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Desertos e Fenômenos de Desertificação

No documento suguio2008 (páginas 59-63)

Desertos e Fenômenos de Desertificação

Atribui-se comumente a designação de deserto a uma região caracterizada por baixa pluviosidade (200 a 300 milímetros por ano), onde se desenvolve vegetação rarefeita pertencente a poucas espécies, bem como animais pobres em espécies. Quatro tipos representativos de desertos podem ser reconhecidos. Em primeiro lugar tem-se os desertos de geleiras polares com frio intenso e recobertos por calotas glaciais. Por outro lado, por exemplo o Deserto de Gobi na China, caracterizado por baixa pluviosidade e alta temperatura no verão, situa-se em média latitude. Em terceiro lugar tem-se o deserto relacionado aos ventos alísios, que mostra baixa pluviosidade e alta amplitude térmica diária. A seguir existem os desertos litorâneos (ou costeiros) originados por influência de correntes oceânicas frias que fluem costa afora do Peru.

Em desertos polares glaciais de altas latitudes, toda a umidade acha-se congelada nas geleiras e torna-se impossível de ser utilizada para o desenvolvimento de plantas. Por outro lado, o deserto de Gobi exibe grande amplitude térmica entre o verão e o inverno, podendo ser encarado também como um deserto frio, mas a baixa pluviosidade também é muito característica. Os desertos de ventos alísios são também designados de desertos tropicais ou de baixas latitudes. Eles ocorrem nas proximidades dos trópicos de Câncer ou de Capricórnio, entre 15º a 30º de latitudes e são caracterizados por altas temperaturas e baixas umidades. Como são dominados por correntes atmosféricas subtropicais de alta pressão, as chuvas são extremamente escassas. No Nordeste Brasileiro existe o famoso “Polígono da Seca”, que do norte do Estado de Minas Gerais adentra ao interior do Estado do Piauí. Esta região caracteriza- se por precipitação média anual superior a 500 milímetros e, então, é denominado de semideserto. Nesta região existe a caatinga (mato branco), denominação de origem tupi-guarani, referindo-se à fisionomia caracterizada por árvores e arbustos com espinhos e cactos.

Entre outros tipos de desertos tem-se os de sombras orográficas. Neste caso as correntes atmosféricas quentes são barradas pela montanha, que causa a condensação da umidade na forma de chuva, que se precipita nas vertentes e a sombra orográfica, por detrás da montanha, é atingida só por correntes atmosféricas secas.

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Um exemplo real deste tipo é o deserto de Atacama do norte do Chile que, por passar até mais de 10 anos sem chuva, pode ser considerado o deserto mais seco do mundo.

Segundo a crença popular, os desertos e as dunas apresentariam relações inalienáveis. Como uma das evidências disso a designação “sabaku” (deserto, em língua japonesa) significa “extensa planície arenosa”. Recordo-me ainda, que no programa, de conhecida televisão brasileira, os campos de dunas costeiras conhecidos nos meios turísticos como “Lençóis Maranhenses” no Estado do Maranhão, foram apresentados pelo repórter como se fosse um deserto. Nesta região a pluviosidade é superior a 1.000 milímetros por ano e, portanto, não é um deserto. Como principais causas de formação de dunas têm-se a existência de grande quantidade de areia quartzosa fina e de ventos alísios incessantes e de alta velocidade. O extenso campo de dunas fósseis da margem esquerda do médio Rio São Francisco, no interior do Estado da Bahia, ocupa uma área de cerca de 7.000 quilômetros quadrados. Estende-se ao longo do Rio São Francisco por 200 quilômetros, entre as cidade de Barra e Pilão Arcado e as dunas alcançam até 50 metros de altura. Até em artigos científicos esta região é referida como deserto. A pluviosidade atual é de 600 a 800 milímetros por ano e o clima pode ser denominado de semidesértico. Além disso, estudos paleoclimáticos baseados em palinomorfos de depósitos de turfa permitiram concluir a existência no passado de paleoclimas mais frios e mais úmidos que o atual, mas não foi detectada evidência de paleoclima desértico no passado. O Rio São Francisco nasce no Estado de Minas Gerais e no seu percurso de alguns milhares de quilômetros carrega grande quantidade de areia quartzosa fina que, no interior do Estado da Bahia, foi transportada por ventos de alta velocidade no sentido noroeste. A origem do extenso campo de dunas fósseis está também ligada ao obstáculo formado por uma serra quartzítica disposta na direção norte-sul. A espessura dos depósitos arenosos eólicos junto a esta serra quartzítica chega a 100 metros. Entretanto não foram descobertas, até o momento, quaisquer evidências de que este campo de dunas fósseis tenha relação com clima desértico.

