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A PERCEPÇÃO DOS E DAS DIRIGENTES SOBRE O COOPERATIVISMO, A ORGANIZAÇÃO E A GESTÃO DA COOPERATIVA

ENTIDADES PROMOTORAS

3.3 A PERCEPÇÃO DOS E DAS DIRIGENTES SOBRE O COOPERATIVISMO, A ORGANIZAÇÃO E A GESTÃO DA COOPERATIVA

Houve relativa dificuldade dos e das dirigentes entrevistados em dizer se a cooperativa incorpora a observância dos princípios, valores e objetivos sociais do cooperativismo59, demonstrando que alguns destes e destas não tinham clareza da incorporação dos princípios e valores consagrados tanto pelo cooperativismo tradicional como pelo movimento da economia solidária. Eles e elas expuseram alguns valores e objetivos, conforme sua percepção do que seria o cooperativismo.

As opiniões eram muito variadas, mas alguns dirigentes demonstram ter conhecimento dos princípios e objetivos sociais do cooperativismo e buscavam aplicá-los. As duas declarações abaixo expressaram conteúdos que se articulavam com diferentes tendências: o primeiro ligado ao movimento internacional na perspectiva da economia solidária e o segundo ligado ao cooperativismo tradicional brasileiro na perspectiva da OCB.

Além do objetivo de geração de trabalho, a visão da cooperativa é de um modelo internacional de aproveitamento de resíduos e de investimentos sociais. (o dirigente – COOPINOVAÇÃO)

Quando iniciamos, pesquisamos bastante o espírito cooperativista que deve reinar nestas relações e transmitimos isso ao nosso quadro e, sempre que iniciamos um novo contrato, as pessoas que vão executar o contrato são chamadas. Quando ela chega aqui, nós explicamos como deve ser. A pessoa não esta aqui para lucrar, para enriquecer, mas para ganhar pra si e ajudar os companheiros. (o dirigente – COOPELETRICA)

Em alguns casos, o entendimento dos objetivos sociais do cooperativismo era confundido com a assistência ao cooperado, como era o caso do discurso dos dirigentes da COORECOMEÇO e da COOPLANALTO.

Esses princípios a gente encara porque a gente hoje, graças a Deus,

59 Como já tratado em páginas anteriores, os princípios e valores do cooperativismo são: autogestão; adesão

voluntária e livre; gestão democrática/participação dos membros; autonomia e independência; educação formal/informal; intercooperação; interesse pela comunidade.

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através da CENTCOOP, eles têm dado muita força para gente [...] Nós trabalhamos é com esse objetivo e você pode trabalhar ou não. Todo mundo adoece, todo mundo sofre acidente, e, aí, quando a gente precisa eu chamo a diretoria, principalmente a diretoria: ‘Olha gente, fulano está passando por uma situação difícil, nós temos dois, três mil, pode tirar lá duzentos reais para comprar um remédio, fazer uma feira para ele’. Nosso objetivo, nosso trabalho é desse tipo. (o dirigente – COORECOMEÇO)

[...] Nós já chegamos a dar curso de cooperativismo, já fizemos curso de economia solidária [...] Nós, ainda hoje, não estamos desenvolvendo a parte social da cooperativa porque pela dificuldade que nós temos passado nesses últimos três anos tentando organizá-la para que ela possa chegar numa estrutura que ela possa dar uma assistência, desenvolvendo o lado social dela. (o dirigente – COOPLANALTO)

Em outra situação, a liderança entendia que os valores do cooperativismo deveriam ser repassados para os cooperados na perspectiva da assimilação por parte dele sobre necessidade de união do grupo.

Trabalha no sistema social, pensar por igual, se unir melhor [sic] para pensar nesse objetivo. (a dirigente – COOMPANHEIRAS)

Os dois depoimentos, a seguir, demonstraram perspectivas bem diferenciadas em relação aos princípios e objetivos sociais do cooperativismo. O primeiro apresentava um descrédito da utopia e o segundo, muito ao contrário, sugeria a crença nas possibilidades de inclusão social pelo cooperativismo.

Eu digo que não tem nem princípio, a nossa [cooperativa], porque não está funcionando como deveria. Estou muito chateada com a cooperativa. Acho que as pessoas ainda não estão acostumadas com cooperativa [...] (a dirigente – COOCOSTURA)

Acesso às políticas públicas e, a maior de todas, é a autoinclusão social. Você poder se autoincluir dentro do estrato social em uma situação pelo menos de cidadão ou o alcance da cidadania. (o dirigente – COORECICLARTE)

Entendemos que a incorporação dos princípios do cooperativismo era interpretada pelo e pela dirigente como a união do grupo, para melhorar as relações de cooperação no desenvolvimento das atividades, com vistas ao

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fortalecimento e crescimento do empreendimento.

