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Mais iniciativas na investigação As revistas editadas no ISCTE desenvolveram o seu dinamismo: as anteriores e as novas A Revista

de Gestão passou, em 1992, a chamar-se Revista Portuguesa de Gestão e a ela

se juntou, nesta área, uma outra, em 1996, a Economia Global e Gestão. Velho sonho do Centro de Estudos de Antropologia Social, nasceu, em 1997, a revista Etnográfica, para «dar expressão às diferentes sensibilidades temáticas e opções teóricas que percorrem a produção antropológica portu- guesa actual» e «abrir espaços de diálogo pontuais com alguma produção internacional especializada» (Etnográfica, 1, 1, 1997, p. 5).

O Centro de Estudos Territoriais – que se juntaria, posteriormente, ao DINAMIA, Centro de Estudos sobre Mudança Socioeconómica – lançou, em 2000, a Cidades. Comunidades e Território, procurando aprofundar o conhe- cimento sobre as problemáticas e políticas urbanas com objectivos de inter- venção sobre os processos de transformação das cidades, das comunidades e dos territórios.

No campo das suas estruturas de investigação, e acompanhando a reformulação governamental da política para a ciência, o ISCTE criou, em 1994-95, duas grandes unidades agregadoras de centros de investigação existentes e mesmo de entidades de formação, consultoria e transferência de conhecimento.

A UNIDE, Unidade de Investigação em Desenvolvimento Empresarial, que integrou toda a investigação nas Ciências da Gestão, manter-se-ia como um importante centro.

No campo das diversas Ciências Sociais, constituiu-se a UNICS, Unidade de Investigação em Ciências Sociais, com o objectivo de optimizar a inves- tigação científica realizada naquele vasto campo pelos departamentos e centros de investigação associados ao ISCTE, sublinhando formas de coorde- nação e articulação entre as actividades das diversas unidades, assim como a difusão do conhecimento produzido.

Contudo, o efeito agregador que a UNIDE representou para as áreas da Gestão não teve o mesmo êxito com a UNICS nas Ciências Sociais, acabando

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esta aposta federadora por perder peso e os centros das várias áreas cientí- ficas por fazerem o seu caminho, de novo, autónomo.

Na transferência de conhecimento, esta época conheceu também, no ISCTE, um intenso dinamismo, resultante de iniciativas de docentes, que conduziu à criação de uma pluralidade de entidades, como o CEMAF, Centro de Investigação em Mercados e Activos Financeiros, o GIEM, Grupo de Inves- tigação e Formação em Marketing, o OVERGEST, Centro de Especialização em Gestão e Finanças, o GIESTA, Grupo de Investigação Científica e Análise de Dados, assim como o GEST-IN, Centro de Estudos e Projectos de Desenvol- vimento e Gestão.

Esta profusão só se explica pelo ambiente de liberdade e iniciativa que se estabeleceu no ISCTE. Franz-Wilhelm Heimer, companheiro de Sedas Nunes, desde o início do Instituto, salienta, sobre os inúmeros centros de investigação:

«A sua criação já foi muito positiva, mas a legalização institucional desses centros foi ainda mais importante, pois é uma forma de evitar constrangimentos, visíveis em todas as outras universidades. Como estruturas sem autonomia, estão ligadas à pesada máquina adminis- trativa legal da administração pública. A decisão do ISCTE de encora- jar os seus centros de investigação a estabelecerem-se como estrutu- ras livres desse tipo de colete-de-forças, foi uma opção acertada. Toda essa dupla reabilitação de estruturas para domínios específicos, que se iniciou no final dos anos oitenta, foi muito importante. Os anos noventa, parecem-me um pouco a continuação dessas duas orientações, ou seja, na estruturação departamental, no lançamento de mais cursos e também no desenvolvimento dos centros.» (Heimer, 2007, 130)

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No mundo.

Em 1987, nasceu um daqueles grandes exemplos da «Europa boa», como diria Manuel Marín, esse continente que ainda há umas décadas andava a matar-se entre si e, hoje, se encontra bastante mais desenvolvido, mas cheio de apreeensões sem fim à vista.

Um Conselho de Ministros da Educação da União Europeia criou o European Community Action Scheme for the Mobility of University Students, com o acrónimo Erasmus, homenagem ao sábio de Roterdão, visando a mobilidade de estudantes e professores universitários dentro dos Estados-membros, assim como na Islândia, Liechtenstein, Noruega, Suíça e Turquia.

Como comentaria o próprio Erasmo, nos seus Adágios, isto era autên- tica viva vox (1974, p. 161), a voz viva, colhida directamente dos falantes,

na sua vivência e expressividade, tirando frutos da viagem para fora de si própria, do contacto interac- tivo, ilustrador da complexidade e da própria mobili- dade dos seres e das coisas. Seria isto que o Erasmus queria proporcionar aos milhões de universitários envolvidos.

