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Dez oportunidades com a criação de uma Wiki das Lusofonias

3.3. A Wiki das Lusofonias e a Rede Social Lusófona, uma proposta prática

3.3.1 Dez oportunidades com a criação de uma Wiki das Lusofonias

1. Criação de um acervo de pesquisa dos povos de língua portuguesa;

2. Surgimento de uma comunidade lusófona virtual através de um novo canal; 3. Fomento à produção do conhecimento pelos próprios povos;

4. Maior autonomia dos povos quanto ao olhar estrangeiro;

5. Oferta de conteúdo gratuito que pode ser versado em diversos idiomas, favorecendo a internacionalização de informações sobre os países e regiões lusófonas;

6. Abertura para produção de conteúdo em idiomas nacionais, dialetos;

7. Produção de informação diretamente da fonte propicia um registro de idiomas autóctones, funcionando também como um repositório de línguas vivas. Nesse caso, a Wiki, bem como a blogosfera funciona como uma legitimação dos idiomas e dialetos que permanecem isolados e correm o risco de serem extintos ao longo dos tempos com a penetração de idiomas e necessidades advindas das aglutinações econômicas;

8. Oferta de conteúdo gratuita que tem um percurso de auto-sustentabilidade que pode ser desdobrado em dados para pesquisas para novos projetos multimídias. Um direito essencial e respaldado por lei à informação;

9. Possibilidade de atualização constante de materiais, compartilhamento, preservação, gestão da informação que constitui o conhecimento;

10. Criação de um banco de memória dos povos que têm a língua portuguesa como mãe ou intermediária. Investimento em cultura digital para a posteridade.

Entre os dez pontos citados, a questão do idioma, sobretudo das línguas autóctones126, nos processos de Internet e, fundamentalmente, na contextualização da criação de uma wiki envolvendo os povos da lusofonia, passa também pela afirmação colocada por Raul Junqueiro no livro A idade do conhecimento – a nova era digital (2002). O autor explica que o fenômeno da globalização não pode negligenciar dois importantes fatores socioculturais: o lugar e a língua. É natural que as pessoas prefiram consultar conteúdos em seus idiomas de origem e isso abre um campo imensurável para o mosaico de códigos de linguagens inseridos no contexto de uma Lusofonia Digital, que em vez de minar ou padronizar e determinar uma língua, abre espaços para que todas venham à tona, tendo a possibilidade de uso do português como intermediária.

“Até a década de 90 do século passado os conteúdos web produzidos não tinham grande relevância, uma vez que imperavam os internacionais, sobretudo pela qualidade superior. Depois dessa data, e à medida que a Internet passou a ser encarada de forma estratégica pelos Estados, começou a ser feito um grande esforço no sentido de produção de conteúdos nos idiomas de origem dos utilizadores”. (Junqueiro, 2002: 161)

Para Junqueiro, a educação hoje vai além de aprender a ler e a escrever, demanda um suporte digital. E caberia aos Estados criar esse ambiente, com produção de conteúdos nos idiomas nacionais. Assim sendo, a criação de uma Wiki das Lusofonias seria uma rica fonte de pesquisa e autoconhecimento às localidades que dela dizem respeito, e aos

126 “Uma especialista da Universidade Eduardo Mondlane, em Maputo, defendeu a criação de bases de dados que facilitem o estudo das variedades não-nativas (VNN) de línguas coloniais, como o Português de Moçambique (PM)”. Disponível em http://ww1.rtp.pt/noticias/index.php?article=256279&visual=26 [Em linha]. [Consultado em maio de 2008]

demais povos do sistema internacional. Teria um cunho de políticas públicas127 no sentido de ampliar o acesso à ferramenta como apoio educacional e fomentar o suporte ao entrecruzamento das realidades e da oportunidade de adquirir conhecimento diretamente das fontes com tais canais de pesquisa e busca. O Linux e a Wikipédia são exemplos que os autores do livro O conhecimento em rede chamam de inteligência coletiva (Cavalcanti e Nepomuceno, 2007: prefácio).

O especialista Gary Chapman concorda com a viabilidade para a criação de uma wiki como se propõe nesta tese. No entanto, alerta que há veículos mais interativos no quesito de criação de uma comunidade lusófona. Entende-se, em uma visão particular, que uma ferramenta leva à outra. Uma Wiki das Lusofonias funcionaria como um acervo e uma oportunidade de conhecimento mais aprofundado das particularidades de cada membro do universo lusófono. Por conta disso, sugere-se que esta wiki esteja mais voltada para o aspecto cultural, como uma funcionalidade temática e referencial de pesquisa.

A criação de uma comunidade virtual lusófona (ou das lusofonias) exige maior investimento em interatividade que a criação de uma wiki. E por isso, uma outra ferramenta que se propõe é a criação de uma Rede Social das Lusofonias.

“The social web is the online place where people with a common interest can gather to share thoughts, comments, and opinions. It includes social networks such as MySpace, Gather, Friendster, Face-book, BlackPlanet, Eons, LinkedIn, and hundreds more. It includes branded web destinations like Amazon, Netflix, and eBay. It in- cludes enterprise sites such as IBM, Circuit City, Cisco, and Oracle. The social web is a new world of unpaid media created by individuals or enterprises on the Web”. (Weber, 2007: 16)

A ferramenta funciona através da própria interação da sociedade civil em seu universo relacional, dentro das redes de sociabilidades individuais que passam a ser coletivas com

127 “Na Coréia do Sul o Estado subsidia 100% o acesso de banda larga nas escolas, sendo o maior país com penetração de banda larga” (Junqueiro, 2002: 294).

base no conceito de interconectividade. O funcionamento é simples: um usuário se cadastra e convida o outro a participar, e assim por diante acontece a formação da rede – como já acontece em comunidades temáticas. Neste caso, a ação ocorreria no escopo lusófono. De acordo com o professor José Augusto Mourão em seu artigo Retórica do Hipertexto, sobre o conexionismo, o autor diz que “a comunicação não é mais vista somente como fática ou cognitiva, mas como transmissão” (Mourão, 2005: 97). É neste valor, da transmissão, do aproveitamento desse ato de comunicar de maneira remodelada, que se pautam as propostas deste estudo.

“A interatividade é o mecanismo através do qual as atividades de vários processos influem umas sobre as outras. Para falar de interatividade é preciso haver independência das atividades. É necessário que cada parte em interação tenha um comportamento não previsível para as outras partes” (Mourão, 2005: 94)

A lusofonia aos poucos se dissolve neste novo patamar de conceitos ao se manter fora da sociedade do conhecimento, mesmo com todo o seu potencial para a experimentação de uma vivência virtual bem-sucedida. Segundo leituras em textos de Cavalcanti e Nepomuceno, as comunidades em rede assumem atualmente um valor imprescindível para a criação de projetos inovadores do futuro. E ressaltam também o efeito viral do meio com relação à multiplicação de idéias. Os autores explicam que antes do ambiente de rede a comunicação era vertical e o conhecimento tradicional; e depois, comunicação multidirectional e inteligência coletiva. Na esfera da infoexclusão que se sucede nos países de língua portuguesa, em sua maioria, nega-se automaticamente mais um direito fundamental do ser humano, que é o acesso à informação, tendo impactos densos na produção de conhecimento projetada para o mundo.

IV Capítulo – Os portais e a blogosfera lusófona