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As sessões em grupo foram conduzidas a partir de um roteiro inicial previamente elaborado que foi adaptado de acordo com as manifestações e solicitações do grupo.

Todas as sessões foram conduzidas pela pesquisadora, que assumiu o papel de mediadora do grupo.

6. 1. Sessões iniciais (1ª, 2ª e 3ª sessões)

As três primeiras sessões da oficina incluíram, inicialmente, atividades que permitissem a integração do grupo e a compreensão dos objetivos dos encontros. A mediadora direcionou o grupo de forma mais intensa nesse primeiro momento, sugerindo pontualmente as atividades, até para que os próprios membros pudessem ir se situando. Os membros participantes foram orientados pela mediadora acerca da dinâmica do grupo que estava tendo início, seus objetivos e propósitos, tendo em vista a colaboração com a aprendizagem das crianças. Primeiramente, houve a apresentação da mediadora ao grupo e dos membros uns aos outros. Foram realizadas atividades iniciais de reflexão sobre a aquisição e desenvolvimento da leitura/escrita pelas crianças/adolescentes. Os pais/responsáveis, por meio de uma dinâmica proposta pela pesquisadora, participaram de um sorteio no qual todos eles retiraram nomes de diferentes meios de comunicação escrita contidos nos papéis a serem sorteados, e puderam, desta forma, expor suas vivências e experiências relacionadas aos respectivos meios de comunicação sorteados, experiências estas envolvendo somente eles mesmos ou também os seus filhos. Os pais colocaram em pauta assuntos como a linguagem escrita na Internet e seus prejuízos à aprendizagem das crianças, a questão do escrever x digitar, o quanto a atualidade eliminou meios de comunicação da sociedade, como a carta, por exemplo; assim como expuseram materiais cuja leitura se constitui como algo agradável a eles, como a Bíblia, jornais, revistas de notícias do mundo artístico, rótulos de alimentos (em busca de seus valores nutricionais e

números telefônicos de atendimento ao consumidor) e o próprio Código de Defesa do Consumidor. Com esses relatos, os participantes puderam narrar fatos ocorridos no passado, o que gerou, além de uma análise do mundo escrito (mesmo sem a presente consciência e intenção), uma familiarização inicial entre os participantes da oficina. Isso permitiu a emergência de assuntos referentes à leitura/escrita, à família e à relação entre ambas.

6. 2. Esclarecimento de dúvidas dos participantes acerca das dificuldades das crianças (continuação da 3ª sessão)

Em uma segunda atividade proposta pela mediadora, que ocorreu no terceiro encontro da oficina, após o término da primeira proposta realizada, houve a abertura para discussão de questões a respeito das crianças e suas dificuldades. Temas como Hiperatividade e Dislexia, alvo de controvérsia entre estudiosos e leigos, geraram muitos questionamentos por parte dos familiares. Esse espaço para esclarecimento de dúvidas, criado pela pesquisadora e direcionado totalmente pelas indagações dos participantes, foi responsável pelo estabelecimento de maior contato entre os participantes e destes com a mediadora, além de fornecer informações importantes e necessárias de forma direta aos pais/responsáveis. Essa atividade permitiu criar, no grupo, um clima de abertura e confiança para partilhar dificuldades, sentimentos e dúvidas, sendo que os participantes sentiram-se à vontade inclusive para expor suas maiores angústias de forma bastante aberta diante da pesquisadora e do grupo, sem dificuldades de entrosamento. Desta forma, mais uma vez caracterizou-se o ambiente desejado no grupo pela mediadora, com o oferecimento aos/pelos participantes de um espaço propício para o alcance dos objetivos da pesquisa.

6. 3. Desenvolvimento de um Projeto envolvendo leitura e escrita (4ª a 13ª sessões)

A terceira proposta oferecida pela mediadora foi a de desenvolvimento de um Projeto, que envolvesse o planejamento e a execução de alguma atividade conjunta pelo

grupo. O Projeto ficou a critério do grupo, sem a intervenção da pesquisadora na decisão dos participantes. Ela assumiu, nesse momento, o papel de coordenar o grupo. Essa proposta teve início ao quarto encontro da oficina e se estendeu por 10 sessões.