Novo passo para uma política europeia da educação dar-se-ia, em 1998, com a criação do chamado Processo de Bolonha, uma vasta interven- ção visando a harmonização do espaço universitário da União, sublinhando a autonomia das universida- des, o seu dever moral e intelectual de prosseguirem livremente a sua missão de construir, renovar e transmitir a cultura e a capacidade das sociedades, na tradição humanista da Europa.

Em 2002, na cimeira europeia de Lisboa, os chefes de Estado e de Governo europeus, com aquele optimismo generalista que lhes é caracte- rístico, revelavam o sentido estratégico daqueles passos: dotar a Europa, até 2010, com «a economia do conhecimento mais competitiva e mais dinâmica do mundo, capaz de um crescimento económico duradouro

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acompanhado de uma melhoria quantitativa e qualitativa do emprego e de maior coesão social». Haveria, evidentemente, que esperar pela reali- dade para ludibriar e confundir essas eloquentes declarações formais, mas Erasmus e Bolonha foram, sem dúvida, passos positivos para o continente…

O importante, contudo, é que se tornava obrigatório que qualquer universidade assumisse a sua dimensão aberta e internacional. O ISCTE, é claro, não recuaria perante este dever. Uma das suas primeiras inicia- tivas nesse sentido deu-se com o distante Macau, ainda antes do seu regresso à soberania chinesa. Firmou-se, em 1992, como referimos, um acordo com a Universidade de Macau, para a realização conjunta de um

master of Business Administration, precursoramente em inglês, apesar

de algumas críticas nacionalistas, o que levaria ao território asiático cursos e professores do ISCTE. Seria a porta aberta para iniciativas seme- lhantes em Moçambique, Cabo Verde, Brasil e China, a caminho da vasta rede internacional que o Instituto constituiria na sua década seguinte.

Abrir portas também como reconhecimento de grandes mestres do conhecimento que adubaram o espírito da casa! Dotado com a capa- cidade de conceder doutoramentos honoris causa, o

ISCTE inaugurou essa cerimónia, em 1999, com um dos grandes sociólogos mundiais, Immanuel Wallerstein, o norte-americano autor de The Modern World System.

A sublinhar a criação da licenciatura em Arquitec- tura, o ISCTE levou a cabo, em 2001, uma enorme expo- sição sobre Oscar Niemeyer que encheu o Pavilhão de Portugal, no Parque das Nações, em Lisboa, a recordar que o grande arquitecto brasileiro foi autor de vários projectos para Portugal, incluindo o construído, em

colaboração com o arquitecto Viana de Lima, o conjunto do Casino Park Hotel, no Funchal.

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«O projeto da Europa dos Cidadãos

pretendia passar à opinião pública a importância e a racio- nalidade da integração europeia e que as pessoas compreendessem que no dia-a-dia muitas das decisões que seriam tomadas pelas instituições comunitárias afetariam, mais cedo ou mais tarde, de maneira direta as suas vidas quotidianas. Um aspeto que se considerava fundamental no desenvolvimento deste plano era atrair os jovens para o projeto europeu.

A educação e a formação dos jovens era parte essencial do desenvolvimento do Mercado Interno Sem Fronteiras, a única forma de que a União Europeia pudesse competir com sucesso a nível internacional. Para além disso, queríamos que os jovens, e particularmente os universi- tários, pudessem viver e compreender os demais vizinhos europeus, sócios também da aven- tura representada pela união da velha Europa.

Queríamos jovens abertos, que falassem idiomas, que fossem capazes de olhar mais além das suas próprias aldeias, que aceitassem como algo normal deslocar-se a outros países, que tivessem vontade de conhecer outros povos, outras formas de viver; queríamos universitários cosmopolitas, com uma visão generosa do mundo.

Estou a falar de um mundo, e de uma Europa que há vinte e cinco anos estava dividida...Ainda existia o Muro de Berlim. A NATO e o Pacto de Varsóvia olhavam-se mutuamente com a arma nuclear como elemento dissuasório. Naquele então ainda não se falava da sociedade do conhe- cimento; não sabíamos o que era a sociedade da informação e, é claro, a globalização ainda não se vislumbrava no horizonte. E também não sabíamos o que significaria o programa Erasmus. Era um enorme desafio e uma grande ousadia. Quando lançámos a ideia de criar redes de coope- ração entre as próprias universidades para promover a sua autonomia e capacidade de inter- câmbio de estudantes e de graus académicos, fizemo-lo utilizando fax e correio registado. A Internet não existia. Muito menos o telemóvel. Nem sequer sonhávamos com o iPad.

O programa Erasmus nasceu de um sério conflito com os Estados-Membros, ou melhor, com alguns deles. Hoje, num mundo globalizado, pode parecer extravagante, mas naquela altura a educação e a cultura eram consideradas parte indissociável da identidade e da soberania nacio- nal. Assim sendo, nem a educação e nem a cultura podiam ser objeto de políticas comunitárias. Eram estritamente políticas nacionais dos Estados-Membros. Este era o contexto que havia quando foi lançado o projeto da Europa dos Cidadãos.

