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Desenvolvimento do produto

6. Reparar (Re-pair), tornando o produto fácil de reparar, para que não necessite de ser substituído no imediato.

3.4.4 Ciclo-de-Vida

3.4.4.1 Desenvolvimento do produto

Os factores, a ter em conta pelos designers no desenvolvimento do produto, são as expectativas dos clientes, o controlo de custos e a viabilidade técnica. A tudo isto, o EcoDesign introduz o ambiente como nova dimensão do design.

O momento mais importante do desenvolvimento do produto é a decisão das necessidades e especificações são decididas (LUTTROPP et al, 2006) porque os materiais, processos e fontes de energia escolhidos determinam os impactos ambientais do produto durante todo o seu ciclo-de-vida (KURK et al, 2008). Cerca de 70% dos custos de desenvolvimento, fabrico e uso do produto são decididos nas primeiras fases do design do produto (KURK, 2008) e 80% dos impactos ambientais do produto são decididos durante a concepção (SCHISCHKE, 2005; BAM, 2008) (ver Figura 6). Indo ao encontro desta ideia, Ferrão (2005) defende que integrar as condições ambientais na fase de concepção é uma forma eficaz de melhorar os produtos.

Figura 6 – Custos de desenvolvimento e impactos ambientais ao longo do ciclo de vida do produto (adaptado de FERRÃO, 2005, p. 78)

Se os aspectos ambientais forem considerados numa fase inicial do desenvolvimento do produto, será possível melhorar a função do produto ao mesmo tempo que se reduzem os impactos ambientais. Criam-se também sinergias com outros interesses de negócio, a saber, melhoramentos na imagem institucional, oportunidades de mercado e redução de custos, mesmo a curto prazo. À medida que se avança no desenvolvimento, torna-se progressivamente mais dispendioso e tecnicamente difícil fazer alterações em fases mais avançadas, pelo que se devem evitar estas situações (BYGGETH et al, 2006).

Karlsson (2006) salienta a importância de organizar o desenvolvimento do produto, sendo crucial para se atingir níveis elevados de sustentabilidade. Schischke (2005) aponta cinco questões-chave do EcoDesign que podem ajudar a encontrar problemas e, consequentemente, soluções durante o desenvolvimento do produto:

1. Qual o propósito ou aplicação do seu produto? 2. Quais são os padrões comuns de utilização? 3. Qual o tempo de vida projectado e o habitual? 4. Quem é o utilizador?

5. Qual a dimensão do produto? 3.4.4.2 Materiais

Embora o uso de recursos naturais seja muito díspar entre países e mesmo dentro de um determinado país (KARLSSON et al, 2006), Stevels (2005) refere vários motivos para melhorar a utilização dos materiais:

• Melhoria da reciclabilidade do ponto de vista do consumidor;

• Restrição legislativa do uso de certos materiais para garantir a sustentabilidade;

• Preferência dos materiais naturais em vez dos artificiais e aumento das preocupações com a preservação dos recursos por parte das organizações de consumidores.

Quanto aos factores que possibilitam a melhoria da utilização dos materiais, Stevels (2005) menciona:

• A ciência e a tecnologia (materiais com melhores propriedades, mais leves, mais fortes e mais inteligentes);

• Tecnologias de processamento (moldação, soldadura); • Fornecedores (redução da quantidade de materiais);

• Dinheiro/custos (redução das quantidades, uso de materiais reciclados.

Kurk (2008) advoga a preferência por materiais biodegradáveis, reciclados ou alternativos mas, por vezes, pode não haver controlo do material a usar por parte dos designers. Nestes casos, aconselha-se o controlo dos fornecedores, verificando se estes cumprem com os aspectos ambientais ao nível das especificações e da eliminação de contaminantes perigosos (KURK et al, 2008; SCHISCHKE et al, 2005). Isto pode ser conseguido através de listas de exigências ambientais (FERRÃO, 2005). As empresas devem ter assim uma atitude pró- activa, antecipando problemas em vez de reagir, e.g. eliminando substâncias perigosas (KURK et al, 2008).

Um dos melhores paradigmas para a utilização de materiais é a desmaterialização10

Schischke (2005) aponta a necessidade de se evitarem matérias perigosas (alguns componentes electrónicos são perigosos

dos produtos (STEVELS, 2005). Isto consegue-se através da miniaturização – menos material em menos produto físico (ADEME, 2001; SCHISCHKE et al, 2005) – de onde advêm poupanças nas embalagens e nos custos de transporte. Por outro lado, também conduz de custos logísticos e de impactos ambientais (SCHISCHKE et al, 2005). A forma de reduzir a quantidade de materiais passa por analisar a função do material aplicado em termos das propriedades físicas e da sua história, verificar as especificações (evitando a sobre- especificação ou a tradição da companhia) e estar atento também às novas tecnologias (STEVELS, 2005).

