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Assim como qualquer outra profissão em nossa sociedade, os profissionais de saúde, mais especificamente os médicos, também possuem deveres específicos e de extrema importância no desempenho de sua atividade.

O pilar, o alicerce da relação entre médico e paciente é a confiança e a honestidade. O paciente precisa confiar no médico enquanto que este precisa ser honesto com o primeiro.

Cabem ao médico, como profissional responsável pela saúde humana, inúmeros deveres e obrigações no desempenhar de sua atividade, sempre visando o melhor para o

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PEREIRA, Caio Mário da Silva. Responsabilidade Civil. Atualizador Gustavo Tepedino. 10ª ed., revista e atualizada. Rio de Janeiro: GZ Editora, 2012. p. 203.

38 CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil. 2ª ed. São Paulo: Malheiros Editores,

cliente e estando dentro dos limites impostos pela lei, pela boa-fé, pelos bons costumes e pela opinião social.

Dentre esses inúmeros deveres, para o bom desenrolar deste trabalho, é válida a análise dos seguintes: dever de informação, a beneficência, o dever de aconselhamento e o dever de sigilo, qual seja respeitar a privacidade do paciente.

2.1.1 Dever de Esclarecimento (Consentimento Informado)

Um dos principais deveres do médico é o dever de esclarecimento. Também chamado de dever de informação, cumpre ao médico informar ao paciente sobre a direção do tratamento que será tomado, bem como a utilização de uma linguagem menos específica, a fim de obter do paciente um consentimento acerca das informações.

Ora, é sabido que o médico possui um vasto conhecimento acerca da medicina, pois foi o que se propôs a estudar e a se especializar. O conhecimento técnico de um médico acerca de um determinado tratamento não se compara, por muito, como o ínfimo conhecimento que um paciente pode vir a possuir sobre o tratamento, fazendo com que o médico tenha o dever de informar ao paciente tudo o que o mesmo precisa saber sobre o que será feito com ele, tenho em vista que todo e qualquer procedimento, excepcionando-se os casos de emergências, deve ter o consentimento do paciente.

De forma coesa, é válida a ressalva da visão de Caio Mário sobre tal dever:

Embora o médico, como profissional, tenho por si a presunção de conhecimento e portanto a direção do tratamento, não se dispensa de orientar o enfermo ou as pessoas de cujo cuidado este depende, a respeito de como proceder, seja no tratamento ambulatorial, seja no hospitalar, seja ainda no domiciliar.39

Resta claro, portanto, que o dever de informação é o esclarecimento que o médico deve realizar para com o paciente ou o responsável pelo mesmo acerca do tratamento a ser realizado, bem como dos riscos e consequências que o paciente pode enfrentar. Não pode o

39 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Responsabilidade Civil. Atualizador Gustavo Tepedino. 10ª ed., revista e

médico, dessa forma, omitir do paciente qualquer informação de importante relevância sobre o tratamento e seus riscos.

Aduz José de Aguiar Dias sobre o dever de informação:

Aqui, os autores não poderiam deixar de reconhecer um problema dos mais melindrosos: é que, se o médico está obrigado, por força das normas recordadas, a nada ocultar ao paciente, quanto aos riscos do tratamento ou da intervenção, por outro lado, a ciência médica lhe aconselha a levar em conta o estado psíquico do cliente, e a prática informa que, muitas vezes, nem é possível, em face da ignorância técnica do doente, ministrar-lhe tais instruções.40

É clara, senão, a importância de informar o paciente ou quem o acompanha sobre os riscos do tratamento, uma vez que cabe ao paciente ou seu responsável, diante das informações apresentadas pelo médico, optar pelo tratamento ou não, pois inquestionável é a autonomia de uma pessoa sobre o seu próprio corpo.

Portanto, há que se compreender, conforme leciona Cavalieri Filho41, que toda vez que houver algum risco a correr, é dever do médico contar ao paciente sobre o risco, sendo dispensável apenas em situações emergenciais que não possam ser superadas ou de atuação compulsória. Sendo assim, cabe ao paciente e unicamente a ele decidir sobre a própria saúde, avaliando o risco ao qual será submetido em função do tratamento ou da cirurgia a ser feita ou não, dependendo de sua aceitação.

2.1.2 Beneficência

De forma bem resumida, beneficência é praticar o bem para com o outro. Portanto, as ações dos médicos devem sempre estar de acordo com o melhor interesse do paciente, seja aumentando os benefícios e/ou reduzindo os prejuízos.