Como se pode ver acima as dunas não estão necessariamente relacionadas a desertos, mas em muitos desertos desenvolvem-se conspícuas dunas. Por outro lado existem também desertos pedregosos praticamente sem dunas. Neste caso o clima é também muito seco e praticamente não há desenvolvimento de vegetação e a superfície acha-se recoberta de fragmentos de rocha.

Entre os aforismos que se transformaram em modismo tem-se o fenômeno denominado “desertificação”. Neste caso o ambiente natural é deteriorado e a estabilidade da paisagem é rompida e, como conseqüência, desencadeam-se vários fenômenos. Tem- se, por exemplo, escorregamentos de vertentes íngremes, fenômeno de erosão acelerada de terras agricultáveis, além de formação súbita de dunas. Esses fenômenos naturais, que são acionados repentinamente, ocorrem comumente em regiões desérticas. Embora se designe de “desertificação”, nem sempre a pluviosidade da região é reduzida até

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transformação em verdadeiros desertos. Atualmente, como o ser humano transformou- se em agente muito importante de mudanças superficiais mesmo em regiões de climas não-desérticos, como conseqüência de uso do espaço físico com desenvolvimento de atividades inadequadas, são originados fenômenos de “desertificação”.

Em tempos modernos, quando cerca de 70% da população humana mundial sofreu urbanização, a vida da maioria das pessoas tornou-se muito confortável. Porém, ao mesmo tempo, os ambientes naturais da Terra sofreram impacto antrópico acelerado e em grandes metrópoles como Tóquio e São Paulo, diferentemente dos climas agradáveis dos arrabaldes, reinam climas urbanos caracterizados por temperaturas altas e umidades baixas. Nos países em desenvolvimento, a explosão demográfica tem sido sustentada pela expansão de roçados queimados e pelos desmatamentos destinados à extração de madeira para lenha. Essas atividades antrópicas iniciam a expansão da “desertificação” pela degradação dos ambientes naturais, acompanhada de redução de umidade. O avanço do desmatamento propicia a brusca redução da umidade do solo e, mesmo com a aproximação de baixa pressão atmosférica, não ocorre chuva e transforma-se em causa de seca.

Segundo versão originária de Quênia (África), só a prática de reflorestamento em escala nacional poderá livrar o país do efeito de mudanças climáticas induzidas pelo desmatamento, que produz a “desertificação”.

As florestas recobrem cerca de 30% das superfícies continentais da Terra e desempenham papéis importantes na manutenção das condições climáticas. Em primeiro lugar absorvem parte das radiações solares, mas a parte refletida (não- absorvida) depende do albedo (índice de refletividade). Quanto menor for o albedo maior é a absorção e quanto maior for o índice de refletividade menor é a absorção pela superfície terrestre, de modo que diminui a temperatura atmosférica. Nos casos de florestas escuras o albedo é de 3 a 10%, nas aciculadas de 5 a 15%, nas latifoliadas de 10 a 20% e nos desertos de 25 a 30%. O valor médio do albedo na Terra é de 30% e o maior índice de refletividade corresponde à superfície da neve, que varia de 46 a 86%.