Na Comissão Europeia, presidida por Jacques Delors, chegamos à conclusão que devíamos supe- rar aquela situação. Não era possível manter um sistema educativo e universitário fechado. Tínhamos de romper esta barreira e abrir as fronteiras.

O que a Europa necessitava era exatamente o contrário: permitir a mobilidade dos jovens universitários e que as universidades pudessem desenvolver a sua própria autonomia na orga- nização de redes europeias.

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já que não podemos fazer políticas comunitárias com a educação e a cultura, dado que são competência exclusiva dos Estados-Membros, pois façamos programas comunitários que sejam competência da Comissão Europeia.

A reação de alguns Estados-Membros foi muito hostil. Diziam que incluir um programa sobre a educação universitária e a mobilidade dos jovens na Europa dos Cidadãos era um subterfúgio da burocracia de Bruxelas para minar a competência exclusiva dos Estados-Mem- bros num campo tão sensível. Obviamente a Comissão Europeia recu- sou esta perspetiva de forma taxativa.

Escusado será dizer que os ministros de Educação acertaram nos seus diagnósticos: queríamos transcender as limitações que repre- sentavam as suas legislações nacionais no âmbito universitário. Além disso, o programa foi baptizado com o nome de um insigne humanista e teólogo europeu, Erasmo de Roterdão. Outro obstáculo para aque- les que estavam contra!

Não demorou tanto tempo para que a posição inicial dos Estados-Membros começasse a fraquejar. Por um lado, aqueles Estados-Membros que tinham importan- tes programas de intercâmbio com outros países atra- vés dos seus correspondentes acordos internacionais opunham-se fortemente. Mas, por outro, os países que não possuíam este tipo de programas ou, se os tinham, eram com certeza muito modestos, como no caso de Portugal e Espanha, compreenderam a enorme vanta- gem de um programa comunitário nesta matéria.

Assim, a pouco e pouco, foi possível conseguir um apoio suficiente para fazer a proposta formal ao Conselho de Ministros.»

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Novos estatutos.

A periodização, em História, esse humano «processo de dividir a narrativa cronológica em períodos de tempo sequenciais distintos, com claros pontos de começo e fim» (Hollander et

al., 1975, p. 38), nomeadamente quando ela é tentada por décadas, tem

muito de confortante e decorativo mas não escapa nem ao reducionismo nem ao fio, sempre entaramelado, da realidade.

Esta nossa história dá-nos, disso, uma boa lição… Em Setembro do ano 2000, pelo Despacho Normativo 37/2000, de 5 de Setembro, foram finalmente homologados os novos Estatutos do ISCTE, englobando os desejados pontos a que atrás aludimos, nomeadamente o reforço opera- cional do papel do Presidente, em articulação com os restantes órgãos de governo do Instituto: a Assembleia, o Senado e o Conselho Administrativo.

José Manuel Paquete de Oliveira e João Ferreira de Almeida, respectivamente Presidente do Conselho

Directivo e Presidente do ISCTE

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O cerne da sua condição universitária, a saber, a sua autonomia e capacidade de conferir todos os respectivos graus, estava consagrada. No artigo 1.º, sobre a natureza jurídica e sede, deixava-se claro que «o Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa, adiante desig- nado abreviadamente ISCTE, é uma pessoa colectiva, que tem a natureza jurídica de pessoa colectiva de direito público, que goza de autonomia administrativa, estatutária, científica, pedagógica, financeira e discipli- nar, nos termos da legislação aplicável, e que tem a sua sede em Lisboa, na Avenida das Forças Armadas, podendo desenvolver as suas activida- des e criar unidades orgânicas em outros locais fora do local da sede, nos termos da legislação em vigor».

Na definição da sua missão, estabelecia-se uma cultura que era, há muito, marca da casa:

«– O ISCTE é um centro de criação, transmissão e difusão da cultura, da ciência e da tecnologia, que, através da articulação do estudo, da docência e da investigação, se integra na vida da sociedade.

– O ISCTE tem por fim: a) A formação humana, cultural, cien- tífica e técnica; b) A realização de investigação fundamental e aplicada; c) A prestação de serviços à comunidade, numa pers- pectiva de valorização recíproca; d) O intercâmbio cultural, cien- tífico e técnico com instituições congéneres nacionais e estran- geiras; e) A contribuição, no seu âmbito de actividade, para o desenvolvimento do País, a cooperação internacional e a apro- ximação entre os povos.

– Ao ISCTE compete a concessão de graus e títulos académi- cos e honoríficos, nomeadamente os de licenciatura, mestrado, doutoramento e agregação, e de outros certificados e diplo- mas, bem como a concessão de equivalências e o reconheci- mento de graus e habilitações académicas.»

Sobre o seu funcionamento, sublinhava-se num espírito lapidar que «assenta nos princípios de democraticidade, descentralização e parti- cipação, designadamente na garantia de liberdade de criação científica, cultural e tecnológica, na pluralidade e livre expressão de orientações e opiniões, na participação de todos os seus corpos na vida académica comum e em métodos de gestão democrática».

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Como não nasceu a Universidade Metropolitana

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