• Nenhum resultado encontrado

DESENVOLVIMENTO PEDAGÓGICO NO ENSINO DE ENGENHARIA

AGRONÔMICA

Paulo Roberto da Silva

A longa duração dos cursos de graduação no Brasil tem origem na LDB de 1961 e subsequente reforma de 1968, que se inspirou nos modelos francês e norte-americano. Na França, o ensino superior é profissionalizante, enquanto que nos EUA, a graduação é genérica com a profissionalização realizada na pós-graduação. O Brasil adotou um modelo misto que insere a especialização precoce, obrigando o jovem a escolher a profissão antes mesmo de conhecer as ciências, ocasionado escolhas equivocadas da profissão e gerando evasão logo nos primeiros anos do curso. Esse modelo, vigente nos currículos mínimos de 1975 e 1984, foi reformulado com a promulgação da LDB de 1996.

Currículo mínimo de 1975

O curso de Engenharia Agronômica mantém historicamente, desde a edição do Decreto nº 23.169/1933, todas as matérias que compõem o conjunto de conhecimentos necessários para o exercício pleno da profissão de engenheiro agrônomo. No currículo mínimo de 1975 (Resolução nº 38/75 CFE), começam a aparecer as primeiras tentativas de se agrupar a Engenharia Agronômica em um tronco comum,

TRAJETÓRIA E ESTADO DA ARTE DA FORMAÇÃO EM ENGENHARIA, ARQUITETURA E AGRONOMIA

72

face aos desmembramentos ocorridos com o surgimento dos cursos de engenharia florestal, agrícola, pesca, alimentos e zootecnia. Para tanto, o artigo 22 daquela resolução determinava que:

As universidades ou estabelecimentos isolados de ensino agrícola poderão, mediante a adoção de um tronco comum constituído das matérias básicas constantes dos currículos mínimos estabelecidos para os cursos de Engenharia Agronômica, Zootecnia, Engenharia Agrícola e Engenharia Florestal, ministrar o ensino das matérias especificas dos referidos cursos sob a forma de habilitação, adotando-se para cada uma delas, como matérias profissionalizantes, as já aprovadas como correspondentes currículos mínimos estabelecidos pelo CFE.

Além desse primeiro esforço para a criação da Agronomia em um tronco comum, o currículo de 1975 incorporou a estruturação dos cursos no sistema de créditos isolados, deixando a cargo da instituição de ensino os agrupamentos básicos, intermediários e profissionalizantes. Tinha o foco voltado para a produção e produtividade, influenciado pela revolução verde, sem levar em consideração os interesses sociais. Entretanto, a tentativa de adoção de um tronco comum para todos os cursos, com oferta de disciplinas específicas em cada especialidade sob a forma de habilitação, nunca chegou a ser implementada pelas instituições de ensino.

Currículo mínimo de 1984

O profissional previsto pelo currículo de 1984 deveria ter um perfil eclético, com sólidos conhecimentos das ciências básicas e ênfase nas áreas de conhecimento social, de modo a tornar o exercício profissional mais abrangente, interdisciplinar, à semelhança da própria agricultura que é um sistema heterogêneo de água, solo, planta, animal e ambiente, porém integrado. Tinha como característica maior carga horária, formação eclética e humanística, ampliação de conteúdos em zootecnia, tecnologia de produtos agrícolas, extensão rural, zoologia, construções rurais, mecanização agrícola, irrigação e drenagem, fitossanidade e fitotecnia.

Propunha ainda, como inovação, a inclusão de novas disciplinas, tais como: informática, ciências do ambiente, recursos naturais renováveis, ciências humanas e sociais, incluindo-se filosofia e deontologia. Essas novas inclusões, bem como a ampliação dos antigos conteúdos, refletiram as discussões que ocorriam na comunidade acadêmica e profissional. Os profissionais pressionaram o MEC no sentido de ampliar o currículo do curso de Engenharia Agronômica, de modo a garantir-lhes as atribuições em todas as áreas, mesmo existindo as novas profissões. O relator do processo de reestruturação dos currículos de Ciências Agrárias junto ao CFE/MEC assim se expressou:

o resultado foi fruto de demorados estudos, após debates, consultas e audiências para coleta de subsídios, ponderações e argumentos que possibilitassem um trabalho que

73

representasse mais que um consenso, que fosse o mínimo ideal, que preservasse as profissões já consagradas, dando-lhes um ecletismo sadio que lhes permitissem atuar amplamente no mercado, sem perda de suas individualidades próprias.

A comunidade universitária, no entanto, não levou em conta as disputas profissionais e tampouco implantou as inovações sugeridas. Oito anos depois foi realizada uma enquete e constatou-se que a carga horária das áreas sociais teve aumento insignificante, passando de três para cinco por cento apenas.