Os pais/responsáveis optaram pela realização de um projeto cujo produto final fosse voltado para as crianças, como forma de presenteá-las no fechamento do semestre em andamento, que coincidiria com o momento do encerramento do grupo em questão, uma vez que o espaço do grupo, para eles, era entendido como uma forma de trazer algum benefício ou estímulo lingüístico aos filhos, que lá estavam sendo acompanhados no mesmo momento dos encontros do grupo. A pesquisadora sugeriu - como forma de suscitar as primeiras idéias nos participantes - a elaboração de um livro de receitas (voltado aos próprios pais/responsáveis ou às crianças), a execução de um livro de histórias ou poemas, a realização de uma peça teatral (com texto e enredo montado pelos participantes), a montagem de gibis ou jornais, dentre outras idéias surgidas no momento da conversa com os membros do grupo.

Os participantes decidiram, após diferentes sugestões e conversas entre eles, confeccionar uma espécie de almanaque, ou seja, uma pasta constante de atividades diversificadas, elaboradas por eles próprios. Os pais/responsáveis agruparam-se, por opção, em trios de livre escolha para a execução das atividades, alegando que agrupados em trios teriam uma maior facilidade para elaboração e realização das atividades do que reunidos em um número maior, assim como individualmente ou somente em duplas. Um primeiro trio optou inicialmente por realizar a montagem de quebra-cabeças para todas as crianças com rótulos/embalagens de alimentos. A dificuldade encontrada pelos membros do trio na colagem efetiva dos rótulos em papel cartão, uma vez que estes não ficaram fixos, descolando-se facilmente, fez com que eles abandonassem essa idéia. Posteriormente, e após discussões e análises feitas pelos participantes, este mesmo grupo definiu que os quebra-cabeças seriam realizados com figuras de revistas coladas em papel cartão e caixas de calçados infantis, como forma de suporte, e seriam previamente selecionadas de acordo com alguns critérios (figuras contendo imagens e escritos grandes, que permitissem a separação das letras das palavras no recorte das peças, assim como a não identificação imediata da imagem completa).

Um segundo trio se responsabilizou pela elaboração de histórias em quadrinhos totalmente remontadas, recriadas e reescritas pelos seus membros, com base nas ilustrações de histórias já existentes da Turma da Mônica. As figuras seriam reaproveitadas e tudo seria colado em papel cartão ou sulfite.

Um terceiro trio optou pela montagem de um mini-livro ilustrado, confeccionado em papel cartão, contando a história do personagem Gato de Botas. Duas participantes ingressaram na oficina posteriormente, e preferiram formar uma dupla a se inserirem em trios já montados. Esta dupla criou um livro de histórias para desenhar envolvendo personagens do Folclore. O referido livro apresentava a história escrita, seguida de espaço em branco livre para a realização do desenho referente ao trecho narrado.

A opção dos participantes de realizarem atividades voltadas às crianças, de caráter totalmente lúdico, pode também ser vista e analisada como uma maneira de buscar atividades agradáveis em sua execução, como a montagem de histórias em quadrinhos, jogos como quebra-cabeças, atividades envolvendo pinturas e colagens, dentre outras formas viáveis de criar um ambiente para eles ameno, deleitoso, e até mesmo divertido. Isso nos permite concluir que as escolhas dos participantes não foram meramente realizadas ao acaso.

6. 4. Proposta de leitura conjunta entre os participantes (14ª sessão)

Após a execução das tarefas referentes ao projeto, foi programada pela mediadora a quarta proposta, que consistiu em uma atividade de leitura, com o objetivo de tornar explícitos os sentimentos e emoções relacionados a essa realização. Essa proposta ocorreu durante um encontro. Os textos selecionados para esta atividade o foram feitos com o intuito de reservar certa dificuldade na leitura propriamente dita e em sua compreensão pelos membros da oficina, visando com que estes se deparassem com a complexidade que pode reservar para eles uma atividade de leitura, tanto no vocabulário como no contexto de interpretação.

