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DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO NO CAPITALISMO DE ONTEM E DE HOJE: RUMO À SUPERAÇÃO DO TRABALHO?

A tecnologia, pelo que apontamos no capítulo anterior, não é neutra. Ao ser inserida no processo de trabalho capitalista, ela cumpre a função de potencializar a extração do trabalho excedente. Os donos dos meios de produção incentivam os aperfeiçoamentos tecnológicos visando obter maior lucratividade possível, acelerando a produção de mercadorias e a acumulação de capital.

Considerando isso, nesse segundo capítulo a exposição avança para a análise do desenvolvimento tecnológico aplicado ao processo de trabalho em contextos históricos distintos: na vigência do padrão produtivo taylorista-fordista e, em seguida, do toyotismo. Esse caminho analítico se faz necessário para demonstrar que, ainda que os inventos tecnológicos avancem significativamente, exigindo um quantitativo ainda menor de trabalhadores ocupados com a produção, eles não superam a necessidade do trabalho. O trabalho, pelo que vimos no item 2.1, não pode ser extinto da sociedade, sob pena de esta última deixar de existir. Já o trabalho abstrato, alienado, este sim, pode e deve deixar de existir, junto com o tipo de sociedade que o criou, a do capital.

3.1 A aplicação da tecnologia no trabalho rígido

O objetivo dos capitalistas, pelo já exposto, é a obtenção de mais-valia. Por meio da elevação da produtividade ele obtém mais lucro. Para garantir a reprodução ampliada do capital, o capitalista não pode gastar todo seu lucro com despesas pessoais. Parte da mais-valia se destina a estas despesas e outra parte deve ser reinserida em outros processos de trabalho, sendo utilizada “para ampliar a escala da sua produção de mercadorias (aquisição de máquinas novas, contratação de mais força de trabalho, etc.)” (PAULO NETTO; BRAZ, 2009, p. 125).

O capitalista investe dinheiro visando obter mais dinheiro. Ao obtê-lo, novamente se coloca a necessidade de mais dinheiro e, assim, sucessivamente. Nessa busca, o capitalista se utiliza dos avanços tecnológicos para diminuir o tempo de trabalho socialmente necessário e ampliar o tempo de trabalho excedente. Com meios de trabalho mais sofisticados, substituindo- se equipamentos e instalações antigas por outras novas, o trabalhador está em condições de

produzir mais em menos tempo. Esta dinâmica que marca toda a história do capitalismo, à certa altura possibilita que o capitalista concentre em suas mãos um montante de capital, obtendo posição de destaque na concorrência com outros capitalistas. Aqueles capitalistas que não incorporam os avanços técnicos não conseguem acumular crescentemente massas de capital, sendo derrotados e afastados dos principais negócios.

O processo de acumulação de capital estimula, e ao mesmo tempo, é estimulado pelas inovações tecnológicas, pois elas permitem aos capitalistas reduzir os custos da produção, ampliando os lucros tão almejados. Historicamente, os capitalistas introduzem estratégias para organizar a produção com base em métodos científicos, visando eliminar os desperdícios e aperfeiçoar a exploração do trabalhador com o auxílio da tecnologia. O taylorismo-fordismo, modelo de produção vigente no Segundo pós-guerra, é exemplo dessas estratégias.

O taylorismo se trata de um conjunto de diversas técnicas que estimularam o aumento da produtividade. O seu grande representante é Frederick Winslow Taylor26, um jovem de família estadunidense que possuía um poder aquisitivo relevante, mas decidiu abandonar a universidade e trabalhar em uma fábrica de familiares de seus pais. Através das experiências diárias, Taylor desenvolveu a sua teoria da administração científica, a qual “tenta aplainar ainda mais o caminho dos capitalistas no universo fabril mediante a elaboração dum estudo específico sobre a cronometragem do tempo de trabalho e o estabelecimento dos aspectos metodológicos visando sua implementação” (SANTOS NETO, 2013, p. 111).

Taylor criou diversos procedimentos metodológicos e diretrizes político-ideológicas para alcançar seus objetivos, dentre as quais se destaca o estudo dos tempos e dos movimentos. Nele, observa-se o trabalhador, os seus movimentos, o tempo gasto para o desempenho das funções produtivas, tirando-se algumas conclusões. Na sequência, testa-se uma nova forma de produção com o operário, tendo em vista a redução daquele tempo e, por conseguinte, o aumento do lucro pelo capitalista. Segundo Santos Neto (2013), a racionalização da produção proposta por Taylor visou o aprofundamento do processo de expropriação do tempo de trabalho que o trabalhador é obrigado a oferecer gratuitamente ao capitalista, o qual exige o aprimoramento dos ponteiros dos relógios e o aperfeiçoamento do maquinário.

