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Diálogos entre a atuação dos profissionais de saúde e a população de adolescentes usuárias do Sistema Único de Saúde em Uberlândia

AS REPRESENTAÇÕE DA GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA: FAMÍLIA E

3 AS REPRESENTAÇÕES DA GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA: FAMÍLIA E PROFISSIONAIS DE SAÚDE

3.3 Diálogos entre a atuação dos profissionais de saúde e a população de adolescentes usuárias do Sistema Único de Saúde em Uberlândia

Os paradigmas construídos pela comunidade em estudo e os do saber institucionalizado estão em extrema dissonância, pois uma entende a gravidez na adolescência como válvula de escape para uma vida melhor, enquanto o outro a entende como problema a ser enfrentado. A gravidez na adolescência passou a ser vista pelo saber médico e os profissionais da área de saúde como uma situação de risco biopsicossocial, capaz de trazer consequências negativas não apenas para as adolescentes, mas para toda a sociedade306. Desse modo, ela vem sendo considerada, em alguns países, problema de saúde pública, uma vez que pode acarretar complicações obstétricas, com repercussões para a mãe e o recém-nascido, bem como problemas psicossociais e econômicos 307. Segundo o saber médico, a gravidez na adolescência pode acarretar sérias consequências para todos os membros da família, principalmente para as adolescentes envolvidas, pois os filhos que nascerão poderão ocasionar crises e conflitos. Para Jorge e outros308, as jovens, em geral, não estão preparadas para assumir com responsabilidade essa nova fase de sua vida.

Portanto, propor uma mudança estratégica de atuação do profissional da área de saúde com relação ao adolescente e sua família é uma tarefa complicada, pois ele está contaminado por um saber que condiciona seu olhar para um problema a ser resolvido. Isso nos leva a acreditar que há necessidade de refletir sobre as questões normativas, visto haver uma distinção entre “fatos e valores”, pois o observador não está envolvido com a situação e o usuário deve agir de acordo com as normas estabelecidas, ou seja, sem participar efetivamente do processo. O que realmente acontece é que a população é submetida a programas prontos aos quais deve se adequar, sendo aqueles que não se adaptam considerados um problema para a sociedade e, consequentemente, para a saúde. Como mostra Foucault309, a medicina propôs, sob a forma de regime, uma estrutura voluntária e racional de conduta, e assim é até hoje, sendo aqueles que estão fora da regras dessas condutas considerados um problema. Dessa forma, para haver uma mudança de estratégia, é necessário inicialmente repensarmos nossos

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DIAS, A. C. G.; TEIXEIRA, M. A. P. Gravidez na adolescência: um olhar sobre um fenômeno complexo.

Paidéia, Ribeirão Preto, v. 20, n. 45, p. 123-131, 2010.

307 YAZLLE, 2006.

308 JORGE, M. S. B.; FIÚZA, G. V.; QUEIROZ, M. V. O. A fenomenologia existencial como possibilidade de compreensão das vivências da gravidez em adolescentes. Revista Latino-Americana de Enfermagem, Ribeirão Preto, v. 14, n. 6, p. 907-914, nov./dez. 2006.

saberes, como eles são construídos, para quem eles são verdadeiros, pois se não pararmos para repensar, vamos reproduzir o discurso que achamos ser nosso, como os seguintes:

[...] A gravidez na adolescência é um problema médico e social, sendo considerado pela Organização Mundial de Saúde, em particular, quando ela ocorre em jovens com menos de dois anos de vida menstrual. A multiplicação de adolescentes grávidas é um fenômeno universal e acomete países desenvolvidos e em desenvolvimento, o que preocupa os especialistas da área.310

O Dr. José Antonio Nascimento Filho, membro da Sociedade de Ginecologia e Obstetrícia de Roraima, também se posiciona sobre o tema:

