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PARTE I – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.4 Desenvolvimento Local Integrado e Sustentável (DLIS)

Através da discussão sobre desenvolvimento, à luz dos novos conceitos aqui expostos - desenvolvimento local, desenvolvimento endógeno, desenvolvimento como liberdade, desenvolvimento e capital social, e desenvolvimento sustentável – pretendeu-se chegar a um conceito que perpassasse todos os outros. Com isso, objetiva-se a construção de uma estratégia de desenvolvimento que transforme a realidade dos pequenos produtores de objeto em sujeito de sua história.

O conceito de desenvolvimento local integrado e sustentável vem atender a este objetivo, visto que este desenvolvimento tem como elementos: a criação e o fortalecimento de pequenos empreendimentos econômicos (formais ou não), através da concessão de crédito; a capacitação empreendedora e articulação das cadeias produtivas; a integração das diversas políticas públicas; e o efetivo protagonismo dos atores locais no seu processo de implementação (SANTIAGO, 2002).

O fortalecimento dos pequenos empreendimentos locais é importante porque “diz- se que uma comunidade se desenvolve quando torna dinâmicas suas potencialidades” (FRANCO, 2000). Ou seja, quando consegue obter êxito a partir da sua ação efetiva. O fator econômico-financeiro é denominado de crédito, em geral de pequeno valor, porque esses empreendimentos, em geral, precisam de pequenas quantias em dinheiro para dar início ou seguimento aos seus negócios, relativamente ao enorme capital necessário à instalação de grandes empresas.

A capacitação empreendedora é fundamental, visto que é imprescindível para o desenvolvimento a existência de pessoas com condições de tomar iniciativas, assumir responsabilidades e empreender novos negócios, além de participar com voz ativa das decisões do poder local e das discussões políticas bem como de articular as cadeias produtivas.

Outro aspecto importante para o desenvolvimento, segundo Franco (2000), é o entendimento de que, além do capital econômico ou empresarial (que é a propriedade produtiva da riqueza), existem outros tipos fundamentais de capitais, a saber:

a) Capital Humano – que se refere à capacidade de criar e recriar o conhecimento, envolvendo educação, alimentação, nutrição, cultura e pesquisa;

b) Capital Social – que diz respeito aos níveis de organização de uma sociedade, relacionado ao associativismo, confiança e cooperação em busca de uma sociedade mais democrática;

c) Capital Natural – que compreende as condições ambientais e físico- territoriais herdados.

Onde existem baixos níveis de capital humano e de capital social, existem, respectivamente, baixos níveis de desenvolvimento humano e de desenvolvimento social. Ainda segundo Franco (2000), a equação do desenvolvimento relaciona todas essas variáveis de uma maneira ainda pouco conhecida. Mas, para promover o desenvolvimento, é necessário investir nestes vários tipos de capitais.

Desenvolvimento mesmo só ocorrerá quando surgirem novos e múltiplos laços de realimentação de reforço (...) que quanto mais capital humano mais capital social, que irá gerar mais capital empresarial, que irá gerar mais renda, que irá gerar mais capital humano, etc. Quando isto ocorrer, o sistema adquirirá vida própria e “rodará” (...) sozinho, percorrendo círculos virtuosos daquilo que chamamos de desenvolvimento humano e social sustentável. (FRANCO, 2000)

O conceito de desenvolvimento local integrado e sustentável pode ser entendido como um novo modo de promover o desenvolvimento. Ele possibilita o surgimento de comunidades mais sustentáveis, capazes de suprir suas necessidades imediatas, descobrir ou despertar suas vocações locais e desenvolver suas potencialidades específicas, além de fomentar o intercâmbio externo, aproveitando-se de suas vantagens locais. (SANTIAGO, 2002)

Assim, o desenvolvimento local integrado e sustentável é um conceito operativo, capaz de desencandear o processo de desenvolvimento. Este deve contemplar, de acordo com

Franco (2000), a capacitação para a gestão local, a criação de uma nova institucionalidade participativa, conselho, fórum, agência ou órgão similar encarregado de coordenar o processo de desenvolvimento na localidade. Inclui, também, diagnóstico e planejamento participativo, além da construção de uma agenda pública da localidade, articulação de programas e ações estatais e não-estatais. Inclui, ainda, a celebração de um pacto de desenvolvimento na localidade, fortalecimento da sociedade civil, fomento do empreendedorismo, por meio da capacitação e do crédito para apoiar a criação e o desenvolvimento de novos negócios sustentáveis, bem como a instalação de sistemas de monitoramento e avaliação.

Neste contexto, “o desenvolvimento não mais é o resultado alcançado mediante a busca de equilíbrios macroeconômicos, mas a soma dos diferentes esforços e compromissos dos atores sociais em seus territórios e meio ambiente concretos.” (LORENZ, 2002)

Para finalizar é importante resumir as razões pelas quais o desenvolvimento local integrado e sustentável se torna imprescindível.

a) O desenvolvimento local é uma questão de sobrevivência para os pequenos produtores, criando emprego e renda e melhorando a qualidade de vida das comunidades ali estabelecidas. Em última análise, ele é inclusivo de toda a sociedade;

b) Nele considera-se as dimensões econômicas, sociais, culturais, políticas, ambientais e territoriais, fazendo a diferença para o local onde se processa e fomentando assim o desenvolvimento humano e social;

c) Ele significa melhoria de vida de todas as pessoas; e

d) Quanto à sustentabilidade, ela caracteriza-se como a capacidade de auto- organização, de reprodução, enfim, de autocriação das condições para a continuidade de determinado processo, sendo esta capacidade o resultado de uma padrão de organização cooperativa com interdependência, reciclagem, parceria, flexibilidade e diversidade.

Enfim, o desenvolvimento local integrado e sustentável desinstala progressivamente um velho conjunto de práticas, substituindo-as por outras mais democráticas, mais cidadãs e mais sustentáveis, afetando as relações políticas e sociais estabelecidas na localidade (FRANCO, 2000)

Promover o desenvolvimento significa investir simultaneamente em todos os fatores mencionados anteriormente, onde o objetivo é criar condições para o surgimento de novos e múltiplos laços de retroalimentação do esforço que faz com que mais capital humano (conhecimento), gere mais capital social (empoderamento), gerando mais capital empresarial (recursos financeiros), gerando mais renda, que gera mais capital humano e assim sucessivamente, desencadeando o círculo virtuoso.

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