• Nenhum resultado encontrado

DESTINAÇÃO FINAL DO RESÍDUO/LIXO

RESÍDUO/LIXO

2.6 DESTINAÇÃO FINAL DO RESÍDUO/LIXO

No estudo de Leão (1996), constatamos que nos Estados Unidos, 83% do resíduo/lixo gerado destinam-se ao aterro sanitário, 8% são incinerados, 8,5% são reciclados e o restante é transformado em compostos.

Analisando os dados apresentados por D’Almeida e Vilhena (2000) verificamos que não só os Estados Unidos, mas também o Canadá e a Itália destinam a maior parte do seu resíduo/lixo para o aterro sanitário. O Japão e a Suíça priorizam a incineração. Esta modalidade de tratamento abrange cerca de 65% do total dos detritos já citados. Entre os países classificados como ricos, os Estados Unidos, a Suíça e o Japão são os que mais reciclam o resíduo/lixo, ou seja, em torno de 20% do total. Entre tais países é na França, depois na Espanha, que o resíduo/lixo transformado em compostos alcança os maiores percentuais (entre 10% e 16% do total, respectivamente).

Ainda segundo os autores, a disposição de resíduo/lixo na América Latina e Caribe apresenta a seguinte situação: 35% vão para lixões; 35% para aterros de baixa qualidade (ou mal operados) e os 30% restantes são despejados em aterros sanitários.

Com motivação nos baixos percentuais apresentados, os autores não computaram os índices das quantidades que são incineradas, compostadas ou separadas nas usinas de triagem dos serviços municipais, nessa parte do continente americano. Tampouco foi considerado, nestes percentuais, o valor que os catadores autônomos retiram diretamente nas ruas ou nas indústrias, no comércio ou, ainda, nos escritórios.

Em relação ao Brasil, em 1991, os dados apresentados mostram que, o resíduo/lixo produzido tinha a seguinte destinação: 76% eram jogados nos lixões; 13% nos aterros controlados; 10% em aterro sanitário; 0,1% eram incinerados e apenas 0,9% chegavam até as usinas de triagem (IBGE, 1991). Considerando-se os problemas ambientais e, mormente os de saúde pública possíveis de serem acarretados por estes detritos se pode dizer que a situação apresentada era grave e, portanto, merecedora de atenção da sociedade inteira.

Em 2000, uma pesquisa sobre saneamento básico (IBGE, 2000a) demonstrou que das 228 mil toneladas diárias de resíduo/lixo, geradas por 169 milhões de brasileiros (1,34 kg por pessoa), 36% foram despejadas em aterros sanitários. Os volumes encaminhados para a estação de triagem, compostagem e incineração alcançaram juntos algo em torno de 0,5%. O restante, mais de 63,5% descartados de forma irregular; entre outros, em vazadouros ou lixões (21%), aterros não controlados, cursos d'água, várzeas, voçorocas e manguezais (42,5%).

Levando-se em conta o emprego do equipamento de gerenciamento mais usual, o aterro sanitário, os resultados demonstram que a condição de destinação melhorou, em comparação com os dados anteriores do próprio país e até superou os da América Latina e Caribe. Entretanto, não podem ser considerados confortáveis, já que nem sempre os aterros sanitários são construídos e operados com o rigor técnico necessário e a percentagem de detritos que se encaminha para aterros controlados e lixões, ainda é gigantesca (63,5%).

Reafirmando isso, na região metropolitana de São Paulo, por exemplo, segundo Leão (1999), dos 116 depósitos de resíduo/lixo, entre ativos e desativados, totalizando cerca de 20 km² de área, apenas vinte podiam ser classificados como aterros sanitários ou controlados. A autora acrescenta que a Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental - CETESB, em 1990, ainda constatou, nessa região, que 87% dos resíduos hospitalares, químicos, industriais e domiciliares coletados foram descarregados em lixões públicos ou aterros controlados. Este é um dos inúmeros registros que atestam o comportamento negligente e irresponsável de grande parte dos agentes públicos, econômicos e sociais ante o problema.