[...] Os adolescentes vão ter com a gravidez problema de crescimento, desenvolvimento, emocional, comportamental, educacional e de aprendizado, além de complicações da gravidez no parto. E à medida que os tabus e conservadorismo vão diminuindo, a atividade sexual e a gravidez na infância/adolescência vão aumentando, sendo que o despertar sexual tem surgido cada vez mais cedo.311

Portanto, tradicionalmente a gravidez e maternidade na adolescência têm sido tratadas como problemas de saúde pública no Brasil, sendo caracterizadas como situações associadas a riscos pessoais e sociais para o desenvolvimento da adolescente e de seu filho.312 No entanto, cada vez mais estudos que consideram a percepção da adolescente sobre a experiência da maternidade fogem essa unanimidade quanto ao caráter negativo da gravidez na adolescência, principalmente no que se refere a adolescentes em situação de risco social e pessoal.

De acordo com Pantoja,313 o fenômeno da gravidez na adolescência não se caracteriza como um fato recente no Brasil. No entanto, segundo Fávero e Mello,314 é após a década de 1960 que se nota maior interesse no estudo desse fenômeno. Tal interesse coincide com um contexto histórico de discussões e mudanças nos valores referentes aos conceitos de gênero e

310 Entrevista concedida pela Dra Isabel Freitas, ao jornal A Tarde de 05/09/2005.

311 Entrevista concedida pela Dr. José Antonio Nascimento Filho, no blog fato real de 13/04/2011.

312 Cf. SANTOS, S. R.; SCHOR, M. H. C. Vivências da maternidade na adolescência precoce. Revista de Saúde

Pública, São Paulo, v. 37, n. 1, p. 15-22, fev. 2003; AMAZARRAY, M. R. et al. A experiência de assumir a

gestação na adolescência: um estudo fenomenológico. Psicologia: reflexão e crítica, Porto Alegre, v. 11, n. 3, p. 431-440, 1998; COSTA, L. F. et al. A contribuição da terapia ocupacional com gestantes adolescentes na maternidade Cândido Mariano em Campo Grande. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE TERAPIA

OCUPACIONAL, 7., 2001, Porto Alegre. Anais... Porto Alegre: Instituto Porto Alegre, 2001. p. 21-27; PONTE JUNIOR, G. M.; XIMENES NETO, F. R. G. Gravidez na adolescência no município de Santana do Acaraú – Ceará – Brasil: uma análise das causas e riscos. Revista Eletrônica de Enfermagem, Goiânia, v. 6, n. 1, 2004. Disponível em: <http://www.fen.ufg.br/revista/revista6_1/f3_gravidez.html>. Acesso em: 26 jul. 2011.

313 PANTOJA, A. L. N. Ser alguém na vida: uma análise sócio-antropológica da gravidez/maternidade na adolescência em Belém do Pará, Brasil. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 19, p. S335-S343, 2003. Suplement 2.

314 FAVERO, M. H.; MELLO, R. M. Adolescência, maternidade e vida escolar: a difícil conciliação de papéis. Psicologia: Teoria e Pesquisa, Brasília, DF, v. 13, n. 1, p. 131-136, 1997.

sexo. A partir desse momento, a gravidez na adolescência passa a ser considerada “um problema social”, sustentada por um discurso médico que a caracterizou como quadro de gravidade e risco315. De acordo com Porto e Luz,316 o Ministério da Saúde considera “a gravidez na adolescência de alto risco, que pode ser de natureza diversa, tais como clínicas, biológicas, comportamentais, relacionadas à assistência à saúde, sócio-culturais, econômicas e ambientais”.

Diversos autores317 questionam essa visão reducionista do fenômeno, salientando que, como a gravidez na adolescência se relaciona com frequência a um contexto de desvantagem social das garotas, é preciso considerar que sua ocorrência se dá em um contexto de oportunidades restritas, poucas opções de vida e marcada por interrupções na trajetória escolar.

Neste contexto, Wagner e outros,318 Committee on Adolescence and Committe on

Early Childhood, Adoption and Dependent Care319 e Cardoso e Duran320 pontuam que a

maternidade pode assumir um caráter de centralidade na vida das adolescentes.

