rodrigues Ferreira

Sérgio Buarque de Holanda, todavia, escreveu muito antes que a moderna historiografia tivesse revelado as pesquisas que invalidam suas conclusões.

Algumas décadas depois, Simon Schwartzman (2001, página 85) emite uma opinião análoga: “Até o princípio da República, a atividade científica no Brasil era extremamente precária”. Segundo esse autor, as iniciativas para a implementação das atividades científicas no Brasil eram instáveis, pois dependiam dos impulsos do Imperador. Ao mesmo tempo elas tinham que enfrentar as limitações das escolas profissionalizantes sem autonomia e com objetivos puramente utilitaristas. Schwartzman explica a situação como decorrência da ausência de setores sociais significativos capazes de compreender o valor e a importância da atividade científica. Desta maneira, Schwartzman repete o que já dissera Sérgio Buarque de Holanda, revelando-se ambos desconhecedores do que havia ocorrido nesse aspecto no Brasil colonial.

Já para a professora Maria Beatriz Nizza da Silva, a segunda metade do século XVIII testemunhou três características relativas ao desenvolvimento da ciência no Brasil. O primeiro foi o pragmatismo científico, segundo o qual a ciência só se justificava se tivesse aplicações práticas e

imediatas, quer para o aumento da riqueza do estado, quer para a melhoria das condições de vida dos indivíduos. O segundo foi o estatismo da produção científica, onde o Estado tomava a iniciativa das pesquisas a serem efetuadas. A terceira característica era o cosmopolitismo, através do qual o Estado ia buscar os cientistas onde quer que eles se encontrassem. Portanto, diz ela:

“Só artificialmente, numa anacrônica visão nacionalista da ciência, pode o historiador falar num pensamento científico brasileiro” (SILVA, 1988, página 859).

Porém, pesquisas realizadas nos últimos 20 anos demonstram que esses pontos de vista estão ultrapassados. Na realidade houve alguns brasileiros, no período colonial, que se dedicaram à pesquisa científica dentro dos estreitos limites que a época permitia. Entre esses, podem ser mencionados os nomes de Vicente Coelho de Seabra Silva Telles (1764-1804), João Manso Perreira (1750-1820) e, principalmente, José Bonifácio de Andrada e Silva (1763-1828) (FILGUEIRAS, 1985, 1986, 1988a, 1988b, 1990, 1991, 1993, 1998).

Silva Telles pode ser considerado o primeiro químico brasileiro. É de sua autoria o livro

Elementos de Química, o primeiro livro sobre essa matéria escrito por um brasileiro. A obra,

dedicada à Sociedade Literária do Rio de Janeiro, consta de duas partes, a primeira publicada em 1788 e a segunda em 1790.

Em 1800, ele publicou um livro de apenas 35 páginas com um título curioso: Memórias sobre

os Prejuízos Causados Pelas Sepulturas dos Cadáveres nos Templos, e Métodos de os Prevenir, no

qual ele apresenta a maneira mais prática e econômica de se eliminar os odores provocados pelos cadávares em virtude de se utilizar os templos co o cemitérios.

Em 1801, foi a vez de Nomenclatura Química Portuguesa, Latina e Francesa. Silva Telles

escreveu também sobre a cultura do arroz (1780). a fermentação (1787), o calor (1788), a cultura do rícino (1791), a manufatura do vinho e a produção do mel (ambas de1799) e a cura da ferrugem das oliveiras (1792).

Em 1802, traduziu para o português um livro do italiano Francesco Toggia sobre as principais doenças dos bois e dos cavalos. O fato de ter saído do Brasil, em 1783, para estudar na Universidade de Coimbra, onde se graduou em Filosofia em 1788 e em medicina em 1791, e de onde nunca mais retornou, não altera o seu pioneirismo (FILGUEIRAS, 1985, RHEINBOLDT, [1954], 1994).