No restante do estado, se levarmos em conta o total das cidades, as condições de disposição final do resíduo/lixo estão piores. De acordo com a autora antes citada, num relatório concluído pela mesma empresa no inicio de março de 1999, dados referentes ao período de 1997 e 1998 indicaram que dos 654 municípios do Estado de São Paulo, 627, ou seja, 95,9% dispõem o resíduo/lixo em lixões e somente 27, menos de 5%, usam técnicas recomendáveis.

O mesmo relatório indicou que das 18.232 toneladas de resíduo/lixo por dia (0,58 kg, por habitante), apresentadas para o serviço de coleta na mesma área geográfica, 10,9% foram dispostas de acordo com a recomendação técnica, 58,4% em sistemas controlados e 30,7% inadequados (Oliveira,1998). Cumpre destacar que, a análise desses dados por si só não permite a formulação de diagnósticos ou prognósticos sobre as condições que se apresentam. Mas, chama a atenção para a necessidade de estudos mais aprofundados sobre a questão.

Esses dados, comparados entre si, revelam que a situação de gerenciamento melhorou muito no estado. Entre as diferentes datas de recolha de informações, os números são imprecisos ou, ainda, foram levantados, segundo metodologias diferentes. Confrontadas com os dados do Brasil, as condições de disposição de detritos em São Paulo são pior que a do país inteiro, o que, parece não ter lógica, considerando a complexidade e a deficiência de outros contextos, em certas regiões do país.

Nos municípios da região de Ribeirão Preto, a situação não é melhor. No que se refere à destinação final de resíduo/lixo, o quadro existente demonstra que o potencial de poluição contido nesses detritos é desconhecido, ou simplesmente é desconsiderado, pois, a falta de cuidados na sua destinação provocou, e certamente ainda provoca, inúmeros impactos ambientais. Parece que esse assunto, ainda não se afigura como prioritário para a sociedade.

Nas visitas que realizamos, entre abril e maio de 2001, nos terrenos onde despejam o resíduo/lixo das cidades de Orlândia, Pradópolis, Sales Oliveira, Santa Cruz da Esperança, Santa Rosa de Viterbo, São Joaquim da Barra, São Simão, Sertãozinho, Taiuva, Tambaú, Terra Roxa e Viradouro, e em setembro de 2002, em Batatais, por exemplo, encontramos situações que, certamente, estão gerando ou poderão gerar sérios problemas para o ambiente.

Nos municípios de Pradópolis e Sertãozinho (FIGURAS 7 e 8), para exemplificar, constatamos que os métodos e as técnicas para evitar os problemas ambientais, provocados pela disposição incorreta do resíduo/lixo, em ambos os casos, não atendem sequer aos padrões normativos e ambientais reformistas.

Em Ribeirão Preto, nossa área de estudo, os moradores, como veremos mais adiante, relatam que os detritos domiciliares foram despejados, em pelo menos dez diferentes locais; dentre eles, oito, já estão ocupados por bairros residenciais. Até o momento, as duas últimas áreas que serviram para o despejo do resíduo/lixo, excetuando-se a ocupada pelo aterro controlado em operação, provocaram danos ao ambiente, em conseqüência da falta de cuidados ambientais.

Vale ressaltar que dano ambiental é de difícil conceituação, inobstante, podemos pensá-lo, inicialmente, como uma alteração lesiva ao ambiente provocada pela degradação, pela multiplicidade de causas, efeitos e vítimas, que muitas vezes impossibilita voltar ao

status quo ante, ou seja, ao equilíbrio ecológico. Os agravos ao ambiente podem ser

considerados como o reflexo da consciência da sociedade para com o meio que habita. Ou, em outras palavras, a imagem dos fatos vividos pela coletividade. Nesse sentido, parece imperioso construir uma realidade sob outras bases.

FIGURA 7 - Vista parcial do lixão do município de Pradópolis com a presença de catadores autônomos em contato direto com o resíduo/lixo

FIGURA 8 -Vista parcial do lixão do município de Sertãozinho contendo descarte de embalagens vazias de agrotóxicos