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4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

4.5 Formação inicial

4.5.2 A teoria e a prática

De acordo com os dados coletados em nossa pesquisa, os cursos de graduação têm se mostrado pouco eficientes para acrescentar a prática docente. Estudos realizados por Gatti e Nunes (2009), afirmando que a escola como instituição social e de ensino, foi tema quase ausente nas emendas analisadas, o que sugeriu uma formação de caráter mais abstrato e pouco integrada ao contexto concreto onde o profissional-professor vai atuar O divórcio entre a teoria e a prática foi verificado na pouca referência à prática de ensino, tornando o início da profissão muito dificultoso, com situações de desistência da docência.

Os professores participantes da pesquisa relataram algumas dificuldades referente à formação inicial:

Eu acho que a faculdade precisava focar mais na prática, a gente chega achando que é uma coisa e na realidade, tudo é bem diferente (GF22).

Eles dão muita teoria e prática nada (GF31). É a prática que falta (GF34).

Seria muito bom uma matéria na faculdade, que focasse somente a prática (GF32).

Acho que a maioria dos docentes não estão preparados para enfrentar a diversidade e os problemas sociais que se refletem na sala de aula. A formação é muito teórica (Q16).

É nítido o descontentamento dos participantes da pesquisa com a sua formação inicial. Relatam que o trabalho realizado nas universidades deveria alinhar a teoria e a prática, que a realidade da sala de aula e suas inúmeras adversidades encontradas em cada contexto escolar deveriam ser contemplados em seus estudos; e que é mais que necessário avaliar e ajustar o currículo da formação inicial, com um estágio eficaz e a inserção do estudante na unidade escolar.

Sabe-se que há preocupações com a melhor qualificação da formação de professores, para que haja melhoras nas condições do exercício profissional. Entretanto, Gatti (2014) relata que as instituições de ensino superior no Brasil não contam com a priorização da formação de professores de modo integrado, com perfil próprio, como observados em outras profissões, citando a engenharia, medicina, direito, entre outras.

A autora ainda nos revela que, no Brasil, os cursos de licenciatura mostram-se estanques entre si, desmembram a formação na área específica dos conhecimentos pedagógicos, focando a parte exígua de seu currículo às práticas profissionais docentes. O desejo da autora é que o campo de trabalho real de profissionais professores fosse referência para sua formação, não como construção, mas como foco e inspiração completa (GATTI, 2014, p.39).

Outra questão muito importante que Gatti (2014) enfatiza é o que se oferece nesses cursos: uma parte muito superficial da formação pedagógica e de seus fundamentos, que não podem ser considerados como realmente formação profissional, para atuar em escolas da contemporaneidade. Em virtude disso, a formação se torna fragmentada, não sendo suficiente para o professor vir a planejar, ministrar, avaliar ou orientar atividades de ensino na Educação Básica.

Nesse contexto, Pimenta (1999) elucida que a identidade profissional se constrói a partir da revisão constante de significados sociais da profissão e da revisão das tradições, através de práticas significativas e do confronto entre a teoria e a prática. É construído também através do significado de cada professor, dado ao contexto, às dificuldades, aos acertos e aos erros relativos à atividade docente no seu cotidiano. Essa significação parte também de seus valores, sua história de vida, seus saberes, angústias e anseios, do sentido que tem em sua vida o fato ser professor.

Nota-se a necessidade de uma estruturação na formação inicial dos professores para a Educação Básica, criando condições concretas para uma nova formação inicial no Ensino Superior e realizando a integração, não só de conhecimentos pedagógicos, mas envolvendo valores individuais e grupais, o contexto, as diversidades, o agir do cotidiano, práticas, rotinas, na busca de uma formação de melhor formar nossos alunos.

Nessa perspectiva Gatti (2009, p.90), afirma que:

A educação é processo que envolve necessariamente pessoas com conhecimentos em níveis desiguais propondo-se a compartilhar esses conhecimentos. A educação escolar pressupõe uma atuação de um conjunto geracional com outro mais jovem, ou, com menor domínio de conhecimentos ou práticas, na direção de uma formação social, moral, cognitiva, afetiva, num determinado contexto histórico. Presencialmente ou não, há pessoas participando e dando sentido a esse processo. Quando se trata de educação escolar são professores que propiciam essa intermediação.

Por isso compreender e debater a formação de professores, suas condições de trabalho e a carreira docente tornam-se de suma importância, pois revelam a configuração identitária

profissional, para a compreensão e discussão da qualidade educacional de um país ou de uma região.

Notamos nos relatos que, ao sair da graduação, os docentes se sentiram despreparados. Essa situação também foi relatada na dissertação de Pinto (2016), citada na revisão de literatura, que revelou a expectativas que as professoras tinham com relação ao curso de Pedagogia, pois acreditavam que fossem sair da faculdade preparadas para enfrentar uma sala de aula, para ensinar, mas a realidade não foi essa.

Darling-Hammond, Baraz-Snoweden (2005 apud CALIL, 2014, p.61) afirmam que não é uma única forma de abordagem na formação que dará conta de atingir todos os professores, mas as formações devem assegurar que os futuros professores compreendam as bases da aprendizagem, do desenvolvimento, do currículo e do ensino antes de partirem para a prática. Se os futuros professores estão aprendendo seu trabalho, via experiências com alunos ou com estágio, a supervisão dessas experiências deve ser realizada por veteranos mais experientes. Todavia, fica um questionamento: “como estruturar essa supervisão para que dê atenção e perícia adequadamente? Como ensinar o conteúdo que é necessário de modo que capacite os professores a utilizarem o conhecimento que eles adquiriram?”

A esse respeito, Darling-Hammond (2000) traz críticas mais constantes, as quais incluem a gestão de tempo de quatro anos nas graduações, tornando difícil aprender o suficiente tanto sobre a área específica como a Pedagogia. São fatores que dificultam essa formação: a fragmentação dos cursos relacionados ao conteúdo ensinado; a divisão entre a formação universitária (teoria) e a formação na escola (prática); os cursos que não se baseiam em conhecimento sistemático desenvolvido; a falta da prática e a falta de recursos de programas de formação.

Nesse sentido, o autor ainda revela que não é surpreendente professores, vindos de programas de curta preparação, que apresentem pouca satisfação com o que aprenderam

e menos compromisso com a carreira que ouros professores, já que esses que são problemas de uma preparação inadequada.

Pelo exposto, defendemos que o papel mais importante das universidades é a formação dos professores, desenvolvendo habilidades que vão além da teoria e proporcionando a verdadeira experiência de conviver com o ambiente escolar.