Ao mesmo tempo, as florestas desempenham também um importante papel na preservação da umidade. Na ausência de florestas a chuva escoa rapidamente pela superfície terrestre ou sofre evaporação. Os solos que encobrem o interior das florestas contém restos vegetais, como gravetos e folhas em decomposição e conservam abundante umidade, que é evaporada lentamente. Por isso o ambiente é mantido em condição de equilíbrio estável e, ao mesmo tempo, o suprimento da umidade à atmosfera é mantido continuamente. O fornecimento de umidade atmosférica supre, simultaneamente, calor à atmosfera na forma de calor latente de água. Grande quantidade de calor é liberada também para a atmosfera em áreas continentais com florestas pluviais tropicais. Este calor é somado ao calor proveniente dos mares tropicais e, em obediência à dinâmica atmosférica de todo o planeta, constitui importante fator na determinação dos climas da Terra.

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Essas importantes florestas estão em processo de desflorestamento no mundo inteiro, principalmente nas regiões tropicais. Neste processo de destruição o ser humano derruba diretamente as árvores, cujos espaços são transformados em áreas agrícolas ou, ainda mais violentamente, as florestas são queimadas antes das atividades agrícolas ou as árvores são cortadas para obtenção de madeira para carvão vegetal combustível. Não haveria outra maneira de manter a qualidade de vida da população humana crescente?

Uma vez destruídas, as florestas são dificilmente regeneradas e especialmente em regiões tropicais da Amazônia ou do Nordeste Brasileiro, onde as radiações solares são extremamente fortes ou onde existem campos nas condições naturais, o pastoreio excessivo propicia o avanço da desertificação. Pode-se admitir desertificação em função de mudanças climáticas naturais, mas quando as causas são antrópicas o ser humano poderia pensar no seu próprio futuro e adotar alguma medida alternativa.

Em relação aos climas mundiais atuais, vários países da África foram vitimados pela seca e estão enfrentando grande perigo da falta de alimentos com 1.540.000 pessoas sofrendo com a fome. Em termos regionais, até a primeira metade da década de 1970 o centro da seca situava-se a noroeste da África (borda vegetada sul do deserto do Saara) mas posteriormente expandiu-se para Etiópia e leste da Somália, além de sul da África. Quanto às causas da seca pensa-se que o fenômeno “El Niño” de 1972 e 1982, que aumentou a temperatura das águas oceânicas em relação aos anos normais na região leste do Oceano Pacífico Equatorial, tenha estendido a sua influência até a África. O avanço da desertificação na África deve-se ao efeito combinado de vários fatores, como baixa pluviosidade, política colonialista, guerras civis, além de aumento populacional. Além de um socorro emergencial, para o futuro seria desejável um socorro erradicativo e, além disso, esclarecimento das causas e mecanismos das secas.

Nas condições climáticas atuais do Brasil, onde existiriam áreas mais suscetíveis à desertificação, causada por atividades humanas inadequadas? Até o momento são raros os artigos científicos que apresentam aspectos relacionados à desertificação no Brasil. Foi apresentado um artigo sobre o avanço da desertificação em região de solo arenoso e de vegetação campestre natural, causado por pastoreio excessivo no Estado do Rio Grande do Sul, onde a pecuária é uma atividade muito intensa. Os solos arenosos do Quaternário estão distribuídos por extensas áreas da bacia hidrográfica do Rio Amazonas e no Pantanal Matogrossense. A estabilidade dos ambientes naturais dessas regiões é muito frágil e, portanto, grande é a possibilidade de que ela seja rompida por atividades antrópicas. Pode-se pensar que, em território brasileiro, o fenômeno da desertificação possa ocorrer repentina e extensivamente nas regiões supracitadas, concomitante ao aumento populacional, tornando cada vez mais complicada a recuperação.

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