26 Outros autores da época como, Frank Gilbret, Lilian Gilbreth e Henry Gantt, também possuem contribuições na

Mediante seus estudos observatórios associados a métodos científicos, Taylor conseguiu definir um tempo-padrão27, sendo esse tempo rigidamente controlado por via de um cronômetro inserido nas fábricas. O tempo-padrão taylorista pôde trazer duas consequências:

[...] a produção-padrão de uma turma de trabalhadores, operando-se a quantidade de horas/homens (h/h) pelo tempo-padrão e o homem de primeira ordem, trabalhador mais produtivo, que geralmente ultrapassa a produção média, e que serve como exemplo para o treinamento dos demais (SOUZA FILHO; GURGEL, 2016, p. 89, grifos dos autores).

Essa figura de homem de primeira ordem não é algo do passado. Ao contrário, ela existe até hoje, se observarmos as grandes empresas, sendo esse trabalhador fonte de inspiração para outros colegas, fator que faz com que as instituições empregatícias até estimulem competições entre eles para selecionar aquele “mais produtivo”. Alguns trabalhadores, pelo perfil e pelo desempenho, conforme os interesses do capitalista empregador, passam a ser exemplos para os demais, ganhando posição de destaque na fábrica e recebendo uma recompensa sob a forma remuneratória de gratificações.

A ciência de Taylor, servindo à classe dominante, oculta a existência dos antagonismos decorrentes da existência das classes sociais. Para ele,

[...] a administração científica tem, por seus fundamentos, a certeza de que os verdadeiros interesses de ambos [capitalista e trabalhador] são um, único e mesmo: de que a prosperidade do empregador não pode existir, por muitos tempos, se não for acompanhada da prosperidade do empregado, e vice-versa, de que é preciso dar ao trabalhador o que ele mais deseja – altos salários –, e ao empregador também o que ele realmente almeja – baixo custo de produção (TAYLOR, 1985, p. 30).

A redução do tempo de trabalho socialmente necessário foi posta por Taylor como uma necessidade devido ao hábito de muitos trabalhadores fazerem “cera”, deixando de produzir o esperado por quem o contratou. O trabalhador, constata o autor, “vem ao serviço, no dia seguinte, e em vez de empregar todo o seu esforço para produzir a maior soma possível de trabalho, quase sempre procura fazer menos do que pode realmente – e produz muito menos do que é capaz” (TAYLOR, 1985, p. 32). Daí ser preciso controlar ao máximo os trabalhadores, aplicando métodos que eliminem, de uma vez por todas, os intervalos entre uma operação e outra, aspecto que termina por gerar prejuízos para os capitalistas ao decrescer a produtividade.

27 É “aquele tempo considerado como melhor tempo obtido pelos movimentos racionalizados para a produção de

Taylor propõe que todo o tempo do trabalhador esteja destinado à produção. O trabalho deve ser organizado no interior da fábrica de tal modo que “os homens possam executar em ritmo mais rápido e com maior eficiência os tipos mais elevados de trabalho” (TAYLOR, 1985, p. 31). Eliminando a “cera”, ao fazer com que o trabalhador execute suas tarefas da melhor forma e mais rapidamente possível, a produção aumentaria, segundo o autor, em média, o dobro.

A convivência diária com os operários fez Taylor perceber que

[...] essa “queima” de tempo não se devia somente às condições técnicas em que eram realizadas as tarefas, mas que os trabalhadores desenvolviam seus macetes (e os utilizavam junto aos deslocamentos no espaço fabril etc.) justamente como forma de controlar o tempo em que trabalhavam e, dessa forma, proteger seus conhecimentos e seus salários, frente a uma produtividade em expansão advinda do emprego crescente da maquinaria que, pouco a pouco, tornava cada vez mais escassa a necessidade de trabalho humano na produção. Enfim, era uma forma de conservar a necessidade dos empregadores de mantê-los na ativa, controlando o tempo de trabalho minimamente necessário desempenhado na produção das mercadorias (PINTO, 2007, p. 21).

