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FUNDAMENTOS TEÓRICOS

2.6 Desenvolvimento profissional docente

Nos últimos anos, tem se falado muito sobre o desenvolvimento profissional docente. Para Imbernón (2001), esse desenvolvimento não deve-se unicamente ao pedagógico, ao conhecimento e à compreensão de si mesmo ou ao desenvolvimento cognitivo ou teórico, ele é antes decorrência de tudo isso, delimitado, porém incrementado por uma situação profissional que permite ou impede o desenvolvimento de uma carreira docente. Imbernón (2001, p. 43) afirma que:

A nosso ver, a profissão docente desenvolve-se por diversos fatores: o salário, a demanda do mercado de trabalho, o clima de trabalho nas escolas em que é exercida, a promoção na profissão, as estruturas hierárquicas, a carreira docente etc. e, é claro, pela formação permanente que essa pessoa realiza ao longo de sua vida profissional.

Percebe-se, a partir dessas considerações, que o desenvolvimento profissional é um conjunto de fatores, o qual possibilita ou impede que o professor avance em sua vida profissional. A formação será legitimada então quando contribuir para o desenvolvimento profissional desse professor no âmbito do trabalho e de melhoria das aprendizagens profissionais. O mesmo autor afirma que os professores precisam de novos sistemas de trabalho e novas aprendizagens para exercer o seu ofício, com aspectos profissionais e de aprendizagem associados às instituições educativas.

Para Day (2001), o desenvolvimento profissional é um processo reflexivo e contínuo que se atenta às necessidades do professor. Presume que essa aprendizagem seja por toda vida, ao longo de sua carreira, em contextos diversificados. Nesse sentido, os professores participam de um processo de crescimento pessoal, social e profissional. O autor acrescenta que o processo de desenvolvimento profissional é complexo, inclui mudanças de práticas e concepções e é dependente de fatores culturais e temporais. Para que possam desenvolver profissionalmente, os professores têm que estar inseridos em ambientes que favoreçam a sua aprendizagem, nomeadamente, ambientes centrados na comunidade, no conhecimento, nos alunos e na avaliação. Os ambientes voltados para a comunidade valorizam a construção de relações colaborativas e fomentam a participação na investigação educacional e na investigação sobre a própria prática. (DAY, 2001, p.47).

Compreendem-se algumas questões relacionadas com as modalidades formativas que promovem o desenvolvimento profissional, de acordo com Day (2001, p.48):

-Desenvolvimento profissional autônomo. Os professores podem adquirir por si próprios novos conhecimentos e desenvolver competências tendo por base as suas experiências.

-Desenvolvimento profissional baseado na reflexão e supervisão. Os professores reflectem sobre a sua prática aumentando as suas competências metacognitivas, o que lhes permite ter um desenvolvimento mais sustentado, consciente e orientado. A supervisão clínica é uma estratégia para o desenvolvimento profissional baseada nos dados da análise da própria acção como um elemento de reflexão, com a intervenção do professor e de um supervisor.

-Desenvolvimento profissional a partir do desenvolvimento curricular e organizacional. Os professores aprendem e conseguem melhorar as suas práticas quando resolvem problemas ou questões inerentes ao seu trabalho. Neste sentido, podem envolver-se em acções referentes a projectos de inovação curricular e de desenvolvimento curricular.

-Desenvolvimento profissional através de cursos de formação. Os professores frequentam cursos de formação que são dados pelos formadores. Pretende-se que os

formandos adquiram os conteúdos na formação e que os consigam aplicar na sala de aula.

-Desenvolvimento profissional através da investigação. Os professores envolvem-se em investigações sobre suas próprias práticas e em processos de reflexão. Na maioria das vezes, o professor é acompanhado por investigadores educacionais desenvolvendo um trabalho colaborativo com estes.

Sendo assim, observamos que a criação de mecanismos de apoio ao desenvolvimento profissional, no decorrer da carreira, é absolutamente necessária. As questões acima nos apresentam o quão é importante oportunizar momentos de reflexão, pressupondo uma formação de professores que valorize o seu caráter contextual e organizacional.

