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O desenvolvimento físico e psicológico

No documento TESE SAF DINA TINOCO (páginas 36-39)

Parte I: FUNDAMENTOS CONCETUAIS E TEÓRICOS

Capítulo 1: A SÍNDROME DE ALCOOLISMO FETAL

5. O desenvolvimento de indivíduos com Síndrome de Alcoolismo Fetal (SAF)/

5.1. O desenvolvimento físico e psicológico

Recorrendo a Löser (1995), poderá dizer-se que o desenvolvimento vital de indivíduos com SAF não é determinado apenas pelo efeito do álcool durante a fase intra-uterina; também depende de outros fatores, tais como: malformações acrescidas (por exemplo, do coração e dos rins); condições sociais (como condições promotoras ou despromotoras) e fatores genéticos.

O desenvolvimento físico de indivíduos com SAF raramente decorre de forma regular. Pelo menos em um dos percentis, não é alcançada a medida adequada à idade. Pesquisas efetuadas demonstraram que as perturbações pré e pós-natais de crescimento atingem mais o peso e menos a altura da criança. No caso de indivíduos gravemente afetados pela SAF, esses valores podem inverter-seà o àoàpassa àdosàa os,àha e doàu aà o alizaç o àdoàpesoàeàu aà redução do crescimento, pelo que os indivíduos com SAF têm, na generalidade, uma estatura baixa. No caso de indivíduos afetados pelo álcool em menor grau, são raras as perturbações referidas. O início da puberdade dá-se, geralmente, aquando do início desta fase em crianças saudáveis e raramente atrasa.

Se observarmos o desempenho cognitivo de indivíduos com SAF, verificamos que são pessoas com um quociente de inteligência (QI) muito abrangente que, segundo alguns autores, pode ir de 50 a 115 (Canadian Paediatric Society, rev. 2013). O valor médio de QI situou-se até

dete i adaàaltu aàe à ,àu à alo à o espo de teà à defi i ia/de ilidadeà e tal .àMes oà que pelos níveis de QI – que têm um significado discutível – o indivíduo não necessite de apoio, trata-se sempre de um dano cerebral que obriga a auxílio específico.

Estudos efetuados por Streissguth e colaboradores no ano de 1996 elevaram o valor médio de QI em indivíduos com SAF para 79 e em indivíduos com EAF para 90, valores que, no entanto, não apontam para prognósticos positivos para indivíduos com SAF, pelo menos no que o e eà à ha adaà i telig iaàte i a .àCo tudo,àseàpe sa osà u aà i telig iaàp ti a ,à esta pode ser melhorada com medidas de promoção adequadas (Löser, 1998). Mais tarde, no limiar do novo século e quando já se fala no espetro, medições estandardizadas sugerem um QI dioàpa aà ia çasà o àPEáFàdeà à O’Malle à&à“t eissguth,à ,àoà ueàasài lui iaà u à alo à o al .àToda ia,àos especialistas alertam para o facto de os testes de QI avaliarem apenas uma parte do desenvolvimento cognitivo.

Como consequência do exposto, os indivíduos portadores de SAF/PEAF podem apresentar diversos comprometimentos ao nível neurodesenvolvimental, tais como: dificuldades no cálculo aritmético; dificuldades no pensamento abstrato; funcionamento intelectual; memória; funcionamento visuoespacial; funções executivas (fluência, resolução de problemas, flexibilidade mental, criatividade, planificação).

De acordo com Burgess, D.M., Lasswell, S.L. e Streissguth, A.P. (1992, p. 26), o comportamento inadequado também pode ser causado por uma incapacidade de comunicar: ... à i app op iate,à o ,à halle gi g,à eha io sà a eà aà fo à ofà o u i atio .à […]à Whe à the à cannot express their needs or feelings in socially acceptable ways, these students may resort to

eha io sàthatà[…]àgetàtheàdesi edà esults 18 .

Tendo os aspetos referidos por base, pode concluir-se que indivíduos com SAF/PEAF terão diversos problemas quer ao nível profissional, quer nos seus tempos livres e na sua autonomia.