O controle do tempo de trabalho minimamente necessário desempenhado na produção das mercadorias foi exercido pelos supervisores28 da fábrica, inclusive recursando à

cronometragem de cada movimento. Os supervisores chegaram a definir um tempo que seria ideal para a produção de determinado artigo. Os operários, por sua vez, tinham que trabalhar incansavelmente, o que trouxe como consequência inevitável a queda do seu rendimento. Esta constatação despertou curiosidade em Taylor e, mediante estudos, o autor descobriu o causador dessa consequência: a exaustão da jornada de trabalho acarretava em fadiga para o trabalhador. No taylorismo, para evitar o desperdício de tempo e racionalizar o processo de trabalho, pensar, planejar, estudar e dirigir eram tarefas exclusivas de alguns trabalhadores especializados e integrados à gerência científica. Esta gerência reunia os conhecimentos adquiridos pelo trabalhador na sua trajetória laboral e o transformava em leis, fórmulas, regras que determinavam o que deveriam e como deveriam realizar. Aos trabalhadores do “chão da fábrica”, cabia apenas o fazer, a execução, limitando à linha de montagem e sendo excluído das funções de planejamento. Desse modo, existia uma clara subdivisão das funções que “possibilitaria a cada responsável o seu cumprimento completo, sem que lhe fosse necessário acumular conhecimentos e habilidades além de um nível mínimo” (PINTO, 2007, p. 23).

28 O taylorismo pregava que “Não basta existir um chefe de turma, que comanda os trabalhadores. É preciso haver

uma supervisão, oriunda da alta administração, a administração tout court, uma supervisão especializada para acompanhar e garantir que o processo de produção transcorra como planejado” (SOUZA FILHO; GURGEL, 2016, p. 90, grifos dos autores).

Os trabalhadores recebiam o apoio da gerência e realizavam justamente o que se mandava, sem reclamar. A capacidade criativa e cognitiva deles deveria ser deixada de lado quando fossem executar aquilo que era previamente planejado por um seleto grupo de trabalhadores. Quando vigorou e se complexificou essa divisão de tarefas, não se estimulava mais o “sistema de administração por iniciativa e incentivo” (TAYLOR, 1985, p. 56).

O principal idealizador do taylorismo, defendendo que, na maioria dos casos, “um tipo de homem é necessário para planejar e outro tipo, diferente, para executar o trabalho” (TAYLOR, 1985, p. 50), destaca a existência de critérios de promoção para os trabalhadores que cumprissem o mais rápido possível suas tarefas. Assim diz ele:

Na tarefa é especificado o que deve ser feito e também como fazê-lo, além do tempo exato concebido para a execução. E, quando o trabalhador consegue realizar a tarefa determinada, dentro do tempo-limite específico, recebe aumento de 30% a 100% do seu salário habitual (TAYLOR, 1985, p. 51).

Taylor também observou que as ferramentas de trabalho influenciam em grande medida no rendimento da produção. Portanto, a sua conclusão é de que a produtividade seria satisfatória caso a habilidade do trabalhador e as ferramentas se “conectassem” a todo instante, de modo que uma auxiliasse a outra, cabendo ao trabalhador depositar toda a sua capacidade intelectual, física e psíquica na produção, realizando as tarefas no menor tempo possível. Os instrumentos de trabalho passaram a ser padronizados, ficando sob a posse do trabalhador que desenvolvia a função que demandava aquela ferramenta específica. Observou- se a substituição do ferro pelo aço e do vapor pela eletricidade. Desenvolveram-se máquinas automáticas; ocorreram transformações no setor de transporte e de comunicação; expandiu-se a industrialização. Tudo isso de modo a garantir o aumento da produtividade a partir do rendimento máximo do trabalhador que atuava orientado pelas normas científicas. O taylorismo propunha o “estudo da velocidade adequada para realizar o trabalho e [a] remodelação de instrumentos e métodos na fábrica” (TAYLOR, 1985, p. 95, grifos nossos).