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Antunes (2004) refere a importância da escolha de materiais, nomeadamente:

para a saúde humana e para o ambiente), reduzindo-se os custos de manuseamento e de processamento. Afirma também que os materiais reciclados são mais económicos.

• Substituir recursos não renováveis por renováveis; • Substituir materiais escassos12

• Privilegiar a utilização de materiais reciclados e/ou recicláveis;

por abundantes, minimizando assim a utilização dos primeiros;

• Minimizar ou evitar a utilização de substâncias perigosas, nomeadamente as tóxicas, carcinogénicas, mutagénicas, persistentes ou acumuláveis;

• Viabilizar a remoção fácil de substâncias perigosas, marcando-as e colocando-as de modo a serem facilmente removíveis.

Existem alguns métodos para melhorar a aplicação dos materiais, segundo Stevels (2005): • Fazer análise dos materiais recorrendo à competição por benchmarks (tipo de

tratamentos, quantidades, compatibilidade, reciclabilidade);

• Pontuá-los numa escala de custos (senso comum, peso ambiental, custo); • Formular opções “verdes” (melhoramentos, mudança na funcionalidade); • Verificar a perspectiva do ciclo-de-vida;

• Estabelecer prioridades. 3.4.4.3 Energia

Neste campo, aconselha-se o uso eficiente da energia e o recurso a energias renováveis (KURK et al, 2008). Este uso eficiente pode passar pela optimização da utilização de energia nas empresas, recorrendo a co-geração de calor e electricidade (ANTUNES, 2004). Torna-se ainda mais importante pelo facto da energia desempenhar papéis em todas as fases do ciclo- de-vida dos produtos, resumidos na Tabela 1.

10

Contudo, alguns motivos energéticos podem levar ao contrário: as lâmpadas fluorescentes são, geralmente, maiores do que as incandescentes; os rádios de corda têm peso maior do que os rádios tradicionais (STEVELS, 2005).

11

Desde 1 de Julho de 2006, os novos equipamentos eléctricos e electrónicos não devem conter chumbo, mercúrio, cádmio, crómio hexavalente, bifenilo polibrominado ou difenil éter polibrominado (FERRÃO, 2005).

12

o preço elevado de uma matéria-prima é um indicador da sua escassez – um fraco potencial de sustentabilidade (KARLSSON et al, 2006).

Tabela 1 – Papel da energia nas fases do ciclo-de-vida dos produtos (adaptado de STEVELS, 2005, p. 3)

Fase Gasto energético e qualidade da energia

Obtenção de materiais (minas) e produção de materiais

Tratamento de materiais puros, fusão (energia intrínseca)

Transformação, função Partes, fabrico de componentes (energia de

processamento)

Máquinas para montagem Ferramentas, máquinas de soldar, energia

(energia intrínseca e energia de processamento

Uso Stand-by, energia em funcionamento (energia

consumida)

Destruição e reciclagem Logística, energia de tratamento (recuperação da

energia intrínseca)

Transporte Logística

Stevels (2005) aponta os motivos para a redução do consumo energético dos produtos:

• O consumidor paga a factura energética gasta pelos produtos e, logo, prefere os que são mais eficientes do ponto de vista energético;

• A legislação restringe esses consumos por causa do seu peso ambiental impondo, por exemplo, valores máximos para a energia em stand-by, a gestão eficiente dos consumos ou o uso adequado de baterias e pilhas;

Relativamente ao que possibilita a redução do consumo energético, Stevels (2005) refere: • Os avanços da ciência e da tecnologia;

• Optimização de rotas por parte dos fornecedores;

• Redução de custos que advêm da utilização de menos componentes, menor dissipação de calor, menos reparações e menos fios eléctricos.

Quanto aos métodos que propiciam a redução do consumo de energia, é necessário fazer-se uma análise energética: se uma dada quantidade de energia é introduzida, qual vai para a função especificamente e qual é dissipada? Esta análise deverá ser efectuada ao nível do produto, do subassembly e do componente. Depois, devem formular-se opções “verdes”, introduzindo melhoramentos e mudanças na funcionalidade (STEVELS, 2005).

No entanto, deve ter-se consciência que a energia dispendida na fase de utilização merece muita atenção, como é explicitado na Figura 7 (STEVELS, 2005)13 14.

13

Ver também o capítulo 3.4.4.8. 14

Figura 7 – Carga ambiental média de um produto electrónico ao longo do seu ciclo-de-vida (Adaptado de STEVELS, 2005, p. 3)

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