Diretrizes curriculares da Engenharia Agronômica de 2002

A LDB – Lei nº 9.394/96 (BRASIL, 1996) e subsequentes normas determinaram profundas modificações na educação superior, dentre as quais se destacam: extinção dos departamentos nas universidades, eliminação definitiva dos currículos mínimos, introdução das Diretrizes Curriculares com flexibilização curricular e mobilidade acadêmica, recomendando, ainda, que o curso tenha enfoque sistêmico e interdisciplinar com introdução de ciclos básico e profissional, de forma a estimular o raciocínio crítico e o trabalho em equipe. Também ficou estabelecido na LDB que o diploma certifica a qualificação acadêmica, diferenciando-o da titulação profissional e, por consequência, não gera direito automático de exercício da profissão.

Outra grande inovação das diretrizes curriculares foi a introdução da educação continuada e permanente como forma complementar da formação. Em oposição ao modelo dos currículos mínimos, as diretrizes curriculares determinaram a redução da duração dos cursos, considerando a graduação como etapa inicial da formação que deve ser complementada com a pós-graduação. Assim, a formação profissional plena deverá, obrigatoriamente, estar articulada à pós-graduação.

Os referenciais das novas diretrizes curriculares, conforme Parecer nº 776/97 do Conselho Nacional de Educação (CNE), foram bastante claros ao afirmar que o modelo antigo de currículos mínimos inibia a inovação e a criatividade, conduzindo à formação de um profissional voltado exclusivamente para o exercício de determinadas atividades, traduzidas em um conjunto de disciplinas rigidamente controladas tanto em conteúdo como em carga horária. O novo modelo tem visão sistêmica da formação.

Outra referência marcante do parecer do CNE e, que se opõe diametralmente à antiga concepção de inspiração francesa, é o reconhecimento e o incentivo à aquisição de conhecimentos, habilidades e competências fora do ambiente escolar, como práticas de estudos independentes e trabalhos em equipe que possibilitem a aquisição da autonomia profissional e intelectual do formando.

É importante notar que a resolução das diretrizes curriculares da Engenharia Agronômica (Resolução CNE nº 01/2006) prevê a formação em ciclos ao afirmar que:

TRAJETÓRIA E ESTADO DA ARTE DA FORMAÇÃO EM ENGENHARIA, ARQUITETURA E AGRONOMIA

74

Com base no princípio de educação continuada, as IES poderão incluir no Projeto Pedagógico do curso, o oferecimento de cursos de pós-graduação lato sensu, nas respectivas modalidades, de acordo com as efetivas demandas do desempenho profissional (§ art. 4º) (BRASIL, 2006).

A carga horária mínima, determinada pela legislação para o curso de Engenharia Agronômica, é de 3.600 horas a serem integralizadas em cinco anos. Os cursos poderão ainda incluir até 20% de carga horária em disciplinas ministradas na modalidade a distância ou semipresencial. Também contempla o Estágio Supervisionado (permitido até 20% da carga horária) e a realização de atividades complementares.

Com essas novas diretrizes pretende-se formar um profissional da Engenharia Agronômica preparado para os desafios do século XXI e que possua um perfil voltado para o desenvolvimento rural integrado, com sólida formação, espírito crítico, criativo e socialmente justo. Portanto, o primeiro desafio que os atuais profissionais têm pela frente é a inclusão da formação continuada e permanente em sua carreira, seja na modalidade presencial ou a distância.

Outro grande impacto dos novos paradigmas da formação superior é que o diploma não mais gera direito automático de exercício de profissão. Cabe ao sistema profissional criar suas próprias regras para que o diplomado se torne Engenheiro Agrônomo, uma vez que as universidades apenas expedirão o diploma de Bacharel em Agronomia, o que é diferente do título profissional de Engenheiro Agrônomo concedido pelo Sistema Confea/Crea.

As novas diretrizes curriculares da Engenharia Agronômica estão em vigor desde 2006 (Resolução CNE nº 01/2006) e o Ministério da Educação vem estimulando as universidades (Decreto nº 6.096/2007 – Programa Reuni) (BRASIL, 2007) a implantarem as inovações dessas diretrizes, especialmente no que se refere à formação em ciclos. O primeiro ciclo, denominado Bacharelado em Ciência e Tecnologia, tem maior ênfase na formação cientifica interdisciplinar, o que não quer dizer simplesmente priorizar as disciplinas básicas de física, química, matemática e outros, mas ampliá-la em extensão e profundidade no que diz respeito à Informática e Computação Científica, Ciências Naturais, além de incorporar as Histórias da Ciência, da Tecnologia e do Pensamento Contemporâneo. Assim, dar-se-á ao Bacharel em Ciência e Tecnologia uma visão holística da ciência e sua evolução, induzindo-o a desenvolver a capacidade crítico-criativa, como é desejável em um profissional de nível superior. No segundo ciclo, específico da Engenharia Agronômica, o programa visa atender a vocação do aluno e as demandas das tecnologias modernas e emergentes por meio de um currículo flexível com disciplinas que facilitem uma inserção mais rápida dos formandos no dinâmico mercado de trabalho. Assim, por exemplo, são oferecidas formações em novas áreas que atenderão às demandas em constante evolução, como a conservação do meio ambiente, que exige produção de energia limpa e barata, a biotecnologia para a produção de alimentos em quantidade e qualidade com preços acessíveis, bem como a automação, sensoriamento remoto e telecomunicações.

75