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2.2 Sociologia e Desenvolvimento Rural

2.2.2 Desenvolvimento Rural

Muitos fatores contribuíram para a emergência de discussões sobre o desenvolvimento rural sob a ótica de outras perspectivas, e que vêm influenciando as políticas do Estado brasileiro nos últimos 15 anos, sendo estas permeadas, portanto, pelas ideias e propostas colhidas pelos formuladores de políticas junto aos estudiosos e mediadores (SCHNEIDER, 2010).

É preciso compreender que o desenvolvimento rural não pode ser tratado isoladamente. Não se pode aceitar que desenvolvimento rural signifique apenas modernização tecnológica e crescimento da produção. Desenvolvimento inclui distribuição e redução das desigualdades entre pessoas e entre regiões. O trato do desenvolvimento rural deve estar inserido na questão do desenvolvimento econômico e social do país (CARVALHO FILHO, 2009, p. 198).

Algumas abordagens atuais, em que pese não haver um consenso na literatura, apontam que políticas para o rural devem partir do pressuposto que o

desenvolvimento rural deve ser encarado como um processo múltiplo, que envolve diferentes atores e não está associado apenas às atividades agrícolas, sendo dessa forma um processo multinível, multiatores e multifacetado Acerca desses três aspectos, Kageyama (2004) observa o que segue:

Quanto ao primeiro aspecto, deve-se considerar o desenvolvimento rural num nível global, a partir das relações entre agricultura e sociedade; num nível intermediário, como novo modelo para o setor agrícola, com particular atenção às sinergias entre ecossistemas locais e regionais; o terceiro nível é o da firma individual, destacando-se as novas formas de alocação do trabalho familiar, especialmente a pluriatividade. A complexidade das instituições envolvidas no processo de desenvolvimento rural é que faz com que dependa de múltiplos atores, envolvidos em relações locais e entre as localidades e a economia global (redes). Por último, as novas práticas, como administração da paisagem, conservação da natureza, agroturismo, agricultura orgânica, produção de especialidades regionais, vendas diretas, etc., fazem do desenvolvimento rural um processo multifacetado, em que propriedades que haviam sido consideradas “supérfluas” no paradigma da modernização podem assumir novos papéis e estabelecer novas relações sociais com outras empresas e com os setores urbanos (KAGEYAMA, 2004, p. 384).

O desenvolvimento rural, portanto, potencializa as diferentes dimensões do campo de forma que o próprio rural reconfigura-se como algo a mais do que simplesmente o antônimo de urbano, contudo, interliga-se a este de forma diferente do que ocorreu no passado, interagindo de diferentes formas, não sendo um mero fornecedor de mão-de-obra, como foi nas fases iniciais da industrialização. Isso se dá pelo leque de possibilidades que o rural apresenta em sua pluriatividade.

Essas modificações no rural requer uma série de mudanças de paradigmas e de investimentos para cada vez mais os recursos territoriais sejam adequados a essas mudanças. Kageyama (2004) analisa que a “função” do rural modificou-se da seguinte forma:

[...] nos períodos de industrialização acelerada consistia em fornecer mão- de-obra para as cidades, agora inverteu-se, requerendo-se o desenvolvimento de infra-estrutura, serviços e oferta de empregos que assegurem a retenção de população na área rural; a função ambiental passa a receber mais atenção após as fases iniciais da industrialização (inclusive do campo) e demanda do meio rural a criação e proteção de bens públicos e quase públicos, como paisagem, florestas e meio ambiente em geral. Assim, o desenvolvimento rural, além de multissetorial, deve ser também multifuncional (KAGEYAMA, p. 384).

Grande parte das propostas de desenvolvimento rural tem por objetivo reduzir a pobreza, mas esta é tratada, na maioria das vezes, de forma unidimensional,

enfatizando a renda. Dessa forma, o desenvolvimento rural, aqui entendido como um processo multidimensional, exige uma leitura da realidade com um olhar igualmente multidimensional.

Para uma análise multidimensional da pobreza rural, a abordagem seniana parece a mais adequada em termos analíticos.

Nesta abordagem, a capacidade de agente livre é o motor do desenvolvimento, sendo este considerado o resultado de processos de ampliação das capacidades de os indivíduos fazerem suas escolhas.

Ampliar estas capacidades requer a compreensão anterior de dois conceitos utilizados pelas políticas sociais de modo geral, que são riscos e vulnerabilidades. Em que pese haver semelhanças, tais noções são distintas. Riscos podem trazer implicações negativas ao bem-estar do indivíduo. Vulnerabilidade diz respeito ao pertencimento de indivíduos a grupos que, dado um choque (enchente, estiagem, praga na lavoura, etc.) tendem a ficar pobres, ou, se já o são, veem agravar-se a sua situação (COSTA, 2006).

Em estudo sobre pobreza rural na região Sul do Brasil, Waquil (2013) aponta que as políticas públicas podem ter efeitos na criação e ampliação de oportunidades, ajudando a reduzir vulnerabilidades e aliviar as situações de pobreza nos espaços rurais. Segundo o mesmo autor,

Retomando os conceitos trazidos pela Abordagem das Capacitações, tal reconhecimento das distintas ‘caras’ da pobreza rural leva a pensar na importância de dispor de instrumentos que visam reduzir vulnerabilidades, ampliar as oportunidades, dar acesso a intitulamentos que permitam aos pobres rurais ampliar capacitações, exercer escolhas e realizar funcionamentos. A partir dos resultados sobre vulnerabilidade e pobreza frente aos vetores de mudança (mudança climática, mudança demográfica, mudança na estrutura dos mercados, mudança no ambiente institucional) deve-se pensar em instrumentos diferenciados, complementares, cada um com seus alcances e limitações, mas todos agindo sobre a redução das vulnerabilidades, na criação e ampliação das oportunidades (WAQUIL, 2013, p. 391).

Compreende-se, neste trabalho, que o desenvolvimento rural é constituído por práticas e abordagens em constantes redefinições, pois é inerente à dinâmica social que ocorram mudanças em relação a mercados, relações políticas, sociais, culturais, etc. Para a compreensão da realidade social a que se pretende investigar e/ou intervir, é necessário esse movimento conjunto de (re)análises.

O espaço e/ou território também se modificam, transformando relações entre urbano-rural. Para compreender essas dinâmicas, as abordagens teóricas devem se apresentar de forma a contribuir para a leitura da realidade. Pesquisadores, mediadores e/ou técnicos precisam ter em mente que é o campo empírico que aponta as abordagens mais apropriadas de análise.

2.3 Educação do campo: redistribuição e reconhecimento frente às