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A DESREGULAMENTAÇÃO DAS RELAÇÕES DE TRABALHO E SEUS DESDOBRAMENTOS SOBRE A QUESTÃO SOCIAL

PESQUISA DE CAMPO: INVESTIGANDO AS COOPERATIVAS DE INSERÇÃO SOCIAL

1.1 A DESREGULAMENTAÇÃO DAS RELAÇÕES DE TRABALHO E SEUS DESDOBRAMENTOS SOBRE A QUESTÃO SOCIAL

As transformações que perpassaram a nossa sociedade nas décadas de 1990 e 2000 precisam ser analisadas em seus aspectos econômico, social e político, que podem ser considerados de forma particularizada, apesar de estarem intrinsecamente relacionados. Evidentemente essas transformações, tanto por sua importância macroeconômica como por sua interferência no cotidiano dos sujeitos, têm estimulado inúmeras discussões, pesquisas e análises. Diversas teses têm sido elaboradas no sentido de explicar como essas transformações afetam sobremaneira o mundo do trabalho, os trabalhadores e trabalhadoras e suas famílias.

No debate contemporâneo, problematizam-se principalmente os efeitos que as transformações no mundo do trabalho têm causado na própria base de estruturação do modo de produção capitalista e na reprodução social.

Autores como Antunes (1999), por exemplo, abordaram as transformações que ocorreram desde a década de 1980. Segundo ele, essa década, especialmente nos países de capitalismo avançado, presenciou profundas transformações no mundo do trabalho, nas suas formas de inserção na estrutura produtiva e nas formas de representação sindical e política.

Foram tão intensas as modificações, que se pode mesmo afirmar que a classe-que-vive-do-trabalho sofreu a mais aguda crise deste século [século XX], que atingiu não só a sua materialidade, mas teve profundas repercussões na sua subjetividade e, no íntimo inter-relacionamento destes níveis, afetou a sua forma de ser. (ANTUNES, 1999, p. 15)

Ainda, segundo o autor, a década de 1980 foi uma década de grande salto tecnológico com o desenvolvimento da automação, da robótica e da microeletrônica que se inseriam no âmbito das relações de trabalho e de produção de capital. Assim como, nesse período o fordismo e o taylorismo mesclaram-se com outros processos produtivos (chamados de neofordismo, neotaylorismo, pós- fordismo) (ANTUNES, 1999, p, 15-16).

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Para Vasapollo (2005, p. 18), na denominada era pós-fordista, passou-se da grande indústria que abrigava em seu interior todos os processos de produção para um modelo de descentralização produtiva. Também, segundo ele, do ponto de vista dos trabalhadores, a informatização no setor produtivo desqualificou o trabalho já existente, além de provocar o desemprego estrutural.

A respeito do fordismo, esse autor recorda que o Estado, então, tinha de garantir um mínimo de bem-estar social a todos e tratar de transmitir benefícios, assegurando, sobretudo, assistência sanitária adequada, moradia e instrução (VASAPOLLO, 2005, p. 22-23).

Na era pós-fordista, diversos fatores contribuíram13 para que se estabelecesse aquilo que se convencionou chamar de crise do Estado Providência e do pleno emprego, pondo em risco o bem-estar social mínimo.

Os anos de 1990 presenciaram um imenso movimento de reestruturação empresarial, por meio de fusões, aquisições e reorganização dos grandes oligopólios mundiais, assim como a privatização de empresas estatais em todo o mundo. No Brasil, os vários processos de reestruturação combinaram-se com uma crise econômica, iniciada nos anos 1980, afetando o mercado e as relações de trabalho.

Segundo Dreifuss (1996, p. 36-39), em nível mundial, ocorreram mudanças na organização social da produção, assim como se estabeleceram novas formas de estruturação produtiva e de localização espacial. A “desterritorialização produtiva” veio acompanhada de processos chamados de “horizontalização, terceirização, e mesmo de quarteirização” que mudam a fisionomia do mundo empresarial, do universo do trabalho e de suas organizações sindicais. Milhões de