Em especial as capacidades intelectuais e os problemas comportamentais apresentam-se como impedimentos de uma perspetiva profissional. Citando Streissguth (1997, p. 186), estas características refletem-seà e à difi uldadesà ag a adas,à taisà o o:à ... à ei gà easil à f ustrated, manifesting poor judgement, having difficulty understanding the task, and experiencing on-the- jo àso ialàp o le s. 19

18

… à o po ta e tosà i p p iosà ouà desafia tesà s oà u aà fo aà deà o u i aç oà […]à Qua doà elesà oà o segue à expressar as suas necessidades ou sentimentos de forma socialmente aceitável, estes alunos podem recorrer a comportamentos que têm o resultado desejado. (NT)

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… àse ti -se frustrado facilmente, manifestar uma fraca capacidade de julgamento, ter dificuldade em compreender a tarefa e experimentar problemas sociais inerentes a um emprego. (NT)

Como origem da hiperatividade e da impulsividade aceita-se uma deficiência cerebral orgânica. De acordo com Löser (1998), nenhuma outra forma de deficiência mental ou de síndrome de malformação apresenta estas características comportamentais com tanta frequência como a SAF. É comum estas crianças distraírem-seà fa il e teà de idoà aà u aà e essidadeà deà o i e toà psi ol gi o à ueà lhesà dificulta a capacidade de concentração e de atenção  fator fundamental para posteriores dificuldades de aprendizagem. Os seus interesses mudam constantemente, os movimentos são incontrolados, as ações sucedem-se de forma impulsiva e sem objetivo. A hiperatividade vai, pois, determinar substancialmente o atraso no desenvolvimento social.

Segundo Kröling (citado por Feldmann et al., 2012, p. 128), há também crianças com SAF/PEAF que apresentam perturbações do sono, uma necessidade reduzida de dormir e/ou insónias. Estes comportamentos podem ter, logicamente, consequências negativas para os pais/cuidadores e também para os professores, já que o rendimento escolar pode ficar aquém do desejado.

A disposição das crianças com SAF/PEAF é, em geral, alegre e confiante. Apenas em alguns casos foram detetados traços que também são verificáveis no autismo. Na sua maioria, são crianças abertas, sociáveis e simpáticas. Com o passar dos anos, este comportamento pode ser visto pelos que a rodeiam como intrometido e forçado, bem como inadequado à idade. O isolamento pode ser a consequência disto. Reforçadas por uma baixa autoconfiança e/ou dificuldades de atenção, memorização e comunicação, estas pessoas tendem a ser, em idade jovem e adulta, maioritariamente depressivas e este estado pode levar esporadicamente ao suicídio ou à tentativa de cometer esse ato.

O comportamento dos indivíduos com SAF/PEAF relativamente a desconhecidos é muitas vezes pouco distanciado, mas não insocial ou agressivo. Chegam mesmo a procurar contacto com desconhecidos de forma despreocupada e confiante, o que pode acarretar o risco de abuso por parte de terceiros.

Alguns indivíduos com SAF/PEAF apresentam comportamentos desviantes, tal como dificuldade de avaliação (ingenuidade), mentira, abandono do lar ou roubo, o que pode levar a confrontos com a autoridade. Sobre isto não há, contudo, uma estimativa, mas pode-se dizer que o seu comportamento é amiúde arriscado, pois não são capazes de avaliar realisticamente as situações. O seu comportamento pode também demonstrar por vezes alguma obstinação, o que é uma expressão da sua deficiência mental ou sinal de irritabilidade.

Os indivíduos com SAF/PEAF necessitam de estruturas e rotinas, uma vez que demonstram dificuldades em se adaptar a mudanças inesperadas, que podem originar problemas

comportamentais. Na opinião de Streissguth, (1997, p. 6), aprender com as consequências ta àseàlhesàasse elhaàdifí il:à a àha eàdiffi ult à[…]ài àe aluati gàaàsituatio àa dàusi gàthei à past experiences to cope with the proble sàatàha d 20.

Em suma, pode-se dizer que devido às dificuldades com que o indivíduo com SAF/PEAF se depara (por exemplo nas necessidades básicas ou no trabalho), raramente pode viver de forma autónoma. Se atentarmos ainda no que Oliveira nos apresentou, em 1999, como dificuldades de resposta às necessidades fisiológicas básicas – tal como o limiar alto de resistência à dor, à fome e sede, às altas e baixas temperaturas – a maioria dos indivíduos vai, consequentemente, depender do apoio de uma ou mais pessoas, principalmente de familiares.

Contudo, se houver uma intervenção atempada e adequada, o indivíduo com SAF/PEAF pode revelar eficiência num trabalho que possa, por rotina e sob supervisão de alguém, aprender ao seu ritmo.

Tal como em relação ao desenvolvimento intelectual, as características comportamentais também podem variar de indivíduo para indivíduo. Muitas dessas características advêm de disfunções cerebrais orgânicas, razão pela qual frequentemente os défices intelectuais e as características comportamentais aparecem associadas e se influenciam mutuamente. Assim, devem ser indicadas apenas as características mais marcantes, que por sua vez se podem alterar no decorrer do desenvolvimento.

No documento TESE SAF DINA TINOCO (páginas 36-39)