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Quem são as professoras negras?

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1.5 Gênero e o processo de feminização do magistério

2.1.1 Quem são as professoras negras?

Em se tratando das professoras da pesquisa, são quatro mulheres afrodescendentes. Cada uma com sua história que se entrelaçam a das outras. Mulheres que almejam uma educação melhor, com suas falas e características individuais.

Para melhor dar voz a essas mulheres, a História Oral10 se mostra como o caminho metodológico capaz de dar voz aos sujeitos – protagonistas ou testemunhas de acontecimentos – e que possibilita a “reconstrução da história por meio dos relatos individuais ou coletivos a história oral seria considerada outra história, militante, alternativa, daria voz aos marginalizados” (THOMPSON, 1998 p. 337).

Sendo assim, buscou-se dar vida às narrativas das professoras, cujas vozes foram silenciadas. Na pesquisa, uma oportunidade de narrar os fatos que compuseram suas vidas.E no intuito de resguardar as identidades das entrevistadas, optou-se por nomeá-las com nomes comuns – mas de mulheres negras que fizeram história – e que, de alguma forma, podem ser identificadas no viver cotidiano das mulheres negras entrevistadas. Deixa-se, porém, o registro escrito o mais próximo de suas falas orais, sem correções ou edições, expressando a fidelidade à história oral narrada.

Consoante a isso, Thompson (1998, p.337) afirma que “[...] a história oral devolve a história às pessoas em suas próprias palavras. E ao dar-lhes um passado, ajuda-as também a caminhar para um futuro constituído por elas mesmas”.

Para iniciar a apresentação das entrevistadas, iniciaremos com a professora Joana, que tem 73 anos e nasceu em Mineiros de Goiás. Fez licenciatura Plena e Bacharelado em Letras

10 Um tratamento mais detalhado desse conceito pode ser visto em: AMADO, Janaína; FERREIRA, Marieta de

Vernáculas pela Universidade Federal de Goiás. Desenvolveu sua profissão na Universidade Estadual de Goiás e na rede privada. Aposentou-se na rede Estadual em 1991 e no Ensino Superior em 2006. Exerceu o magistério por 52 anos. Diante da situação profissional de desvalorização do professor e a necessidade de aumentar a renda, a educadora ainda exerce atividade docente em cursos de especializações na área da educação. A entrevista foi realizada em sua residência na cidade de Goiânia. Mora com ela, um irmão. A professora dedicou sua vida à carreira do magistério e não se casou.

A segunda professora é Josefa tem 45 anos. Nasceu na Chapada do Norte em Minas Gerais. Cursou graduação em Pedagogia na rede privada, antiga Faculdade Padrão. Atua no magistério há 17anos. É Especialista em Educação Inclusiva, Psicopedagogia Clínica e Institucional, e em Educação Infantil e letramento. Professora efetiva na rede Municipal de Goiânia desde 2011, atuando desde 2005 em regime de contrato em Goiânia e no Município de Trindade. Atualmente, na rede municipal de Goiânia, atua enquanto coordenadora pedagógica. É casada, mãe de três filhos e militante na rede de educação de Goiânia na defesa de direitos como; liberdade de ensinar, aprender, divulgar o conhecimento e valorização do piso salarial.

Mariele tem 40 anos de idade. É casada e mãe. É a terceira professora entrevistada. Natural de Goiânia-GO, é graduada em Pedagogia, especialista em Docência Universitária, mestre em Educação, está no doutorado em educação. É servidora efetiva da UFG em Goiânia e tem 10 anos no exercício do magistério.

A professora Isaura, nossa última entrevistada, tem 40 anos. Nasceu no Município de Mossâmedes de Goiás. Atualmente mora em Goiânia, em residência própria. Cursa o segundo ano de Pedagogia na Faculdade Unopar, na modalidade a distância. Trabalha na rede privada há 7 anos. É casada e mãe de duas meninas.

Considerando o grupo das quatro professoras, percebe-se que a quarta entrevistada ainda não concluiu a sua formação. Nesse contexto, o retrato do processo de exclusão que a mulher negra e pobre passa, e que envolve dificuldades nos campos econômicos, político, profissional e cultural. Isaura é filha adotiva de pais brancos. Em sua história, percebe que o investimento foi direcionado aos filhos biológico. Conforme narra em suas entrevistas, a impressão que ficou para ela é que não quiseram dar-lhe uma formação, o que, de certa forma, desafiou-a a buscar sozinha o seu trabalho, a sua formação e a sua dignidade.

Nesse sentido, França (2014, p. 2552) aborda que a “[...] questão Social11 expressa, portanto, as disparidades econômicas, políticas e culturais das classes sociais, midiatizadas por relações de gênero, características étnico raciais, orientação sexual, formações regionais, entre outras”.

Sobre a questão social, como prática de exclusão social e racial, Souza (2008) afirma que

A prática de exclusão social e racial apresenta-se permeada por conflitos, discórdias e, principalmente nas resistências e dificuldades que os professores e alunos vêm trabalhando as questões referentes à negritude, cultura, memória e ancestralidade (SOUZA, 2008, p. 2).

Esses argumentos, em um dado contexto, exigem compreender que os mecanismos de exclusão são múltiplose as formas de manifestação, diversas. Para tanto, as entrevistadas, sujeitos dessa pesquisa, trazem em suas narrativas os diversos momentos em que viveram esse processo, seja nos aspectos de discriminação, racismo, inferiorização, desvalorização, aparência feminina, fenótipo, relações familiares ou nas desigualdades econômicas, de gênero e de carreira. Esses múltiplos aspectos serão abordados nesta pesquisa como categorias apresentadas nas narrativas das professoras entrevistadas.

Farias in Portelli (2010, p.4) argumentam que,

[...] tendo em vista que a oralidade e a escrita são constituídas por códigos diversos, é preciso dar atenção às linguagens que expressas na oralidade, como os gestos, os tons e o ritmo da fala que podem ser extremamente reveladores e, normalmente, perdem-se na escrita...que as fontes orais se materializam em narrativas (FARIAS in PORTELLI, 2010, p. 4).

Neste sentido, as narrativas das professoras, elencadas nas categorias eleitas a partir das entrevistas, expressam suas ideias e vivências, “[...] assim como novos acontecimentos. Porém se torna singular ao expressar, em sua maneira de narrar e no conteúdo narrado, subjetividades, quereres, desejos, pensamentos, sentimentos e histórias” (PORTELLI, 2015 p.4).

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