A atividade consistiu na realização de leitura oral mediada pela pesquisadora, leitura oral realizadapelos participantes e de forma revezada entre eles, e leitura silenciosa realizada por todos. Inicialmente, para o primeiro texto proposto, de Marcos Rey, intitulado “O coração roubado”, diante das opções de leitura oferecidas pela mediadora, os participantes optaram de maneira unânime pela leitura realizada oralmente por esta, tendo todos se manifestado verbalmente, referindo prontamente esse desejo. Os participantes demonstraram preocupação quanto à quantidade de páginas do texto, temendo que o mesmo fosse extenso. Ouviram a leitura realizada pela mediadora, tendo, em sua maioria, evidenciado atenção à atividade realizada. Alguns participantes demonstraram imediata compreensão do conteúdo lido, sendo que outros referiram não haver entendido.

TEXTO 1. O coração roubado Marcos Rey

Eu cursava o último ano do primário e como já estava com o diplominha garantido, meu pai me deu um presente muito cobiçado: O coração, famoso livro do escritor italiano Edmondo de Amicis, best-seller mundial do gênero infanto-juvenil. Na página de abertura lá estava a dedicatória do velho, com sua inconfundível letra esparramada. Como todos os garotos da época, apaixonei-me por aquela obra-prima e tanto que a levava ao grupo escolar da Barra Funda para reler trechos no recreio.

Justamente no último dia de aula, o das despedidas, depois da festinha de formatura, voltei para a classe a fim de reunir meus cadernos e objetos escolares, antes do adeus. Mas onde estava O coração? Onde? Desaparecera. Tremendo choque. Algum colega na certa o furtara. Não teria coragem de aparecer em casa sem ele. Ia informar à diretora quando, passando pelas carteiras, vi a lombada do livro, bem escondidinho sob uma pasta escolar. Mas... era lá que se sentava o Plínio, não era? Plínio, o primeiro da classe em aplicação e comportamento, o exemplo para todos nós. Inclusive o mais limpinho, o mais bem penteadinho, o mais tudo. Confesso, hesitei. Desmascarar um ídolo? Podia ser até que não acreditassem em mim. Muitos invejavam o Plínio. Peguei o exemplar

e o guardei em minha pasta. Caladão. Sem revelar a ninguém o acontecido. Lembro do abraço que Plínio me deu à saída. Parecia estar segurando as lágrimas. Balbuciou algumas palavras emocionadas. Mal pude retribuir, meus braços se recusavam a apertar o cínico.

Chegando em casa minha mãe estranhou que eu não estivesse muito feliz. Já preocupado com o ginásio? Não, eu amargava minha primeira decepção. Afinal, Plínio era um colega que devíamos imitar pela vida afora, como costumava dizer a professora. Seria mais difícil sobreviver sem o seu exemplo. Por outro lado, considerava se não errara em não delatá-lo. “Vocês estão todos enganados, e a senhora também, sobre o caráter do Plínio. Ele roubou meu livro. E depois ainda foi me abraçar...”

Curioso, a decepção prolongou-se ao livro de Amicis, verdadeira vitrina de qualidades morais dos alunos de uma classe de escola primária. A história de um ano letivo coroado de belos gestos. Quem sabe o autor não conhecesse a fundo seus próprios personagens. Um ingênuo como a nossa professora. Esqueci-o.

Passados muitos anos reconheci o retrato de Plínio num jornal. Advogado, fazia rápida carreira na Justiça. Recebia cumprimentos. Brrr. Magistrado de futuro o tal que furtara meu presente de fim de ano! Que toldara muito cedo minha crença na humanidade! Decidi falar a verdade. Caso alguém se referisse a ele, o que passou a acontecer, eu garantia que se tratava de um ladrão. Se roubava já no curso primário, imaginem agora... Sempre que o rumo de uma conversa levava às grandes decepções, aos enganos de falsas amizades, eu contava, a quem quisesse ouvir, o episódio do embusteiro do Grupo Escolar Conselheiro Antônio Prado, em breve desembargador ou secretário da Justiça.

- Não piche assim o homem – advertiu-me minha mulher. - Por que não? É um ladrão!

- Mas quando pegou seu livro era criança.

- O menino é o pai do homem – rebatia, vigorosamente.

Plínio fixara-se como um marco para mim. Toda vez que o procedimento de alguém me surpreendia, a face oculta de uma pessoa era revelada, lembrava-me

irremediavelmente dele. Limpinho. Penteadinho. E com a mão de gato se apoderando de meu livro.