A maternidade, de acordo com Szapiro,321 não pode ser reduzida aos aspectos biológicos, pois, “do ponto de vista da cultura humana, não existe fato biológico em si, o que existe são, portanto, discursos próprios a cada cultura que constituem os fatos biológicos” 165. Entendida dessa forma, a maternidade passa a ser vista enquanto fenômeno social e consequentemente como uma construção sócio-histórica322. De acordo com Kimura,323 no caso da mulher, quando vivencia o processo da gravidez, ela se identifica com uma identidade pressuposta de mãe, o que posteriormente, como representação, será interiorizado e objetivado socialmente.

315 PANTOJA, 2003.

316 PORTO, J. R. R.; LUZ, A. M. H. Percepções da adolescente sobre a maternidade. Revista Brasileira de

Enfermagem, Brasília, DF, v. 55, n. 4, p. 384-391, jul./ago. 2002.

317 PANTOJA, 2003; FAVERO; MELLO, 1997; OLIVEIRA, N. R. Perfis de grávidas e mães adolescentes: estudo psicossocial de adolescentes usuárias de um serviço público de pré-natal e maternidade. 1999. Tese (Doutorado) - Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1999.

318 WAGNER, K. D. et al. Attritional style and depression in pregnant teenagers. American Journal of

Psychiatry, Washington, v. 155, n. 9, p. 1.227-1.233, Sept. 1999.

319 COMMITTEE ON ADOLESCENCE AND COMMITTE ON EARLY CHILDHOOD, ADOPTION AND DEPENDENT CARE. Care of Adolescent Parents and their children. Pediatrics, Elk Grove Village, v. 107, n. 2, p. 429-434, 2001.

320 CARDOSO, E. B.; DURAND, V. Gravidez na adolescência. In: GICO, V.; SPINELLI, A.; VICENTE, P. As

ciências socias: desafios do milênio. Natal: EDUFRN, 2001. p. 649-667.

321 SZAPIRO, A. M.; FÉRES-CARNEIRO, T. Construções do feminino pós anos sessenta: o caso da maternidade como produção independente. Psicologia: Reflexão e Crítica, Porto Alegre, v. 15, n. 1, p. 179-188, 2002.

322 Ibidem.

323 KIMURA, A. F. A construção da personagem mãe: construções teóricas sobre identidade e papel materno. Revista da Escola de Enfermagem da USP, São Paulo, v. 31, n. 2, p. 339-343, 1997.

Considerando esses aspectos, Oliveira324 sugere que em adolescentes pobres, provenientes em geral de núcleos familiares, pouco provedores de cuidado, proteção e carinho, observa-se uma maior atração (consciente ou inconsciente) pela gravidez. Para essas adolescentes, a maternidade não representa algo precoce, mas sim mais uma etapa natural do processo de desenvolvimento, sendo esse aspecto também observado por Cardoso e Duran. De acordo com Oliveira, uma vez que o social provê pouco alimento psíquico, as respostas da “natureza” podem ser fontes procuradas até como defesas perante condições de esvaziamento.

Outro aspecto relacionado à maternidade de adolescentes em situação de risco social e pessoal diz respeito a considerá-la como forma de ascensão social, como um “passaporte” para a vida adulta e como reforço para ser alguém na vida com vistas a garantir a estima de outras pessoas e um futuro melhor para e através do filho. 325

Ainda em relação à adolescentes em situação de risco social e pessoal, Wagner e outros326 sugerem que a gravidez age como um fator de proteção para a depressão em adolescentes com características pessimistas, pontuando que aquelas emocionalmente privadas têm descrito sentimentos de importância, de serem especiais durante a gravidez. Em outro estudo, o Comitte on Adolescence and Comitte on Early Childhood identificou a diminuição do uso de álcool, cigarro, maconha e crack durante a gestação, sendo isso constatado até 6 meses após o pós-parto, no caso de cigarro e álcool. Esses achados também são sugeridos por Oliveira327, que, em seu estudo sobre gravidez e maternidade de adolescentes de periferias sociais e ambientais, observou que o cuidado dos filhos (menores que 4 anos) aparentemente trazia benefícios psicossociais, especialmente os relacionados à convivência, administração e escape dos riscos graves do mundo do tráfico, do abuso de drogas e da criminalidade.