Ainda nos reportando aos métodos de Taylor com o objetivo de elevar a produtividade, podemos pontuar o “sistema de remuneração por peça”, definido como:

[...] uma das formas de remuneração da força de trabalho. Várias formas são usadas na vida das empresas e da produção ou serviço. Diárias, empreitadas, salário mensal, remuneração por peça etc. Nesse último caso, eleito por Taylor como a melhor opção, trata-se de uma forma de remuneração em que o pagamento se efetiva pela quantidade de peças produzidas, cujo custo é pré-fixado. Se uma peça vale R$ 1,00, significa dizer que ao final de uma jornada de trabalho em que o trabalhador produziu 50 peças, sua remuneração será R$50,00. É evidente que a natureza da tarefa pode dificultar a

definição do que seja uma peça. Ou dificultar a fixação do custo de uma unidade de serviço. Tomemos, por exemplo, um trabalhador da manutenção de um prédio. Ele poderá ser chamado a atender casos diferenciados, como um problema no sistema elétrico, ou no sistema hidráulico, ou relativo ao fornecimento de gás, ou ainda relacionado com uma parte da alvenaria do prédio destruída por acidente, enfim, tipos diversos de atendimento. Nesse caso, seriam fixados variados valores de acordo com a complexidade ou peso ou risco da tarefa (SOUZA FILHO; GURGEL, 2016, p. 91).

O trabalho por peça e a consequente remuneração por objeto produzido é uma das formas mais degradantes de trabalho, pois o trabalhador necessita produzir em grande quantidade para obter um salário considerável, sem contar que a perfeição no acabamento da peça também contava para a definição dos valores a serem recebidos. Essa forma de trabalho, bem como as longas jornadas, os baixos salários e a precarização do trabalho foram duramente criticadas pelos sindicatos29 e seus dirigentes. Porém, diante da existência do contingente de desempregados, os trabalhadores empregados se sentiram ameaçados por parte dos capitalistas. O exército industrial de reserva condicionou a aceitação das imposições, uma vez que o desemprego seria pior para o trabalhador. Esse exército também permitiu ao capitalista selecionar os trabalhadores mais eficientes e demitir os que não alcançavam os seus objetivos.

Ao serem contratados, os trabalhadores recebiam a informação de que deveriam obedecer as instruções e aceitarem o que era imposto. Caso contrário, seriam substituídos imediatamente. A palavra de ordem nas fábricas passou a ser demissão daqueles que se recusassem à executar o trabalho tal como fora planejado pelo setor da gerência. O autoritarismo era imposto ao “despedir os mais obstinados, baixar o salário daqueles que se recusavam a melhorar a produção, reduzir o preço do trabalho por peça, admitir operários novos...” (TAYLOR, 1985, p. 59). O trabalhador que questionava e tomava iniciativa própria deveria ser substituído, passando a integrar o exército industrial de reserva e tendo sua reprodução social incerta, caso não encontrasse outro posto de trabalho.

O taylorismo, propondo a racionalização da produção, associou-se ao modelo produtivo fordista. Henry Ford, seu idealizador, foi um engenheiro mecânico estadunidense que planejou técnicas produtivas na Ford Motor Company, uma indústria automobilística em que era proprietário e tinha grande renome naquela época. Assim como Taylor, Ford também teve a

29 Diante das estratégias patronais de desmobilização, “O desmonte dos sindicatos combativos acabou sendo

seguido pela constituição de sindicatos obedientes aos preceitos da necessidade de administrar o capital e obter conquistas para os operários no interior do sistema instituído. Indubitavelmente, o decorrer do século XX é a história da integração da subjetividade operária aos preceitos da ascensão social no interior do capitalismo. Isso implica reconhecer que o taylorismo serviu como instrumento poderoso no front da luta de classes e impediu que os trabalhadores visualizassem qualquer horizonte de superação do sistema do capital” (SANTOS NETO, 2013, p. 129, grifo do autor).

experiência de operário. Com 16 anos, ele foi trabalhar na condição de aprendiz de operador de máquinas, primeiro na empresa James F. Flower & Bros e, mais tarde, na Detroit Dry Dock Co.Aos 19 anos de idade, Ford entrou para a Companhia Westinghouse, atuando no conserto e na montagem de locomóveis a vapor. Em seguida, trabalhando como mecânico das oficinas da Eagle Motor Works, em Detroit, seu interesse se concentrou nos motores a explosão. Em 1887, Ford já havia construído seu primeiro motor desse tipo, movido à gasolina.

Em 1913, Ford valeu-se da tecnologia e introduziu a linha de montagem, uma espécie de “estrada móvel”, conseguindo alcançar o aumentar a produtividade, produzindo automóveis em menos tempo (de 12,5 horas passou-se para apenas 93 minutos) e a um menor custo. Embora o trabalho organizado por partes já existisse e a linha de montagem em movimento tivesse operado transformações na indústria embaladora de carne nas cidades de Chicago e Cincinnati, ambas localizadas no norte dos Estados Unidos, Ford adaptou-a a produções complexas. A linha de montagem,

[...] que Ford chamava de “estrada móvel”, consistia de uma esteira rolante, comandada automaticamente, onde se punha um chassis sobre o qual incidiam os vários operários colocados ao longo da esteira. A chave técnica da questão estava em impor um ritmo comum a todos os trabalhadores, que com operações muito simples, colocavam-se na exata posição a que Marx denominou “apêndice da máquina” (SOUZA FILHO; GURGEL, 2016, p. 91).