13 Abrucio (1997, p. 9-10) ressalta quatro fatores socioeconômicos que contribuíram fortemente para detonar a

crise do Estado, sendo estes: 1) A crise econômica mundial, iniciada em 1973, na primeira crise do petróleo, e retomada ainda com mais força em 1979, na segunda crise do petróleo. A economia mundial enfrentou um grande período recessivo nos anos de 1980 e o Estado foi o principal afetado, entrando numa grave crise fiscal. 2) A crise fiscal. Após ter crescido por décadas, a maioria dos governos não tinha mais como financiar seus déficits. Estava em xeque o consenso social que sustentara o welfare state. 3) A situação de “ingovernabilidade”. Os governos estavam, ainda, sobrecarregados de atividades — acumuladas ao longo do pós-guerra — e com poucos recursos para cumprir todos os seus compromissos. 4) A globalização e todas as transformações tecnológicas que transformaram a lógica do setor produtivo. O enfraquecimento dos governos para controlar os fluxos financeiros e comerciais, somado ao aumento do poder das grandes multinacionais resultou na perda de parcela significativa do poder dos Estados nacionais de ditar políticas macroeconômicas.

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postos de trabalho tornaram-se obsoletos e irrecuperáveis, num processo aceleradíssimo de desemprego estrutural, tanto na linha de produção quanto nos serviços.

Por sua vez, Mota (2000, p. 65) afirma que a reestruturação produtiva seria uma iniciativa inerente ao estabelecimento de um novo “equilíbrio instável”, que tem como exigência básica a reorganização do papel das forças produtivas na recomposição do ciclo de reprodução do capital, tanto na esfera da produção como na das relações sociais.

A tese subjacente à reestruturação é a de que toda a crise no mercado mundial expressa desequilíbrios no âmbito da produção e da circulação de mercadorias e “ocasiona esforços por parte do capital a fim de superar tais contradições, reestruturando tanto a produção quanto os mercados” (MANDEL apud MOTA, 2000, p. 66). Isso nada mais seria que a permanente necessidade de resposta do capital as suas crises.

O conjunto das mudanças na esfera da produção e da organização social implicou um redirecionamento das ações do Estado, em especial no tocante aos mecanismos de regulação da produção material e da gestão estatal e privada da força de trabalho (MOTA; AMARAL, 1998, p. 37). Destacaram-se as privatizações, o “estreitamento”/redução ou flexibilização dos direitos dos trabalhadores e as pressões do empresariado e da burocracia estatal nessa direção, além da “naturalização” da superexploração do trabalho, mesmo por parte do próprio trabalhador com seu consentimento e adesão às novas exigências da produção capitalista.

O Estado contemporâneo enfrentava crises internas de várias naturezas entre as quais a sua própria reforma, a garantia de crescimento econômico autossustentado e a questão do desemprego.

A chamada globalização neoliberal fragilizou os Estados frente às questões colocadas pelo econômico. A redução da capacidade de regulação do Estado, a desregulamentação, que ocorreu pela alteração da legislação trabalhista, acompanhada do enfraquecimento das organizações sindicais, e consequentemente, o agravamento da questão social acabaram por colocar em

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cheque a capacidade dos governos de combater o desemprego. Houve uma mudança de orientação do papel do Estado, que se tornou cada vez mais limitado e restritivo em relação às políticas públicas.

Enfim, foi partir dos anos 1980 que um novo panorama político-econômico mundial foi definindo-se com base no neoliberalismo e na globalização da economia, expressando profundas transformações nos processos de produção e na reprodução da vida social, determinadas pela reestruturação produtiva, pela reforma do Estado e pelas novas formas de enfrentamento da questão social.

Em composição ao cenário das novas necessidades do processo de acumulação capitalista, emergiu no horizonte do trabalho uma fragmentação objetiva do trabalhador coletivo, expressa na constituição de dois grandes grupos de trabalhadores: os empregados estáveis, sobreviventes dos processos de reestruturação e enxugamento das empresas do grande capital; e os trabalhadores excluídos do emprego formal, estes últimos sujeitos ao trabalho desprotegido. Surgiu, portanto, uma nova dinâmica na relação entre exclusão/inclusão dos trabalhadores na economia. A externalização da produção, ao mesmo tempo em que determinou a exclusão dos trabalhadores do trabalho socialmente protegido, criou outras formas de inclusão na economia, que têm na insegurança e na desproteção do trabalho as suas principais características (MOTA; AMARAL, 1998, p. 32).