No entanto, é importante considerar que todos os aspectos discutidos anteriormente fazem parte do cotidiano de milhares de adolescentes em situação de risco social e pessoal, sendo a opção de ir para a rua relacionada, principalmente, ao sucesso ou fracasso da integração familiar. Nesse contexto, a gravidez encontra sua razão de ser como estratégia de afirmação e identidade de adolescentes, em famílias de pouca integração. Não tendo outra expectativa de vida, essas adolescentes fazem do ser mãe seu projeto de vida.328

324 OLIVEIRA, 1999.

325 KIMURA, 1997. 326 WAGNER et al., 1999. 327 OLIVEIRA, 1999.

328 GONTIJO, Daniela Tavares; MEDEIROS, Marcelo. Gravidez / maternidade e adolescentes em situação de risco social e pessoal: algumas considerações. Revista Eletrônica de Enfermagem, Goiânia, v. 6, n. 3, 2004. Disponível em: http://www.fen.ufg.br/revista/revista6_3/pdf/12_Revisao2.pdf>. Acesso em: 26 out. 2011.

Os depoimentos de meninas e meninos demonstram que a gravidez na adolescência faz parte de seu cotidiano e representa, muitas vezes, a saída para uma vida melhor, embora, para a sociedade, ela não seja ideal naquele momento.

[...] Eu tenho 16 anos, é parei de estudar na 5ªsérie. É minha primeira gravidez, eu estou de 5 meses, sou solteira, mas pretendo ficar junto com ele perto do neném nascer. Foi um susto. Eu fui lá para saber sobre um exame de urina e aí fiquei sabendo. Meu pai ficou muito bravo, mas agora ele já se acostumou, minha irmã também tem 1 filho e está grávida do segundo. Ela tem 18 anos, ela é casada. Eu pretendo fazer a mesma coisa, casamento, é importante morar com a pessoa de quem a gente gosta. O meu namorado sempre quis, ele queria mais do que eu. Ele me disse que sempre tentou ser pai com outras meninas mas não conseguia, e comigo ele conseguiu. Ser mãe para mim foi difícil, mas depois que o neném começa a crescer a gente começa a amar. Mas em nenhum momento ele foi um problema para mim. Minha vida mudou para melhor, eu era baladeira, agora eu penso em tomar um rumo. Minha mãe falava: “Enquanto você não arrumar um filho, você não sossega”, é foi assim que aconteceu. “A função da mãe é educar, cuidar, dar carinho”. (Girassol) 329

Para Girassol o casamento foi por amor, já para Dália Amarela330 ele trouxe responsabilidade, como ela mesma diz:

[...] Sou casada. Eu casei com 18 anos, hoje tenho 19 e estou com um filho de 4 meses de idade. Eu queria, foi gravidez planejada e desejada. Está sendo fácil criar o neném, o filho novo não me trouxe nenhuma dificuldade. Ser mãe para mim é novidade, para mim é um amor novo diferente. Função da mãe, como minha mãe diz, a função de mãe dentro da casa é de uma pilastra. Ela, dentro da família é parte fundamental. O casamento é importante para mim, me trouxe responsabilidade, conheci coisas novas com meu esposo, eu tive uma nova família, eu saí da situação de filha para de mãe. A situação de mãe é melhor do que a de filha. Minha mãe criou os filhos sozinha e ter um marido faz diferença na criação das crianças, no equilíbrio da família. Minha mãe teve o primeiro com 17 anos. Família é um ciclo, cada dia ela é caixinha surpresa, mas, cada dia que passa ela, fica mais forte. Minha família recebeu a notícia como um presente de Deus. E minha sogra também recebeu com muita felicidade. A divisão das responsabilidades é assim: eu cuido da casa e meu esposo coloca os mantimentos dentro de casa e, quando dá ele me ajuda. Quando preciso sair ele fica para eu sair. Para o futuro eu quero ter minha casa com meu esposo e ele ter emprego melhor e família estruturada. Se eu precisar, todos muito me ajudam, nós moramos tudo no mesmo terreno e todos se ajudam. O meu marido foi minha primeira relação sexual. (Dália Amarela)