Nono e Mizukami (2006) afirmam que o desenvolvimento profissional do professor iniciante é um período da docência também destinado à aprendizagem de como se ensina. Essa aprendizagem ocorre, inclusive, à luz das dimensões organizacionais, curriculares, didáticas e profissionais e das considerações sobre sua aprendizagem enquanto pessoa adulta:

[...] falar da carreira docente não é mais do que reconhecer que os professores, do ponto de vista do “aprender a ensinar”, passam por diferentes etapas, as quais representam exigências pessoais, profissionais, organizacionais, contextuais, psicológicas, etc., específicas e diferenciadas (MARCELO GARCIA, 1999 apud NONO; MIZUKAMI, 2006, p. 383).

Observamos que é de suma importância que se transforme em realidade a escola como ambiente integrador de aprendizagem e de práticas que enfatizem a troca de experiência, de questionamentos e de conhecimento teórico, os quais auxiliem o saber fazer da prática pedagógica.

Nono e Mizukami (2006, p. 396) ressaltam a necessidade das instituições se organizarem com programas de iniciação ao ensino para professores iniciantes, os quais atendam às necessidades de cada um deles. Sobre isso, defendem que “[...] é necessário que levem em conta diferentes conhecimentos profissionais que orientam as práticas escolares adotadas pelas principiantes e utilizem estratégias diversificadas que promovam processos de desenvolvimento profissional docente”.

Imbernón (2001) reintera que se deve introduzir, no conceito de desenvolvimento profissional, o coletivo ou institucional, ou seja, o desenvolvimento de todo profissional que trabalha na instituição educativa.

Marcelo Garcia (1999) adverte que para esse desenvolvimento seja implementado na instituição escolar, sua equipe (gestão e professores) deve ter autonomia para tomar suas próprias decisões, como, por exemplo, selecionar os docentes mais “capacitados” para o tipo

de projeto educativo e curricular que a escola realiza; além de organizar o currículo, espaços e tempos segundo necessidades identificadas.

Algumas características, que qualificam o desenvolvimento profissional e consideram a perspectiva da aprendizagem da docência situada nas escolas, local de atuação dos professores, são discutidas por Marcelo Garcia (2009, p.112-114):

A identidade profissional é um processo evolutivo de interpretação e reinterpretação de experiências, uma noção que coincide com a ideia que o desenvolvimento profissional dos professores nunca para e é visto como uma aprendizagem ao longo da vida. Desse ponto de vista, a formação de identidade profissional não é a resposta à pergunta “quem sou eu neste momento?”, mas sim a resposta à pergunta “o que quero vir a ser?” A identidade profissional envolve tanto a pessoa, como o contexto. A identidade e profissional não é única. Espera-se que os docentes se comportem de maneira profissional, mas não porque adotem características profissionais (conhecimentos e atitudes) prescritas. Os professores se diferenciam entre si em função da importância que dão a essas características, desenvolvendo sua própria resposta ao contexto

O autor elencou características diante de uma perspectiva que destaca o caráter contínuo do desenvolvimento profissional, o qual não pode ser compreendido apenas a partir de situações de trabalhos exteriores. Esse desenvolvimento profissional deve ser desenvolvido por meio de experiências adversas e que sejam criadas oportunidades para que os docentes reflitam sobre suas próprias práticas e reconstruam-na visando ao sucesso escolar de seus alunos e levando em conta as especificidades dos contextos escolares.

Conforme se observa, Marcelo Garcia (1999) também discute aspectos relacionados ao desenvolvimento de profissionais centrados na escola. Essa concepção tem como início a compreensão de que a escola é o lugar onde surgem e se pode resolver a maior parte dos problemas de ensino. Ressalta, ainda, que o desenvolvimento profissional dos docentes ocorre no contexto do desenvolvimento da organização em que trabalham.

Ao discutir características que qualificam esse desenvolvimento profissional, situado nas escolas, Marcelo Garcia (1999; 2009) destaca que as experiências mais eficazes são as que tomam como base o contexto de trabalho do professor e têm relação com as atividades que ele realiza. Agregar experiências compartilhadas na prática em conhecimento profissional e conversar sobre os projetos da escola são ações que fazem com que a docência seja entendida como prática de um coletivo.

Há que se pensar em uma Educação Infantil dialogada com a prática educativa, para uma educação de qualidade. Frente ao exposto até o momento, cabe considerar a história da Educação Infantil no Brasil, assunto a ser abordado a seguir.