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2 Enquadramento Teórico Conceptual

2.2 Design Atual

Como foi referido na secção anterior, o design é uma atividade que se desenvolve primordialmente a partir da industrialização. Serve como ferramenta que dá maior significado aos bens industriais ao colocar o utilizador no centro de todos os esforços. Hoje, o design passa a estar mais voltado à comunicação, através da usabilidade do produto, de modo a suscitar um maior prazer na utilização.

No contexto em que vivemos, vale a pena refletirmos nas transformações que a atividade do designer vem sofrendo. Desta forma, focamos a nossa reflexão no campo do Design cujo percurso evolutivo traduz, ao longo do tempo, uma maior complexificação. Deixa de se focar apenas no binómio forma e função, que era defendido por muitas escolas europeias desde o começo do século XX, como Bauhaus e Ulm (Bonsiepe, 2011; Hollis, 2001; Meggs, 2007), para buscar uma abordagem mais ampla do produto. Moraes sugere que esta visão que alia o sistema produto e o design traduz uma comunhão de atributos físicos, comunicacionais, serviços e valores agregados. Este sistema compõe integralmente a forma que uma empresa se apresenta na sociedade, tendo repercussões significativas em todos os níveis e fazendo parte de uma estratégia globalizante do próprio negócio, como verificado na seguinte afirmação:

“como no modelo do marketing mix, um design mix que busca um equilíbrio entre o benefício para a empresa e a satisfação para o cliente, trabalhando sobre a forma, a funcionalidade, a eficácia e a durabilidade do produto, o ambiente, a imagem e a comunicação (o sistema produto). O design integrado na estratégia de marketing, permite conseguir uma qualidade total em todas as formas de contato entre a empresa e cliente” (Moraes, 2010, p.53)

Através desta nova perspetiva o design torna-se uma ferramenta do marketing, como a escola norte-americana tanto apregoa (Bonsiepe, 2011). Deixa os parâmetros modernos que a “forma segue a função” e passa a seguir a interpretação, a emoção ou até mesmo o bom senso (Moraes, 2010). Desta forma, o design pós-moderno liberta-se da prisão da função e avança

para novos preceitos, a forma passa a ser valorizada e é legitimada a sua autoexpressão (Meggs, 2007).

O teórico mais respeitável do marketing, Philip Kotler refere que as novas tecnologias tornam o cenário extremamente complexo, pois o utilizador é cada vez mais ativo ao usar a internet para comunicar, o que promove o seu melhor esclarecimento (Kotler et al., 2010). Deste modo, é exigido que o design seja enquadrado numa esfera maior do negócio, pois deve considerado como um dos vetores que refletem a imagem que os consumidores detêm da marca. É neste sentido, que os produtos e os serviços disponibilizados devem suscitar os valores pretendidos, que são invocados para alavancar a utilização.

É preciso que tenhamos claro que o design é uma atividade de valor que implica lucro, sucesso e diferencial frente à concorrência e que a um nível macroeconómico, tem peso positivo na balança comercial de uma região ou de um país. Reflete que as nações que mais investem neste campo, são as mais competitivas economicamente (Moultrie & Livesey, 2010). Desta forma, vemos que ambos os campos do design e do marketing apontam para uma visão de produto mais global, não focado apenas na sua função imediata.

“... os fatores objetivos continuam a existir, mas não são mais esses valores que determinam sozinhos a qualidade e a diferenciação entre um produto industrial e outro. Hoje a estética, a interface, a afetividade e a usabilidade são também reconhecidos como fatores determinantes de qualidade. São exigidos dos designers contemporâneos, portanto, outros conhecimentos e abordagens que antes não eram necessariamente e considerados, necessidades tidas anteriormente como secundárias, imateriais e subjetivas, e que são relacionadas aos fatores psicológicos, semânticos, semiológicos, da interface e do sentimento humano. [...]O designer, nesse sentido, deve ver o mundo e a cultura projetual com uma visão mais alargada, uma ótica não somente voltada para as questões do produto em si, mas, de igual forma, para a dinâmica que gira entorno do produto.” (Moraes, 2010, p.20)

Deste modo, questões anteriormente tidas como secundarizantes no campo do design, como o impacto do afeto, da beleza, da usabilidade, da segurança e do conforto, surgem atualmente como centrais e foco de trabalho para o designer (Meggs, 2007; Zingale, 2008).

Deserti (2001) analisa as tipologias de funções quando reflete sobre o projeto de um produto. Estas são quatro, vamos ilustrar com o exemplo de um carro. A função principal ou básica refere-se à operacional, que por si só não garante o sucesso do produto; no caso do carro, seria o fator locomoção. A função secundária diz respeito as melhorias do produto que em determinados casos pode ser o diferencial que promove a compra; no carro citado, poderia ser um bagageiro grande. A função de uso são os atributos e as ações quantificáveis; no caso do

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nosso exemplo, atingir 200 km/h. A função de estima diz respeito às de especto psicológico e contribuem decisivamente na forma; no nosso caso o modelo ser esportivo.

Moraes (2010) defende que o designer tem o dever de projetar valores que devem ser incorporados ao produto. Portanto, os valores veiculados em um produto deixam de remeter ao custo baseado num carácter econômico, objetivo e técnico e passa a ser multifacetado. Na sua perspetiva é essencial que pensemos na complexa questão do valor e do usuário e esta questão deve ser devidamente projetada, através da inserção de valores intangíveis buscando base na psicologia, nas ciências sociais e humanas. O valor de estima ou valor estético transmite emoção através de uma boa interatividade, que pode ser conseguida através dos nossos órgãos sensitivos como a visão (cores), a audição (sons) o olfato (cheiro) e o tato (textura), que favorecem o relacionamento do utilizador com o produto. O valor estético deixa a amarra da beleza e liga-se aos significados intrínsecos que um objeto pode vincular. O valor percebido é oriundo da comparação entre a satisfação de uma necessidade e o preço pago pelo cliente. O valor de uso está ligado a análise da capacidade da função primária ser cumprida com presteza e qualidade e passa por transformações, pois os produtos deixam de ter uma monofunção e tornam-se híbridos. O valor de troca é a disponibilidade financeira que o consumidor está disposto a pagar para obter o que deseja. O valor relacional está ligado ao nicho de consumidores que percebem o produto como um diferencial para buscar a definição identitária e a inserção social.

Diante de todos estes aspetos mencionados, podemos sentir no nosso dia-a-dia os efeitos da complexificação do design que é incorporado à estratégia global da empresa, ao refletir valores agregados, servindo como ferramenta de lucro e diferencial frente à concorrência. O seu impacto é repercutido até na competitividade das nações. O produto oriundo desta atividade, deixa de ter uma simples função operacional e incorpora outros aspetos, como os atributos comunicacionais, afetivos e estéticos. Estes passam a ser o foco do trabalho do designer. A presente investigação visa fornecer contributos para esta área de estudo, posicionando-se como uma base a qual os designers podem recorrer ao fazer um projeto e também como reflexão do que está sendo feito atualmente, no design para as múltiplas plataformas.