329

Entrevista concedida pela Girassol, da Unidade de PSF do Joana D’Arc, no dia 21/10/2010 em sua residência

em Uberlândia - Minas Gerais. 330

Entrevista concedida pela Dália Amarela, da Unidade de PSF do Joana D’ Arc, no dia 09/11/2010 em sua

Já outra família que mora no mesmo terreno aponta a importância do casamento e da família mesmo na adolescência. Para eles para elas, o casamento é juntar, e esse leva a uma nova vida:

[...] Eu tenho 18 anos, e meu filho tem 2 meses. Eu estou com marido há 5 anos, mas não sou casada. Eu estudei até a 6฀série. Meu marido tem 21. Minha gravidez foi boa, eu queria, já estava tentando engravidar há 1 ano, eu casei em 2008, com 16 anos. Minha maternidade está sendo ótima, está sendo muito bom ser mãe. Minha família ficou muito feliz com a gravidez, tanto a minha quando do meu marido. Eu e meu irmão casamos cedo, minha mãe teve filho cedo também, nós somos em 4 irmãos. Tanto eu quanto meu marido queria casar cedo para constituir família, eu morava em outra cidade, aí achei melhor juntar. É tão bom ser mãe que não sei nem como explicar. O filho mudou muito nossa vida, a função da mãe é cuidar da casa. Eu quero o melhor para o futuro do meu filho. Minha mãe teve filho cedo também. Ter filho cedo não trouxe nenhuma dificuldade, ele foi planejado e desejado. Nunca frequentei o posto antes da gravidez. Minha mãe mora na frente e me ajuda muito. A vida melhorou muito depois de casada. Minha mãe também é dona de casa. (Azaleia Rosa) 331

O marido332 da Azaléia Rosa também relata que sua mãe teve o primeiro filho com 18 anos é que ele é responsável pelo sustento do lar.

[...] Minha mãe já tem mais netos nós somos em 5. E ela teve o primeiro com 18 anos. Ser pai é muito é bom, nos tivemos filho depois de dois anos de casado, é filho que foi planejado e desejado. A função do pai é cuidar e educar bem. Hoje o que é mais difícil é educar. O sustento é só eu, educar é mais difícil. Ele nasceu de 9 meses, de cesárea. (Marido da Azaleia Rosa) O pai333 da Azaleia Rosa se preocupa com saúde do bebê:

[...] Estou muito preocupado porque ele está fazendo cocô só de três em três dias, e ele deveria fazer todo dia, não é. Isto é normal? Pois eu só sou avô e gostaria de saber, pois é preocupação de avô. (Pai da Azaleia Rosa).

Azaléia Vermelha334, cunhada da Azaleia Rosa, também diz que sua gravidez não foi planejada, mas foi desejada e que essa gravidez e o casamento mudaram sua vida para melhor. E acrescenta que ter filho na juventude não é um problema, pois quanto mais nova mais disposição. Sua mãe também teve o primeiro com 15 anos.