A Beneficência é o dever de cuidar, de zelar pelo paciente, de praticar o bem para com o paciente, independentemente desse bem sendo uma melhoria ou uma redução de prejuízo.

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DIAS, José de Aguiar. Da Responsabilidade Civil. 12ª ed. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2012. . 285- 286.

41 CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil. 2ª ed. São Paulo: Malheiros Editores,

Diante da colocação da confiança entre o paciente e o médico como pilar desta relação, cabe ao médico corresponder a essa confiança da melhor forma possível, sempre buscando ajudar o paciente diante de qualquer situação adversa que o mesmo enfrentar.

2.1.3 Dever de Aconselhamento

O dever de aconselhamento pode ser considerado o “próximo passo” do dever de informação. Enquanto que no dever de informação o médico está obrigado a informar ao paciente sobre o tratamento a ser enfrentado e os seus riscos, no dever de aconselhamento o médico se encontra obrigado a aconselhar, a demonstrar sua opinião em prol da saúde o paciente.

Sobre este dever, dispõe José de Aguiar Dias:

Responde o médico por infração do dever de conselho quando não instrui o cliente ou a pessoa que dele cuida a respeito das precauções essenciais requeridas pelo seu estado. Está neste caso o médico que deixa de aconselhar a hospitalização do enfermo, quando evidente que não se poderia tratar devidamente, nem uma assistência adequada lhe podia ser dispensada no domicílio.42

Como se vê, há uma linha tênue entre o dever de informação e o dever de aconselhamento. A distinção é simples: enquanto o primeiro recai na obrigação de informar, o segundo recai na obrigação de aconselhar; enquanto o primeiro é uma informação técnica, o segundo é uma opinião pessoal técnica.

O aconselhamento vem seguindo a informação para que o paciente possa receber o tratamento adequado e tenha total consciência sobre o que está acontecendo ou pode vir a acontecer.

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2.1.4 Dever de Sigilo

Para se falar do dever de sigilo, é importante, antes, fazer uma breve menção aos direitos da personalidade, principalmente o direito a intimidade que cada um possui.

A intimidade é um bem de valor imensurável, ainda mais na nossa sociedade atual. Não há que se confundir intimidade com segredo, pois a intimidade, a privacidade é um direito conferido por lei. É o direito que preserva o ser humano da sua vida particular e seus pensamentos mais secretos do conhecimento de outras pessoas e do próprio Estado, reserva a própria vivência da pessoa.

Partindo disso, podemos entender o dever de sigilo do médico como sendo o dever de respeitar a intimidade, a privacidade do paciente com relação às informações sobre a sua saúde.

Para sintetizar o tema, importante ressaltar o que dispõe Cavalieri Filho:

E assim é porque o médico tem o dever ético e legal de guardar segredo sobre fatos de que tenha tomado conhecimento no exercício de sua atividade profissional (Lei n. 3.269/57, Código de Ética Médica, art. 34 e Código Penal, art. 154). A violação desse segredo, quando não acarreta também danos materiais, ofende o direito à intimidade, um dos sagrados direitos da personalidade.43

Para além disso, além de ser dever dos médicos resguardar o sigilo da situação do paciente, devem também os estabelecimentos de saúde seguir o mesmo caminho, uma vez que se trata de um direito do paciente em ter as informações acerca do seu quadro clínico resguardadas, sendo apenas admissível a transmissão de informações de forma estritamente informativa e genérica de casos excepcionais, como por exemplo, em casos de interesse público e de repercussão social, como é o caso de pessoas públicas hospitalizadas que venham a ser hospitalizadas.

Ainda, conforme acima descrito, Cavalieri Filho destaca casos em que o sigilo médico-paciente possa vir a ser quebrado, como se vê:

Não se trata, é verdade, de um sigilo absoluto, porquanto em situações especiais pode o médico ser levado a quebrá-lo, mormente quando estiver em jogo outro

43 CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil. 2ª ed. São Paulo: Malheiros Editores,

interesse relevante – salvar a vida do próprio paciente ou de outra pessoa a ele ligada; notificar a doença infecto-contagiosa; apurar fato delituoso; realização de perícias médico-legais e outras requisições da justiça. Mesmo nesses casos a revelação deve circunscrever-se ao limite do estritamente necessário.44

Portanto, resta claro que o dever de sigilo do médico corresponde a obrigação que o mesmo tem de respeitar o direito a intimidade, o direito a privacidade que o paciente possui, de forma a reter e não poder divulgar qualquer informação não autorizada pelo paciente acerca de seu tratamento, salvo nos casos anteriormente apresentados, principalmente quando houver alguma vida em risco.

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