As alterações nas relações formais de trabalho mudaram também a esfera da produção e afetaram a própria natureza do trabalho, que passou a se apresentar sob formas precárias, frágeis e eventuais, com um grande contingente de trabalhadores sem profissão definida, sujeitos a atividades instáveis como forma de obtenção de renda. Da mesma forma, aumentavam cada vez mais os contratos de trabalhos precários, sem garantias e vantagens. No entanto, tais formas de contrato instável tenderam a encontrar respaldo legal, seja por meio de novas leis ou novas interpretações das leis, ou ainda por negociações coletivas (FREITAS; MACHADO, 1999, p. 67).

A desmontagem de algumas formas estatais de regulação das relações de trabalho e os conflitos trabalhistas com relação à manutenção do emprego

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trouxeram, como consequência, uma segmentação jurídica que incidiu sobre as garantias de um contrato de trabalho regular, permitindo o aparecimento dos contratos atípicos de trabalho como mecanismos alternativos para reduzir o desemprego.

Os contratos atípicos representam a face legal e social da contratação dos trabalhadores que, dentro do dualismo atual do mercado de trabalho, são periféricos, fragmentários e formam o cinturão precário que cerca o grupo de trabalhadores mais estáveis e permanentes que são o núcleo central das empresas via de regra, empregados na forma tradicional de emprego. (REIMANN, 2002, p.138).

Para Vasapollo (2005, p. 100), a tendência ao trabalho atípico é o que mais evidencia os novos tipos de trabalho autônomo, que aparentam ser independentes, mas que representam, na realidade, a nova fronteira do trabalho assalariado pós-fordista. Pois, a diminuição dos postos de trabalho efetivo leva não apenas a uma maior precariedade, mas também a afirmação de atividades que não mais dependem da organização empresarial clássica.

Tudo isso agrava mais ainda a questão social pelo aumento da subcontratação e da terceirização que precarizaram as relações de trabalho, excluindo um grande contingente de trabalhadores de toda e qualquer garantia trabalhista (ou proteção social).

De acordo com Castel (1998), a questão social pode ser interpretada como advinda do enfraquecimento da condição salarial. Suas principais formas de expressão, especialmente nos países pobres, são: o desemprego, a precarização das relações de trabalho e o pauperismo. Para a superação dessas, presume-se a intervenção do Estado por meio de políticas públicas voltadas para a geração de emprego e renda e inserção social do trabalhador, capazes de regular as formas de organização das relações de trabalho emergentes.

Visto que o domínio da questão social não é exclusivo da esfera da empresa ou da economia, sua dinâmica atual causa efeitos desastrosos do ponto de vista da coesão social, produzindo uma crescente desigualdade no mercado de trabalho, com indivíduos qualificados, melhor remunerados, e outros submetidos às flutuações da demanda, à insegurança, ou trabalho casual e precário. Há um

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excesso de efetivos em concorrência direta com os subempregados. Portanto, o problema atual não é apenas o da constituição de uma periferia precária, mas também o da desestabilização dos estáveis.

Castel (1998, p. 593) corrobora com essa análise ao enfatizar que o núcleo da questão social atual seria, novamente, a existência de “inúteis para o mundo”, de supranumerários e, em torno deles, de uma nebulosa de situações marcadas pela instabilidade e pela incerteza do amanhã que atestam o crescimento de uma vulnerabilidade de massas.

O novo modelo de organização empresarial que se veio definindo em âmbito mundial implicou também na crise dos paradigmas habitualmente disponíveis para interpretar a realidade social. Assim, as tentativas de estabelecimento de novos paradigmas e de novos conceitos terminaram por dificultar, em certa medida, o alcance da abordagem do fenômeno mundial, devido a sua complexidade, e, por muitas vezes, não permitiram a compreensão precisa das mudanças específicas e/ou locais. Como por exemplo, a análise sobre a “quebra” ou crise do modelo padrão de emprego historicamente construído no Brasil.

Segundo Singer (1999, p.31), o mundo do trabalho, nas “economias capitalistas democráticas” da Europa, América do Norte e, com algumas adaptações, também da América do Sul, como no Brasil, estruturou um sistema de relações de trabalho em que prevalecia o trabalho assalariado formal, a relação de emprego padrão. No Brasil, esse padrão consistia basicamente num contrato de trabalho no qual o trabalhador era contratado, em geral, por uma grande (ou média) empresa por tempo indeterminado, com um horário de trabalho fixado em lei; um salário direto ao trabalhador; um conjunto de direitos sob a forma de 13º salário, de férias remuneradas, de pagamentos por horas extras acima da taxa de hora normal, do pagamento do descanso semanal remunerado, etc.; e ainda um amplo sistema de seguridade social.

