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CAPÍTULO 3 – CONCEITOS E DIRETRIZES DA SOCIOEDUCAÇÃO: EXPERIÊNCIA

3.1 CARACTERIZAÇÃO DO CENSE

3.1.9 Desenvolvimento do trabalho pela equipe multidisciplinar

Tendo como referencial as descrições anteriores, pode-se constatar que o trabalho realizado dentro de um Centro de Socioeducação envolve diferentes funções e áreas de atuação, as quais compartilham responsabilidades e, juntamente com os adolescentes atendidos, formam a chamada “Comunidade Socioeducativa” (BRASIL, 2008).

No que tange à composição mínima de profissionais para atendimento nestes Centros, o SINASE coloca como diretrizes para o atendimento de até 40 adolescentes em regime de internação: 1 (um) diretor, 1 (um) coordenador técnico, 2 (dois) assistentes sociais, 2 (dois) psicólogos, 1 (um) pedagogo, 1 (um) advogado

para defesa técnica e profissionais para atuação nas áreas de saúde49, lazer, profissionalização, esportes, administração, além dos socioeducadores ou educadores sociais.

No que diz respeito especificamente aos educadores sociais, o SINASE prevê que sua relação numérica deve levar em conta a dinâmica interna da unidade, podendo variar de um educador para dois ou três adolescentes, até um educador para cada cinco adolescentes. Nos casos em que o adolescente esteja em atendimento hospitalar, a relação é de um educador para cada adolescente, com acompanhamento de vinte e quatro horas; em situações cujo risco seja eminente de fugas, agressões ou auto-agressão, podem disponibilizar-se dois educadores para um adolescente, e, em situações de atendimento especial, um educador para cada dois adolescentes.

A equipe de trabalho do CENSE Ponta Grossa é composta da seguinte forma: 1 (um) diretor, 1 (um) coordenador de segurança, 4 (quatro) assistentes sociais, 3 (três) psicólogos, 1 (um) pedagogo, 1 (um) terapeuta ocupacional e 1 (um) dentista. O grupo de educadores sociais é de aproximadamente 36 profissionais, divididos em quatro plantões. Além destes, integram a equipe 1 (um) administrador, 5 (cinco) técnicos administrativos (recursos humanos, estoques, secretaria técnica, recepção e serviços gerais), 2 (dois) motoristas e 3 (dois) auxiliares de manutenção, sendo 2 (dois) terceirizados. Os profissionais da copa, lavanderia e limpeza são terceirizados. Já os professores responsáveis pela escolarização dos adolescentes são da Secretaria de Estado da Educação (SEED), na modalidade Educação de Jovens e Adultos (EJA) e do Programa de Educação nas Unidades Socioeducativas – PROEDUSE.

Considerando que os educadores sociais se encontram distribuídos nos plantões A (diurno), B (noturno), C (diurno) e D (noturno), a média de educadores em cada um dos plantões diurnos tem sido de 11 (onze) profissionais, e de 6 (seis) profissionais nos plantões noturnos, sendo que, dois educadores realizam o serviço de portaria não sendo considerados como efetivo do plantão para a realização da rotina de trabalho.

Assim, é importante ressaltar que o CENSE PG opera a maior parte do tempo com a lotação máxima, 70 (setenta) adolescentes e, desta forma, fazendo-se a conta

49 Conforme previsto na Portaria Interministerial n. 340 de 14/07/2004, que organiza a atenção à saúde integral dos adolescentes privados de liberdade.

de educadores para cada adolescente tem-se a média de 1 (um) educador para cada 6 (seis) adolescentes. Como existem ainda situações especiais, nas quais existe a necessidade de 1 (um) ou até 2 (dois) educadores para cada adolescente, como em casos de atendimento hospitalar e auto-agressão, respectivamente, ou mesmo procedimentos externos tais como, audiências, acompanhamento em cursos, se pode constatar que, neste aspecto, o SINASE não está sendo observado como diretriz .

Todo o adolescente que se encontra em internação ou internação provisória conta com um assistente social e um psicólogo como técnicos de referência; esses profissionais são responsáveis pelo atendimento dos jovens, nos aspectos psicossocial, estudo de caso, visitas, ligações telefônicas e atividades com familiares, intervenções terapêuticas, acompanhamento em audiências, elaboração de relatórios e Elaboração do Plano Personalizado de Atendimento (PPA). Além destes profissionais, o adolescente terá também um educador social de referência, o qual acompanhará todo o seu processo de atendimento, prestando informações, sanando dúvidas, observando comportamentos, auxiliando na construção dos estudos de caso e relatórios, podendo, inclusive, acompanhar os técnicos nas visitas aos familiares.

O PPA é um instrumento pedagógico que se configura “como o plano de trabalho que dá instrumentalidade para o desenvolvimento pessoal e social do adolescente em cumprimento de medida socioeducativa, respeitando a visão global e plena do ser humano e da educação”. (PARANÁ, 2006, p. 59). Este Plano é elaborado pelo adolescente em conjunto com sua equipe de referência, sendo possível, em certos casos, a participação de familiares ou de outros contatos positivos que ele possua.

Este instrumento deve ser disponibilizado a todos os adolescentes, mas o momento para sua realização irá depender da avaliação da direção e equipe técnica, de acordo com cada situação, experiências acumuladas, conhecimento das características dos adolescentes etc.

