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Design: breve histórico, conceito e algumas vertentes

PARTE 1 – REVISÃO DA LITERATURA

2 DESIGN THINKING COMO ABORDAGEM DE INOVAÇÃO CENTRADA

2.1 Design: breve histórico, conceito e algumas vertentes

a) Conceito de Design

No livro Design for the Real World (1972), o especialista em design internacional da UNESCO Victor Papanek, destaca que todos os homens são designers pois tudo que fazem, em quase todo o tempo, envolve design. Em sua visão abrangente, Papanek (1971) estabelece que “[...] planejamento e padronização de qualquer ato, em direção a um desejado e previsível final, constitui o processo do design” (p. 4). A visão desse autor fundamenta o conceito dado pelo

design como capacidade espontânea dos seres humanos de tornar tangível uma

intenção de transformação sendo, desta maneira, “a habilidade do homem de materializar seus pensamentos” (p. 29).

Coloquialmente, a palavra design é usada para se referir ao processo de conceber, planejar e desenvolver produtos que sejam usados por seres humanos ajudando-os na realização de propósitos individuais ou coletivos (BUCHANAN, 2001). Demarchi, Fornasier e Martins (2011) destacam que o design representa tanto o processo de fazer alguma coisa, como o produto desse processo. Explicam que o termo está fortemente associado às propriedades formais dos objetos e à estética dos produtos uma vez que as definições tradicionais da atividade do design enfatizam esses aspectos.

Na verdade, esse conceito está respaldado em resultados de pesquisas que indicam que os atributos dos produtos têm sido bastante homogêneos e que as empresas entendem que o design é uma maneira de diferenciar um produto em comparação a outros existentes no mercado. Tais estudos, que envolvem o campo do Design e da Psicologia (com enfoque na cognição humana e na percepção), revelam que um bom design deve ser esteticamente34 atraente ao usuário (REIMANN; SCHIIKE, 2011). Resultados desses estudos explicam que a estética de um produto tem um impacto positivo nas emoções de seus usuários, o que resulta na atenção prolongada que os sujeitos darão a ele (REIMANN; SCHIIKE, 2011). Assim, o design é visto como um fator primordial para o alcance do sucesso comercial dos produtos.

Klaus Krippendorff, teórico da Universidade da Pensilvânia que estuda o

Design Centrado no Ser Humano desde o começo dos anos 1990, afirma que tem

sido ampliado, nos últimos anos, o pensamento que o design é a mera criação de produtos desenvolvidos por profissionais preocupados com a função estética uma vez que a “[...] tecnologia evoluiu até um ponto em que a atividade projetual tornou- se um modo de vida” (KRIPPENDORFF, 2000, p. 88). Dessa maneira, esta perspectiva mais ampla de design tem embasado a adoção desse termo para designar metodologias, abordagens, estratégias e processos conforme será discutido no próximo tópico.

       

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A palavra estética vem do grego aisthesis e significa “percepção vinda dos sensos: visão, audição, sentimento etc.” (REIMANN; SHIIKE, 2011).

b) Breve histórico do design e algumas vertentes

A história do design emerge na Inglaterra, durante a Revolução Industrial, com a mecanização e padronização da produção de artigos baratos e úteis. Esta foi a primeira vez em que um objeto foi dissociado do artesão que o produzia (DEMARCHI; FORNASIER; MARTINS, 2011). O historiador e filósofo inglês John Ruskin, lutou contra a produção industrial dos objetos e uniu-se a sindicalistas enquanto afirmava que “o problema do design residia não no estilo dos objetos, mas no bem-estar do trabalhador” (DENIS, 2000, p.71).

A literatura aponta que o design tornou-se profissão nos Estados Unidos no período da crise econômica de 1929 quando os fabricantes perceberam a relevância do design de produtos para atingirem o sucesso comercial (DENIS, 2000). “Os primeiros designers eram consultores autônomos, criavam com finalidade comercial, permitindo a convergência entre o industrial e o criador, que adaptava a forma à moda vigente” (DEMARCHI; FORNASIER; MARTINS, 2011, p. 24).

Assim, Krippendorff (2000) classifica a trajetória do design em algumas etapas que marcaram o início do design de algumas vertentes:

1) Design de produtos – desde a era industrial;

2) Design de bens, informações e identidades – desde o início do consumismo

que marcou os anos 1950;

3) Design de interfaces – desde o início da popularização do computador

pessoal (PC) nos anos 1970 e 1980;

4) Design de redes de multiusuários – desde a popularização da internet nos

anos 1990.

5) Design de planejamentos – existe desde a segunda Guerra Mundial e, nos

últimos anos, foi adotado na administração de empresas.

6) Design de discursos – nasceu na década de 1950 na área da filosofia, mas, no campo do Design, ganhou maior notoriedade somente nos últimos anos. Buchanan (2001) explica que o campo do design possui algumas ordens que se desenvolveram especialmente ao longo do século XX. Ele as classifica como:

1) Design gráfico – surge de uma preocupação com símbolos visuais e com a comunicação de informações por meio de palavras e imagens. Está fortemente ligado à evolução midiática e tecnológica (fotografia, filme, sons, televisão e digitalização multimidiática).

2) Design industrial – foca na criação de bens de consumo produzidos em massa a partir de uma perspectiva externa ao ser humano (forma, função, materiais e métodos de produção do produto).

3) Design de interação – busca entender como o ser humano interage com os símbolos criados pelo design gráfico e os produtos criados pelo design industrial. Também se preocupa com os relacionamentos humanos que se estabelecem através da mediação de produtos, serviços ou experiências.

4) Sistemas humanos – foca na integração das informações, produtos e interações que ocorrem em qualquer ambiente onde os seres humanos vivem, trabalham e se divertem.

Um ponto de conexão entre a trajetória do design proposta por Krippendorff (2000) e as quatro ordens do design estabelecidas por Buchanan (2001) pode ser observado, pois, em ambas as descrições existe um aumento gradual da preocupação dessa área com aspectos humanos e sociais, algo que evidentemente não existia na gênese do design industrial e design de produtos. Ademais, é possível acompanhar um movimento que descentraliza a prática do design das mãos de profissionais que receberam uma formação específica para atuar nessa área, a partir do momento que os princípios desse campo passam a ser adotados por pessoas que atuam em áreas profissionais variadas (LLOYD, 2013).

Tal movimento ocorre a partir da criação e divulgação da abordagem de inovação e criatividade denominada Design Thinking, que se tornou bastante conhecida nos últimos quinze anos por permitir que os métodos de design sejam utilizados por equipes multidisciplinares na busca por soluções para problemas complexos encontrados no âmbito social, educacional, mercadológico, profissional, entre outros (LLOYD, 2013). O Design Thinking dialoga com os pilares conceituais que regem o Human Centered Design (HCD) ou Design Centrado no Ser Humano (DCSH), que será apresentado no próximo tópico.