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O desenvolvimento económico e social suscita a necessidade de o País dispor de maiores facilidades no recrutamento e aperfeiçoamento de

pessoal especializado na problemática do trabalho e nos aspectos jurídicos, económicos e sociais que lhe são inerentes.

Nesta ordem de ideias, já no programa de execução para 1968 do III Plano de Fomento, no capítulo relativo à produtividade, se incluiu concretamente a continuação de estudos relativos à criação de um instituto superior de gestão e administração de empresas.

Em prosseguimento dessa perspectiva, e apesar das medidas entretanto tomadas, é criado agora o Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa, na dependência do Ministério da Educação nacional, através da Direcção-Geral do Ensino Superior e das Belas-Artes, pois se entende que a criação deste Instituto se revela oportuna no âmbito da política nacional do fomento e da produtividade.

O incremento que as ciências económicas alcançaram nos últimos anos abrangendo novos domínios, aconselha a uma maior diversificação dos cursos que a elas digam respeito.

Com a criação desta escola pretende-se dimensionar a frequência destes cursos de molde a tornar o ensino mais eficiente e a possibilitar o maior aproveitamento dos alunos.»

Extracto do Decreto-Lei 522/72, de 15 de Dezembro

Diário do Governo com o Decreto-Lei

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Ensino Superior, pelo Reitor da Universidade Técnica de Lisboa (UTL), pelo Presidente do ISE, pelo director do IES, à data da sua extinção, e pelo do ISCTE. Em muitos casos, estamos a falar de professores para cadei- ras que não tinham qualquer correspondência no sistema universitá- rio português. Um documento de reflexão elaborado, entretanto, entre os docentes que vinham do IES esclarece e bem: «Nenhum sistema de concursos podia revelar especialistas, pois estes não existem.»

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No mesmo mês, já o director-geral do Ensino Superior mandava pedir uma relação do pessoal docente, suas categorias e vencimentos. Em 3 de Fevereiro, o director do ISCTE responde e a lista de docentes aqui fica, como homenagem: Adérito Sedas Nunes, Fernando Pessoa Jorge, José de Oliveira Ascensão, Mário Bigotte Chorão, Mário Murteira, Rui Machete, Alexandre Coelho do Amaral, Alexandrino de Melo e Silva, Fran- cisco Pina Prata, António da Silva Leal, Alfredo de Sousa e Mário Pinto. Entre os assistentes e os professores eventuais, havia vários nomes que se tornaram notórios, publicamente, e alguns que seriam decisivos para a vida da instituição, como Eduardo Gomes Cardoso, Marinús Pires de Lima, Jorge Miranda, Vasco Pulido Valente ou Helena Sacadura Cabral.

Quanto a vencimentos mensais, eles oscilavam entre os 5800$00 e os 10 200$00, hoje 29 e 51 euros, respectivamente. Mas o mais importante, na sucessiva correspondência do director do ISCTE para o director-geral do Ensino Superior, foi a exposição da situação das «mais sérias dificul- dades» que o Instituto vivia, já que estava sem orçamento próprio e com grande indefinição legal. A Junta de Acção Social, organismo do Ministé- rio das Corporações, estava, desde 31 de Dezembro passado, desvincu- lada dos encargos para com o Instituto, agora dependente do Ministério da Educação, mas sem vínculo definido. Resultado: não havia um tostão disponível.

Em Janeiro, o pessoal não recebeu salário, a renda do edifício do Campo Grande não era paga, com o senhorio a ter já motivo legal para pôr termo ao contrato. Verbas para o expediente, impressos, aqueci- mento, limpeza, etc., não havia. O director rogava, implorava…

Para o ano em preparação, o de 73-74, eram urgentes obras e espa- ços para acolher alunos que não cabiam, de modo algum, nos existentes; alunos, estes, que batiam à porta interrogando da sua vida. Os do IES,

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que não possuíam o ciclo complementar dos liceus, pretendiam equiva- lências. Os trabalhadores exigiam horários pós-laborais. Muitos queriam uma preparação prévia para a nova entrada, nomeadamente um prope- dêutico com Matemática, Estatística, Contabilidade e Análise Económica. O director via ímpeto e temia desgraça:

«A insistir-se, neste momento do arranque, em medidas demasiadamente divergentes das estruturas estabeleci- das, tentando demonstrar a quase completa impossibilidade de adaptação ao regimento estabelecido em paridade com as restantes escolas, seria correr perigosamente o risco de ver o grau académico conferido pelos cursos regressar a uma posi- ção marginalizada.» (ISCTE, 1973)

Não se leia tudo isto como uma questão lateral ou episódica. Começava, sim, a esboçar-se uma matriz, uma maneira de ser, um estilo, que seria, iniludivelmente, a alma desta instituição. «O ISCTE», escreveu Paquete de Oliveira, «nasce num período em que o contexto social e político vai marcá-lo com um forte sentido dinâmico de contínuo alerta e luta para sobreviver aos condicionalismos externos muito pouco favoráveis a projectos inovadores» (Oliveira, 1994, p. 177).

Para o iniciático ano de 72/73, estavam inscritos, nos cursos deste imberbe Instituto, 296 alunos, sendo 219 em Economia, 66 em Organiza- ção e Gestão de Empresas e 11 em Ciências do Trabalho. No ano seguinte, os números já eram de 443 em Organização e Gestão de Empresas, 190 em Ciências do Trabalho e 309 em Economia (Oliveira, 1994, p. 182).

Com tudo a parecer uma encosta íngreme, escarpada e sem fim, a Mãe-Natureza, com uns capitães e um povo inteiro atrás, traria, nem mais nem menos, uma revolução… e não uma qualquer, mas a inaugura- dora, implausibly and unwittingly, do que Huntington (1991, p. 3) consi- deraria ser a terceira vaga das democracias no mundo, naquela quinta- -feira, 25 minutos depois da meia-noite, quando a rádio começou a tocar

Grândola Vila Morena.

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Documentação administrativa e máquinas de escrever do ISCTE, nos seus inícios

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Com a sensação de que tínhamos mudado o

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