A proposta de trabalho do PPA deve ser construída em relação às expectativas, habilidades, inclinações e potencialidades de cada adolescente. Ela relaciona interesses, hábitos, circunstâncias de vida a aspectos da vida destes adolescentes, tais como as relações interpessoais e familiares, saúde física e mental, além de outros. Os profissionais envolvidos neste processo devem ser facilitadores da elaboração dos objetivos e das metas que estes sujeitos desejem alcançar. Uma vez estabelecidas tais metas, os profissionais poderão, com base no

projeto de cada adolescente, fundamentados pelo estudo de caso, elaborar as estratégias de ação necessárias à consecução dos objetivos.

A construção do PPA deve resultar em um contrato no qual conste a descrição da situação do adolescente. A partir dele, o adolescente e os profissionais envolvidos devem formalizar o comprometimento com a sua operacionalização. Os adolescentes em PPA poderão iniciar atividades externas à Unidade, como cursos, aulas, trabalhos, sempre pautadas nos objetivos e metas traçadas pelos sujeitos e desde que não haja parecer contrário da autoridade competente.

Os atendimentos psicossociais no CENSE PG são realizados semanalmente, com agendamento prévio; pode haver, entretanto, algumas situações em que figure a necessidade de atendimento sem que este esteja programado. Normalmente, os atendimentos acontecem na própria casa onde se encontram os adolescentes, em sala própria, com vigilância constante dos educadores sociais.

Os atendimentos iniciais visam sempre à obtenção de informações para o estudo de caso: situação familiar e escolar, história de vida, características pessoais etc. Aos dados coletados junto aos adolescentes, serão somadas as informações extraídas de relatórios profissionais anteriores, contato com a Vara da Infância e Juventude, para levantamento de histórico infracional, leitura do processo judicial, visita domiciliar e visita à comunidade de origem.

O caderno de Gestão dos Centros de Socioeducação do IASP (PARANÁ, 2006) tem, em seu anexo, as atribuições funcionais de cada profissional que atua em um CENSE. Importa aqui o destaque das atribuições dos profissionais que são os sujeitos da presente pesquisa, no CENSE PG, de forma a situar cada um destes dentro do universo institucional e, evidentemente, a relação que têm com o desenvolvimento da prática socioeducativa.

Aos assistentes sociais cabe, entre outras atribuições, a elaboração de estudos de casos e relatórios técnicos; os atendimentos individuais ou em grupos; aos familiares; as providências de documentação dos adolescentes; a articulação de recursos junto à comunidade; o acompanhamento de contatos telefônicos; a verificação das correspondências; o acompanhamento dos adolescentes nas audiências; a elaboração de PPA, e a orientação nas visitas dos familiares.

Entre as atribuições dos psicólogos, têm destaque elaborar estudos de casos e relatórios técnicos; prestar atendimento a familiares; observar e avaliar

comportamentos no âmbito das normas disciplinares e relações interpessoais; acompanhar ligações telefônicas; avaliar e acompanhar a aplicação de medidas disciplinares; orientar os educadores sociais e demais técnicos no que respeita o manejo e abordagem dos adolescentes, e elaboração de PPA.

Em relação às atribuições dos pedagogos, tem-se: programação de atividades pedagógicas; seleção de livros para leitura dos adolescentes; avaliação educacional e levantamento do histórico escolar; elaboração de PPA; identificação de adolescentes com transtorno de aprendizagem.

Quanto à terapia ocupacional, o profissional deve realizar o levantamento de interesses e aptidões dos adolescentes para compor o PPA; planejar, coordenar e executar oficinas terapêuticas (exemplo: oficina de jogos), atividades laborativas, artesanais, artísticas e recreativas; articular recursos junto à comunidade para tudo o que se relaciona à sua área de intervenção.

Os educadores sociais são responsáveis por recepcionar, registrar e relacionar os pertences dos adolescentes que chegam à unidade; acompanhar todas as atividades diárias dos adolescentes, zelando pela segurança, bem estar e atendendo às suas necessidades básicas; orientá-los sobre as normas e regras disciplinares, os cuidados pessoais e a relação com outros adolescentes e funcionários; assentar no livro de registros toda a rotina diária dos internos; realizar atividades recreativas, culturais, esportivas e outras; auxiliar no desenvolvimento de atividades pedagógicas; prestar informações referentes aos adolescentes à equipe técnica, para a composição de relatório; acompanhar os adolescentes nos deslocamentos; realizar revistas (estruturais e pessoais) e rondas; ministrar medicação e atender orientações médicas; realizar os procedimentos de visitas de familiares; acompanhar os adolescentes em saídas externas, audiências, transferências e outras, dirigir os veículos da unidade, quando necessário (mediante autorização especial); seguir e fiscalizar os procedimentos de segurança internos.

Situadas as atribuições de cada profissional que compõe a equipe de trabalho do CENSE é necessário mencionar que a relação entre as diferentes áreas profissionais com as atribuições que lhe são específicas nem sempre se processa de maneira harmoniosa, uma vez que as próprias exigências funcionais inserem divergências dentro da operacionalização de atendimento. A forma com que se estabelecem as obrigações de cada profissional na dinâmica de trabalho da instituição, fazendo com que, na pratica estas se apresentem como esferas

desarticuladas, é um elemento propiciador de muitos conflitos. Por esta razão, tais aspectos serão retomados posteriormente na esfera dos depoimentos dos participantes da pesquisa.