Certa vez tomaram a sua defesa:

- Plínio, um ladrão? Calúnia! Retire-se da minha presença!

Quando o desembargador Plínio já estava aposentado, mudei-me para meu endereço atual. Durante a mudança alguns livros despencaram de uma estante improvisada. Um deles, O coração, de Amicis. Saudades. Havia quantos anos não o abria? Quarenta ou mais? Lembrei da dedicatória de meu falecido pai. Ele tinha boa letra. Procurei-a na página de rosto. Não a encontrei. Teria a tinta se apagado? Na página seguinte havia uma dedicatória. Mas não reconheci a caligrafia paterna.

“Ao meu querido filho Plínio, com todo amor e carinho de seu pai.”

Após a leitura e discussão realizadas entre a mediadora e o grupo acerca do primeiro texto lido, foi sugerida pela pesquisadora a leitura de um segundo texto. Os participantes acataram, porém com certa evidência de descontentamento e cansaço. Para o segundo texto oferecido, de título “Segurança” e de autoria de Luís Fernando Veríssimo, a pesquisadora solicitou que os participantes realizassem por si próprios a leitura, de forma oral revezada entre eles ou silenciosa. Estes optaram prontamente pela leitura silenciosa diante das opções oferecidas. Os membros do grupo, em sua maioria, evidenciaram uma leitura rápida, tendo todos referido que a leitura consistiu em uma tarefa fácil, e alegando que apresentaram total compreensão. Porém, diante da discussão realizada posteriormente ao término da leitura pelos participantes, foram observados comentários superficiais acerca do conteúdo do texto lido e a realização somente de recontagens orais do conteúdo da história.

TEXTO 2. Segurança Luís Fernando Veríssimo

O ponto de venda mais forte do condomínio era a sua segurança. Havia as belas casas, os jardins, os playgrounds, as piscinas, mas havia, acima de tudo, segurança. Toda a área era cercada por um muro alto. Havia um portão principal com guardas que controlavam tudo por um circuito fechado de TV. Só entravam no condomínio os proprietários e visitantes devidamente identificados e crachados.

Mas os assaltos começaram assim mesmo. Ladrões pulavam os muros e assaltavam as casas.

Os condôminos decidiram colocar torres com guardas ao longo do muro alto. Nos quatro lados. As inspeções tornaram-se mais rigorosas no portão de entrada. Agora não só os visitantes eram obrigados a usar crachá. Os proprietários e seus familiares também. Não passava ninguém pelo portão sem se identificar para a guarda. Nem as babás. Nem os bebês.

Mas os assaltos continuaram.

Decidiram eletrificar os muros. Houve protestos, mas no fim todos concordaram. O mais importante era a segurança. Quem tocasse no fio de alta tensão em cima do muro morreria eletrocutado. Se não morresse, atrairia para o local um batalhão de guardas com ordens de atirar para matar.

Grades nas janelas de todas as casas. Era o jeito. Mesmo que os ladrões ultrapassassem os altos muros, e o fio de alta tensão, e as patrulhas, e os cachorros, e a segunda cerca, de arame farpado, erguida dentro do perímetro, não conseguiriam entrar nas casas. Todas as janelas gradeadas.

Mas os assaltos continuaram. Foi reforçada a guarda.

Construíram uma terceira cerca. As famílias de mais posses, com mais coisas para serem roubadas, mudaram-se para uma chamada área de segurança máxima.

E foi tomada uma medida extrema. Ninguém pode entrar no condomínio. Ninguém. Visitas, só num local predeterminado pela guarda, sob sua severa vigilância e por curtos períodos.

E ninguém pode sair

Agora a segurança é completa. Não tem havido mais assaltos. Ninguém precisa temer pelo seu patrimônio. Os ladrões que passam pela calçada só conseguem espiar através do grande portão de ferro e talvez avistar um ou outro condômino agarrado ás grades da sua casa, olhando melancolicamente para a rua.

Mas surgiu outro problema.

As tentativas de fuga. E há motins constantes de condôminos que tentam de qualquer maneira atingir a liberdade. A guarda tem sido obrigada a agir com energia.