Com as mudanças das relações de trabalho nas grandes empresas, parte de um processo global de reestruturação da economia capitalista, tudo isso entrou em crise. Ocorreu, então, no mundo do trabalho a destruição dessa estruturação

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e, sobretudo, da relação padrão de emprego (SINGER, 1999, p.32).

Segundo César (1998, 118-119), no Brasil, a reestruturação produtiva, longe de substituir as tradicionais e conservadoras relações de trabalho, reforçou- as com a introdução de novos e modernos padrões de produção, que enfatizaram a maior qualificação dos trabalhadores, as múltiplas competências, a adaptabilidade, a participação e o envolvimento, ao mesmo tempo em que apresentava cada vez mais redução de postos de trabalho com adoção de padrões mais rígidos de controle do desempenho do trabalhador.

As empresas, cada vez mais, apresentavam iniciativas que buscavam aumentar o consumo e controlar a força de trabalho, bem como de sua reprodução material (CÉSAR, 1998, 119). Dessa maneira, as estratégias utilizadas pelo grande capital, para redefinir socialmente o processo de produção de mercadorias, evidenciavam as reais necessidades do processo de reestruturação produtiva: a integração passiva dos trabalhadores à nova ordem do capital, ou seja, a adesão e consentimento do trabalhador às novas exigências da acumulação capitalista.

Para Araújo e Gitahy (1998, p. 22), o conjunto de transformações e as grandes alterações das condições do mercado de trabalho alteraram a correlação de forças entre capital e trabalho de modo desfavorável aos trabalhadores. Nesse contexto, grande parte dos sindicatos de trabalhadores industriais ligados a CUT (Central Única dos Trabalhadores) foram debilitados pela perda crescente de membros, decorrente, sobretudo, da redução dos postos de trabalho e do movimento de terceirização, e pela dificuldade de mobilização de suas bases. Esta dificuldade fica expressa na redução da duração e na queda do número de greves ao longo da década de 1990, principalmente das greves por categoria que praticamente deixaram de ocorrer a partir de 1994 (ARAÚJO; GITAHY, 1998, p. 22)

Segundo Ramalho e Santana (2003, p. 32), concretamente o que houve foi que o pano de fundo, que conjugava desemprego e precariedade no trabalho, fez também com que os sindicatos mudassem as pautas de reivindicação. Se nos anos de 1980, a questão econômico-social tinha prioridade, nos anos de 1990, a

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temática da garantia de emprego e as tentativas de combate ao desemprego assumem o primeiro plano.

Neste sentido, as centrais sindicais de maior relevo acabaram por se envolver em projetos os mais variados em termos de formação profissional, constituição de cooperativas de trabalho e intermediação entre trabalhador e emprego, através de agências e centros de solidariedade. Em muitos casos, esse envolvimento se deu de forma defensiva, em detrimento de movimentos de mobilização dos trabalhadores. (RAMALHO; SANTANA, 2003, p. 32)

Nesse contexto, o desemprego deixara de ser um aspecto das relações de trabalho, que poderia ser resolvido, e tornara-se um problema da dinâmica da modernização capitalista, como também a diversidade e a descontinuidade das formas de emprego estariam em vias de suplantar o paradigma do emprego homogêneo e estável. As novas formas particulares de emprego recuperaram as antigas formas de contratação, nas quais o status do trabalhador dilui-se diante das pressões do capital.

A flexibilidade configurava-se como uma maneira de nomear a necessidade de ajustamento do trabalhador a sua tarefa, estando imediatamente disponível para adaptar-se às flutuações da demanda. As novas relações de trabalho e a alteração das formas de organização do trabalho vieram acompanhadas da desregulamentação de direitos, da ampliação do mercado informal, do aumento do subemprego e do desemprego que, em países como o Brasil, agregavam-se ao desemprego estrutural e à informalidade preexistente.

Em síntese, as transformações no mundo do trabalho, bem como as relações que se vão estabelecendo com o Estado e com a sociedade como um todo, têm contribuído para a ampliação do contingente de sujeitos inseridos no setor informal, que dentro desse contexto de incertezas alocam-se nesse mercado como forma de garantia de sobrevivência.

Segundo Dalbosco e Kuyumjian (1999, p. 190), o mercado informal situa-se como um desdobramento do desenvolvimento do processo produtivo, que “cria, recria e redimensiona no espaço econômico, suas formas de organização, os postos de trabalho e as atividades disponíveis”.