FIGURA 4.1 Frontispício da Primeira Parte de Elementos de Química

Outro nome que merece ser citado é o de João Manso Pereira, um químico amador do século XVIII que, sem nunca ter saído do Brasil, escreveu cinco livros de química entre 1797 e 1805: Memórias sobre a Reforma dos Alambiques ou de hum Próprio para a Destilação das Águas

Ardentes escrito em 1797, Memória sobre o Methodo Economico de Transportar para Portugal a

Água Ardente do Brasil com Grande Proveito para os Fabricantes e Commerciantes de 1798,

Considerações sobre as Cinzas do Cambará, do Imbé, etc de 1800, Copia de huma Carta sobre a

Manso também traduziu do francês a obra do químico Abbé Rosier ‘Memória Sobre Huma Nova Construção do Alambique para se Fazer Toda a Sorte de Destilações com Maior Economia,

e Maior Proveito do Resíduo’, de 1805, ‘acrescentada e ilustrada com as notas de João Manso

Pereira’. Entretanto, as notas de rodapé e comentários de João Manso quase dobram a extensão do livro (FILGUEIRAS, 1993, página 158).

Ainda dessa época merece destaque o nome de Luiz Gomes Ferreira, um português que viveu no Brasil nas primeiras décadas do século XVIII e introduziu medicamentos nativos para a cura de doenças tropicais inexistentes na Europa. Em 1705 recebeu a carta-régia e, embora nunca tenha se

formado em medicina, exerceu a profissão, publicando em 1735 o livro Erário Mineral

(FERREIRA, [1735], 2002) FERREIRA, [1735], 2000) , no qual o autor descreve uma série de

práticas da medicina européia, indígena e africana.A obra é um calhamaço de 600 páginas, dividida

em 12 Tratados: Da cura das pontadas pleurísticas e suas observações, Das obstruções, Da

miscelânea de vários remédios, Das deslocações e fraturas e suas observações, Da rara virtude do óleo de ouro, Dos segredos ou remédios particulares, que o Autor faz manifestos para a utilidade de bem comum, Dos formigueiros e outras doenças comuns nessas Minas, Da enfermidade a que chamam corrupção-do-bicho, Dos resfriamentos, Dos danos que faz o leite, melado, água ardente

de cana e advertências para conservação da saúde, Dos venenos e mordeduras venenosas e Do

escorbuto ou mal de Luanda.

Esses 12 Tratados estão, por sua vez, subdivididos em vários capítulos. A ‘virtude do óleo de ouro para a maior parte dos afetos cirúrgicos’ é o tema do Tratado V. O autor dedica todo um Tratado, o décimo, para mostrar que o leite era prejudicial à saúde, pois além de tirar a vontade de comer, produzia obstruções. Para ele, o sangue menstrual era ‘maligno’, ‘perverso’, capaz de fazer azedar e turvar o vinho. Ele também preconizava remédios para afugentar pulgas e piolhos, para quem come barro, para remover manchas de vestidos, ‘para amancebados se apartarem sem que a justiça obrigue’. O tal ‘remédio’ consistia em colocar o esterco do homem na sola dos sapatos da mulher, e vice-versa, ‘de modo que não poderão ver um ao outro e se apartarão sem que ninguém os obrigue’ (FERREIRA, [1735], 2002, página 389).

Aliás, o esterco humano desempenhava outros papéis nas recomendações de Luis Gomes Ferreira. Diluído em qualquer líquido e ingerido pela boca, era o melhor antídoto contra mordida de cobras (página 685). Outra das suas aplicações, do esterco, não do veneno, era para curar a bebedeira do vinho. Neste caso, o infeliz deveria beber vinho contendo esterco humano, duas ou três enguias vivas, ou suor dos companhões (sic) de cavalo, ou um pedaço de pão que tenha estado por duas horas no sovaco de um agonizante, ou um ovo de coruja mal assado, sangue de trutas ou ainda o coração de um corvo em pó (página 445). Banhos de urina também eram ‘admiráveis’ para dores de gota (página 441); percevejos amassados, ingeridos pela boca ou desfeitos em vinho ou caldo de