Os participantes realizaram, ainda, a leitura de um terceiro texto, de nome “O padeiro”, de autoria de Rubem Braga, sugerido pela mediadora, sendo que optaram novamente pela leitura silenciosa. Demonstraram bastante cansaço diante da proposta de realização da terceira leitura, evidenciando descontentamento e medo do teor e da quantidade do material a ser lido. Alguns membros do grupo, neste último texto, realizaram a leitura de maneira rápida, enquanto outros delongaram um pouco mais para a conclusão da atividade. Apresentaram nesta leitura, de forma geral, evidências de maior dificuldade de compreensão do conteúdo, sendo que alguns membros do grupo revelaram não haver entendido, enquanto outros (referindo apresentar entendimento e tentando auxiliar a compreensão dos demais) realizaram análises e inferências superficiais acerca do conteúdo abordado. Para que houvesse uma maior compreensão do terceiro texto, foi necessária a intervenção da mediadora, que explicou alguns aspectos do texto ao grupo.

TEXTO 3. O Padeiro Rubem Braga

Levanto cedo, faço minhas abluções, ponho a chaleira no fogo para fazer café e abro a porta do apartamento – mas não encontro o pão costumeiro. No mesmo instante me lembro de ter lido alguma coisa nos jornais da véspera sobre a “greve do pão dormido”. De resto não é bem uma greve, é um lock-out, greve dos patrões, que suspenderam o trabalho noturno; acham que obrigando o povo a tomar seu café da manhã com pão dormido conseguirão não sei bem o que do governo.

Está bem. Tomo o meu café com pão dormido, que não é tão ruim assim. E enquanto tomo café vou me lembrando de um homem modesto que conheci antigamente. Quando vinha deixar o pão à porta do apartamento ele apertava a campainha, mas, para não incomodar os moradores, avisava gritando: - Não é ninguém, é o padeiro! Interroguei-o uma vez: como tivera a idéia de gritar aquilo? ”Então você não é ninguém?” Ele abriu um sorriso largo. Explicou que aprendera aquilo de ouvido.

Muitas vezes lhe acontecera bater a campainha de uma casa e ser atendido por uma empregada ou outra pessoa qualquer, e ouvir uma voz que vinha lá de dentro perguntando quem era; e ouvir a pessoa que o atendera dizer para dentro: “não é ninguém, não senhora, é o padeiro”. Assim ficara sabendo que não era ninguém…

Ele me contou isso sem mágoa nenhuma, e se despediu ainda sorrindo. Eu não quis detê-lo para explicar que estava falando com um colega, ainda que menos importante. Naquele tempo eu também, como os padeiros, fazia o trabalho noturno.

Era pela madrugada que deixava a redação de jornal, quase sempre depois de uma passagem pela oficina – e muitas vezes saía já levando na mão um dos primeiros exemplares rodados, o jornal ainda quentinho da máquina, como pão saído do forno. Ah, eu era rapaz, eu era rapaz naquele tempo! E às vezes me julgava importante porque no jornal que levava para casa, além de reportagens ou notas que eu escrevera sem assinar, ia uma crônica ou artigo com o meu nome.

O jornal e o pão estariam bem cedinho na porta de cada lar; e dentro do meu coração eu recebi a lição de humildade daquele homem entre todos útil e entre todos alegre; “não é ninguém, é o padeiro!” E assobiava pelas escadas.

Alguns pais/responsáveis se queixaram de dificuldades de leitura referentes ao vocabulário dos textos lidos, mencionando a dificuldade de entendimento de algumas palavras apresentadas, tendo assim prejudicado, por conseqüência, e segundo eles, o processo de compreensão.

Durante a realização das três leituras, os participantes evidenciaram excessiva preocupação com a presença/ausência de figuras no texto, na tentativa de que o texto escrito a ser lido fosse reduzido, visando o breve fim da atividade. Os membros da oficina não realizaram nenhum tipo de associação do objetivo da presente atividade com as crianças, que vinham sendo sempre para eles (de forma geral) o foco principal da realização do grupo e dos encontros. Acreditaram tratar-se somente de uma atividade cansativa e sem ligação com seus filhos, não compreendendo seus reais objetivos, ou seja, propiciar a eles, participantes, a oportunidade de compreender as dificuldades também sentidas pelas crianças em uma atividade como a de leitura, assim como apresentar a idéia que é

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