Mesmo que os princípios e valores do cooperativismo não estivessem claramente colocados no discurso desses e dessas dirigentes, as práticas democráticas de gestão da cooperativa foram ressaltadas em alguns depoimentos. Especialmente com relação aos processos sucessórios das diretorias.

Assembleia geral, extraordinária. Primeiro, é reunida a diretoria para discutir, depois que a gente chega a uma decisão, a gente chama todos os associados e passa se eles aceitam ou não. E, se eles aceitam, todos assinam a ata. (a dirigente – COOPESTRUTURA)

Já teve duas eleições. Lá, nós fazemos uma assembleia e bota três, quatro nomes que o pessoal quer ser eleito para a diretoria e, aí, nós vamos lá e fazemos a assembleia e o pessoal decide. Lá não tem esse negócio de falar: ‘Ah, é fulano’. Quem decide é o pessoal. (o dirigente – COORECOMEÇO)

De acordo com a legislação das cooperativas, convocamos uma assembleia de quatro em quatro anos. Todo ano há uma assembleia pra prestação de contas, que é a assembleia geral ordinária. No processo eleitoral, convoca-se a assembleia, cria-se a comissão eleitoral, geralmente a decisão é por consenso. (o dirigente – COORECICLARTE). É uma assembleia que faz-se a chapa, forma-se a chapa. São quatro anos. É o presidente, o vice-presidente e um tesoureiro, aí, vêm os suplentes, são três suplentes [...] Ah, sim, tem o conselho fiscal que é anualmente elegido [sic], então com três, são seis elementos, três oficiais e três suplentes [...] (a dirigente –COOSANEAMENTO)

Os entrevistados expuseram o processo de composição e eleição da diretoria da cooperativa, respeitando uma dinâmica própria que lhes parecia a mais adequada: por votação ou por consenso.

Mas, houve relatos como o do dirigente da COOPAMBIENTAL, uma das cooperativas mais antigas, cujo presidente e outros membros da diretoria foram reeleitos várias vezes, só o presidente ocupava o cargo há dez anos por reeleição em assembleia. Há situações como a da COOVESTUÁRIO em que a escolha dos demais dirigentes deu-se por sorteio.

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[mandato] meu lá, a gente faz uma reunião. Aí, se alguém quer se candidatar ou se quer deixar a mesma diretoria. Só que o pessoal, esses anos todinhos, vão deixando, esse ano mesmo já teve [reunião] [...] (o dirigente – COOPAMBIENTAL)

A primeira eleição foi feita da seguinte forma. Reunimos 60 pessoas e foi perguntado quem gostaria de participar da diretoria. Então, um grande número de mais ou menos uns 50% disse que participaria. Então, o que nós fizemos? Nós fizemos um sorteio e através desse sorteio eles foram entrando nos cargos. (o dirigente – COOVESTUÁRIO)

Houve também relatos de cooperativas novas, cuja primeira diretoria ainda se encontrava em tempo de mandato. Mas, houve também o relato da COOCOSTURA que não convocava eleições devido ao esvaziamento da cooperativa, naquele momento com apenas cinco cooperadas efetivamente trabalhando, todas compondo a diretoria.

É a primeira diretoria [...] Olha, nós temos reunião aqui quase toda semana, tem semana que tem duas reuniões. É tipo assim: A gente trabalha, cada vez que tem uma coisa, uma novidade, a gente passa para os cooperados. (o dirigente – COORECICLAGEM)

De dois em dois anos, a gente tinha de fazer a troca. Mas está tudo parado por agora, de dois anos para cá está parado. (a dirigente – COOCOSTURA)

De maneira geral, os entrevistados informaram que as cooperativas possuíam a estrutura formal mínima de composição da diretoria, com presidência, vice-presidência, secretaria e tesouraria, além de conselho fiscal. No caso de cooperativas com um número muito reduzido de participantes, a liderança era compartilhada por todos os membros, mas a presidência respondia legalmente e burocraticamente pela cooperativa. O número médio de diretores informado era entre quatro e seis membros. As cooperativas com maiores números de diretores chegavam a ter doze e até quatorze membros, conforme quadro abaixo. Neste quadro ainda constam informações sobre a relação entre diretoria e cooperados, assim como a visão do ou da dirigente sobre a responsabilidade dos participantes e da diretoria na cobrança e na execução das tarefas. A elaboração do quadro buscou expressar a síntese das respostas de cada entrevistado ou entrevistada.

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QUADRO 10: Número de diretores, relação entre diretoria e cooperados, responsabilidade e cobrança na execução de tarefas nas cooperativas pesquisadas – DF 2007/2008

COOPERATIVAS NÚMERO DE