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Para Antunes (1999), nos anos de 1990, o enorme crescimento das práticas de trabalho do setor informal por todo o mundo capitalista avançado representava de fato uma visão bem sombria da história supostamente progressiva do capitalismo. O trabalho organizado apresentava-se cada vez mais solapado. Os índices de desemprego estrutural estavam cada vez maiores e havia, cada vez mais, um retrocesso da ação sindical.

Desse modo, a desregulamentação do trabalho não só dizia respeito à progressiva destituição dos direitos trabalhistas, do direito ao trabalho e dos direitos sociais em geral, mas também, dizia respeito à deslegitimação das formas de organização e participação social, conferindo mais restrições à cidadania.

No Brasil, o início da crise das relações de trabalho deu-se praticamente a partir da abertura do mercado promovido pelo governo Fernando Collor de Melo, no início dos anos de 1990. As transformações do capitalismo trouxeram para o Estado novas e prementes questões, pois a nova economia global acarretava como seu subproduto o aumento da desigualdade.

O trabalho informal passou por um enorme crescimento nas décadas de 1970, 1980 e 1990, quando ocupou quase metade do mercado de trabalho. A título de ilustração, dados apresentados por Dupas (2001, p.145-146) indicam que no Brasil, até 1990, o emprego na indústria, serviços e construção civil cresceu em torno de 20%, com destaque para construção civil (28 %). A partir de 1990, os empregos industriais desabaram (-38%), a construção civil perdeu 7% e só nos serviços o número de desempregados cresceu um pouco.

Em resumo, nos nove anos que se seguiram à abertura do governo Collor (1991-2000), o Brasil metropolitano cresceu em 2% o número de empregos, quando havia ganho 20% nos cinco anos anteriores.

Segundo Dupas (2001, p.147), uma abordagem fundamental para o entendimento da mudança do paradigma do emprego no Brasil é a análise da evolução por tipo de ocupação. O que se constatava era a explosão do trabalho informal ou flexível nas metrópoles brasileiras. O número de empregos gerados com carteira assinada passava de um crescimento de 23% (1986-1990) para uma queda de 26% (1991-2000). Enquanto isso, os trabalhadores sem carteira foram

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de um modesto crescimento de 5% (1986-1990) para o salto de 40% (1991-2000). Esse movimento significou, no período, uma perda de 2,0 milhões de postos de trabalho no setor formal e um ganho de outros 2,0 milhões de postos no setor informal.

Em suma, no pós-abertura comercial dos anos de 1990, no Brasil, sociedade e governo voltaram-se para o setor informal em busca de uma vitalidade tal que permitisse manter níveis gerais adequados de emprego, ainda que precários. A mudança no paradigma do trabalho tornou progressivamente mais flexível o emprego tradicional e levou ao brutal crescimento do setor informal, assim como afetou a qualidade do trabalho, em termos de nível e estabilidade da renda auferida e dos esquemas de proteção social (DUPAS, 2001, p. 151).

No pós-Collor, o Brasil continuou a reproduzir o cenário da competição global desigual, o que pôde ser observado nos dois governos de FHC14, com um modelo de desenvolvimento que visava à estabilização econômica e trazia a reboque várias alterações ao padrão de emprego, provocando consequências que agravaram a questão social.

A respeito da Era FHC, Fiori (2002, p. 12) comenta que, uma década depois de iniciado o desmonte do desenvolvimentismo, o balanço era pouco promissor. Do ponto de vista da economia real e que interessava à maioria da população, o país teve um crescimento médio anual de apenas 1,7%, menor que o da década “perdida” de 1980; sua taxa média de desemprego ficou em torno de 7% (e, nas grandes metrópoles, em torno de 17%); a taxa de investimento não ultrapassou a casa dos 18%; tudo isso enquanto caía a participação dos salários na renda nacional e aumentava a concentração de renda e da riqueza.

Conforme dados apresentados por Ramos e Ferreira (2006, p. 474), nos seis primeiros anos da década anterior, de 1991 a 1996, o grau de informalidade passou de 40% para 47% no conjunto das seis RMs (Regiões Metropolitanas) cobertas pela PME/IBGE (Pesquisa Mensal de Emprego/ Instituto Brasileiro de

14 Considera-se que a política econômica de FHC (Fernando Henrique Cardoso) iniciou-se ainda quando este