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5. PRINCÍPIOS ORIENTADORES: CONSIDERAÇÕES GERAIS E PRINCÍPIO DA EFICIÊNCIA.

5.2. EM ESPECIAL: EFICIÊNCIA

5.2.2. Deveres Correlatos

O princípio da eficiência, possui, em seu conteúdo jurídico, uma série de deveres correlatos, conexos a seu escopo de tornar mais eficiente as atividades da Administração Pública. Tratam-se de deveres obtidos com base em uma percepção ampla do princípio da eficiência, elencados, aqui, a partir da observação do conteúdo jurídico apresentado em ordenamentos que adotam o princípio, embora, como já exposto, por vezes, utilizando nomenclatura distinta daquela que optamos para aqui expô-lo.

Há, portanto, no mandado de otimização que impõe à Administração a escolha dos melhores meios para obtenção dos melhores resultados, deveres outros, os quais podem ser listados, sem pretensão de esgotamento, a fim de tornar mais robusto seu conteúdo prima facie. Na impossibilidade de propor-se um conceito estanque à eficiência, é propícia a análise desses conceitos afins, que, na concepção lato sensu do princípio,

Um desses deveres, acima mencionado, é o da eficácia, pois, como dito, o princípio possui incidência instrumental, a fim de que a Administração Pública alcance os resultados que busca, e os alcance da melhor forma possível, do ponto de vista do tempo, gastos e proveitos. Tratar-se-á, ainda, da economicidade, da produtividade, da celeridade e da desburocratização.

Por dever de economicidade, deve a Administração desenvolver suas atividades com o emprego dos melhores meios do ponto de vista de custos. É, pois,

358

MORERIRA NETO, Diogo Figueiredo. Quatro Paradigmas do Direito Administrativo Pós-

Moderno: Legitimidade – Finalidade – Eficiência – Resultados. Belo Horizonte: Fórum, 2008. p. 103.

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um aspecto econômico da eficiência, que visa à contenção no dispêndio dos recursos. O resultado procurado é aquele obtido com a contenção de despesas e mínimo de desperdício360.

A busca irrefreada por economicidade, entretanto, pode ser prejudicial ao atendimento das reais necessidades públicas361. Em determinada medida, a economia pode comprometer o alcance dos fins desejados, resultando em desperdícios por insuficiência de resultados362. Não raro, a economicidade pode ser menor determinante na escolha administrativa concreta, em razão dos demais interesses em jogo363. Assim, no mais das vezes, como dever de eficiência jurídica, a economicidade deve ser interpretada como uma adequação na relação “custo x benefício” e no combate ao desperdício364

.

Nesse sentido, a eficiência conecta-se, também, à produtividade, segunda a qual, para alcance do resultado que lhe é posto, deve a Administração depender os menores recursos e, com os recursos que lhe estão disponíveis, obter os melhores resultados365. Assim, a produtividade é demonstrada através da relação entre o produto final e os meios utilizados na produção366, avaliando-se como estes podem varias a fim de obter-se o melhor resultado367.

Pela celeridade, entende-se que a atuação da Administração Pública não pode quedar-se paralisada ou se desenvolver lentamente368. Para ser a melhor, a solução buscada na persecução do bem comum deve ser atingida rapidamente369; deve-se, portanto, optar por práticas que resultem em maior agilidade e rapidez, para que haja economia de tempo370.

360

Cf. ROCHA, Manoel Ilson Cordeiro. O Controle Jurisdicional... p. 64-65.

361

BORGES, Alice Gonzales. Inovações nas Licitações e seus Aspectos Constitucionais. Revista

Eletrônica sobre Reforma do Estado (RERE), Salvador, Instituto de Direito Público, nº 1,

set/out/nov., 2007. Disponível em: <<http://www.direitodoestado.com.br/rere.asp.>>.

362

ROCHA, Manoel Ilson Cordeiro. O Controle Jurisdicional ... p. 66.

363

É o que expõe Onofre Alves Batista Junior, citando, ilustrativamente, a possibilidade de existir uma necessidade de compra de vacinas diante de uma iminente epidemia de grandes proporções, caso em que a celeridade pode acabar diminuindo a força ponderativa da economicidade (BATISTA JÚNIOR, Onofre Alves. Princípio Constitucional... p. 188).

364

BATISTA JÚNIOR, Onofre Alves. Princípio Constitucional... p. 188.

365

BATISTA JÚNIOR, Onofre Alves. Princípio Constitucional... p.183.

366

GABARDO, Emerson. Princípio Constitucional... p. 27

367

ROCHA, Manoel Ilson Cordeiro. O Controle Jurisdicional... p. 68.

368

MOREIRA, Egon Bockmann. Processo Administrativo: Princípios Constitucionais e a Lei 9.784/99. São Paulo: Malheiros, 2000. p. 144.

369

BATISTA JÚNIOR, Onofre Alves. Princípio Constitucional... p 197.

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Há, ainda, que se encontrar o ponto ótimo entre a segurança e a otimização do tempo. “Aquele que decide rápido, decide usualmente mal” 371

, de forma que a celeridade deve ser observada, mas com a devida cautela, não sendo dado ao Gestor afastar-se dos objetivos públicos. A eficiência não permite à Administração afastar-se do seu dever de recolher todas as informações e realizar todas as diligências necessárias para a boa realização de suas atividades, mas impõe que ela se restrinja ao que é restritamente necessária, escusando-se dos excessos e extravagâncias. Nessa faceta, a eficiência protesta por lógica e coerência, para que os procedimentos públicos sejam céleres – sendo certo que a extemporaneidade não raramente poderá levar à inutilidade do resultado372 –, mas não desgovernados, atropelando atos e fatos necessários para a garantia dos direitos e interesses da sociedade.

Também se associa à eficiência a desburocratização, enquanto mandado de que a Administração seja o quão menos burocrática quanto as condições fáticas e jurídicas a permita. O princípio serve, portanto, de desestímulo a “estruturas desnecessariamente complexas, duplicações, de atribuições ou competências, distanciamento excessivo entre as entidades administrativas e os particulares e entre os órgãos de instrução e de decisão e os seus destinatários”373

, bem como à excessiva complexidade e formalidade dos procedimentos, que o tornem demasiadamente longos e lentos374.

Não é legítimo, entretanto, assumir posicionamentos extremistas, no sentido de que a Administração que se pretende efiente deve afastar qualquer ideia de burocracia375. Assumiu-se, pois, a burocracia apenas por seu extrato negativo, tal qual o termo restou configurado no imaginário popular. A procedimentalização, a especialização e a formalização em níveis adequados, bem como a profissionalização das ocupações públicas são extremamente positivas, e não podem ser simplesmente afastadas pelo novo paradigma.

Decorre, ainda, do dever de desburocratização, a aproximação dos serviços aos cidadãos, entendendo-se que as necessidades coletivas serão mais bem satisfeitas se os agentes executores dos serviços estiverem mais próximos dos

371JUSTEN FILHO, Marçal. Considerações sobre o “Processo Administrativo Fiscal”. Revista

Dialética de Direito Tributário, v. 33, p. 108-132, 1998. p. 109.

372

GABARDO, Emerson. Princípio Constitucional... p. 27

373

SOUSA, Marcelo Rebelo de; MATOS, André Salgador de. Direito Administrativo Geral – Tomo