Antes da criação da linha de montagem, que reorganiza o trabalho e revoluciona seus instrumentos, os trabalhadores participavam da produção por inteira. Na produção de automóveis, fabricavam os rolamentos de esfera e os eixos diferenciais, afirmando-se como mecânicos qualificados e artesãos da máquina-ferramenta. Planejavam a produção, resolviam problemas de design construíam os carros inteiros. Inexistia um setor dentro da empresa que planejasse o que iria acontecer no processo de trabalho; o planejamento era propriedade dos trabalhadores, administradores do seu tempo, fato esse que muda literalmente os preceitos do taylorismo, agora agregados à produção fordista.

Com a linha de montagem, desenvolvendo-se a produção em série, vários operários especializados em diversas funções específicas e repetitivas, trabalham, com a ajuda de máquinas, de forma sequencial, chegando-se a um produto semiacabado ou acabado. Enquanto o operário ficava praticamente parado, os veículos eram montados em esteiras rolantes que se movimentavam. Objetivava-se, com a linha de montagem fordista, a eliminação dos movimentos desnecessários: o objeto de trabalho chegava até o operário, em vez de ele ir

buscá-lo. Cada operário encarregava-se apenas de uma operação simples ou de uma pequena etapa. O trabalho realizado por um era complementado pelo trabalho do operário seguinte.

Henry Ford conseguiu desenvolver a maquinaria, sendo possível a produção em grande escala e o trabalho com produtos padronizados. Seu maior objetivo era a produção de tantas unidades de um mesmo veículo quanto fosse possível. Pinto (2007, p. 30), analisando o fordismo, afirma que a ideia básica de Ford era a seguinte: “padronizando os produtos e fabricando-os numa escala imensa, da ordem de centenas ou milhares por dia, certamente os custos de produção seriam reduzidos e contrabalançados pelo aumento do consumo”; proporcionando, para os trabalhadores, “a elevação da renda em vista dos melhores salários que poderiam ser pagos em função do aumento das vendas e, portanto, dos lucros empresariais”.

Com o fordismo, a máquina é quem irá ditar toda a frequência da produção, cabendo ao trabalhador apenas a sua operacionalização. O trabalhador, cumprindo a disciplina rígida de trabalho imposta em moldes tayloristas, perde cada vez mais o controle sobre suas tarefas e sobre a produção. Trens carregados com peças chegavam até a Ford Motor Company, onde gruas30 as levavam por uma grande claraboia. Esteiras aproximavam as peças dos trabalhadores,

enquanto os carros eram retirados de um andar a outro. Na produção em massa,

[...] o sistema taylorista foi incorporado e desenvolvido pelos dispositivos organizacionais e tecnológicos fordistas, na medida em que, no lugar dos homens responsáveis pelo deslocamento dos materiais e objetos de trabalho, máquinas

automáticas passaram a se encarregar por tal, suprindo o trabalho humano numa

produção cuja cadência contínua impunha uma concentração dos movimentos dos trabalhadores somente dentro do raio de ação que efetivamente transformava as matérias-primas em produtos acabados (PINTO, 2007, p. 32, grifos nossos).

O Ford Model T, apresentado em 1 de outubro de 1908, tinha muitas inovações importantes, como o volante no lado esquerdo, modelo logo copiado por todas as outras companhias. Tecnologicamente falando, seu motor e o câmbio eram totalmente fechados. Os 4 cilindros eram fundidos em um bloco sólido e a suspensão usava duas molas semielípticas. O carro, devido a essas inovações, era muito simples de se dirigir e, o mais importante, sua manutenção tornava-se barata, fatores que popularizaram o Ford Model T.

O modelo produtivo fordista conseguiu baratear o preço de algumas mercadorias, já que as peças da produção de um automóvel eram compradas em empresas especializadas diferentes que entregavam o objeto muito rápido, agilizando em grande medida a conclusão

30 As gruas são dispositivos de transporte vertical de materiais e componentes em canteiros de obra. A grande

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