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Desigualdade de Gênero e trabalho da mulher negra

No documento Download/Open (páginas 66-69)

A história da mulher negra e sua relação com o trabalho é marcada por questões políticas, econômicas, culturais e sociais que influenciam o processo de organização social e profissional dessas mulheres. O mercado de trabalho revela-se como um espaço privilegiado e nele conseguimos perceber as desigualdades que são reproduzidas na sociedade.

Os estudos revelam que a trajetória socioeconômica das mulheres negras tem sido analisada a partir da participação das mulheres negras no mundo do trabalho o que

permanecem com significativas desvantagens em relação às mulheres brancas. Bruschini e Lombardi (2000), ao considerarem esta inclusão a partir das transformações advindas na participação feminina nos anos 1990, ressaltaram que houve um processo de bipolarização do serviço feminino.

Sobre as desigualdades de cor e gênero, particularmente no segmento das mulheres negras, Soares afirma que,

As mulheres negras arcam com todo o peso da discriminação de cor e de gênero, e ainda mais um pouco, sofrendo a discriminação setorial-regional- ocupacional que os homens da mesma cor e a discriminação salarial das brancas do mesmo gênero (SOARES, 2000, p. 51).

No tocante a esta discussão, a mulher tem sua inserção também no mercado de trabalho enquanto professora, pois “o magistério abre-se às mulheres que, gradativamente, vão suplantando os homens neste setor, até então tradicionalmente masculino” (SANTOS; OLIVEIRA, 2010, p. 234).

Tanto o acesso ao mercado de trabalho quanto a condição de ingresso neste constituem etapas essencialmente importantes na trajetória socioeconômica das mulheres. Porém, é notória a disparidade que revela a desigualdade da mulher e, especificamente, da mulher negra.

Sabemos que o mundo do trabalho está diretamente ligado às dimensões educacionais como condição inicial de ingresso ao mercado de trabalho. Considerando esse panorama, ressalta-se a trajetória socioeconômica das mulheres negras nos últimos anos – de 2003 a 2009. Essa trajetória tem sido analisada como fruto das mudanças ocorridas na participação das mulheres negras no processo educacional com um índice significativo da inserção de mulheres em ocupações não manuais, caracterizadas por maior formalização e melhores rendimentos e consequentemente também no mundo do trabalho (IPEA, 2013).

Uma questão de igualdade de gênero? Pensar igualdade de gênero como princípio constitucional da igualdade – um dos pilares de manutenção do Estado Democrático de Direito – implica em assumir uma repulsa à discriminação e ao tratamento injustificadamente desigual entre os seres humanos. Além disso, é um princípio resguardado legalmente pela Constituição Federal do Brasil (1988) em seu Capítulo I, do Artº. 5, inciso I,Dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos traz que,

Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

I - Homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição [...]

Se todos têm os mesmos direitos por que há uma grande desigualdade entre homens e mulheres? Esse direito não está sendo assegurado? O que perpassa no campo da desigualdade de gênero? E essa desigualdade aumenta quando se trata da mulher negra? Isso se deve a quê? Não obstante, destaca-se que esse princípio de igualdade de gênero, raça, condições socioeconômicas ou culturais, abrange todos os âmbitos da vida do indivíduo em sociedade: na política ou em outros espaços da vida, no mercado de trabalho ou até mesmo nas relações privadas. O que se tem observado, no entanto, é que a igualdade de direito da mulher – especialmente da mulher negra – nos termos da lei tem sido historicamente tratada como um assunto de menor relevância (IPEA, 2013).

Sabemos que os questionamentos são inúmeros e que algumas possíveis respostas nos remetem ao processo histórico que colocou a mulher como subalterna e submissa ora da família e marido, ora da própria sociedade capitalista. Refletir a profunda desigualdade existente entre homens e mulheres na sociedade – principalmente da mulher negra –possibilita entender que as desigualdades de acesso a determinados ramos de atividade, assim como o ingresso em atividades menos formais, estão profundamente mediados por fatores que se pautam na discriminação de gênero e raça (IPEA,2013).

Nesse contexto, gênero é uma categoria que vai assumir diversos empregos e conceitos, com de substituições de sexo por gênero e depois de gênero por mulher (SCOTT, 1995). Nas palavras da autora,

O gênero é igualmente utilizado para designar as relações sociais entre os sexos. O seu uso rejeita explicitamente as justificativas biológicas, como aquelas que encontram um denominador comum para várias formas de subordinação no fato de que as mulheres têm filhos e que os homens têm uma força muscular superior. O gênero se torna, aliás, uma maneira de indicar as “construções sociais” – a criação inteiramente social das ideias sobre os papéis próprios aos homens e às mulheres. É uma maneira de se referir às origens exclusivamente sociais das identidades subjetivas dos homens e das mulheres (SCOTT, 1995, p. 7).

Para a autora, discutir gênero seria uma maneira de romper com os padrões de normalidade construídos historicamente, naquilo que seria definido para o homem e para mulher. No entanto, é preciso perceber essas identidades subjetivas como “um elemento constitutivo de relações sociais fundadas sobre as diferenças percebidas entre os sexos, e o gênero é um primeiro modo de dar significado às relações de poder” (SCOTT, 1995, p. 7).

historicamente, teve dificuldades nessas relações? Será que por ser considerada frágil não teria condições de trabalhar e se manter financeiramente?Ou era para continuar subserviente?

Assim ressaltam Oliveira e Santos (2010),

A dimensão da diversidade (gênero, raça, orientação sexual, dentre outras) permite-nos verificar que as mulheres estão inseridas num contexto de desigualdade que, determinado por relações sociais historicamente construídas, coloca-as em situações de subordinação e opressão, advindas seja por se apropriarem historicamente de menos poder do que os homens; seja por seu pertencimento a uma classe dominada, alheia à riqueza socialmente produzida ou, seja, ainda, por pertencer a uma raça/etnia historicamente oprimida. No universo do trabalho também prevalecem relações de desigualdade entre homens e mulheres (OLIVEIRA; SANTOS, 2010, p. 13).

Nesse sentido, as desigualdades de gênero predominam também no âmbito do trabalho por serem construídas socialmente e por uma crença de que havia o sexo superior na divisão do trabalho. Desse modo, quando mencionamos o papel da mulher, o senso comum apoia-se pelo viés biológico para explicar as relações sociais em desigualdades que produzem outras desigualdades.

O mercado de trabalho é visto como lócus exclusivo de análise das desigualdades sociais, uma vez que tanto o acesso ao mercado de trabalho quanto a condição de ingresso neste universo representam etapas particularmente importantes na trajetória socioeconômica das mulheres negras. Essa desigualdade de acesso ao mercado de trabalho encontra-se mediada por fatores que se relacionam com a discriminação de gênero e raça.

Assim, quando se aborda sobre as desigualdades, o primeiro aspecto a ser avaliado é o aspecto econômico. Nessa perspectiva, destaca-se, porém, que a atuação das mulheres negras no mercado de trabalho é um ponto bastante acentuado para a apreensão de outros fatores de discriminação contíguos de gênero e raça na composição das desigualdades sociais brasileiras.

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