galinha, ‘para lançar a criança que estivesse morta no ventre da mãe’ (página 336). Para nascer cabelos era recomendado untar a cabeça raspada à navalha com sebo de homem esquartejado (página 375), gorduras de rãs e pós de lagartos para a extração indolor de dentes (página 326). O maná era uma ‘droga medicinal originária do orvalho e de muitas virtudes. Purga levemente e sem moléstia, evacua a cólera e facilita a urina’ (página 791). Havia ainda a pedra-bazoar ‘preciosa contra venenos. Remédio sudorífero, cardíaco e histérico que facilita o parto, expele as páreas, e é tão amigo do coração que todos os remédios cardíacos se chamam por analogia, benzoárticos’ (página 795). Finalmente, vale transcrever a receita ‘para curar enfeitiçados’:

“Aqueles que, sendo moços robustos mui potentes para com suas mancebas, casando-se se acharão incapazes de consumir o matrimônio, estes que se defumem as suas partes vergonhosas com os dentes de uma caveira postos em brasas, e, sem mais outra alguma diligência, ficarão desligados e capazes de atos conjugais sem dúvida alguma” (FERREIRA, [1735], 2002, volume, 1, página 421).

As observações de Luiz Gomes Ferreira sobre as plantas medicinais serão discutidas no capítulo 9, entretanto, deve-se levar em conta que a história da medicina está repleta da utilização de crendices milagrosas para a cura de diversas doenças, algumas delas descritas por Robert e Michele Root-Bernstein (1998). Assim, o valor do trabalho de Luiz Gomes Ferreira, não está em saber se as suas opiniões médicas estavam certas ou erradas, mas sim em retratar a visão científica da época (FERREIRA, [1735], 2002; FILGUEIRAS, 1998).

Mais tarde, de meados do século XVIII ao início do século XIX aparece o nome de Manoel Joaquim Henriques de Paiva (1752-1828), autor de cerca de 50 trabalhos científicos principalmente

em medicina, química, história natural e farmácia, entre os quais se destacam os Elementos de

Química e Farmácia, de 1783, a Farmacopéia Lisbonense de 1785 e Memórias de História Natural,

de Química, de Agricultura, Artes e Medicina, de 1791. Nascido em Portugal emigrou com a família

para o Brasil em 1769. Três anos mais tarde, em 1772, voltou para o seu país, tendo se matriculado na Universidade de Coimbra, onde cursou medicina e química. Retornou ao Brasil em 1808 (FILGUEIRAS, 1991).

Ainda no século XVIII destaca-se o nome de José Bonifácio de Andrada e Silva, um dos principais precursores da ciência no Brasil, que mais tarde também se destacou na política. Estudou em Coimbra, onde se formou em Filosofia e Direito, visitou vários países da Europa como a Alemanha, a França e a Suécia. Neste último país, descobriu quatro novos minerais (a petalita, o espodumênio, a escapolita e a criolita) e oito novas variedades de minerais. Em 1792 ele publica

nos Annales de Chimie de Paris o trabalho ‘Memórias sobre os Diamantes do Brasil’ na qual

descreve a localização geográfica da região diamantífera brasileira e em 1804, no Journal des

Eclético nos seus estudos, José Bonifácio foi um pioneiro brasileiro da fitoquímica. Trabalhando no Laboratório da Casa da Moeda de Lisboa, ele realizou diversas pesquisas com a química vegetal com o propósito de estudar e isolar os componentes químicos das quinas

brasileiras. Fruto dessas pesquisas, ele publicou, em 1814, nas Memórias da Academia de Ciências

de Lisboa, o trabalho ‘Experiências Químicas sobre a Quina do Rio de Janeiro Comparada com

Outras’ (FILGUEIRAS, 1986, 1988a; RHEINBOLDT, [1954], 1994).

