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CAPÍTULO IV DESMATERIALIZAÇÃO DOS TÍTULOS DE CRÉDITO

4.3 Desenvolvimento do sistema bancário

A atividade bancária trabalha basicamente com duas matérias-primas: dinheiro e informação. Nos dias de hoje é impossível falar-se em transação bancária sem pensar em tecnologia e informação. As atividades realizadas pelos bancos ocorrem sem a movimentação da moeda, há apenas a operação de créditos e débitos entre os clientes e a instituição financeira. Esta inovação tecnológica trouxe mais agilidade e veio ao encontro dos anseios dos clientes, além de baratear os custos, objetivo principal do sistema capitalista: maior lucro com maior agilidade e facilidade na manipulação e armazenamento da informação.

O setor bancário foi sem dúvida o que mais investiu em tecnologia de ponta, visando inicialmente a redução dos custos que as máquinas propiciariam através da eliminação de fichas de clientes, armários para arquivamento e, conseqüentemente, redução de pessoal. Aliado a isto, as instituições financeiras

perceberam que os investimentos em tecnologia tornavam os bancos mais competitivos.

A informática é uma realidade vivida por todos e aos poucos vem modificando a vida das pessoas em vários aspectos. Os bancos foram os primeiros e os que mais investiram nesta nova tecnologia, realizando grandes mudanças nos serviços oferecidos, objetivando processar as informações de forma automática e otimizar a administração.

Fator de grande importância na implementação de serviços especializados, a informática tem sempre o objetivo de diminuir a burocracia no setor, reduzir custo nas operações financeiras e maior agilidade nos serviços oferecidos. Estas foram as justificativas apresentadas pelos bancos para os pesados investimentos em automação.

O final do século XX, aproximadamente na década de 80, assinalou uma corrida das instituições financeiras em direção à automação de seus serviços. “Até dezembro de 1982, segundo dados operados pelo BCN (Servel Assessoria Sistema e Métodos Ltda.), 397 agências já tinham equipamentos on-line implantados e mais de 602 agências com implantação de sistemas controlados” (TANAKA, 1999, p. 54). Estes dados representam muito pouco, se comparado com o número total de postos de atendimento bancário espalhados pelo país, em torno de 15 mil.

Segundo dados desta mesma fonte, entre as dez maiores instituições financeiras estatais e privadas, apenas uma ainda não tinha optado pela automação. Atualmente, 100% de nossas agências trabalham de forma automatizada. Esta é uma realidade irreversível.

Com o chamado home banking, considerado nos dias de hoje a última invenção em tecnologia bancária, o cliente pode realizar via internet qualquer

transação: efetuar depósitos, pagar contas, transferir valores, consultar saldo etc., a qualquer hora do dia ou da noite, sem necessidade de se dirigir à agência. Este novo sistema permite aos clientes livrarem-se de filas, além da vantagem de realizar transações com um banco de qualquer lugar, e em qualquer hora, bastando dispor de um computador e uma linha telefônica para se colocar em rede mundial. Para as instituições financeiras é a oportunidade de evitar abertura de mais agências, com o conseqüente aumento de pessoal e despesas.

O que levou os bancos a investirem em tecnologia da informação? A resposta é clara: este processo evolutivo teve seu início aproximadamente em 1980, época da maior inflação de toda nossa história. Devido a este período hiperinflacionário, havia necessidade de mais agilidade no processamento das transações, pois cada dia de atraso representava uma perda muito grande de capital investido. Isto levou o Brasil a ter um dos sistemas bancários mais informatizados do mundo, fazendo com que figurássemos entre os cincos maiores países a oferecer serviços via internet.

Outro exemplo do desenvolvimento bancário é o uso dos cartões magnéticos, com os quais se efetuam diversas operações, entre elas os pagamentos e transferências de valores, atividades muito utilizadas em diversos setores da economia. Com esta prática o uso de cheques em papel teve uma queda acentuada.

Wille Duarte Costa (1997, p.161) sintetiza muito bem as facilidades dos usuários do sistema bancário brasileiro:

Hoje, não há mais necessidade de um cheque, devidamente preenchido e assinado, para sacar dinheiro em banco. Basta possuir um simples cartão magnético ou cartão de crédito e, de qualquer lugar, a qualquer hora, próximo ou não do banco, até mesmo de outra cidade no país ou no exterior, você poderá sacar valores de sua conta, sem ter que assinar qualquer documento, qualquer papel, qualquer título de crédito. As transferências de valores de uma para outra pessoa e inúmeras outras operações podem ser realizadas

com os mesmos cartões e até sem eles, pelo uso de códigos e senhas fornecidos pelos bancos. Muitas dessas operações de crédito são feitas pelos programas (softwares) chamados home banking que são oferecidos a quem tem um computador e um modem nele ligado.

Nesta dissertação, será enfatizada a questão da cobrança bancária de duplicatas, que é uma prática muito comum no Brasil. Todos os bancos possuem um serviço de cobrança escritural, em que o credor transfere, por meio informatizado, os dados referentes às duplicatas a serem cobradas. Esta prática é muito utilizada e incentivada pelas instituições que oferecem tarifas menores do que as convencionais e até computadores para que as empresas possam aderir a este sistema.

As formas de negociação de duplicatas entre emitentes sacadores e os bancos são várias, porém a mais comum é o desconto direto, onde o emitente sacador entrega a duplicata ao banco, transferindo-lhe o domínio pleno do título. Outra modalidade é a entrega do título ao banco para cobrança simples, mediante o endosso mandato, onde o banco funciona como simples cobrador.

Este tipo de negociação entre os bancos e os empresários justifica-se pelo barateamento dos custos operacionais, pela comodidade e segurança que o sistema oferece, além das redes bancárias atingirem todo o território nacional.

No decorrer do tempo a duplicata passou a ser o principal instrumento de acesso ao mercado de crédito bancário, a ponto de ser considerada pelas autoridades monetárias como a mais adequada a este tipo de operação; é o único título que admite o redesconto. Alguns autores a consideram quase que exclusivamente para uso de crédito bancário.

Os bancos intensificaram suas operações comerciais eletrônicas visando libertar-se da tirania do papel. O objetivo neste trabalho não é fazer apologia do setor bancário, que sempre teve, e continua tendo, uma conduta reprovável, mas demonstrar seu desenvolvimento e a influência que exerceu no fenômeno da

desmaterialização dos títulos de crédito. As atividades informatizadas das instituições financeiras atingiram todos os segmentos da sociedade, dos mais simples aos mais sofisticados usuários e consumidores.