331

Entrevista concedida pela Azaleia Rosa, da Unidade de PSF do Joana D’Arc, no dia 10/11/2010 em sua

residência em Uberlândia - Minas Gerais. 332

Entrevista concedida pelo marido, da Azaleia Rosa da Unidade de PSF do Joana D’Arc, no dia 10/11/2010

em sua residência em Uberlândia - Minas Gerais. 333

Entrevista concedida pelo pai, da Azaleia Rosa da Unidade de PSF do Joana D’Arc, no dia 10/11/2010 em

sua residência em Uberlândia - Minas Gerais. 334

Entrevista concedida pela Azaleia Vermelha cunhada da Azaleia Rosa, da Unidade de PSF do Joana D’Arc,

[...] Tenho 18 anos, sou casada, meu marido tem 20 anos. Minha gravidez não foi planejada e eu não estava casada quando engravidei, casamos depois que eu engravidei, estou casada com ele há 6 meses. Minha vida depois casada mudou muito e mudou para melhor porque antes eu pensava mais em mim, para mim era só eu, Nós somos três, eu sou a do meio, minha irmã engravidou com 17 e é casada. Minha mãe é que me levou no médico, pois minha mestruação estava atrasada. Aí deu o resultado que estava grávida, e esse resultado se confirmou com ultrasson que eu estava de três meses já. No começo foi um problema, pois eu estava estudando e parei, queria trabalhar é aí parei. Parei de estudar por vergonha de ir na escola por causa da gravidez, a gravidez aconteceu por falta de prevenção, mas sabia que podia engravidar. Acho que ter filho nova não é problema, pois quanto mais nova, mais disposição. Acho que difícil é educar do jeito que está hoje, mesmo você educando, ele está fazendo coisa errada. A função da mãe é educar e cuidar do filho e da casa, e do pai é colocar as coisas dentro de casa e trabalhar. Eu pretendo para o futuro trabalhar ajudar ele, pois hoje em dia a mulher tem que ajudar o marido e estudar. Dar um futuro para a bebê melhor. O casamento é importante porque é bom ter uma pessoa que você ama do seu lado. Não frequentava o posto de saúde antes da gravidez. Família é a base de tudo. Minha mãe engravidou com 15 anos. A única coisa que eu tenho medo na gravidez é ter parto normal. Eu tenho plano e vou ter filho no hospital particular. (Azaleia Vermelha cunhada da Azaléia Rosa)

O pai335 da Azaleia Rosa, sogro da Azaleia Vermelha, se posiciona de novo sobre o casamento do filho e seu neto e considera que os netos são a continuação da vida, um pedacinho do eu dos avôs.

[...] Meu filho ficou satisfeito quando recebeu a notícia da gravidez da Azaleia Vermelha e nós também. Eu considero meus netos como meus filhos, às vezes até mais do que filhos, pois o filho da Azaleia Rosa, que é meu primeiro netinho, não para muito no colo da mãe dele não, ele fica mais comigo do que com mãe dele, ele só pára nos meus braços. Minha esposa tem até hoje dor na cesárea, pois foram 5 filhos, um ela perdeu, todas as gravidezes da minha esposa foram problemática, pois ela tem pressão alta. (Sogro da Azaleia Vermelha e pai da Azaleia Rosa)

Por meio desses depoimentos percebe-se que o diálogo do setor de saúde está em oposição ao que é entendido e compreendido pela população em estudo. O impacto e as consequências negativas da gravidez na adolescência não são vivenciados por essa população.

335 Entrevista concedida pelo pai da Azaleia Rosa, da Unidade de PSF do Joana D’ARC, no dia 10/11/2010 em sua residência em Uberlândia - Minas Gerais.

Isto é confirmado por Moreira336, que afirma existir uma contradição entre o discurso sobre a gravidez na adolescência que a qualifica como um problema, e a prática cotidiana das jovens que a experimentam, principalmente no que se refere a adolescentes em situação de risco social e pessoal.

Para essas adolescentes a maternidade pode adquirir um caráter de centralidade em sua vida, sendo um importante fator de constituição pessoal e social, pois cria novas formas de relacionamento e reconhecimento sociais e de atuação em seu cotidiano. Tal caráter também é percebido no momento em que buscam alternativas de vida para si e para seu filho, o que propicia um momento importante para o desenvolvimento de ações de saúde e sociais que