A vinda da Família Real trouxe muitas alterações no que diz respeito à ciência do tempo colonial. Foram criadas as primeiras escolas de medicina, o Jardim Botânico (1808), A Biblioteca Nacional (1810), as Academias Militar e Naval e o Museu Nacional (1818). O segundo imperador brasileiro, D. Pedro II, tinha interesse na ciência, tendo travado conhecimento pessoal com diversos cientistas como Pasteur, Berthelot, Kelvin, e van’t Hoff, além de ter destinado recursos próprios para o financiamento de projetos científicos, inclusive o de bolsas de estudos no exterior (FILGUEIRAS, 1988b).

Foram feitas também diversas tentativas de se criar uma universidade no Brasil durante as épocas colonial e imperial, todas infrutíferas. A fundação de universidades era considerada pelos positivistas como ‘extravagante’, ‘absurda’ e ‘pseudoprogressista’. Entretanto, dizer que as universidades no Brasil só surgiram no século XX, é uma meia-verdade, pois já havia uma larga tradição de ensino superior no país, e foi sobre esta que se formaram as primeiras universidades brasileiras. Assim, em 1572, os jesuítas fundaram em Salvador o Colégio da Bahia, que passou a conceder os graus de bacharel, licenciado e mestre em artes. Já no final do século XVIII, em 1798, o Bispo de Pernambuco, D. José Joaquim da Cunha de Azeredo Coutinho, fundou o Seminário de Olinda, onde eram ensinadas além das humanidades, desenho, matemática, física, química, botânica e mineralogia.

Os projetos de criação de uma Universidade no Brasil continuaram durante a República e em 1895 Pedro Américo defendeu um projeto para a criação de três universidades entre nós, uma no Rio de Janeiro, outra em São Paulo e a terceira no norte do país. Contudo, a formação de universidade, e não somente de escolas superiores isoladas no Brasil, data do século XX. Mas, tomando-se como ponto de partida a época da fundação das Escolas que lhe deram origem, pode-se dizer que a Universidade Federal do Rio de Janeiro remonta ao século XVIII; a Universidade Federal da Bahia a 1808, quando foi criada a Escola de Cirurgia; a Universidade Federal de Pernambuco e a Universidade de São Paulo a 1827, data do início dos seus cursos jurídicos. A Faculdade de Farmácia de Ouro Preto criada em 1839, deu origem à Universidade Federal de Ouro Preto e a Universidade Federal de Minas Gerais data de 1892, ano de formação de sua unidade mais antiga, a Escola de Direito, fundada em Ouro Preto com o nome de Faculdade de Direito Livre

de Minas Gerais. As universidades brasileiras percorreram, assim, um longo caminho até serem consideradas fundamentais para o desenvolvimento do país (BARRETO e FILGUEIRAS, 2007). Mas a criação de universidades não é por si só, um fator determinante para o progresso da ciência. Assim, por exemplo, entre 1868 e 1912, 600 estudantes japoneses foram enviados para um treinamento especial em centros de ciência da Europa e os Estados Unidos (BASALLA, 1967). No Brasil, esse processo só teve início a partir da década de 1950 com a criação das agências de fomento à pesquisa a nível nacional como o CNPq e a CAPES, e mais tarde com a criação das Fundações de Amparo à Pesquisa em nível estadual. Nas décadas de 1960 e 1970, foram instaurados os primeiros cursos de pós-graduação e concedidas bolsas de estudos em diversas áreas, no Brasil e no exterior, permitindo, assim, o desenvolvimento da ciência no Brasil.

A idéia de se criar um órgão governamental para fomentar o desenvolvimento da pesquisa científica e tecnológica no país data de 1931, quando a Academia Brasileira de Ciências sugeriu formalmente ao governo a formação de um Conselho de Pesquisas. Cinco anos mais tarde, em maio de 1936, o então Presidente Getúlio Vargas enviou ao Congresso uma proposta para a criação dessa instituição, mas a idéia não foi acatada pelos parlamentares. Foi somente após a Segunda Guerra Mundial, com os avanços da tecnologia nuclear, que ficou evidente a necessidade da criação de uma instituição baseada nos moldes propostos no início da década de 1930.

Criado pela Lei 1.310 de 15 de janeiro de 1951 com o nome de Conselho Nacional de Pesquisa,